segunda-feira, fevereiro 26, 2018

632 - Microfunções e microespaços domésticos: uma abordagem geral – Infohabitar 632

Infohabitar, Ano XIV, n.º 632
Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor” n.º CV

Microfunções e microespaços domésticos: uma abordagem geral 

por António Baptista Coelho


Uma nova microfuncionalidade doméstica

Quando se colocam em causa “regras” domésticas árida e cegamente funcionalistas e rigidamente hierarquizadas, num tempo marcado por tanta diversidade nos modos e desejos e necessidades habitacionais e por tantas novidades tecnológicas aplicáveis ao espaço doméstico, estamos, provavelmente, também em tempo de fazer “descer” a estruturação funcional da habitação das grandes funções (ex., dormir, estar, cozinhar, tomar refeições) para uma densa e muito variada rede de microfunções aplicáveis a um espaço doméstico e de trabalho, pessoal e familiar, que assim se definirá, muito positivamente, em termos da harmonização entre essenciais aspectos funcionais e igualmente essenciais aspectos de identidade e apropriação domésticas, numa nova mistura formal e funcional, que, sendo bem desenvolvida, enriquecerá a experiência da respectiva vida diária e poderá, até, incrementar o valor global desse espaço doméstico, que passa a ser um espaço positivamente caracterizado e expressivamente “único”.



“Novos casulos” domésticos

Generalizando, podemos considerar que haverá algumas acções domésticas que poderão “libertar-se” das respectivas e mais correntes “prisões” espaciais e funcionais, reconvertendo-se em termos da sua caracterização própria e dos seu relacionamentos mútuos mais correntes em microfunções associáveis a pequenos espaços tendencialmente agregáveis em alguns espaços maiores (ex. “clássico”, recanto de preparação de refeições associável a grande cozinha multifuncional ou a sala-comum). E será interessante, embora não seja aqui feito, imaginar uma rede de microfunções disseminadas na habitação, embora se alerte para um reviver de uma nova rigidez, agora microfuncional, que provavelmente poderá ser bem combatida por uma reflexão sobre as relações microfuncionais que se considerem específica e mutuamente incompatíveis, designadamente, por questões associadas a aspectos de segurança e de sanidade.


Desta forma o novo habitar, aqui mais confinado à escala doméstica e privativa, poderá caracterizar-se, seja por uma relativamente habitual estrutura espacial, marcada por espaços conhecidos e aos quais atribuímos usos correntes e habituais, seja por uma outra camada de dispositivos espaciais e funcionais e/ou de virtualidades espaciais e funcionais que irão associar-se, diversamente e até inesperada ou inusitadamente àquela estrutura espacio-funcional mais “clássica”, reconvertendo-a em soluções domésticas extremamente marcadas por gostos, desejos e até “manias” ou idiossincrasias que, afinal, irão transformar um espaço antes impessoal numa verdadeira e própria casca de caracol bem à medida das nossas necessidades pessoais mais íntimas e dos nossos sonhos: uma casca de caracol que caracteriza bem o que também poderemos referir como “novos casulos” domésticos.


Naturalmente que uma tal opção “espacio-funcional-formal-caracterizadora” obrigará a um espaço doméstico bem marcado por uma ampla adaptabilidade, mas desde que esta função de adaptabilidade doméstica possa exercer-se sem influenciar potencial e significativamente a saúde e o bem-estar dos habitantes, num caminho que parece poder ser extremamente positivo e enriquecedor por proporcionar casas muito mais ligadas à identidade e ao gosto de cada um; mas atenção que esta perspectiva parece influenciar, mais fortemente, as habitações com menor número de quartos, e, portanto, mais ligadas a uma ocupação humana mais reduzida.


Seguem-se pequenos textos de comentário breves sobre alguns micoespaços domésticos tendencialmente privativos e diferenciados, que podem marcar e enriquecer funcional e espacialmente os espaços comuns domésticos – proporcionando-se estar razoavelmente “sozinho/à parte”, mas potencialmente em companhia. Mas salienta-se que, de nenhuma forma, os espaços em seguida apontados esgotam o amplo e rico leque potencial de microespaços domésticos, um leque que foi, aliás, extensamente abordado, já há muitos anos, na magistral “Linguagem de Padrões” de Alexander et. Al – uma obra que é sempre importante revisitar. 


Alcovas

Uma alcova ou recanto de dormir/repousar pode integrar-se bem num espaço amplo com características potencialmente conviviais, proporcionando quer o maior desafogo no convívio, quer a possibilidade de se realizar uma actividade individualizada, mas numa situação de companhia mútua, o que pode ser muito apreciado por pessoas que, por exemplo, tenham dificuldade de concentração quando isoladas; e na prática corresponde, sempre, a uma positiva alternativa para desenvolvimento das mais diversas actividades, para além de enriquecer espacialmente o espaço maior onde se integra.


Regulamentarmente impossíveis ou, pelo menos, bastante difíceis as alcovas podem ter inúmeras apropriações, para além de serem os espaços/cama que as caracterizam, sendo possível integrarem pequenos e intimistas espaços de trabalho e/ou lazer pessoal, grandes “recantos” estratégicos para a arrumação e exposição de colecções, recantos de leitura bem povoados por livros e quadros nas paredes, etc.


Trata-se, aqui, de uma matéria doméstica e arquitectónica de grande importância histórica e que pode e deve ter um adequado reaproveitamento numa urgente revisão dos aspectos exigenciais que devem estruturar a concepção habitacional, visando-se, designadamente, a geração de soluções mais diversificadas, adaptáveis e versáteis a diversos modos de habitar e à respectiva mutação de gostos e necessidades habitacionais.



Vestíbulo ou corredor pessoal

Caso os espaços de vestíbulo ou corredor que sirvam determinados espaços domésticos mais privados sejam adequadamente dimensionados e estruturados, eles podem agregar às respectivas funções de circulação e recepção, outros aspectos/funções variados e estimulantes, como aqueles associados a uma adequada apropriação e identificação dessa zona da habitação, mas também outros aspectos tão identificadores como funcionais, como é o caso de alguns tipos de arrumações, designadamente, de livros, elementos decorativos diversos, colecções, etc.


Não tenhamos dúvida de que o resultado será excelente, seja porque, assim, se consolida a coerência/fluidez de todo o espaço interior doméstico – reforçando-se funcional e ambientalmente as zonas de ligação entre espaços principais –, mas também porque haverá mais espaços específicos e diversificados para usos específicos e diversificados, mais apropriação do espaço doméstico e um maior potencial funcional, designadamente, associados a uma mais expressiva repartição/disseminação dos variados perfis de arrumação doméstica.


Ainda um aspecto interessante nesta perspectiva é o resultado global que pode ser trazido ao espaço doméstico que agregue microespaços domésticos deste tipo – em que há quase uma marcação de aproximação e um expressiva identificação/apropriação –, que pode resultar numa marcação global muito rica, quase de uma grande habitação formada de outras quase “pequenas habitações”.  


Parece ser, ainda, interessante anotar que no caso contrário, de existência de significativos espaços de acesso doméstico “privativos” e funcionalmente limitados ao seu uso como circulação, tais espaços acabam por poder constituir-se como relativos bloqueios funcionais/ambientais na desejável fluidez do espaço doméstico. 


Marquise ou varanda

Antes de abordar esta matéria há que salientar que a “marquização selvagem”, clandestina e desregrada das varandas habitacionais é, realmente, uma verdadeira praga responsável pela crítica deterioração da imagem urbana e residencial de muitos dos nossos bairros e cidades, e que deveria ser energeticamente combatida e regenerada, de forma estratégica e designadamente em vizinhanças e bairros expressivamente patrimoniais, com é, por exemplo o caso de Alvalade, Campo de Ourique e Olivais Norte, em Lisboa.


No entanto, a concepção, de origem (quando da concepção da solução habitacional) de espaços de marquise, adequadamente encerrados e programados em termos de conforto ambiental, pode permitir excelentes espaços de transição, quer entre um interior mais “protegido”/recatado e o exterior caracterizadamente público, quer entre espaços exteriores e interiores bem marcados; podendo ser muito interessantes os usos domésticos, mais privatizados ou mais comuns, destes espaços e sendo, ainda, interessantes as vistas que eles poderão permitir, do lado do espaço público, sobre os interiores habitacionais – um pouco como “olhadelas”  fugazes sobre aspectos caracterizadores de interiores domésticos mais “divulgáveis”. Mas salienta-se, novamente, que apenas é de aceitar a marquise/”jardim de Inverno” adequadamente projectada em total sintonia com o respectivo edifício.


Lugar-janela ou janela-lugar

Embora esta matéria da associação entre recantos domésticos e vãos exteriores com vista e /ou luz natural, seja retomada mais à frente, nesta série editorial, não poderíamos deixar de a apontar aqui, ainda que sumariamente, e por duas ordens de razões.


A primeira razão, que parece óbvia, mas que não deve ser descurada, tem a ver com o resgate de uma negativa concepção habitacional que tendia a considerar a geração do espaço interior, pelo menos, um pouco separada da geração dos respectivos vãos exteriores – e quem o negue está a fugir à verdade, julga-se, pelo menos quando não estamos a tratar de arquitectura de qualidade.


A segunda razão refere-se à enorme força expressiva e ao fortíssimo conteúdo de imagem/função que estão associados à geração de “lugares-janelas” – que associam pequenos espaços, bem caracterizados, à contiguidade de vãos exteriores – e de “janelas-lugares” – vãos exteriores que, pela sua força expressiva, amplitude e adequada pormenorização se acabam por constituir em verdadeiros pequenos mas importantes subespaços domésticos; e nesta categoria há que salientar o grande interesse das bay-windows, vãos exteriores com variadas tipologias de pormenor e que, de certo modo, fazem expandir pontual/localmente o espaço interior doméstico sobre o exterior contíguo, proporcionando estar, um pouco, lá fora, mas também no agradável interior da habitação e, simultaneamente acabam por marcar esse exterior urbano de vizinhanças e pequenas ruas citadinas com pontuais, mas estimulantes e rítmicos sinais domésticos.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XIV, n.º 632

Microfunções e microespaços domésticos: uma abordagem geral 

Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho

Infohabitar, Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC.

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, fevereiro 18, 2018

Raúl Hestnes Ferreira, memória bem viva e algumas ideias - Infohabitar 631


Raul José Hestnes Ferreira: Lisboa, 24 de novembro de 1931; Lisboa, 11 de fevereiro de 2018.

É sempre com profunda tristeza que escrevemos sobre a partida de um amigo, mas porque a maneira de combatermos tal tristeza é contribuir, mais um pouco, para o registo e a mais do que merecida divulgação da pessoa, do seu pensamento e da sua obra, aqui se faz uma sóbria referência à partida do Raúl Hestnes Ferreira, na noite de domingo dia 11 de Fevereiro, e uma pequena homenagem à sua pessoa. 
O texto que se junta, mais abaixo, retirado de uma conversa entre amigos, quer, assim, saudar e homenagear, de forma convivial e participada, um dos grandes arquitectos portugueses do Século XX e início do XXI e fazê-lo com o necessário sentido de grupo e de naturalidade; e não tenhamos dúvida de que a Arquitectura só ganha em termos de desenho enriquecido e de verdadeira humanidade com uma tal naturalidade e um tal sentido de grupo e de diálogo, qualidades marcantes na pessoa e na prática do Raúl Hestnes Ferreira.



Afinal, e tal como disse o próprio Hestnes Ferreira (em1973): “De acordo com o que penso que seja a arquitectura, a formação profissional nada é se não for estruturada por uma perspectiva humanista que clarifique os aspectos técnicos dessa formação e lhes dê sentido...”
Lembremos, também, que a Arquitectura só ganha com uma continuada, cuidada e sentida leitura e divulgação de ideias, pois desta forma vamos conseguindo cruzar e reter palavras, desenhos e obras, e na carreira de Raúl Hestnes há, sem dúvida, excelentes palavras, muitas delas como professor de futuros arquitectos, belos desenhos e grandes obras de Arquitectura.

E passemos à conversa entre amigos, que foi acima referida:

“(Hestnes Ferreira) – Aquela ideia da casa, muito ligada até aos românticos, e sei lá, ao Thoreau, o tipo que vai para a floresta, corta a árvore, arranja as pranchas, faz a sua casa e ali, ali é a sua casa, é uma ideia que continua, a estar presente, culturalmente ...
(Manuel Vicente) – Afinal uma casa é boa para uma família quando for boa para todas, não é? Mas isto não é o elogio do anónimo mas antes da extrema qualidade, a universalidade pela qualidade e não a universalidade pelo «éffacement», pelo apagar.
(Bravo Ferreira) – O neutro ... o neutro é chato em qualquer situação, é sempre cinzento...
(Manuel Vicente) – Do neutro ninguém se apropria... uma pessoa só se apropria daquilo que ama. Uma pessoa não pode amar uma coisa que não seja nada.
(Hestnes Ferreira) – E quando visitamos uma casa do século passado e ficamos deslumbrados com certo tipo de espaços e gostamos mesmo de ir para lá, isso é mesmo um sintoma de que aquilo transcendeu a família para quem foi feito, continua a sugerir e se calhar já foi utilizada de mil e uma formas, já teve mil e uma jarras diferentes em mil e uma mesas diferentes.
(Bravo Ferreira): restou-lhe sempre a qualidade, e essa é que está sempre.”
(Raul Hestnes Ferreira, Manuel Vicente e Vicente Bravo Ferreira, “Conversa à roda de uma casa”, Arquitectura, n.º 129, 1974, pp. 36-40).


Raúl Hestnes com Nuno Teotónio Pereira, Vasco Folha e Teixeira Trigo no Auditório do Edifício Sede do então INH – hoje IHRU – , no âmbito da iniciativa que é, mais à frente, referida.

Uma sentida homenagem à partida de Raúl Hestnes podia e pode ficar por aqui, pois tantas são as obras e tantas são as memórias que por ele falam!


No entanto, para quem se lembra bem da sua forma de nos falar/tocar e muito especialmente para quem não teve esse privilégio, juntam-se, em seguida, algumas notas – em jeito de relato informal  (e não revistas, relativamente à sua edição na Infohabitar em 2006 ) – referidas  a uma intervenção de Raúl Hestnes sobre o “habitar” e o seu próprio percurso projectual, realizada em 24 de Janeiro de 2006, no Auditório do Edifício Sede do então INH – hoje IHRU – , no âmbito de uma iniciativa deste Instituto e do GHabitar – intitulada “Encontro sobre prática profissional em projectos e reflexão para o futuro na promoção de habitação - com Raúl Hestnes Ferreira, Nuno Teotónio Pereira e José Teixeira Trigo.”

Raúl Hestnes Ferreira falou-nos, então, sobre os aspectos que podem ser identificados como fundamentais no habitar a casa, falou-nos sobre as raízes do habitar e sobre os espaços domésticos polarizadores da vida em comum e em família.
Iniciou a sua galeria de imagens (projectadas) com a planta de uma casa simples de Rio de Onor, retirada da “Arquitectura Popular Portuguesa” e falou sobre o projecto e a sua ponderação, sobre os espaços domésticos mais correntes e sobre outros recantos, que são os principais obreiros do habitar interior, como foi o caso da entrada desnivelada que criava um espaço de transição na entrada do escritório da casa que projectou para o seu pai,  o poeta José Gomes Ferreira.
Falou-nos com exemplos ilustrados sobre o estar junto ao fogo e à televisão que reúnem as pessoas à sua volta, mas antes disso falou-nos do viver simples junto ao chão e em torno do fogo, da mesa como espaço familiar e unificador de actividades, lembrando hábitos orientais de usar a mesa para um grande leque de actividades, num encadeamento natural de usos, utentes e horários, e também nos falou do grande quarto/sala com uma ampla mesa de Jorge Luís Borges, onde este escritor trabalhava, recebia, conversava, vivia.
Continuando a reflectir sobre estas matérias dos espaços domésticos essenciais e envolventes e a propósito da pequena casa de férias de Francisco Keil do Amaral, Hestnes Ferreira disse-nos que era uma casa muito amigável, uma casa pequena, mas que reflectia e envolvia o modo muito informal/simples, humano e caloroso que caracterizava o modo diário de viver daquela família, dando-lhe um bom suporte, até naquela mesa estrategicamente situada sob a janela e sobre a vista exterior.
Passou depois para as sempre novas questões do dia/noite doméstico, uma forma interessante de colocar uma eventual distinção de duas zonas, que serão provavelmente tanto dia/noite como, por exemplo, comuns/privadas; e aqui defendeu opções de adaptabilidade, em que através de uma adequada concepção estrutural e de um cuidadoso dimensionamento, se possa alterar a disposição das zonas de dormir e de estar, entre outras.
Sobre o exterior urbano e relativamente ao Bairro das Fonsecas e Calçada, em Lisboa, cujo projecto coordenou, referiu que os fogos tiveram uma relação directa com a génese da forma edificada, proporcionando flexibilidade na sua integração e que a tipologia de acessos foi influenciada, no esquerdo/direito predominante, por uma opção dos próprios habitantes, que foram convidados pelos projectistas a visitarem (nos Olivais, Lisboa) uma outra bem diversa forma de circulação comum através de galerias, e seguidamente a expressarem a sua tipologia preferida, que, como se deduz, foi o esquerdo/direito; que aliás é bem matizado por pequenas galerias/varandas de distribuição nos cantos interiores dos edifícios. Sobre este bairro Hestnes Ferreira chamou ainda a atenção para a sobriedade da sua envolvente, que contrasta com pequenos interiores de quarteirão mais diversificados; e, quanto aos fogos, salientou que se ouviram os moradores, projectando-se organizações habituais/bem conhecidas.
Sobre a diversificada experiência residencial em Beja (outros extensos projectos do seu atelier) – a Unidade João Barbeiro e a Cooperativa Lar Para Todos – começou por salientar a importância da harmonização construtiva em sede de projecto, numa relação aberta com a obra e com as potenciais e específicas qualidades de execução que aí muitas vezes se detectam e que têm a ver, por exemplo, com capacidades técnicas concretas de determinadas empresas e mesmo de determinados operários.
Depois falou da caracterização pública e também comum do grande pátio da Unidade João Barbeiro, do modo como, a partir dele, se pode aceder com naturalidade aos fogos, motivando-se o convívio, e da forma como o conjunto se integra solidamente na sua envolvente directa através de uma base de betão em que se integram galerias públicas comerciais, harmonizando-se, assim, um espaço de vizinhança assumido e eficaz com a tal sobriedade urbana, já acima apontada.
Relativamente à Cooperativa Lar Para Todos referiu, no exterior, os pátios alongados sempre que possível vitalizados pelos acessos directos a fogos térreos, e salientou o investimento ambiental e caracterizador que foi desenvolvido nos amplos espaços comuns de cada edifício (com distribuição esquerdo/direito), trespassados e matizados pela luz natural de cima abaixo e em cada entrada dos fogos (nos grandes patins comuns). Nestes espaços procurou-se realizar uma agradável e muito graduada transição com a rua, estimular o convívio possível e proporcionar uma cuidadosa transparência da vida dos fogos [neste caso através de um pano de tijolo de vidro no hall privado, que assim ainda leva luz natural ao centro/entrada da habitação].
Finalmente, ainda neste último conjunto, mas ao nível dos fogos, há uma clara e muito estimulante inovação na criação de um amplo espaço familiar de cozinha/refeições, mas também a rara possibilidade de toda a continuidade entre esse espaço, a entrada e a sala, poder ser vivido praticamente como um único grande espaço.

E fica aqui um desafio para quem não conheça estas excelentes obras habitacionais se deslocar a Beja e as percorrer com vagar; uma óptima visita, não tenham dúvidas e uma homenagem viva à Arquitectura de Hestnes Ferreira.

Mais tarde, na fase de debate, Raúl Hestnes sublinhou ter havido uma época em que se acreditou que a arquitectura poderia mudar o mundo.


Uma imagem da introdução, feita por Manuel Correia Fernandes, à memorável intervenção de Raúl Hestnes Ferreira na Conferência que realizou a encerrar as 1as Conferências CIHEL – Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – no final da tarde do dia 6 de Março de 2017, no Porto, no que foi mais uma grande lição de humanidade, vitalidade e excelente Arquitectura!


Escreveu Francisco Keil do Amaral:
“As cidades são algo mais do que conjuntos de edifícios ladeando ruas e praças. São organismos vivos. Os edifícios, as ruas e as praças formam com as pessoas que ali habitam, transitam, trabalham e passeiam, unidades coerentes e características... as cidades morrem mesmo sem terem sido destruídas. Basta quebrarem-se os elos que ligam num todo harmonioso os edifícios e as pessoas; basta que o modo de vida deixe de corresponder à feição e ao carácter das edificações" (em "Lisboa uma Cidade em Transformação", p. 31); e não tenhamos dúvidas, e quem conheceu o Raúl Hestnes não as tem, que o Raúl foi daqueles que trabalhou, diariamente e ao longo de toda a sua longa vida, para defender e reforçar esses elos que ligam, num todo harmonioso, os edifícios e as pessoas.

Bem hajas Raúl Hestnes Ferreira,
Estarás sempre connosco

António Baptista Coelho, GHabitar e CIHEL

sexta-feira, fevereiro 09, 2018

630 - Convocatória da 4.ª Assembleia Geral e 1.ª Assembleia-geral Eleitoral da GHabitar-APPQH - Infohabitar 630


GHabitar - Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Rua Armandinho, nº3 – Loja A, 1950-446, Lisboa (Freguesia de Marvila) N.I.P.C. n.º –  513 040 625

 Convocatória da 4.ª Assembleia Geral e 1.ª Assembleia-geral Eleitoral da GHabitar-APPQH

4.ª Assembleia-geral ordinária e, simultaneamente, 1.ª Assembleia-geral Eleitoral da GHabitar – APPQH , a realizar na sexta-feira, dia 9 de Março de 2018, em Matosinhos, numa sala da Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete Bicas, situada na Rua António Porto, n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora, Matosinhos.

Em cumprimento do disposto nos artigos 18º e 23º a 30 dos Estatutos da GHabitar, convoca-se a 4.ª Assembleia-geral, em sessão ordinária, e 1.ª Assembleia-geral Eleitoral para reunir pelas 11h.30, numa sala da da Sede da Cooperativa de Habitação Económica As Sete Bicas, situada na Rua António Porto, n.º 42, 4460-353 Senhora da Hora, Matosinhos.


A 4ª Assembleia-geral ordinária e 1.ª Assembleia-geral Eleitoral da GHabitar-APPQH decorrerá na morada e hora acima indicadas, com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1.  Eleições dos Corpos Sociais para os anos 2018 a 2021 - serão enviados, até ao dia 15 de Fevereiro de 2018, em documentos próprios, informações sobre as listas candidatas;

2. Apreciação e aprovação das contas de 2017;

3. Reflexão geral sobre as atividades da GHabitar e, designadamente, sobre acções ligadas à dinâmica do CIHEL – Congresso internacional da Habitação no Espaço Lusófono

4. Informações.


Se à hora marcada não estiverem presentes metade dos associados, a Assembleia reunirá meia hora depois, pelas 12h.00, com os membros presentes, de Acordo com o disposto no n.º 2 do art. 30.º dos mesmos Estatutos.


Salienta-se, ainda, que se incentiva a proposta de listas candidatas aos Corpos Sociais para os anos 2018 a 2021 e que estas listas terão de chegar, obrigatoriamente, ao mail abc.infohabitar@gmail.com em documento próprio e preparado para ser divulgado na mailing list da GHabitar – APPQH até às 17h 30 do dia 14 de Fevereiro de 2018, para poder ser sequencialmente divulgado aos associados.

Agradece-se à Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e aos seus dirigentes, mais este vital apoio à atividade da GHabitar (anteriormente Grupo Habitar).

Lisboa, Sede da GHabitar e Sede da FENACHE, 8 de fevereiro de 2018
                                               O Presidente da Mesa da Assembleia-geral
Duarte Nuno Simões

Notas Importantes:Tal como é disposto no Artigo 29º dos Estatutos, esta convocatória foi enviada por mail, com solicitação de envio de recibo, a todos os associados da GHabitar e é agora editada no Blog/Revista Infohabitar, Ano XIV, N.º 630, Revista na WWW da GHabitar-APPQH, em 9 de Fevereiro de 2018  - a Infohabitar é uma revista com edição semanal, habitualmente divulgada na mailing list da GHabitar e que conta com mais de 1.000.000 consultas/page-views.  

segunda-feira, fevereiro 05, 2018

Índice interactivo de 628 artigos da Infohabitar

Infohabitar: 14 anos de edições, 35 temas, mais de 100 autores, 628 artigos e mais de 1.000.000 de visualizações

Caros leitores da Infohabitar,
Devido ao êxito que marcou o último artigo da nossa revista (n.º 629), com a publicação do catálogo interactivo dos nossos 628 artigos, decidiu-se manter esta edição em primeira linha, facilitando, assim, a sua consulta durante mais alguns dias.

Com amizade e consideração
Lisboa, LNEC e NUT em 5 de fevereiro de 2018

António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar