terça-feira, junho 25, 2019

692 - Esboços recentes de árvores e edifícios I – Infohabitar 692


Infohabitar, Ano XV, n.º 692                     

Esboços recentes de árvores e edifícios I – Infohabitar 692

por António Baptista Coelho
(imagens e alguns pequenos textos)

(nota prévia: a Série “Habitar e Viver Melhor” será continuada  dentro de algumas semanas)

Retomando-se o que é já uma tradição da Infohabitar editam-se, em seguida, alguns esboços recentes, associando-se, por vezes, sintéticos comentários informais, sempre que é considerado oportuno, seja numa perspectiva de Arquitectura/habitar (quando adequado), seja considerando notas informais no sentido do próprio fazer do esboço/desenho.


Todos os esboços aguarelados que se seguem foram realizados na zona central e "verde", do bairro de Olivais Norte em Lisboa, um bairro modernista exemplar, e talvez "o bairro" modernista exemplar português, que é urgente requalificar e dar a conhecer pois alia uma excelente qualidade de vida a a uma arquitectura urbana original extremamente qualificada e actual nas suas preocupações de sustentabilidade ambiental.


Fig. 01: As árvores dialogam com os grandes edifícios sobre "pilotis", na zona central do bairro, verdadeiramente "biface" na sua composição edificada e "verde".
No que se refere ao esboço procurou-se acentuar o contraste entre a rigidez dos edifícios e a maleabilidade das árvores. 


Fig. 02: O verde urbano medeia entre edifícios que, na altura, anos 1960, correspondiam a diferentes "categorias" de habitação social.
No esboço procurou-se dinamizar o resultado final através de uma certa liberdade de expressão de traços variados. e há, também, a continuada procura de uma perspectiva motivadora e de um "caminho" central que nos conte algo.



Fig. 03: A Arquitectura Paisagista que em Olivais Norte teve finalmente lugar de expressão protagonista aplicou formas, texturas e cores diferentes.
O desenho em si não tem grande história e o trabalho a mais havido talvez não tenha resultado da melhor forma - mas também se aprende com este tipo de situações.



 Fig. 04: Nesta vista as grandes árvores, hoje em dia já envelhecidas (terão, talvez, mais de 50 anos), assumem afirmado protagonismo relativamente ao edificado.
O esboço procura definir planos de profundidade e, naturalmente, a perspectiva.



Fig. 05: O, já referido, cuidado da Arquitectura Paisagista na mistura e composição com diversas espécies arbóreas.
O esboço procurou alguma fidelidade a essa diversidade.


Fig. 06: Novamente o diálogo sereno, mas afirmado, entre grandes árvores e grandes edifícios de excelente Arquitectura.
O desenho procurou usar com liberdade o traço negro, tanto no início do esboço, como na sua fase final "de acabamento". 


Fig. 07: A cuidada diversidade de espécies arbóreas, o sentido de "cena" e, naturalmente, a escala humana.
O esboço seguiu a liberdade de "traçar".


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 692

Esboços recentes de árvores e edifícios I – Infohabitar 692



Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no LNEC –
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa


Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

terça-feira, junho 18, 2019

691 - Notas suplementares sobre a inovação no espaço doméstico – Infohabitar 691

Infohabitar, Ano XV, n.º 691                      

Notas suplementares sobre a inovação no espaço doméstico – Infohabitar 691


Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)

Sequem-se algumas notas suplementares sobre a relação entre a inovação no interior doméstico e as respectivas pormenorização habitacional e qualidade arquitectónica interior

Introdução

Em seguida, serão brevemente abordados alguns aspectos de relação entre a satisfação habitacional e o desenvolvimento de soluções domésticas que podem ser consideradas inovadoras ou menos correntes e que, habitualmente, estão ligadas a uma perspectiva que favorece uma assinalável e dupla/dual condição de adaptação e de apropriação desses espaços e ambientes domésticos. 

Não se irá fazer, aqui, qualquer tipo de “revisão da matéria dada” ao longo dos numerosos textos já divulgados e “multilateralmente” associáveis a esta perspectiva muito interessante e dual de melhor adaptabilidade e apropriação doméstica, mas tão somente reflectir um pouco sobre alguns dos seus aspectos mais estimulantes e que, por isso, estarão, sem dúvida, ligados a posteriores e futuros desenvolvimentos desta temática.


Sobre (as) características de originalidade doméstica

Apontam-se, em seguida, e como base que fica para esta reflexão, algumas das características, ditas, “de originalidade” no habitar – um atributo aqui associado à inovação doméstica – estudadas e propostas num estudo de Jacqueline Palmade e Manuel Perianez, dirigido para um amplo leque de compartimentos habitacionais – a indicação, destes autores, refere-se a aspectos considerados como «duplamente» [ou reforçadamente] originais (1) ( e salienta-se que o pequeno desenvolvimento que segue e comenta cada “título”, apresentado a “itálico”, é da exclusiva responsabilidade do autor deste artigo, mas mantendo-se a sua ordenação original):

- Compartimento muito espaçoso (área superior ou igual a 25m²) – apenas quando esse espaço "a mais" corresponder a usos considerados como "a mais", portanto distintos daqueles funcionalmente ligados ao respectivo compartimento.
É interessante esta noção de uma espaciosidade a relevar, que pode estar associada, por exemplo,  à possibilidade de exercício de outras funções, associáveis ou mesmo bem distintas das consideradas como mais ligadas ao respectivo compartimento; e pode haver uma ligação bem aparente ou uma mais camuflada, por exemplo, através de mobiliário com usos versáteis/flexíveis.

- Cozinha do tipo "montra", integrada na sala.
Pode estar aqui a ser considerado o espaço de cozinha como elemento de atractividade e de identidade específica da sala onde se integra, para além dos respectivos conteúdos funcionais associáveis; e é interessante considerar que este sentido de “montra”não restringe a “linguagem”formal/funcional aplicada nesse espaço ou subespaço de cozinha.

- Cozinha aberta sobre a sala.
Esta condição pode associar-se, designadamente, a duas condições distintas: uma de relação franca entre os dois espaços de sala e de cozinha, mas mantendo-se a “identidade” e espaciosidade de cada um deles; e outra em que a zona de cozinha e designadamente a sua bancada abre francamente sobre a sala, numa perspectiva de grande integração entre os dois espaços – eventualmente, numa formalização de um grande espaço do tipo “sala de família”.

- Cozinha-bancada de preparação.
Trata-se de uma “simples” redução da cozinha a uma caracterização/presença mínima e minimizada de bancada de preparação de refeições, elas próprias “mínimas”, provavelmente, ao serviço de um uso da habitação em que raramente se preparam, realmente, refeições; reduzindo-se o “serviço de cozinha”, quase apenas a operações de aquecimento de pratos pré-cozinhados – e mesmo assim fica por “resolver” a questão da louça suja e da sua “presença” em termos de cheiros,por exemplo.

- Cozinha muito grande (>12m²).
A existência de uma grande cozinha, mais tradicional ou mais moderna, é uma opção que pode marcar uma habitação, até na respectiva estruturação de entradas e acessibilidades entre os diversos compartimentos; na prática é uma solução que se aproxima da “sala de família”, mas marcando-se expressivamente a presença e o protagonismo da cozinha e dos seus diversos subespaços, incluindo, deignadamente, o de refeições, que podem ser formais e informais e o de arrumação de alimentos.

- Compartimento com janela dando sobre a sala.
Trata-se de uma situação que pode assumir, designadamente, duas condições bastantes distintas: ou referindo-se a um “simples” e relativamente reduzido espaço de alcova, ou até a mais do que um espaço deste tipo; ou tratando-se de um “verdadeiro” compartimento com maior dimensão e funcionalmente mais flexível (do que uma alcova), constituindo-se, assim, uma situação do tipo compartimento em dois espaços (sendo um deles o principal).

- Pequena sala de estar ("saleta").
Trata-se de uma opção que foi relativamente frequente no espaço doméstico até que a “revolução funcionalista” erradicou a “saleta”, considerando-a, provavelmente, funcionalmente repetidora das funções da sala de estar, o que não é verdade e empobrece, expressivamente, as funções e actividades associáveis, globalmente, ao estar, ao lazer e à recepção domésticas; e neste caso da “saleta” a espaciosidade nem é o aspecto mais determinante, sendo essencial a sua boa localização e o seu potencial de apropriação e de identidade.

(Fig. 01) Uma saleta pode "resumir-se" a um cuidadoso e bem colocado alargamento de um corredor doméstico.

- Sala com dupla exposição - não será inovação, mas é sem dúvida condição de qualidade bem acrescida.
Uma qualidade bem acrescida em termos não apenas ambientais (conforto ambiental), mas de espaciosidade (ou sentido aparente de espaciosidade), de comunicabilidade, por relação com diversos ambientes e condições ambientais e, ainda, por melhor adequação a diversas “partições” funcionais do espaço da sala. 

- Sala com duplo pé-direito.
Uma situação com alguma semelhança da referida, atrás, para a sala com dupla exposição e uma condição que se liga, frequentemente, à marcação de um sentidop doméstico e de “fogo” expressivo: o “coração da casa”, que, simultaneamente se eleva e a unifica.

- Sala com duplo pé-direito e galerias evidenciadas.
Trata-se de uma quase especificação da condição anterior e que, naturalmente, exige que a habitação possua condições de espaciosidade significativas.

- Panos de parede envidraçados, frequentemente entre cozinha e sala.
A existência de “panos envidraçados”, por exemplo, através de planos em tijolo de vidro, “fenestração” interior e outras situações semelhantes nos seus resultados em termos de iluminação natural e comunicabilidade, relaciona-se com questões de conforto ambiental interior, designadamente, proporcionando-se a maior penetração da luz natural e, também, com questões de representatividade doméstica e de flexibilização funcional do interior da habitação.

- Bipartição da planta, com duas partes do fogo quase independentes.
Esta é uma solução bem interessante, designadamente, no que proporciona em termos de condições de intergeracionalidade na habitação, apoiando-se a vivência em comum, opcional, de pessoas da mesma família e d diversas gerações, mas respeitando-se e servindo-se, simultaneamente, a sua vivência doméstica autónoma.

- Casa (sala) de banho muito grande (>12m²) com destino multifuncional.
Esta é uma daquelas situações que foi mais anulada pela “revolução doméstica funcionalista”, que reduziu a casa/sala de banho ao mero exercício das funções sanitárias, designando-as, mesmo, de “instalações sanitárias”.

- Circulações indirectas e apertadas.
Esta interessante ideia liga-se, julgo, ao proporcionar alternativas de circulação domésticas entre as principais zonas da habitação, sendo umas mais directas, espaçosas e representativas e outras, eventualmente, menos directas, mais de serviço e, quem sabe, até mais “secretas”.

Caberá aqui o comentário de que poderíamos ampliar esta "colecção" de aspectos ditos inovadores, designadamente, numa sua dupla relação seja com a fundamental matéria de uma adaptabilidade doméstica activa, seja com os aspectos de apropriação, que, aliás, são, em seguida, abordados.


Sobre as características de apropriação inovação domésticas


Os mesmos autores, Jacqueline Palmade e Manuel Perianez, apontaram, ainda, alguns aspectos que se consideram muito interessantes numa dupla perspectiva de apropriação e inovação na habitação – e neste caso deixa-se ao leitor a opinião destes autores livre de comentários suplementares, embora qualquer questão de menor clareza nos textos que se seguem seja, apenas, da responsabilidade de quem fez a respectiva tradução com o máximo de cuidado, mas sempre  com alguma liberdade (portanto a responsabilidade é do autor deste artigo):

 - Acentuação do características estéticas e arquitectónicas, valorizando-se espaços, volumes e características de luminosidade mediante a definição de subespaços e de iluminações indirectas.

- Atenuação do carácter de modernidade e austeridade, nomeadamente, através de "forros" e revestimentos naturais, especialmente em madeira ou têxteis, e da aplicação de tons cromáticos "quentes", animando ambientes basicamente definidos a "preto e branco".

- Recuperação/criação de sítios específicos, pela divisão em duas partes dos compartimentos considerados inutilmente grandes, porque para muitos o espaço com uso concreto é mais importante do que o espaço do olhar; o aspecto positivo é a criação de espaços privados para cada criança, ou zonas para pernoita de visitas, ou zonas de serviço doméstico ou para prática de passatempos e para o trabalho não doméstico. Desenvolvem-se, assim, concreta ou imaginariamente, como referem os citados autores, espaços de reserva, reorientando-se e imprimindo-se a marca pessoal nos espaços da habitação.

- Transformação das cozinhas, tendo como objectivo último aproximá-las das características das cozinhas tradicionais, "com janelas, e onde se podem tomar refeições".

- Criação de espaços de arrumação, fundidos nos espaços arquitectónicos e, consequentemente, evitando um excesso de móveis e em ressonância positiva com os ambientes e elementos de base; esta estratégia parece também permitir uma certa neutralidade/simplicidade das arrumações, com vantagens financeiras e no campo da integração de diversos tipos de mobiliário.

- Criação de uma entrada interior e exterior; estar do lado de fora da porta da habitação sem possibilidade de abrigo e ser obrigado a penetrar no interior do fogo com os sapatos sujos, porque não há espaço para os limpar ou mudar, são situações muito pouco apreciadas. Por outro lado, é muito forte a vontade de ter uma zona tampão entre exterior e interior privado, marcando a entrada e servindo para o atendimento de pessoas estranhas ao fogo.

Lendo-se estes aspectos alguns anos depois de os mesmos terem sido adequadamente aproveitados num livro editado pelo LNEC, importa registar, aqui, que algumas destas últimas matérias são, com alguma naturalidade, susceptíveis de debate; e ainda bem! No entanto e usando, aqui, uma “costela” de projectista habitacional, não podemos deixar de sublinhar que, em boa parte ou quase globalmente, partilhamos e expressivamente estas ideias.


Notas:
(1) PALMADE, Jacqueline ; PERIANEZ, Manuel –  "Des HLM à la Conquete de l'Espace", Plan Urbanisme Construction et Architecture (PUCA), Programme Conception et Usage de l’Habitat (CUH), CSTB, Paris, 1986.
Os mesmos autores, Jacqueline Palmade e Manuel Perianez, tê outros trabalhos sobre este mesmo importante e interessante tema: por exemplo, « Des HLM à la conquête de l'espace : la REX de Saint-Ouen, de Jean Nouvel et Pierre Soria » , 1988.
Salienta-se que se procurou fazer, neste artigo, uma citação o mais possível rigorosa dos textos dos referidos autores, Jacqueline Palmade e Manuel Perianez, mas algumas deficiências no arquivo de referência podem ter prejudicado essas citações, designadamente, no que se refere à designação da fonte original; circunstância esta pela qual se apresentam, desde já, as devidas desculpas aos referidos autores e aos leitores. Caso algum leitor possa assegurar a melhoria da respectiva citação, solicita-se o e agradece-se o respectivo contacto (para abc.infohabitar@gmail.com).



Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 691

Notas suplementares sobre a inovação no espaço doméstico – Infohabitar 691


Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no LNEC –
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

terça-feira, junho 11, 2019

690 - Pormenorização habitacional e qualidade arquitectónica - Infohabitar 690

Infohabitar, Ano XV, n.º 690                      

Reflexão geral sobre a relação entre a pormenorização habitacional e a qualidade arquitectónica do interior doméstico – Infohabitar 690

Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagens)

Em seguida, serão brevemente abordados alguns aspectos particularizados de relação entre a qualidade arquitectónica, incluindo naturalmente a satisfação habitacional e o desenvolvimento de determinadas soluções de pormenorização dos espaços domésticos, considerando-se, com especial enfoque, as matérias ligadas à apropriação desses espaços. 


Algumas notas gerais sobre a pormenorização habitacional

A pormenorização exterior e interior tem escalas físicas próprias e características específicas, relacionadas com a distância a que os aspectos de pormenor são mais frequentemente vistos e com os períodos de tempo, mais ou menos longos, em que decorre habitualmente a sua visualização.

Destaca-se ainda que o desenvolvimento de certos elementos de grande pormenor, basicamente funcionais, como é o caso dos "rodapés", sancas a meia altura (muito úteis para a protecção das paredes em que se apliquem), lambris e sancas altas pode privilegiar diversas características tais como: formalidade, informalidade, tradicionalismo, modernidade, funcionalidade extrema, representatividade, etc.
Robert Stern, nos seus projectos habitacionais, oferece-nos um amplo conjunto de motivos e aspectos a desenvolver em termos de pormenorização, salientando-se, os seguintes (apurados em diversos documentos e livros sobre a obra desse Arquitecto):

- Elementos de "design gráfico", traçados nas fachadas através de perfis, cujos dimensionamentos devem considerar a escala própria de cada edifício.

- Contrastes de cor para salientar certos planos de parede, que podem ser usados quase como moldura geral integradora dos diversos elementos que aí existam ou que aí sejam colocados.

- Aproveitamento formal/funcional de certos equipamentos domésticos, como é o caso das bancadas e armários de cozinha, privilegiando-se diversas características tais como: formalidade, informalidade, tradicionalismo, modernidade, funcionalidade extrema, representatividade.

E o Arquitecto Charles Moore em um dos seus principais trabalhos teóricos (“The Place of Houses, com Gerald Allen e Donlyn Lyndon), faz mesmo depender boa parte do “partido” projectual do interior doméstico de um conjunto de relações entre os respectivos espaços da habitação e os “seus” elementos de equipamento e de instalações, numa opção muito interessante, em que, de certa forma, a pormenorização doméstica “sobe de escala” e se torna elemento estruturador da organização e caracterização domésticas.


Fig. 01: uma biblioteca doméstica caracterizadora.


Pormenorização bem integrada no projecto global

Naturalmente que defender uma pormenorização bem integrada no projecto global não deixa de ser um “lugar comum” ou uma situação que, desejavelmente, existe e está bem sucedida, ou, não existe ou está mal conseguida. No entanto faz-se aqui esta referência essencialmente por se considerar que a caracterização de uma dada solução interior doméstica depende, significativamente, da adequação e harmonização da respectiva pormenorização em relação com o respectivo projecto global e tudo o que se faça para defender, manter e reforçar tal harmonização é essencial numa consolidada caracterização da respectiva solução global, caracterização esta que tem e terá, cada vez mais, expressivas dimensões financeiras, associadas ao valor específico de uma solução doméstica globalmente cuidada, mantida, e valorizada, a partir de uma solução “histórica” que terá, naturalmente, de ter sido marcada pela qualidade projectual.

Estamos, felizmente e finalmente, aqui, em Portugal, a chegar a uma altura em que a defesa, adequada manutenção e mesmo recuperação cuidadosa de um conjunto de espaços domésticos pormenorizados e caracterizados por uma adequada e positiva solução arquitectónica original, começa a “pagar”, não só pela genuinidade dos espaços e ambientes de pormenor assim proporcionados, mas também pela valorização financeira desta opção.     


Pormenorização funcional que não esqueça o ambiente doméstico

Defender uma pormenorização funcional que não esqueça o ambiente doméstico, ou, por outras palavras, a construção/proposta “básica” de um conjunto de “cenários” estimulantemente marcados por variadas qualidades, entre as quais poderemos destacar, por exemplo, a expressão da escala humana, o sentido de  envolvência, o enquadramento paisagístico, a afectividade e mesmo o “calor” certos tipos de acabamentos, a  estimulante mas regrada fluidez entre os diversos tipos de espaços, etc., etc., é uma opção, ou “um partido”, que fará, sem dúvida, opor opiniões muito calorosas/marcadas.

Mas, no entanto, se nos lembrarmos de ambientes muito marcados por uma funcionalidade “rígida”, “fria” e minimalista, sendo estes ambientes de habitação – e dá vontade de dizer que isto vai bem para lá da habitação –, não parece ser excessivo criticar o aplicar deste tipo de soluções, a não ser quando a apropriação por parte de quem aí habite/more não seja expectável/desejável; e mesmo assim não tenho qualquer dúvida de qual é a minha opinião pessoal sobre tais tipos de ambientes, talvez montados mais para serem fotografados do que para serem vividos, mas esta é uma opinião pessoal.


Fig. 02: um "excesso" de apropriação ?...


Pormenorização doméstica que não esqueça a dimensão da apropriação

E aqui estamos numa temática ligada a uma pormenorização doméstica que não esqueça a dimensão da apropriação, essencialmente, no que se refere à capacidade de se poder mobilar adequada, extensa e diversificadamente os diversos espaços da habitação, mas também no que se refere à disponibilização de panos de parede amplos e bem iluminados, que sejam excelentes para se “povoarem” com variados tipos de arte (gravuras, quadros, pratos de cerâmica, pequenas esculturas) e que estejam mesmo a pedir a sua cuidada renovação através de novas cores escolhidas pelos moradores.

E não tenhamos dúvida de que há muitas habitações em que praticamente não há panos de parede adequados em quantidade e em dimensão para este tipo de intervenção e apropriação pelos moradores.

E a apropriação, baseada na pormenorização doméstica, pode ainda basear-se em outros tipos de soluções, como, por exemplo, varandas fundas e variadamente mobiláveis, espaços próprios para a instalação de vasos e de floreiras e “simples” paredes espessas, cujos peitoris e soleiras acolham os mais variados elementos de apropriação e identidade pessoal e doméstica.


Pormenorização que não esqueça a facilidade de manutenção e o apoio à durabilidade

Naturalmente que uma adequada e sustentada pormenorização doméstica não deve esquecer  a facilidade de manutenção corrente desses espaços, equipamentos e instalações, bem como o facilitar das operações que influenciam, positivamente, a sua respectiva durabilidade.

E nesta perspectiva é perfeitamente válida a proposta de soluções que podem “arriscar” a consensualidade da respectiva vista e apropriação por diversas “famílias” de moradores, em favor da expressiva facilitação de tais operações de manutenção e de intervenção ocasional, como será o caso da aplicação de canalizações visíveis e/ou de espaços “de serviço” onde passam partes significativas das instalações.

Mas também, aqui, é essencial ponderar bem as opções escolhidas em termos de manutenção corrente ao longo de um significativo período temporal, não se sacrificando, por exemplo, esse prolongamento de um estado adequado de utilização com manutenção simples, em favor de uma aparência inicial extremamente apelativa, mas que, a médio prazo, se revela problemática, designadamente, pela dificuldade de intervenção para reposição num estado adequado.


Soluções pormenorizadas formalmente neutrais 

Um aspecto importante a considerar na pormenorização do interior doméstico é que as soluções tenham uma caracterização depurada e formalmente neutral, harmonizável com um amplo leque de soluções/”partidos” de mobiliário e de decoração.

Esta é mais uma daquelas afirmações “óbvias”, mas que, frequentemente, se vê posta em causas através de opções de pormenor (ex., rodapés, pavimentos e portas interiores) que “jogam” apenas com famílias de mobiliário e mesmo até com cromatismos interiores específicos.


Cores e texturas “naturais”

Uma velha solução que, quase sempre, permite a harmonização entre a pormenorização do interior doméstico associada ao respectivo projecto de arquitectura e a intervenção dos moradores é a utilização extensa e razoavelmente expressiva de cores de texturas “naturais”, associadas a uma pormenorização formalmente racionalizada e depurada, designadamente, nos seus aspectos de menor escala, não existindo “forma a mais” e estando boa parte da forma existente bem justiçada em termos funcionais ligados ao uso directo e/ou a aspectos de facilidade de manutenção.


“Mobília” encastrada

As  soluções de mobiliário ou "imobiliário" encastrado ou embebido sempre foram muito estimadas pela Arquitectura de interiores pois estão ligadas a uma opção de desenho inicial muito completo do respectivo espaço doméstico, estando frequentemente associadas, seja ao estudo de soluções habitacionais ditas mínimas, seja a uma forte adequação entre espaços domésticos dimensionalmente controlados e um seu conteúdo de mobiliário cuja escala, bem contida, não ponha em risco uma ocupação doméstica com algum desafogo.

Acontece, no entanto, que um uso mais extenso deste tipo de mobiliário encastrado, pode fazer arriscar a capacidade de apropriação dos respectivos espaços domésticos e exige muito da respectiva capacidade de projecto de pormenor, tal como foi acima apontado e de forma a não “brigar” com a referida apropriação pelos moradores;  uma capacidade que, frequentemente, se joga em termos do respectivo potencial de “camuflagem” e/ou de profunda integração na estrutura global dos respectivos espaços arquitectónicos, , designadamente, em termos de introdução de mobiliário. 


Floreiras

As floreiras foram sempre parentes-pobres da concepção residencial, seja porque não cabiam num excessivamente depurado vocabulário modernista, seja porque ocupavam espaço precioso nas promoções privadas e de interesse social, seja porque sempre estiveram associadas a problemas de impermeabilização.

Na realidade, no entanto, as floreiras e/ou o espaço para a introdução de floreiras e vasos para plantas constituem interessantes elementos que tinham lugar cativo na arquitectura tradicional e que têm até lugar protagonista em algumas das melhores soluções domésticas modernistas.

E naturalmente, e tal como foi já aqui repetido, floreiras e espaços para vasos são elementos muito importantes do vocabulário de uma habitação e de um edifício habitacional positivamente apropriado pelos seus habitantes.

Inovação na introdução de instalações

A introdução de elementos associados a instalações domésticas, como por exemplo, pequenos lavatórios, banheiras, pequenas bancadas de apoio à preparação de bebidas e pequenas refeições e grelhadores com chaminés de evacuação de fumos, fora dos espaços domésticos onde habitualmente tais elementos são instalados, é uma opção adequada à inovação que se defende para os espaços domésticos.

No entanto uma tal opção tem de estar devidamente acautelada em termos das condições de segurança, conforto ambiental, sanidade, manutenção, durabilidade e privacidade aplicáveis.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 690

Reflexão geral sobre a relação entre a pormenorização habitacional e a qualidade arquitectónica do interior doméstico – Infohabitar 690


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, em Lisboa



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

terça-feira, junho 04, 2019

689 - Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689

Infohabitar, Ano XV, n.º 689                      

Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689

Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)


Em seguida, serão brevemente abordados alguns aspectos da relação entre a satisfação habitacional nos espaços domésticos e o desenvolvimento de determinadas soluções gerais de equipamentos e instalações, considerando-se, essencialmente, as matérias ligadas, por um lado à apropriação desses espaços, por outro a aspectos de atractividade/aceitação das mesmas soluções e, naturalmente, a aspectos essenciais de funcionalidade e adequação global das mesmas soluções.

Introdução a uma reflexão geral sobre equipamentos e instalações domésticas

Chama-se a atenção para o carácter informal, embora naturalmente cuidadoso, destes comentários/reflexões e para o sentido prospectivo dos mesmos, pois tem-se bem a noção de que se está a entrar em matérias tão interessantes como sensíveis, designadamente, porque marcadas por muitas dezenas de anos de carga regulamentar e d que podemos designar, embora de modo redutor e apenas aproximado, de uma “ideologia doméstica funcionalista”; e salienta-se, ainda, serem estas reflexões apenas generalistas e introdutórias à temática.

Importa, desde já, clarificar que designamos, aqui, como equipamentos domésticos todos os tipos de elementos “embebidos” na habitação – tipo mobiliário fixo – que proporcionam à vida doméstica o que podemos considerar como condições básicas de funcionalidade; tal como será o caso de um conjunto de armários e bancadas de cozinha e de uma série de elementos de arrumação fixos, como armários e roupeiros embutidos.

Como instalações referimo-nos a elementos ligados a redes de electricidade, água, esgotos, telecomunicações, etc., elementos estes que também têm parcelas muito assimiláveis aos equipamentos domésticos fixos e aos seus aspectos de apropriação e atractividade, sob a forma das variadas “louças” sanitárias (banheiras, lavatórios, bidés, sanitas) – elementos estes que acabam por ter uma dupla caracterização funcional e formal.

Regista-se, ainda, que a previsão de um dado conjunto de elementos de equipamento fixo e de instalações está, habitualmente, associada espaços onde há disponibilização de água (“espaços húmidos”) e, consequentemente à introdução de revestimentos impermeáveis em paredes e pisos, bastante mais dispendiosos do que os acabamentos correntes.
  
E desde já podemos considerar que a indicação de um dado equipamento mínimo, em termos de armários e bancadas, está, habitualmente, associado à previsão de um funcionamento, pelo menos, mínimo do espaço de cozinha, tendo em conta aspectos de higiene e de funcionalidade; uma previsão que, interessantemente, tem similaridades em soluções mínimas associadas a operações de auto-acabamento dos espaços domésticos e em soluções bastante elaboradas onde existe a possibilidade de escolha entre diversos “pacotes” de equipamentos, instalações e acabamentos finais.


Fig. 01: naturalmente, certas soluções de equipamentos domésticos - neste caso uma habitação "forrada" a prateleiras e lambris de madeira - caracterizam profundamente a sua identidade e imagem.


Equipamentos e instalações, aspectos relativamente “inovadores”

Um tipo interessante de reflexão a considerar é a necessidade de uma revisão urgente dos aspectos para-regulamentares e regulamentares que marcam a previsão de equipamentos e instalações domésticas, actualizando-a no que se liga à existência de novos tipos de instalações e de acabamentos de “zonas húmidas” e tendo em conta, designadamente, os aspectos de apropriação e a diversidade de modos de habitar que marcam e marcarão a actualidade e o futuro próximo.

Outro aspecto importante a ter em conta refere-se à temática da apropriação doméstica, um assunto que podemos exemplificar com a situação, muito corrente, de global “destruição” das louças e revestimentos sanitários e também, frequentemente, dos equipamentos e revestimentos das cozinhas, para sua substituição por outros elementos escolhidos pelos próprios habitantes no sentido de uma forte apropriação desses espaços/elementos – uma situação que, muitas vezes, afecta elementos a estrear.

E esta situação leva-nos a pensar sobre o interesse estratégico: (i) de se preverem elementos de equipamentos e de instalações com expressiva neutralidade de imagens e, portanto, harmonizáveis com um amplo leque de arranjos domésticos; e/ou (ii) de se disponibilizarem, numa determinada fase da obra e conhecidos os respectivos moradores, “pacotes” específicos de equipamentos e de determinados elementos de instalações. 
 
Estas reflexões podem, ainda, ser expressivamente ampliadas e flexibilizadas se avançarmos num caminho de exploração e experimentação de novos modos de habitar e de, associadas, novas caracterizações de determinados espaços domésticos, com relevo, por exemplo, para: cozinhas integradas em salas de família multifuncionais e multiambientais, onde os aspectos de funcionalidade devem ser bem harmonizados com um essencial sentido doméstico, acolhedor e atraente; “instalações sanitárias” domésticas que o deixem de ser, no que se refere a uma expressão excessiva de funcionalidade, convertendo-se em estimulantes “salas de banho”, que evidenciem a importância da relação entre a água, a higiene, a saúde e o lazer, relegando, frequentemente, as sanitas para zonas específicas e bem demarcadas; “salas de banho” onde estejam integrados equipamentos de lavagem e secagem de roupas; e mesmo quartos onde se integrem espaços de banho protagonistas e atraentes.

E não tenhamos dúvidas de que a inovação nos modos de habitar vai mais longe do que estas “simples” considerações sobre novos modos de encarar cozinhas/salas, casas de banho e quartos multifuncionais.

Como aspectos práticos que importa, de certa forma, “ressalvar” ou reservar quando se desenvolvem estes tipo de reflexões práticas, ou mesmo no caso geral do desenvolvimento de equipamentos e, especificamente, de instalações domésticas, salientam-se os cuidados de: higiene geral no uso e na facilidade de manutenção corrente, ventilação e evacuação do vapor de água e facilitação de intervenções eventuais, designadamente, no acesso a canalizações – uma situação que pode fazer pensar e, eventualmente, recomendar o uso de canalizações aparentes ou facilmente visitáveis (ex., através de tectos ou pisos “falsos”); pois não tenhamos dúvidas que os problemas com canalizações são dos mais complexos e frequentes na “vida” de uma habitação.

Como última nota de remate neste conjunto de reflexões, refere-se que a sua aplicação terá de ser harmonizada com os aspectos regulamentares específicos e aplicáveis e/ou vice-versa ...

Equipamentos e instalações, alguns aspectos específicos

Os equipamentos domésticos fixos não são, habitualmente, elementos protagonistas num espaço doméstico, mas sim elementos que apoiam, funcionalmente, a sua adequada vivência.

No entanto e porque não há regra sem excepção, os equipamentos domésticos fixos ganham expressivo protagonismo – ainda que numa frequente perspectiva de “camuflagem” da sua presença e desse protagonismo – em determinadas soluções habitacionais inovadoras, designadamente, quando marcadas por extensas soluções de equipamentos, habitualmente, destinados à camuflagem de grandes espaços de arrumação doméstica (ex., sequências alongadas de grandes armários embutidos) e/ou ao assegurar de uma expressiva versatilidade por transformação rápida e profunda de determinados ambientes domésticos (ex., extensa parede, aparentemente, “vazia”, e que quase instantaneamente se reconfigura numa série de estantes cheias de livros, “transformando” um dado espaço doméstico anteriormente dedicado ao estar, numa zona de trabalho e/ou de biblioteca).

Todos os elementos de equipamento e de instalações domésticas devem ser programados no sentido de se facilitar a sua limpeza corrente e naturalmente o seu uso; e neste sentido importa sublinhar que as peças sanitárias devem ser posicionadas de modo a permitirem, tanto a limpeza fácil e "em profundidade" das casas de banho, como a existência de boas áreas de utilização.

Todos os elementos de manobra de vãos, elementos de protecção de vãos e armários devem caracterizar-se por uma durabilidade e ergonomia maximizadas, sublinhando-se, neste sentido que, hoje em dia, é essencial aplicar uma estratégis de capacidade de uso “universal”, que privilegie o uso adequado, seguro e estimulante por parte de pessoas idosas.

Em termos particulares, embora ainda a título de exemplos, fazem-se, em seguida, algumas considerações sobre alguns equipamentos e instalações específicos.

Os estendais exteriores devem ter boa capacidade de roupa estendida, não devem exigir cuidados de manutenção especiais, devem proporcionar total segurança no seu uso e especificamente por pessoas com dificuldades de movimentação e devem ter boa aparência exterior.

A instalação de chaminés de "fogo aberto" e de "salamandras" (fogões de sala) deve obrigar a uma estratégia de ventilação constante dos respectivos compartimentos e de toda a habitação de modo a anular-se o risco de intoxicação.
Na cozinha importa existirem adequadas capacidades de tiragem de vapores e fumos, designadamente, através de chaminé tradicional com tiragem contínua, que se considera mais adequada e segura, do que a solução através de exaustor mecânico.

A solução de ventilação forçada em casas de banho interiores (sem janelas), através da existência de uma entrada (inferior) e de uma saída (superior) de ar, é considerada como uma solução apenas de recurso, que carece de verificação no que se refere ao seu funcionamento (facilmente fica aparente a entrada de ar quando aproximamos a mão das grelhas de entrada).

No entanto e tendo em conta as actuais exigências regulamentares de áreas folgadas em casas de banho, considerando o seu uso por pessoas em cadeiras de rodas, recomenda-se que estas novas espaçosas casas de banho tenham janelas exteriores, dispondo de elementos de ventilação específicos; faz realmente muito pouco sentido que um espaço com cerca de 5m2 e tão usado nas mais diversas funções seja interior, e o que se ganha na habitabilidade doméstica é muito significativo em termos ambientais específicos e de verdadeiro ambiente doméstico.

Instalações, alguns aspectos específicos

Tal como acontece com boa parte dos equipamentos, as instalações domésticas não são elementos protagonistas num espaço doméstico, mas sim elementos que apoiam, funcionalmente, a sua adequada vivência.

Sobre as instalações a tendência tem sido a sua total integração da própria massa da construção, numa acção de verdadeira destruição de alvenarias para integrar roços para os mais diversos tipos de canalizações onde passam água e fios, julgando-se que o presente e o próximo futuro deveria trazer à construção uma racionalidade de integração de instalações que acabasse com este desperdício de mão-de-obra e com a redução da qualidade da própria obra feita, o que só será conseguido com soluções "positivas" de incorporação de tubagens.

E este caminho é ainda favorecido quando as opções de adaptação da habitação a variados tipos de ocupação obrigam a reconversões, por vezes, radicais nessas instalações, com toda uma nova destruição de material e desperdício de mão-de-obra, para se reposicionarem as tomadas, se aumentar o número e deslocar os controlos de luz, e mesmo para se aumentar o número e mudar o sítio das peças sanitárias e equipamentos de cozinha.

Há, ainda, outros tipos de instalações mais "pesadas" como determinados tipos de soluções de evacuação de lixo e novos tipos de instalações de duplicação de instalações de água, por exemplo, aproveitando-se a água da chuva para autoclismos, que obrigam a cuidados muito específicos em termos de projecto.

Sobre a introdução de instalações de ar condicionado, que está bem na ordem do dia por diversas razões, apenas se refere, aqui, que elas apenas devem surgir nos espaços domésticos como uma opção de “segunda linha”, sendo essencial privilegiar o adequado isolamento e a adequada ventilação natural do conjunto dos espaços de cada habitação e tendo, evidentemente, em conta a sua envolvente directa.

Havendo introdução de instalações de ar condicionado não faz, evidentemente, qualquer sentido que a aplicação dos respectivos elementos exteriores não seja feita, exclusivamente, em espaços devidamente previstos para essa finalidade; pois se assim não acontecer os respectivos edifícios terão as suas imagens expressivamente degradadas.

Retira-se daqui que, por um lado, a concepção habitacional tem de considerar a integração de núcleos estruturantes de instalações que, estrategicamente, possam servir variados tipos de soluções domésticas, sendo que, depois, a fase final das diversas redes de instalações só ganhará com soluções de desenvolvimento muito flexíveis e alteráveis com um mínimo de complexidade construtiva.


Notas editoriais:
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Infohabitar, Ano XV, n.º 689

Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo/LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).