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Infohabitar,
Ano XI, n.º 532
O espaço de cozinha: novidades e tendências
António Baptista Coelho
Artigo
LXXIX da Série habitar e viver melhor
Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre
"habitar e viver melhor",
na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de
proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os
seus espaços comuns.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os
espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos,
refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e concluímos hoje a reflexão sobre o espaço de cozinha.
O espaço de cozinha: novidades e tendências
A cozinha como zona de refeições
Uma excelente
solução, embora ainda pouco habitual, é a integração de uma atraente zona de
preparação de refeições num espaçoso compartimento multinacional, marcado pelo
convívio informal e familiar.
E, de certa
forma, esta solução pode concretizar-se em duas opções distintas:
- uma
sala-comum onde se integra um espaço de kitchenete;
- ou uma cozinha-sala
de família, onde o espaço de preparação de refeições assume um protagonismo
forte e digno.
Fig. 01: Zona de cozinha e de refeições de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 33 - 34, Arquitetura: Greger Dhalström.
A cozinha como espaço bem equipado
É importante
referir que o falar-se de kitchenetes não significa que estas não possam dispor
de um excelente potencial funcional em termos de preparação de refeições;
podendo constituir-se em espaços plenamente equipados, até no sentido de
poderem minimizar ao máximo os incómodos ambientais (ex., ruído, cheiros) nas
zonas contíguas.
E, portanto,
mais do que uma relação direta entre números de quartos e tipos de cozinhas,
devemos considerar, a partir de uma adequada base funcional para cozinhar em
boas condições próprias e de influência na restante vida doméstica (exemplo,
ruídos, cheiros, vapores), opções de habitar que favoreçam ambientes
específicos, tal como acabaram de ser apontados.
Relação entre dimensão da habitação e espaço de cozinha
Naturalmente,
que os pequenos apartamentos estarão mais adequados a soluções em kitchenete,
mas é perfeitamente possível e adequado pensar, por exemplo, num pequeno
apartamento estruturado, por exemplo, em torno de uma espaçosa cozinha-sala de
família, ou dispondo de uma espaçosa e “clássica” cozinha onde se possam tomar
refeições, assim como é possível imaginar um grande apartamento onde apenas
existe uma kitchenete, embora extremamente bem equipada em termos funcionais e
“maquinais”.
Fig. 02: Zona
de cozinha e de estar de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of
Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em
2001 (ver nota final) - H 36 - 37, Arquitetura: Bengt Hidemark, Ingemar Jönsson.
Adequação a diversos modos/formas de habitar
E todas estas
opções marcam diversas formas de fazer um habitar privado e bem caracterizado
pelas formas de habitar de quem o vive; formas bem distintas das ordinárias
soluções industrializadas de tantas cozinhas que conhecemos, e que acabam por
se definir como verdadeiros eletrodomésticos gigantes, que mais do que usar,
acabamos por ter de, nós próprios, servir no dia-a-dia (limpar, arrumar,
manter, “não riscar”, etc.).
Novos espaços de preparação de refeições
Talvez que as
pessoas não apreciem as "cozinhas laboratório", tal como apontou M.
Imbert (1), talvez que se aceitem bem as cozinhas mais pequenas, quando se
dispõe de um espaço específico para refeições, talvez seja agradável, aquela
“solução à americana", em que a preparação de refeições está totalmente
integrada numa sala de família, que pode ser o espaço de refeições e de
convívio diário e "à vontade", onde as crianças brincam e trabalham e
onde se vê televisão.
E importa
aqui salientar o enorme potencial de convívio que têm hoje em dia os espaços de
cozinhas; e um potencial que é estratégico numa sociedade atual marcada pelo
isolamento doméstico e pelo individualismo.
Cristopher Alexander
(2) defendia, já há bastante tempo, que
a função de cozinhar deve ser recuperada como elemento quotidiano animador da
vida familiar, através da sua integração com o estar familiar e por uma relação
direta com as restantes áreas comuns da habitação.
De certa
forma é também insistir, estrategicamente, na intensificação das relações face
a face, nesta era globalizada e "internetizada", também no interior
da habitação.
Cozinha multifuncional como um novo espaço doméstico
Considerando
essa referência do espaço de cozinha como elemento quotidiano animador da vida
familiar, lembremos que diversas pessoas podem trabalhar conjuntamente numa
grande e bem iluminada cozinha, com bancada alongada, mesa de refeições
espaçosa e, até, por exemplo, um recanto para um sofá (3); transforma-se,
assim, a cozinha num espaço doméstico de convívio pleno de potencialidades
funcionais, formais e de dinamização da vida privada.
E com certeza
que todas estas possibilidades e outras acima apontadas serão sempre
preferíveis a soluções estereotipadas onde, tantas vezes, o espaço está lá
apenas para que as pessoas se movimentem no trabalho que executam nas bancadas
de cozinha, quase como se fossem robots.
Cozinha multifuncional adequada a idosos e jovens
E atente-se
que uma cozinha-sala, bem configurada, é um compartimento com grande utilidade,
quer ao serviço da informalidade em fogos para jovens casais e vivendo sós,
quer ao serviço da estratégica concentração de atividades e espaços, em fogos
para idosos, nomeadamente, quando estes precisam de ajudas na cozinha e quando
já se caracterizam por algumas dificuldades de movimentação.
Diversas imagens da cozinha
Quanto à
imagem mais “tecno” ou mais “rústica” de uma cozinha ela terá de ficar à
escolha de quem a vá usar, no entanto algo diz que nos sentimos muito mais “em
casa”, num ambiente caloroso, e é, pelo contrário, difícil de imaginar o
cozinhar em cozinhas laboratório, revestidas a metal reluzente, isto, pelo
menos, quando somos nós próprios a viver/usar realmente tais espaços.
Fig. 03: Zona
de cozinha que é, também, a única zona de acesso a uma habitação do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 35, Arquitetura:
Kai Wartiainem, Ingrid Reppen.
Cozinha-sala de estar e cozinha sala de família
Para concluir
esta temática, a perspectiva de uma cozinha-sala de estar e de família pode ser
considerada de duas formas distintas:
- uma delas,
relativamente corrente, em que tal espaço surge como alternativo a outros
espaços de estar, numa solução tão associável a habitações amplas, como até a
habitações com controlos de área, assegurando-se, neste caso, possibilidades de
usos diversificados tanto na pequena sala-cozinha, como na pequena sala-comum
que com ela estará conjugada;
- e uma
outra, menos corrente e sempre mais discutível, em que existe, realmente,
apenas uma única zona para cozinhar, refeições e estar, uma solução tanto menos
corrente e adequada, quanto maior for a habitação em termos de número de
quartos.
E pode haver,
ainda, inovações radicais como aquele em que uma ampla cozinha, bem assumida
como tal, para espaço essencialmente dedicado à preparação de refeições,
integra, também, a única entrada na habitação.
References
Referências/notas
(1) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville
Nouvelle du Vaudreil", p. 12.
(2) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray
Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp.
587 e 588.
(3) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and
Design in Sweden", p. 122.
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e
que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram
recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição
habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em
2001.
Aproveita-se para lembrar o grande
interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo
“organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que
integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a
Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das
Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01
teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase
do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma
das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja
possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas
aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado
número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a
identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação
adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais
projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam
as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta,
quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em
relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de
referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 532
Artigo
LXXIX da Série habitar e viver melhor
O espaço de cozinha: novidades e tendências
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
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GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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