domingo, março 13, 2005

Habitação sem cidade - Infohabitar 14

 - Infohabitar 14

O grande interesse e a oportunidade do tema leva-me a traduzir algumas partes do editorial do Arq. Luis Fernández-Galiano, intitulado “Vivienda sin ciudad” e saído há pouco tempo, tal como é felizmente hábito, no excelente último número da revista espanhola “Arquitectura Viva”, centrado na temática “Piezas residenciales”, que desde já se recomenda a todos aqueles que se interessam por estas matérias do habitar, não sendo preciso, de todo, serem arquitectos, basta apreciarem belas soluções urbanas e residenciais; e atenção que há belas soluções urbanas e residenciais portuguesas do atelier Promontório, muito bem apresentadas nesta revista.

Lisboa, Encarnação, 13 de Março de 2005
António Baptista Coelho

Habitação sem cidade


“ O problema da habitação tornou-se o problema da cidade. Durante o século XX, a transformação urbana provocada pela mecanização da agricultura e os fluxos migratórios do campo para a cidade provocaram o chamado «problema da habitação»...No princípio do século XXI, e no contexto do mundo desenvolvido, o alojamento não é já uma preocupação quantitativa ou sanitária, mas sim qualitativa e ambiental: garantidas as dimensões mínimas, a ventilação eficaz e a saudável insolação, a habitação contemporânea padece de mediocridade visual, programas rotineiros e envolventes anoréxicas.
...
É inevitável pensar que , independentemente dos nossos desejos, a degradação formal da cidade contemporânea é uma representação fiel da deterioração do organismo colectivo: um tecido doente no qual a beleza singular de algumas peças de arquitectura produz um efeito tão patético como jóias num rosto consumido.
A habitação no é hoje um problema que precise de experimentações estéticas ou inovações estilísticas; é um problema urbano, da civitas ou da polis, o que quer dizer, um problema de cidadania e político. Precisamos de mais arquitectura; mas, acima de tudo, precisamos de mais cidade.

Luis Fernández-Galiano, em “Vivienda sin ciudad”, n.º 97 da revista “Arquitectura Viva”, p. 20.


Apenas como um primeiro comentário a este óptimo texto, que merece ser integralmente lido, e não entrando no cerne da questão, diz-se apenas que mesmo as matérias do conforto funcional e ambiental acima indicadas (dimensões mínimas, ventilação e insolação), consideradas como “dados adquiridos” não o são, infelizmente, entre nós. E por aqui me fico, prometendo voltar a esta temática.
ABC

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