quinta-feira, outubro 26, 2006

110 - OS TERRITÓRIOS EM MUDANÇA E O ESPAÇO GLOBAL: questões de cidadania e de ambiente - artigo de João Lutas Craveiro - Infohabitar 110

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Nota prévia: adiamento da realização da 10.ª Visita Técnica do Grupo Habitar ao Centro Histórico de Coimbra; muito em breve será apontada a nova data e o programa pormenorizado - muito provavelmentea nova data será logo no início de 2007.

OS TERRITÓRIOS EM MUDANÇA E O ESPAÇO GLOBAL:questões de cidadania e de ambiente


João Lutas Craveiro(*)
Palavras-chave: Território, globalização, participação e sustentabilidade.


O texto aborda a gestão dos territórios numa era em que os riscos sociais e ecológicos se tornam globais. Reflecte-se, a propósito, sobre os modelos de desenvolvimento e as formas de participação cívica sob a urgência da governação [governance].
Este texto revela, contudo, uma intenção claramente académica (1), que se assume. Pretende-se, no domínio das reflexões desenvolvidas, homenagear o estudioso do espaço e da mobilidade urbanas Jean Rémy.

(*) Sociólogo e Investigador Auxiliar do Núcleo de Ecologia Social do Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

«Les espaces publics, tels les rues et les places, doivent devenir significatifs à l’échelle du piéton. La séquence est construite pour faire image au rythme du déplacement piéton. Le gabarit des espaces favorise un face à face en tenant compte des règles de la proxémique. Cette mise en valeur encourage des déplacements piétons, qui eux-mêmes peuvent revêtir de multiples formes. Le déplacement fonctionnel d’une personne allant rapidement d’un lieu à un autre se compose avec la promenade où l’on accepte d’être spectateur d’événements inattendus. Dans d’autres circonstances, on peut prendre du temps à la découverte et la flânerie».
Jean Rémy,
intervenção datada de Março de 2001.


1. Territórios em mudança, e as escalas do humano e da natureza

As mudanças territoriais, assinaladas na expansão do urbano e nas densidades metropolitanas, têm acentuado as discussões sobre a escala inumana das cidades e o gigantismo das suas periferias. Estas discussões parecem aprisionar as mudanças a uma apreciação negativa. Argumenta-se, assim, pela perda das redes de sociabilidade e de solidariedade dimensionadas na escala pedonal, escala que configurava nas cidades pré-modernas as identidades sociais e os percursos essenciais do quotidiano.
Com efeito, a escala pedonal dos antigos espaços urbanos encontrava-se, tradicionalmente, associada à sedentarização e ao privilégio do encontro face a face (RÉMY, 2001), como base física estruturadora das identidades e dos lugares de pertença. O espaço constitui-se hoje como um lugar da diversidade, mas importa sempre salientar a importância, para além do espaço físico em si, dos actores sociais que o utilizam e das redes sociais que resultam das suas interacções (RÉMY e VOYÉ, 1991).
No limite, as redes sociais, de dimensões múltiplas encadeadas (2) , comprimem o mundo a um só espaço global. O espaço global [resultado directo da globalização] representa, pois, uma compressão extraordinária da geografia e da história que conforma a humanidade a um destino e a um planeta comuns, ainda que a inflamação dos riscos produzidos provoque a incerteza do porvir e da própria sobrevivência da humanidade (BECK, 1992).

Alguns teóricos defendem mesmo que sob o registo da globalização e da dilatação da influência das novas tecnologias, com particular relevo para as tecnologias da comunicação (CASTELLS, 2002) e da supervisão planetária, o espaço é aniquilado na sua probabilidade de recrutar e de representar o custo da distância. No entanto, o custo da distância identifica-se bem nos factores de mobilidade e constitui uma variável determinante para as possibilidades de des-locação. Basta distinguir, por exemplo, a velocidade das transacções de informação das possibilidades de deslocação física das pessoas (3).
As pessoas continuam, em grande número, a produzir a sua biografia no domínio das malhas urbanas que emanciparam o local de trabalho do local de residência (uma das características da modernidade industrial). Esta emancipação não significa a alienação do espaço nem a sua superação, traduzindo antes o adensar das infra-estruturas num continuum humanamente frequentado que requer o ordenamento político e funcional dos espaços (RÉMY, op. cit., 2001).
O espaço pode, na sua essência, ser mesmo concebido como um quadro funcional, isto é, como o resultado de intervenções que visam responder a necessidades pretensamente válidas em toda a parte (FISCHER, 1994: 37). Neste sentido, a globalização pode significar a homogeneização dos processos de mudança social sob a compressão da humanidade a um só mundo e destino comuns.

De qualquer forma, a discussão sobre a superação do espaço (entendido na sua matriz de territórios políticos), ou a eleição do espaço como um elemento autónomo, apolítico e explicativo da organização social recolocam a questão do próprio estatuto do espaço na análise social (SILVANO, 2001: 55, a propósito de Rémy e Voyé).
Mesmo considerando que a globalização, sob a multiplicação dos riscos sociais e ecológicos, solicita uma gestão global a favor da pacificação dos territórios nacionais e do bem-estar da humanidade (4) é a dimensão do espaço (vivido e frequentado) que se assume como determinante para a reorganização das instâncias da regulação política. Em que medida a globalização, na sua inflação de espaço que obriga a uma reapreciação dos fenómenos a uma escala planetária, traduz o definhar dos poderes e das identidades territoriais? Esta questão é tanto mais premente atendendo a que o espaço, vivido e frequentado quotidianamente, é estruturado com base nas relações de proximidade e de distância físicas, independentemente das relações afectivas e da co-identificação social – o gueto não traduz outra coisa que uma proximidade física indesejada, acompanhada por uma vontade de distanciamento social, evidenciando nos espaços urbanos esse jogo das proximidades e das distâncias (GRAFMEYER, 1995: 101).
Planear os tipos de intervenção em espaço urbano é, pois, gerir relações e dimensionamentos entre a escala humana e a escala arquitectónica. O espaço não é uma abstracção nem um elemento frio e material disponível para qualquer solução arquitectónica que não leve em consideração a intervenção sobre a realidade social.


Fotos 1, 2 e 3: a escala humana
Fotografias de Karina Bertoncini (Brasil): série intitulada O senhor Jacinto (2006)



Foto 1




Foto 2



Foto 3

A concepção do espaço não pode autorizar que se considere este como uma mera «superfície de registo perfeitamente neutra, uma espécie de desdobragem material da vida social. Na própria medida em que ele é o produto, o espaço faz parte integrante desta vida social». (GRAFMEYER, op. cit.: 32). Durkheim designaria por morfológicos os factos sociais com traduções estáveis inscritas sobre o espaço. Há, assim, que considerar uma relação funcional com o espaço, no sentido em que este é em simultâneo uma entidade física e também social(izada), classificada e valorizada no âmbito das relações sociais.
O espaço preenchido por relações sociais transforma-se num espaço social onde o domínio das identidades se prende com os processos da mobilidade. Aqui reside a novidade da análise de Jean Rémy, elegendo a mobilidade como a componente funcional e essencial da organização dos espaços, físicos e sociais, privilegiando esta componente por sobre as componentes clássicas da sociologia urbana: o volume, a densidade e a heterogeneidade social. Rémy valoriza a mobilidade física reflectindo, a seu propósito, na necessidade de redimensionar a cidade a uma escala humana de interconhecimento reinventando o sentimento de pertença na relação com o sítio.

A cidade é, sem dúvida e também, a sua forma física, e se esta forma física se encontra alterada pela modernidade industrial a cidade deve continuar a facilitar a densidade das interacções e uma multiplicação de encontros semi-aleatórios possibilitada pela estrutura dos espaços públicos (RÉMY, 2001). O privilégio da cidade e dos meios urbanos parece, pois, ser favorecido num momento em que a inflacção do espaço pelos fenómenos da globalização (económica, social, ecológica...) liberta a territorialidade da estrita dependência da soberania dos Estados-Nação (WATERS, 2002). As identidades sociais carecem dos seus respectivos conteúdos simbólicos e estes tanto localizam como globalizam, mas dificilmente se limitam agora a uma expressão nacionalizada (5) . Os novos guiões emancipadores da humanidade até se dirigem para uma cidadania global que trespassa as dimensões territoriais dos Estados-Nação.

A noção de território, cuja derivação etimológica deriva do Latim territuriu (6) com o mesmo significado, encontra-se geralmente associada ao exercício de uma autoridade política com o recurso da coacção (privilegiadamente o Estado-Nação, na era moderna). É esta noção que se encontra parcialmente ultrapassada pela irrupção das formas de intervenção cívica, no registo comprometido com os direitos humanos e a defesa da biodiversidade. O direito de ingerência só pode entender-se numa escala globalizada, apesar da sua aplicação localizada, traduzindo-se pelo direito a agir em território alheio em nome de princípios universais. A própria evolução do direito de ingerência traduz a multiplicação das possibilidades de intervenção, independentemente das circunscrições territoriais políticas fazendo incluir, para além da gestão da segurança militar e dos direitos humanos, as questões ambientais sob o particular relevo das monitorizações científicas do dano ecossistémico (YEARLEY, 1996).

Com efeito, a gestão dos recursos naturais e das ameaças ambientais solicitam, cada vez mais, um compromisso assumido à escala global. A urbanização e a intensidade das drenagens dos recursos naturais a favor das populações urbanas (cujo aumento faz supor que, muito em breve, a maioria da humanidade resida em espaços urbanos (7) ) obrigam a equacionar as utilizações da natureza e as formas de uso e de ocupação do solo como questões que devem ultrapassar a escala decisória, e mesmo os direitos de soberania, dos Estados-Nação (MACNAGHTEN e URRY, 1999: 266/277). Estas questões valorizam as práticas de protecção da natureza, mas convocam a reflexão sobre os modelos de desenvolvimento e os direitos da cidadania.

«Passando o rio a vau, atravessando a passagem, o homem encontra-se de repente diante da cidade de Moriana, com as portas de alabastro transparentes à luz do sol, as colunas de coral que sustêm os frontões em serpentia, os palácios todos de vidro como aquários onde nadam as sombras das bailarinas de escamas prateadas sob os candelabros em forma de medusa. Se não for a primeira viagem o homem sabe já que as cidades como esta têm um reverso: basta percorrer um semicírculo e ter-se-á à vista a face oculta de Moriana, uma extensão de chapa enferrujada, sarapinheira, tábuas cheias de pregos, canos negros de fuligem, montões de latas, muros cobertos com escritas meio apagadas, fundos de cadeira desempalhadas, cordas que só servem para alguém se enforcar numa trave apodrecida».
Italo Calvino,
in As Cidades Invisíveis.

2. A protecção da natureza, os modelos de desenvolvimento e a gestão participada

As questões ambientais têm acentuado, sobre os espaços urbanos, distinguidos pela densidade e a mobilidade humanas, uma nova valência de participação cívica e de regulação do interesse público que se traduz na emergência das políticas ambientais e de ordenamento do território. Se bem que estas políticas sejam configuradas com base na intervenção do Estado-Nação, cuja legitimidade advém precisamente da representação do interesse público (SOROMENHO-MARQUES, 1996), a internacionalização das questões ambientais e das possibilidades de participação cívica têm obrigado a uma discussão pública das políticas arregimentada nos direitos de participação generalizada e no livre acesso à informação (LOPES e GASPAR, 1993). O exercício destes direitos tem sido favorecido ao abrigo de novas disposições constitucionais, mas também como resultado de novas jurisprudências supra-nacionais e da adopção de tratados internacionais sobre a matéria (8) (ROCHA, 2000, RUIVO, 2003).
O que está em causa, mais do que a soberania dos Estados, é uma ordem tradicional e vestefaliana que, também a propósito das questões ambientais, obriga a um redireccionamento do próprio Estado que a literatura especializada tem consagrado na diferença entre o governo e a governação [governance] (PUREZA, 2001: 241). A governação diz respeito, ao nível das questões que se globalizam como as questões ambientais e da segurança, entre outras, à capacidade de governar (sem autoridade soberana) as relações que transcendem as fronteiras nacionais e que se legitimam na partilha de valores sem o concurso obrigatório dos poderes políticos. Em último recurso, a governação dispensa o governo e expõe a arbitrariedade das fronteiras estatais ou traçadas pela força da política e das autoridades nacionais (9) .

O próprio conceito de desenvolvimento sustentável, tão constitucionalizado como internacionalmente consagrado e que se traduz na preservação da qualidade de vida entendida à escala do planeta e sob tempos geracionais sem limite, requer a discriminação das questões ambientais por dimensões que privilegiam a equidade social, a segurança dos ambientes construídos e humanizados, e a renovação e a protecção dos recursos naturais. Deste modo, questiona-se um modelo de desenvolvimento ocidental, que monopolizou as promessas da modernidade, e que assentava na industrialização e na urbanização promovida por modos de produção e de consumo que externalizavam os impactes ambientais.
A sustentabilidade, associada ao desenvolvimento, tem que traduzir-se também numa escala humana de vivências urbanas e de relação com os hinterlands que respeite a capacidade de carga dos sistemas ambientais (10) . Deste modo, falar-se de desenvolvimento sustentável não significa a reprodução de um oxymoron (PAELKE, cit. por LOURENÇO, 2001), mas a discussão de um modelo de desenvolvimento alternativo que concilie as necessidades humanas com a protecção da natureza, mesmo com o prejuízo da não difusibilidade do modo de vida ocidental: «the concept of sustainable development can not avoid the inherent ambiguity of the term development that means a model of society, i.e., the generalization of the patterns of society built by the western countries» (LOURENÇO, op. cit., 3).

A questão do desenvolvimento sustentável torna-se, assim, vital para a sobrevivência dos próprios ambientes urbanos que reúnem as maiores densidades da história da humanidade: se em meados do século passado apenas uma cidade (Nova Iorque) acumulava mais de dez milhões de habitantes, hoje tal patamar é vencido por cerca de vinte áreas urbanas (cidades e áreas metropolitanas) (11) . A gestão das cidades e das suas massas territoriais de construção urbana contígua colocam, assim, importantes dilemas na relação entre os recursos naturais (drenagem e tratamento de água para consumo humano, produção de energia, etc) e o aprovisionamento dos próprios sistemas urbanos.
A ecologia, que transporta o sinal negativo da modernidade (GIDDENS, 1997: 177/202), transforma-se no elemento-chave da reestruturação dos sistemas urbanos: neste domínio, a proposta de Jean Rémy adquire uma mais-valia a ter em conta atendendo às necessidades de uma gestão integrada dos territórios, equacionando os efeitos de sinergia que devem ser antecipados na construção e na exploração das infra-estruturas, nomeadamente sob a promoção dos equipamentos colectivos (RÉMY, op. cit., 2001: 11) e na oportunidade de uma governação que recrie as identidades vinculadas aos territórios ordenados para a eleição do convívio e da amenidade ambiental. Porque, como refere Rémy (op. cit.: 15), a essência dos sistemas urbanos não é outra que a cristalizada pelos sistemas de relações sociais.

A cidade visível e a cidade invisível devem coexistir sem a agressão da exclusão social e dos danos ambientais. Esta coexistência requer a gestão dos territórios urbanos duma forma que considere as posições e as acessibilidades dos aglomerados urbanos de modo a evitar os desequilíbrios provocados pelos pólos funcionais na relação com periferias e áreas-dormitório. A escala do sítio (a este propósito consulte-se ainda MEDEIROS, 2000: 239) (12) é, assim, a escala privilegiada da restauração do humano e da preservação das memórias colectivas, mas também a da integração das áreas verdes e dos equipamentos colectivos, sem o prejuízo da discussão das políticas urbanas em escalas de transacção regionais (por exemplo, as Juntas Metropolitanas ensaiam ainda, em Portugal, os primeiros passos, mas a organização dos sistemas de saneamento básico e dos transportes, entre outras dimensões materiais de suporte à vida colectiva, tem que ser equacionada numa escala supra-municipal).

Existem, para o caso português, propostas interessantes para que se reconsiderarem as redes de cidade e as suas configurações territoriais (COSTA LOBO, 2003: 369/397), quer os sistemas de transportes e as acessibilidades (NUNES DA SILVA, 2003: 399/457) ou as relações com os hinterlands e as classificações, necessariamente políticas (como salienta Sidónio Pardal), dos usos do solo (PARDAL, 2002). Particularmente Sidónio Pardal põe em causa um ordenamento do território que é promotor da fragmentação do espaço entre as áreas urbanizadas e as áreas de natureza protegida. Esta gestão não leva em consideração a escala humana que Jean Rémy elege e que deve orientar o ordenamento do urbano, mas também dos lugares tradicionalmente não-urbanos (13) (trata-se, afinal, de equacionar de forma pública e participada os usos do solo e a localização das funções): «o povoamento em espaços rústicos, a melhoria do sector agrícola, a conservação da diversidade biológica e a gestão dos recursos hídricos e pedológicos são assuntos merecedores da maior atenção e cuidado, cujo tratamento não encontra qualquer eco nem prescrições válidas [...]» na formação das reservas agrícola e ecológica nacionais (PARDAL, op. cit.: 90).
A gestão dos espaços rústicos ou não-urbanos não pode dispensar a dimensão humana das possibilidades de encontro e de convívio, em contextos territoriais onde a natureza adquire o estatuto de património apropriado por usos e costumes locais, independentemente da absorção administrativa das reivindicações ambientais e da formação de novos centros de regulação dos ecossistemas.

Fotos 4, 5 e 6: a escala humanaFotografias de Antero de Alda (Portugal): série intitulada Maria Vaz (2006)



Foto 4



Foto 5



Foto 6


A amenidade ambiental e a gestão integrada e participada dos territórios, a propósito das classificações (sempre políticas) dos usos do solo e da legitimidade dos processos de apropriação dos recursos naturais, constituem elementos estruturadores das comunidades locais que não podem depender de uma direcção das áreas protegidas entregue a gestores manifestamente incompetentes e geocráticos (FIGUEIREDO, 2004). Nem as comunidades locais têm que restringir os seus usos e costumes ancestrais face à protecção da natureza ou a uma reconstituição da paisagem para a evasão turística e a programação dos lazeres (THOMAS, 1994: 61). Cabe aqui a prudência sociológica de olhar para os territórios como um campo topológico de relações de poder onde se jogam os usos do solo e as avaliações dos impactes, as competências e os interesses dos actores, mas também a tensão entre a tradição e a mudança, o governo e a governação. Não se pretende, obviamente, limitar a leitura de Jean Rémy ao terreno da política ambiental, mas tão só contribuir para a discussão sobre a escala humana dos territórios, urbanos e não urbanos, e para a equação da sustentabilidade no âmbito das políticas e dos direitos de cidadania.

Bibliografia referida:

BAPTISTA, J., Uma estratégia sustentável, in Reformar Portugal, 17 estratégias de mudança, Oficina do Livro, Lisboa, 2003: 341/361.
BECK, U., Risk Society, Sage, London, 1992.
CASTELLS, M., A Sociedade em rede, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002.
CORRÊA, R., Território e Cooperação, um exemplo, in Globalização e Frag,mentação, Hucitea, São Paulo, 1994: 251/256.
COSTA LOBO, M., Cidades e Regiões, in Reformar Portugal, 17 estratégias de mudança, Oficina do Livro, Lisboa, 2003: 369/397.
CRAVEIRO, J. L., MACHADO, P., e SILVA, D., Para uma Ecologia Social dos Incêndios Florestais, Relatório 195/06 NESO, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 2006.
CRAVEIRO, J. L., O Homem e o habitat: território. Poderes públicos e conflitos ambientais [Tese de doutoramento], Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, 2005.
FIGUEIREDO, I., Proteger o ambiente em Portugal - ee quem, para quem e para quê ?, in V Congresso Português de Sociologia, Braga, 2004.
FISCHER, Gustave-N., Psicologia Social do Ambiente, Instituto Piaget, Lisboa, 1994.
GIDDENS, A., Para Além da Esquerda e da Direita, Celta, Oeiras, 1997.
GRAFMEYER, Y., Sociologia urbana, Europa-América, Mem Martins, 1995.
LOURENÇO, N., Equity, Human Security and Environment: key elements of Sustainable Development, Fondazione ENI Enrico Matei Conference, Venice, 10th April, 2001.
MACNAGHTEN, P., e URRY, J., Contested Natures, Sage, London, 1999 [reimpressão da primeira edição de 1998].
MEDEIROS, C., Geografia de Portugal, Ambiente Natural e Ocupação Humana, uma introdução, Editorial Estampa, Lisboa, 2000. [5ª edição].
NUNES DA SILVA, F., Transportes e Acesibilidades, in Reformar Portugal, 17 estratégias de mudança, Oficina do Livro, Lisboa, 2003: 399/457.
PARDAL, S., Planeamento do Espaço Rústico, ADISA e CESUR, Lisboa, 2002.
PUREZA, M., Para um internacionalismo pós-vestefaliano, in Globalização, fatalidade ou utopia?, Afrontamento, Porto, 2001: 233/254.
RÉMY, J., e VOYÉ, L., Ville, ordre et violence. Formes spatiales et transaction sociale, PUF. Col. Espace et Liberté, Paris, 1991.
RÉMY, J., Ville visible, ville invisible: un réseau aréolaire? in Les Mobilites contemporaines, L’Harmattan, Paris, 2001. [consultada versão para edição].
RIBEIRO, O., Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, Sá da Costa, Porto, 1998. [7ª edição].
ROCHA, M., A avaliação de impacto ambiental como princípio do direito do ambiente nos quadros internacional e europeu, Publicações Universidade Católica, Porto, 2000.
RUIVO, M., Reflexão sobre o Acesso à Informação, a Participação Pública nos Processos de Tomada de Decisão e o Acesso à Justiça, Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, Edição patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2003. [apresentação pública de Setembro de 2003].
SILVANO, F., Antropologia do Espaço, Celta, Oeiras, 2001.
SOROMENHO-MARQUES, V., A Era da Cidadania, Publicações Europa-América, mem Martins, 1996.
THOMAS, T., A Ecologia do Absurdo, Edições Dinossauro, Lisboa. 1994.
WATERS, M., Globalização, Celta, Oeiras, 2002.
YEARLEY, S., Sociology, Environmentalism, Globalization, Sage, London, 1996.

Notas:

(1) Este texto resultou de um convite, a propósito da obra de Jean Rémy, que o sociólogo Nelson Lourenço, Professor Catedrádico da Universidade Nova de Lisboa, endereçou ao autor no início do ano de 2005. Por vicissitudes várias (entre as quais a conclusão de uma tese de doutoramento), o texto não foi concluído. Trata-se, pois, de um texto inédito que o autor se propôs publicar nesta revista/blog, remetendo esta reflexão para fora da academia e ao encontro de um público especializado nas ciências do urbanismo.
Agradece-se ao arquitecto António Baptista Coelho toda a amabilidade dispensada para esta publicação.
Um muito obrigado, também, aos fotógrafos Karina Bertoncini e Antero de Alda.

(2) Podemos condiderar a internet como a infra-estrutura, por excelência, da globalização, no que diz respeito às interacções humanas.

(3) No âmbito das redes de mobilidade podemos certamente verificar ritmos diferentes para os fluxos das massas monetárias, dos produtos ou das pessoas, diferenciando-se ainda os fluxos das pessoas, nas suas possibilidades de recepção e de deslocação, entre os movimentos de turistas, de refugiados ou de imigrantes – movimentos que encontram facilidades ou bloqueios territoriais de natureza muito diferente.

(4) No âmbito deste bem-estar da humanidade deve hoje incluir-se não apenas a luta contra todas as formas de poluição e de pobreza, mas também a luta contra todas as formas de terrorismo que grupos armados ou Estados levam a efeito. Há, aqui, que ponderar de modo equilibrado as questões da soberania (que necessariamente apelam a um território) com as dimensões da liberdade e da segurança humanas (por característica universais).

(5) Em último recurso, depois da modernidade ter separado o Estado da religião, assistimos agora à separação entre o Estado e a Nação.

(6) A expressão deriva de ‘territoriu-‘, directamento do Latim. Há autores que referem uma outra (?) derivação, do verbo terreo, territo, de intimidar, causar medo, receio (CORRÊA, 1994: 251/256).

(7) Obviamente observando-se diferenças significativas entre os países mais desenvolvidos e os sub-desenvolvidos, por critérios de cobertura dos sistemas de saneamento básico e de condições de vida

(8) Com destaque, para o espaço europeu, da Convenção de Aarhus (1998) e da Directiva 2003/4/EC sobre o acesso à informação de carácter ambiental. (Sobre a jurisprudência europeia, e os respectivos casos estruturadores, consulte-se ROCHA, op. cit.: 251/310).

(9) Pode-se recorrer à metáfora de que todas as fronteiras nacionais foram desenhadas pela violência e traçadas pelo sangue. Os hinos nacionais ainda apelam, muitas vezes, ao ódio ao estrangeiro e à defesa dos territórios nacionais mesmo com o sacrifício das vidas pessoais. Trespassam pelos tempos outros cânticos xenófobos, sem que se possa questionar a beleza musical e o sentimento epocal como no trecho vitorioso de Verdi na obra Aida.

(10) Pode entender-se por sistema ambiental o conjunto dos recursos naturais e das suas dependências em termos de quantidade e de qualidade disponíveis para a humanidade: o sistema ambiental comporta, assim, os recursos naturais, as utilizações e os utilizadores (BAPTISTA, 2003: 341).

(11) volta do ano de 2015 a população urbana mundial representará, sensivelmente, 55% da população mundial (Relatório sobre o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas: PNUD, 2005). Os últimos dados recolhidos, referentes ao ano de 2003, apontam para uma população urbana na ordem dos 48%, contra os 37% registados em 1975 face à população mundial. De qualquer forma, atendendo à variação de critérios na designação de «cidade» e de «área metropolitana», por País, estes números devem ser lidos com cautela. Contudo, traduzem uma evolução crescente e preocupante da proporção de indivíduos que, no mundo, residem em áreas urbanas.

(12) É curiosa a posição aqui reproduzida de Orlando Ribeiro sobre o elogio da memória e da antiguidade dos lugares nas suas particularidades de terem servido a defesa dos territórios: «haverá poucos países com tantas cidades e vilas alcandoradas como Portugal». Em lugar próprio, o geógrafo enfatiza a rede urbana tão densa e antiga no Algarve como em nenhuma outra região portuguesa (RIBEIRO, 1998: 163)

(13) É conhecida a vulnerabilidade aos incêndios florestais das zonas de interface urbano-rural. O estudo das causas sociais e territoriais dos incêndios florestais tem vindo a ganhar, em Portugal, novas dimensões de análise, nomeadamente de carácter sociológico (CRAVEIRO, 2005) que apontam para a urgência de um combate que tenha em consideração o carácter humanizado dos territórios, urbanos e não-urbanos. Recentemente, o Núcleo de Ecologia Social do LNEC desenvolveu um conjunto de propostas de estudo, através do autor e dos sociólogos Paulo Machado, Chefe do Núcleo de Ecologia Social do LNEC, e Delta Silva, Assistente de Investigação, que incide sobre uma amostragem do território Continental português em termos de áreas ardidas (CRAVEIRO, MACHADO, e SILVA, 2006).

Fontes do trabalho fotográfico:
Karina Bertoncini (Brasil): http://www.olhares.com/KarinaBertoncini
Antero de Alda (Portugal): http://www.olhares.com/DeAlda

(Karina Bertoncini e Antero de Alda autorizaram o autor deste artigo a utilizar as suas fotografias aqui reproduzidas)

Notas da edição:
É com grande satisfação que acolhemos no nosso Infohabitar este excelente trabalho do colega e investigador do LNEC João Lutas Craveiro, as palavras ou são muitas ou são poucas, neste caso as palavras foram e são dele em plenitude, mas aqui estão, felizmente, para nos darem verdadeiro prazer quando as lemos e depois as relemos; foi o que aconteceu comigo ao assegurar a minha função editorial.
Gostaria, no entanto, de aproveitar para referir três aspectos: o primeiro prático, os outros em jeito de uma formulação de desejos sinceros.
Gostaria que os leitores soubessem que a participação do João Lutas Craveiro na nossa revista/blog decorreu, directamente, de se sentir levado a comentar alguns artigos aqui publicados, e, designadamente, alguns belos textos da Maria Celeste Ramos; e depois uma longa e excelente conversa proporcionou ao Infohabitar e aos seus leitores este (e espera-se outros) privilégio(s); não deixa de ser bem agradável que esta nossa revista interactiva começa a dar também outros resultados além de uma constante subida da sua própria leitura.
Gostaria também que os associados do Grupo Habitar e todos os leitores do Infohabitar - que estão a começar a ser bastantes - soubessem que, desde sempre, pretendemos ampliar decididamente a nossa abordagem aos assuntos do habitar, seguindo, também, perspectivas com esta natureza e este tipo de contornos; as nossas preocupações são muito práticas, mas esta também é uma forma real de prática, o homem quando pugna por qualidade de vida também tem de ter este tipo real de preocupações, sentimentos e pensamentos; e mais digo! Que só será da aliança entre a prática/prática e esta prática/teórica, confrontando os resultados com os objectivos visados, que poderão decorrer verdadeiros bons resultados em termos da tal qualidade de vida que todos desejamos, ampla e profundamente humanizada.

E termino naturalmente com um desejo duplo: que esta seja uma primeira de muitas colaborações que o João Lutas Craveiro queira connosco partilhar e que tal partilha não se limite ao Infohabitar, mas que também o possamos fazer no âmbito das acções do Grupo Habitar, sejam mais "isoladas", sejam, como deverão ser, mais articuladas entre várias entidades.

António Baptista Coelho

sexta-feira, outubro 20, 2006

109 - Baixa-Chiado. Um plano ambicioso, uma equipa competente, um processo enclausurado – artigo de Nuno Teotónio Pereira - Infohabitar 109

 - Infohabitar 109

Baixa-Chiado. Um plano ambicioso, uma equipa competente, um processo enclausurado 

artigo de Nuno Teotónio Pereira

Imagens de A. B. Coelho




Foi enorme a expectativa que rodeou a criação do Comissariado para a Baixa-Chiado e a criteriosa escolha dos elementos que o compõem, feita pela vereadora Maria José Nogueira Pinto. Seria difícil imaginar um conjunto de personalidades com tão cabais provas dadas de competência e de sentido do serviço público. Por essas razões, só se poderia esperar o melhor do trabalho agora apresentado.

Infelizmente, não foi bem isso que aconteceu. De facto, o plano é ambicioso, contém muitas e muitas propostas excelentes, mas também algumas incongruentes. E a razão para isso parece ter residido num facto insólito: a Câmara não abriu um debate público antes da conclusão e da aprovação do plano. Trata-se dum pecado original que só podia ter consequências como as que estão à vista. Isso, ao contrário do que tem sido a prática do governo em iniciativas de índole semelhante, como é o caso do Programa POLIS, cujos planos estratégicos foram elaborados com a participação de Comissões de Acompanhamento e sujeitos a debate público, e só depois dados por concluídos. O mesmo aconteceu com os planos de intervenção nos bairros críticos, recentemente apresentados, e com o PNPOT, ainda em alargado processo de discussão pública.

No caso da Baixa-Chiado, a Câmara não o entendeu assim, reincidindo nos erros do famigerado túnel do Marquês e do Parque Mayer. E isso, apesar das sugestões e diligências que foram feitas. Dizem agora que o Comissariado ouviu habitantes e comerciantes da Baixa. Mas a população, que vive ou trabalha em Lisboa? E aqueles que estudam e pensam a cidade? O resultado está à vista: alguns erros clamorosos que podiam ter sido evitados.

E quais são esses erros? Desde logo, a supressão da avenida da Ribeira das Naus e a transformação de toda a área entre o edifício do antigo Arsenal da Marinha e o rio em espaço de recreio. Trata-se aqui dum caso extremo, tanto da idolatria do peão, como da prevalência de um mitificado lazer sobre a vida quotidiana das pessoas. O pretexto é o de libertar a faixa ribeirinha do tráfego automóvel, e para isso encurralá-lo no estreito corredor das ruas do Arsenal e da Alfândega, num engarrafamento permanente, extremamente penalizador para os muitos milhares de pessoas aí obrigadas a circular diariamente. E até privando-as da vista para o rio, no que constitui a única janela aberta, com escassos 500 metros, ao longo da frente ribeirinha. É que a fruição visual do Tejo não deve ser restrita ao tal mítico lazer, mas também acessível a quem trabalha, circula e vive na cidade no seu dia-a-dia. E dá-se até o caso que, de ambos os lados da actual Ribeira das Naus, haver espaços amplos para zonas verdes, restaurantes, esplanadas, etc. E a poluição nas ruas interiores? Haverá condições para fazer regressar habitantes àqueles prédios? E a linha de eléctricos de Belém até S. Apolónia e os autocarros de turistas? Tira-se-lhes também a vista do rio?




Outra opção do Plano é a da instalação de um hotel de 120 quartos na ala poente do Terreiro do Paço, adjacente ao Arco da Rua Augusta, desalojando o Ministério da Justiça (logo este!), retomando assim uma das peregrinas ideias de Santana Lopes. Parecia consensual o conceito de consagrar o Terreiro do Paço à função que esteve na origem da sua construção e que justifica a sua arquitectura – a da sede do poder. Do mesmo modo consensual que outros aspectos fundamentais agora felizmente confirmados pelo Plano – o de que os pisos baixos nas arcadas devem ser aproveitados para a indispensável animação que se pretende para a Praça e o de que a área central deve ser reservada a espaço de contemplação. Um hotel no Terreiro do Paço é uma afronta àquele proclamado conceito e à preservação da unidade do edificado, que não pode ser apenas física e formal, mas também funcional e simbólica. Ao menos que, o IPPAR não dê luz verde a tão desastrada opção, tanto mais que a grande maioria dos quartos previstos daria para um pátio interior e para ruas estreitas e emparedadas. Uma localização muito melhor para esse efeito seria, por exemplo, a da ala poente do edifício do Arsenal, dispondo de extensas e desafogadas fachadas viradas ao Tejo.

Uma última nota é sobre a eliminação da faixa de rodagem envolvente do Rossio – mais uma consequência da já aludida idolatria do peão. Tal ideia deforma a configuração da Praça, pois o desenho do chão é indissociável da envolvente edificada. Para mais, o actual passeio, resultante de uma intervenção recente que foi exemplar de funcionalidade e coerência formal, já é suficientemente amplo para acolher com largueza o trajecto pedonal.

Para já, os erros aqui apontados são poucos, mas preocupantemente graves. Oxalá um amplo movimento de opinião e um debate no seio do próprio Comissariado venham a impedir a sua consumação.

Nuno Teotónio Pereira




Numa sequência natural da última edição, que foi dedicada às acessibilidades num Centro Histórico, nesse caso o de Coimbra, é com muito gosto que o Infohabitar edita um artigo do arquitecto Nuno Teotónio Pereira, artigo este que saiu, há bem pouco tempo, no Diário de Notícias e que se refere a um tema de grande actualidade em Lisboa, abordando algumas das opções tomadas na requalificação da sua Baixa-Chiado, numa perspectiva muito ampla e construtiva, que interessa ter bem presente nas zonas urbanas envelhecidas das nossas cidades e povoações.





A ilustração do artigo é da responsabilidade da edição do Infohabitar, que optou apenas pelo acompanhamento do texto com algumas imagens relativas ao movimento na Baixa e, especificamente, aos passeios do Rossio, considerando-se que estes integram uma “intervenção recente que foi exemplar de funcionalidade e coerência formal”, nas palavras de Nuno Teotónio, que são inteiramente partilhadas pelo autor destas linhas; e faz-se aqui, apenas, um pouco da essencial justiça que devia ser feita à excelente intervenção desenvolvida nos espaços públicos do Rossio, com projecto do arquitecto paisagista Rui Valada, “uma obra notável”, uma obra de referência pelo equilíbrio e atractividade atingidos em termos de “funcionalidade e coerência formal”, que é fundamental divulgar.

António Baptista Coelho

Atenção: adiamento da realização da 10.ª Visita Técnica do Grupo Habitar ao Centro Histórico de Coimbra; serão dadas oportunamente informações, mas a nova data será, muito provavelmente, numa das primeiras semanas de 2007.

quinta-feira, outubro 12, 2006

108 - Mobilidade no Centro Histórico – o caso de Coimbra, artigo de Sidónio Simões - Infohabitar 108

 - Infohabitar 108


Mobilidade no Centro Histórico – o caso de Coimbra

artigo de Sidónio Simões

(acessibilidade, Coimbra, centro histórico, requalificação, mobilidade, urbanismo, cidade, peão, transportes, automóvel, gabinete para o centro histórico - "palavras chave")


O Conceito Europeu de Acessibilidade – segundo um relatório apresentado numa reunião da Rede do Conceito Europeu de Acessibilidade de Dezembro de 2000 (2001: 6), o vocábulo “adaptabilidade” é usado quando “a concepção de um lugar é de tal forma planeado que pode ser adaptado às necessidades do utilizador, sempre que se torne necessário”. Seguindo esta abordagem, quando não é possível solucionar-se um problema na totalidade, “a solução de 50% é possível, caso não exclua adaptações futuras num período posterior”.

Nesse mesmo relatório, é apresentado o Conceito Europeu de Acessibilidade de 1996: “a acessibilidade é a pedra de toque que determina se o que o meio edificado tem para oferecer – como parques, casas, edifícios e os espaços e instalações nele incluídas – pode ser alcançado e utilizado. (...). O objectivo consubstancia-se num lema: todos devem poder utilizar o meio edificado de forma independente e igual.”

É com esta percepção de acessibilidade que partimos para um passeio no Centro Histórico da cidade de Coimbra.

Quer na Alta, quer na Baixa da cidade, encontramos inúmeros obstáculos à mobilidade. Esta questão torna-se mais pertinente quando tomamos consciência de quem são os visados: na realidade somos potencialmente todos nós.

As melhorias de acesso colocam-se ao indivíduo deficiente motor, visual, mental, mas também a todas as pessoas que vêem a sua mobilidade reduzida ou condicionada, temporariamente ou não. E aqui estão incluídas crianças, idosos, grávidas, pessoas com lesões temporárias. Ou seja, pelo menos 20% da população, segundo dados da ACAPO. De facto, a “acessibilidade é uma preocupação de todos e não apenas das minorias” –
http://www.acapo.pt/index.asp
http://www.acapo-centro.rcts.pt/dossier.htm







[Imagem 1] O Centro Histórico Intra-Muros de Coimbra:
Azul-escuro: “Pantufinhas”Azul claro: elevadorTracejado azul-claro: elevador-proposta
Verde: corrimãos

A morfologia do Centro Histórico de Coimbra, sobretudo da cidade intra-muros, tem características muito próprias. De facto, as ruas da Alta são estreitas, por vezes muito íngremes, algumas até de difícil acesso. O seu piso irregular, de calçada de seixo colocada à sorte, de que se conhece a sua utilização desde o século XVI, é desconfortável para os peões mas tem a sua razão de ser: quando chove, este piso permite que a água escorra de um modo distribuído, evitando enxurradas e permite a circulação de veículos e peões sem que isso se torne tão perigoso como num piso liso e polido. A Baixa da cidade é por si só mais plana logo, mais acessível mas apresenta outras dificuldades em termos de acessibilidade.




[Imagem 2] Piso da Alta de Coimbra – Rua do Colégio Novo

Quer na Alta, quer na Baixa, o Município tem desenvolvido alguns esforços para anular alguns dos obstáculos à mobilidade atendendo-se, por vezes, a reclamações/sugestões de cidadãos anónimos, Juntas de Freguesia ou até dos próprios serviços da Câmara Municipal ou mesmo a questões levantadas pelos meios de comunicação locais.












[Imagens 3 a 5] Algumas reclamações e artigos na imprensa local sobre dificuldades de mobilidade.

Perante as dificuldades inerentes a um tecido urbano medieval e de declive acentuado, há, por vezes, pouco a fazer para tornar algumas zonas acessíveis a todos os cidadãos. No entanto, onde é possível colocar corrimãos, rampas, guardas de protecção, pisos mais aderentes, tal tem sido feito.


[Imagem 6 a 11] Bons exemplos de acessibilidade:




[Imagem 6] Rampas com piso em granito e guardas da Praça 8 de Maio.





[Imagem 7]Rampa no Centro de Artes Visuais.





[Imagem 8] Corrimãos na Baixa – Escadas de S. Tiago.





[Imagem 9] Corrimãos na Alta – Beco da Pedreira.





[Imagem 10] Piso aderente regular na Rua de Sobre Ripas.





[Imagem 11] Corrimãos e piso aderente na Rua do Cabido.


Outros problemas podem surgir quando se fala de mobilidade em centros históricos das cidades, como é o caso de Coimbra. Os passeios demasiado estreitos e a colocação deficiente e caótica de sinalética podem impedir a circulação de pessoas com mobilidade reduzida (em cadeiras de rodas, com andarilhos, com carrinhos de bebés, com muletas, etc.) ou mesmo ferir invisuais.
A colocação de mobiliário urbano (bancos, cabines telefónicas, caixas de electricidade, painéis de afixação, pilares de delimitação, papeleiras, etc.) e de arranjos urbanos (árvores, canteiros, vasos, etc.) de forma desordenada são factores perturbadores da mobilidade que, com alguma facilidade, se pode resolver. De facto, alinhar o mobiliário urbano numa praça ou largo simplifica a circulação dos peões, organizando o espaço. Esteticamente, o resultado é muito positivo e é conseguido a custos reduzidos, bastando para tal alguma imaginação e trabalho de equipa.



[Imagem12] Organização do mobiliário urbano na Praça do Comércio.





[Imagem13] Sinalética organizada na Rua Sá da Bandeira: antes e depois da intervenção.


Em 2003, foi feito um levantamento das acessibilidades em estabelecimentos comerciais e serviços na zona histórica de Coimbra. O objectivo era verificar as condições de acessibilidade de diferentes grupos de cidadãos com mobilidade reduzida no núcleo histórico da cidade. Visitaram-se, no total, 110 estabelecimentos comerciais e serviços que se situavam sobretudo na Baixa de Coimbra mas também na Alta, nomeadamente os situados nos eixos de maior afluência de pessoas. Para efeitos deste levantamento não foi considerada a acessibilidade dentro do próprio estabelecimento/edifício, nomeadamente a balcões de atendimento, casas de banho, etc.

Os resultados são conclusivos: a grande maioria dos estabelecimentos comerciais, serviços e monumentos não é acessível sobretudo a quem se desloca em cadeiras de rodas ou com carrinhos de bebé.



Tabela: Levantamento das acessibilidades na Baixa e Alta de Coimbra.






(1) A inacessibilidade a idosos e grávidas deve-se ao facto de haver escadas e degraus de acesso com uma altura superior a 20 cm.
(2) Igreja de Santa Cruz.




[Imagem 14] Gabinete para o Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra – não acessível.
Recentemente, em Coimbra, surgiram iniciativas de importância significativa que melhoraram substancialmente a qualidade de vida dos residentes do Centro Histórico e dos seus visitantes.
O elevador do Mercado Municipal veio facilitar a vida a quem se pretende deslocar do Mercado para a Alta (residência/Universidade) ou vice-versa, evitando ter de se vencer a pé uma diferença de cotas de 51m.

A implementação, em 2003, de um circuito de transportes urbanos com dois mini-autocarros que circulam em simultâneo, percorrendo a chamada “Linha do Centro Histórico” acrescentou, antes de mais, conforto a quem tem de recorrer à Baixa e à Alta com frequência. O “Pantufinhas”, nome dado ao autocarro, não poluente, é pequeno o que significa que se movimenta com destreza nas ruas mais exíguas (tem capacidade para transportar cerca de 20 passageiros), é silencioso pelo que foi dotado de um sinal sonoro para avisar os invisuais da sua passagem. Não tem paragens pré-definidas (entra-se e sai-se onde se quiser, basta indicá-lo ao motorista) e é gratuito para os residentes da Alta.




[Imagem 15] O Pantufinhas.




[Imagem 16] O Elevador do Mercado Municipal.

Para quem trabalha na área do património histórico e arquitectónico edificado, como é o caso do Gabinete para o Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra, as questões da mobilidade podem representar verdadeiros quebras-cabeças. Se, por um lado, se defende veementemente o direito ao acesso por todos os cidadãos ao património, por outro, as condicionantes apresentadas por esse mesmo património e pela morfologia dos lugares podem ser obstáculos a esse mesmo direito.
É característica do Centro Histórico de Coimbra, como em outros tantos, o envelhecimento da sua população residente. Apesar de o Gabinete para o Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra ter noção de que nem sempre se podem satisfazer todas as suas necessidades, tem-se pugnando pela redução dos obstáculos e dificuldades à mobilidade, tentando melhorar o conforto e as condições de vida da população para quem e com quem trabalha.

Bibliografia:

The European Concept for Accessibility (2001), “Acessibilidade dos locais de trabalho”. Lisboa: Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência
Site Oficial da ACAPO http://www.acapo.pt/index.asp
Site Oficial da ACAPO – Região Centro <http://www.acapo-centro.rcts.pt/dossier.htm> [em 14.05.03]

Legislação nacional












Nota final:
Foi com muito agrado que o Infohabitar editou este artigo do Eng. Sidónio Simões, Director do Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra.

Deseja-se que este artigo seja o primeiro de uma série que tanto o Eng. Sidónio Simões, como outros leitores do Infohabitar nos queiram oferecer sobre esta matéria geral da requalificação da cidade e das muitas temáticas a ela associadas.

Recorda-se, ainda, que o Eng. Sidónio Simões apresentou este tema na 6ª Sessão Técnica do Grupo Habitar (GH), que teve lugar em Coimbra, a 1 de Junho de 2006, com o precioso apoio da Região Centro da Ordem dos Engenheiros e salienta-se que, em breve, provavelmente logo no início de janeiro de 2007, será realizada a 10.ª Visita Técnica do Grupo Habitar, em Coimbra, com o fundamental apoio do Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra, exactamente sobre este tema da “Mobilidade no Centro Histórico – o caso de Coimbra.”O programa desta Visita Técnica será oportunamente anunciado, aqui no Infohabitar e através das mailing lists do GH.

sexta-feira, outubro 06, 2006

107 - Desenhar com a natureza: a Cidade e o Equinócio de Outono II– artigo de Celeste Ramos - Infohabitar 107

 - Infohabitar 107

Artigo de Celeste Ramos

O país inteiro, de vilas e aldeias, e cidades tão antigas, sempre foi uma grande lição de design with nature (relevo, fisiografia, clima, luz, cor das paisagens, materiais naturais locais, produção de espécies naturais), sabedoria que se perdeu ou se despreza há tão poucos anos apenas por mera arrogância intelectual, não se negando a importância da evolução da modernidade, e mesmo arrojo urbano e arquitectónico, mas sem ter de destruir nem o passado histórico e identitário da civilização que somos e fizemos e pelo mundo espalhámos.

Porque negar a história e a sabedoria antiga é entrar em degradação, pois são valores cósmicos e primordiais que estão em causa, é a vida e saúde colectivas que estão em causa, a cultura, a natureza das coisas, e não esqueçamos a que cotas se situam todas as aldeias à volta da secular cidade da Guarda com uma das Sés-Catedrais mais antigas do mundo, sendo a cidade mais alta do país, rodeada de aldeias às altitudes onde "existia" o castanheiro, que não pára de arder ao longo de décadas e era a riqueza maior, para além dos seus vales cuja agricultura a UE foi obrigando a "abater" ao longo de 20 anos, tendo ainda nesta "rentrée política europeia" sido anunciado pela comissária europeia da agricultura que terão de ser arrancadas, ainda, mais de 400 mil pés de videira.

O que me faz perguntar, "ao vento que passa," se, de novo, a UE vai financiar "tabaco africano", que financiou e mandou arrancar em 2005, financiando agora talvez "cultura" que nada tem a ver (como habitualmente), com as características edafo-climáticas (solo+clima) do país que, mesmo numa região com os solos mais pobres, produz o famoso e tão invejado vinho do Porto, que se pretende "imitar" cultivando-o por aí pelo mundo americano e sul-africano, região por sua vez, a primeira do mundo a ser "demarcada" há 250 anos, tempo em que não existiam ainda muitos países de hoje, ou estavam em guerras intermináveis.



Fig. 1 –Depois da chuva no Porto e em Lisboa (2006.09).

As áreas agrícolas são, para além de independência nacional que não existirá sem independência alimentar, matéria prima de agro-indústria e serviços derivados, são razão de "povoamento" e de descentralização de actividades económicas e, por fim, áreas de turismo rural ou não importa que outra designação, porque é turismo também histórico e cultural e manutenção do património natural e edificado e das paisagens e razão de viver de quem ama a terra e os bens que produz e oferece a mais alta qualidade de alimentos saudáveis.

Alimentos saudáveis estes, que hoje começam a estar na primeira linha das preocupações de muitas pessoas, mais informadas, e que muitos países já não podem recuperar, mas de que França é exemplo positivo de "voltar atrás" à produção ecológica, como era há pouco tempo boa parte da produção agrícola portuguesa, que, ainda em 1986 correspondia a 75% das nossas necessidades, e agora não passa de 20 %, obrigando a importar lixo-comestível, e mais caro – porque tanto em Paris como em Munique, quem for à praça adquire todos os alimentos muito mais baratos do que nos mercados nacionais.

Mercados nacionais que quase só têm produtos importados de vários países e continentes, como se os "produtos agrícolas" e a alimentação pudessem ser passíveis de constituir alguma vez moeda-de-troca-política, situação que tem produzido muita infelicidade nacional, desemprego, miséria e fome, e despovoamento dos nossos lugares, aumentando a alienação das cidades-metrópole e a dimensão anárquica das regiões metropolitanas, sendo que, ao longo do litoral, tão rico em sal, um dos mais preciosos produtos do mar, as salinas foram dizimadas por betão, betuminoso e pontes; e trata-se de uma indústria que é uma das mais velhas do mundo e iniciada em Portugal ainda no Paleolítico.

Valeria a pena aprender – e ensinar – História de Portugal - nas vertentes em que dá, também, dimensão do "país-civilizado" e produtivo, e de variabilidade de manifestações da grandeza da terra-e-dos-homens.

Em 24 de Setembro de 2006, num noticiário televisivo, foi mostrado o aluimento de um talude sobre casas de habitação, devido à queda pluviométrica, em Vila Nova de Gaia. Mas porque se permitiu construir habitação num talude de declive de 30%? Estimativa feita, na reportagem, por um bombeiro, que logo comentou ser o aluimento natural numa área construída em tal declive.

No Outono, graças ao céu e equinócio, é tempo de chuva, bem-vinda para regar a terra e preencher toalhas freáticas no espaço rural e urbano, para alimentar os rios e barragens, chuva que reclama sempre o lugar que lhe convém, e deita abaixo o que estiver, erradamente, no seu caminho e, como é sabido, maior rigor é cada vez mais necessário para planear e construir, já que as alterações climáticas mundiais não são "balelas dos alarmistas ecologistas", mas vivemos num país de total ignorância e desprezo intelectual das coisas da terra e do clima, e do ordenamento do território, um país que confia completamente na engenharia do muro de suporte de betão, dos espigões e pontões, e, assim, as inundações e os aluimentos serão cada vez mais frequentes e mais graves.

Se o Outono poderá ser o "tempo-de-exame" do que o homem faz relativamente ao espaço que a água reclama, se a água não entrar na terra nos seus lugares naturais, logo virá o Verão que reclamará outro "exame" aos actos dos homens que, tendo aumentado por suas mãos as razões de maior secura da terra, em que o calor responderá com fogo devastador porque onde há fogo é porque não há água na terra, sejam quem forem os "incendiários.”

É preciso saber "desenhar" permitindo "guardar", ao máximo, a chuva que se preveja possa cair na terra, na estação da chuva, e construir onde não se põe em perigo a vida, os bens privados e públicos, as economias, a beleza das paisagens e o trabalho dos que sabem o que fazem, porque as más consequências que começam, sempre, por atingir os mais desvalidos. E passou há pouco tempo na SIC, depois do noticiário, uma interessante série sobre as consequências das alterações climáticas mundiais em vários países do mundo, incluindo "civilizados" e como "já se lamentam" alguns dos que acharam que "isso de desgraça que cai do céu é coisa de pobre."

Outono é tempo de respeito pela água da chuva e pelos lugares que lhe pertencem naturalmente e pelas formas de a "receber", em vez de lhe tentar "fechar a porta"; tentativa esta que acaba por a abrir, implacavelmente.

Outono é tempo do planeta manifestar o respeito pelo direito a formas e fases de morte das coisas da terra e seus habitantes naturais, uns que morrem porque acabou o seu ciclo de vida, outros que iniciam a segunda das suas grandes migrações anuais, nos rios e nos mares, na terra e nos céus, anunciando a entrada do silêncio e do descanso da natureza que vai culminar no solstício de Inverno.

Já todas as plantas se esgotaram na sua dádiva faltando muito poucas as que irão ainda dar fruto no Outono e Inverno como as romãs e as castanhas, os citrinos lá mais para o fim do ano, e mesmo as rosas ou as camélias rainhas-do-inverno, pois que cada espécie tem o seu tempo cósmico de maturação biológica e de manifestação para regalo do homem, repetindo o tempo de novas sementes para caírem na terra para despertarem na estação própria para que foram programadas.

E, nesta matéria, embora os cientistas tenham recriado artificialmente tempos e velocidades de cultivar e de fazer amadurecer plantas e mesmo animais – a forçagem e mais recentemente a clonagem –, através de processos derivados da engenharia genética e de utilização de novos produtos químicos – paralelamente com a criação de espaços físicos e técnicas de aceleração da produção, contudo conduzindo a qualidade altamente duvidosa, incluindo os sabores que são quase exclusivamente químicos, afectando a saúde dos homens, em França, como se referiu, já se começou a "voltar atrás" ao processo ecológico de produção, sobretudo dos produtos alimentares, por já se terem percebido as consequências desastrosas, em saúde pública, a que aqueles caminhos conduzem.

No Outono a terra já está exausta e seca porque o verão a secou, e, como os homens e animais, precisa de descansar para ser preparada para as sementeiras de Outono, sem no entanto nunca dar descanso ao jardineiro e ao semeador logo que apareçam as primeiras chuvas outonais que tudo limpam e amaciam os solos que anunciam avidez de água e de vida.

Agora é outro tipo de omnipresença das forças da natureza – força da noite – que se vai manifestar em outra luz e outra cor, e outros perfumes, e a pouco e pouco vai prevalecendo a noite até que calor e frio sejam iguais em temperatura, para finalmente predominar o frio que anuncia o pleno Inverno no solstício, e dar lugar a novo virar de ano civil e sideral e "nascer outro ano", nascer "outro Sol" pelo Natal, que significa exactamente "novo sol."


Fig. 2 – Depois da chuva em Vouzela e em S. Pedro do Sul (2006.09).

E logo que alguma chuva caia, cheira a terra molhada que ainda quente exala perfumes diferentes provocados por tudo o que a terra ainda e sempre contém, renovando para nós outras memórias dos sentidos que a natureza continuamente acorda e recorda em ciclos constantemente repetidos, para que o homem não se distraia.

Acabaram as férias dos homens que culminam quando culmina o sol e o calor, embora a pouco e pouco as sociedades evoluam também no sentido de fazer férias repartidas porque a natureza é de tal modo diferentemente bela ao longo das estações, que se iniciou, igualmente, o hábito das férias de Inverno e de neve – ou mesmo as férias ao longo das quatro estações do ano, bem como férias para aqueles que, como as aves migradoras, têm possibilidades económicas de perseguir a rota do sol e do calor, onde quer que haja por todo o Planeta ao longo das 4 estações, onde as há, ou nos locais onde só há duas estações climatéricas – a das chuvas e a do cacimbo como em África – porque é ainda outro o clima na Ásia das Monções.

E porque foi generalizado e democratizado o acto de se ter direito a férias não importa para que classe social ou etária, ajudado pela criação do subsídio de férias de invenção francesa (1936), todos os lugares estão no Verão cheios de multidões a ponto de reverter em tempo de stress o que deveria ser tempo de prazer.

E começa assim um novo ciclo de usar as paisagens para o prazer (loisir) e aquisição de cultura sem esforço, partilhado pelas classes etárias que já têm outra velocidade de viver e mais tempo para tudo contemplar mais profundamente, até porque alguns já estarão reformados, e também no "outono da vida", que valorizam melhor o que a vida dá, que já não têm pressa e não correm à procura da vida, descobrindo um ritmo de viver em que o interior e exterior se harmonizaram no prazer e sabedoria de viver em espécie de tempo-interior-equinocial e por isso a sua pele envelhece, mas não o brilho e luz do seu olhar.


Fig. 3 – Depois da chuva em Copenhaga (2004.08)

E porque todos os actos dos homens começam a ser mundializados, e porque todos querem visitar e confrontar-se com todos em todos os lugares, também se diversifica o período anual de férias e de desporto internacional e de treino de desportistas de alta competição, que assim aproveitam não só as diferenças climáticas de cada país, como todo o equipamento turístico que ficava vazio quase todo o ano, permitindo a continuidade do rendimento económico e a conservação de tão belos espaços que para o recreio, desporto e turismo se construíram sobretudo no pós-boom turístico dos anos 60 do século passado, ritmo interrompido pelo tempo de duas grandes guerras mundiais – que fizeram parar o mundo inteiro –, mas tendo a Europa recuperado económica e culturalmente, o turismo recomeçou para não mais parar e se generalizar a todos os continentes, porque a Europa era o motor e a referência do desenvolvimento económico e cultural mundial, palco e espelho do que de melhor o Homem tinha alcançado.

Mas já não é. Hoje temos a Europa "plastificada", arrogante intelectual e tecnologicamente, com valores morais tecnicistas quanto ao que consideram a vida e a morte dos homens, com fobia do seu passado judaico-cristão que estruturou a mente e comportamentos, xenófoba (lembremos os resultados de 24 Setembro 2006, da votação de todos os Cantões suíços em 70% contra a nacionalização dos emigrantes que a ajudam a ser próspera) e em parte responsável pelo contínuo saque das matérias primas que tem dizimado, até ao deserto total e miséria, sobretudo a África e a Ásia, causando as alterações climáticas mundiais, sem nada dar em troca (resoluções e convenções da ECO-92 metidas na gaveta), para que os países "desenvolvidos" transformem essas matérias primas e os façam "países civilizados."
Mas dizem "os cientistas" que a Terra só tem 10 anos para parar o saque pois que se chegará ao limite do irreversível, não para os países pobres, mas para todo o planeta .



Fig. 4 – Depois da chuva no Luxemburgo, 2005.08

Com o turismo resultou melhor distribuição de pessoas e de rendimentos, bem como de actividade para os agentes de turismo, mas para o turismo proporcionar cultura ele tem de cooperar na manutenção da cultura e do património natural e edificado, mantendo-se a "sua verdade" civilizacional. O Algarve é disso grande exemplo, mas pela negativa, na medida em que o aspecto cultural foi completamente negligenciado, não apenas com a construção das unidades de complexos turísticos nos locais menos apropriados – areais e ilhas-barreira que protegem a zona costeira das investidas do mar, dunas e falésias de frágeis arenitos (alguns fossilizados), áreas agrícolas de alta produção e qualidade –, mas também pelo abandono de estações arqueológicas, de monumentos e de património construído e pela destruição da malha urbana secular, num excesso incomensurável de alienação irreversível de um local que nos anos 60 era denominado Éden, pelo turista, espaço nacional que além do mais tem clima específico que permite o recreio em qualquer mês do ano.

Tudo em troco apenas de multidão que procurou tudo, mas só encontrou alojamento massificado e de arquitectura estandardizada e de grande incomodidade visual, de estradas que em vez de unir, separam e retalham territórios naturais e edificados, que divorciam cada vez mais o Litoral do Barrocal e da Serra, as três grandes zonas ecológicas algarvias.

Será também interessante relembrar como nasceram novos desportos, sobretudo de Inverno ou de todo o ano, através dos mais jovens que de geração em geração romperam com o pré-estabelecido e que se viraram para os parcos espaços públicos ao pé da porta com o seu skate em acrobacias radicais, ou para mais longe - o mar - fazendo surf e wind-surf, ou o body-board que da praia transportaram para a neve com novas acrobacias de grande beleza e destreza.

Os jovens descobriram de novo as montanhas e inventaram o parapente e o rappel - desportos que iniciados inocentemente em cada local deram origem muito rapidamente à sua globalização até à organização de competições internacionais, constituindo hoje uma corrente de deslocações e de encontros ao longo de todas as estações do ano, que por sua vez fizeram dar mais atenção à agricultura e gastronomia, fizeram nascer novos serviços e indústrias de equipamento e de vestuário desportivo de grande beleza e criatividade, conforto e até segurança.

Mas o desporto não se generaliza a toda a juventude especialmente os adolescentes que sofrem de iliteracia motora, termo técnico utilizado por um professor universitário de que li entrevista, mas não consigo referenciar o seu nome, já que desde bebés são transportados por seus pais desde o jardim-de-infância até terem o seu próprio transporte privado em idade extremamente jovem, aos 18 anos, em que ainda todo o seu desenvolvimento físico e biológico está em mutação, nunca andam de transporte público nem a pé e a sua alimentação é da pior qualidade conduzindo a que haja um milhão de crianças com obesidade mórbida e com doenças parasitas como diabetes e outras derivadas da falta de esforço físico que os privou de mens sana in corpore sano, pois que tanto a cidade sem locais de desporto formal ou informal gratuito inteligentemente implantados ao nível de cada bairro, como as escolas, não têm como disciplinas obrigatórias as ligadas à boa formação do corpo físico que vai incidir sobre a "preguiça intelectual" e má prestação escolar e mesmo violência gratuita por falta de formação de disciplina física e psíquica da qual resulta responsabilidade individual para com a sua saúde global, sendo vítimas da cidade do facilitismo e imobilidade, porque a cidade já se interessa pouco tanto pela qualidade do espaço urbano como menos ainda pelos seus habitantes; e tudo isto num país em que todo o ano o clima permite não importa que desporto de ar livre.



Fig. 5 – Parapente, nas falésias junto à praia.

Que país tão pequenino mas tão rico, e no entanto tão desbaratado.

Deu-se origem a novas motivações de deslocação que se integram em mais uma razão de fazer recreio e turismo não importa em que lugar e estação do ano.

De repente, e só muito recentemente, tornou-se mais evidente para os agentes económicos do Turismo, que o turista procura (mas sempre procurou), mais do que sol e mar, porque quer encontrar marcas da história e da cultura dos locais que a identificam, embora inequivocamente tanta procura continue ainda a confundir os que têm o poder de decisão e estão do lado da oferta e da capacidade de controlo do ordenamento do espaço turístico.

É disso exemplo o caso recente ao ter sido anunciada a decisão, por exemplo, de destruir em Faro um belo teatro construído em 1916, para no seu lugar erigir um supermercado para vender mercearias e outras coisas do quotidiano, apondo-lhe várias salas indistintas sem proibição de comer pipocas, decisão que nada tem a ver com cultura, mais uma vez confundindo-se gesto privado em espaço público com os desperdícios privados, mais um equívoco do estádio de incultura e de superficialidade em que o país mergulhou profundamente de norte a sul, a partir sobretudo da década de 80 do século que acaba de passar, essa década devoradora dos espaços mais belos, seja urbanos seja rurais, seja litorais selvagens ou mesmo áreas protegidas, património da humanidade e que não deram nem mais valia cultural nem de civilidade.

O Património de qualquer lugar por mais arcaico, ou simples, ou diferente, é por todas essas razões, e sempre, património global universal; é identidade, verdade e força de ser. A destruição das coisas e dos lugares só por si conduz à desertificação cultural e humana, sem se saber prever que gestos virão a seguir, na juventude que tem de olhar para se identificar e existir e ser parte da identidade sociocultural nacional: e olhar um pôr-do-sol de Outono num belo lugar devia ser importante não importa para quem.

O recreio urbano uniformizou-se e limitou-se muito à noite das discotecas, e se a Vanessa conquistou o seu 12º título de campeã mundial do Triatlo (com 21 anos) e a preparar-se para as Olimpíadas de Xangai, repare-se quem são seus pais, humildes rurais, sem qualquer "atributo" que os identifique como "habitantes da cidade com tudo o que uma cidade dá", como se se fosse obrigado, mais uma vez, a pensar na degradação de qualquer valor (trazido do campo) e que ao chegar à cidade-metrópole, desaparece e degrada.

Mas o campo não ardeu já todo?
Não se degradou já todo?
Não foi já todo abandonado?

É inteligente reordenar acções e comportamentos que conduzem à utilização e conservação continuada dos espaços e das paisagens e dos seus valores naturais e adquiridos, elas em si mesmas páginas de livro de leitura dos gestos dos habitantes no seu diálogo com o meio ambiente habitado de gestos culturais ancestrais; e são muito diferentes os gestos actuais traduzidos na forma como os que são responsáveis tratam as paisagens e valorizam os factores da natureza que acrescentam qualidade à terra e aos homens mas que parece não terem (ainda) interesse algum.

Outono hino à luz e à cor e ao tempo de férias, de recreio e desporto, e de viagem, que da primeira feita pelo homem como caçador para sobreviver, passou para o homem caçador-de-imagens e emoções dos mundos desbravados, para acrescentar o seu saber sobre o habitar de todos os homens com o tempo e beleza, e diferença, oferecida por cada estação do ano.
Poderia, e deveria ser, viver a estação climaticamente observando os elementos da natureza, sem acusar a chuva de ter volume fenomenal provocando enxurradas catastróficas e danosas para pessoas, bens e animais, pensando em qual a percentagem de culpa que cabe ao projectista e às diversas entidades que, para se construir o que foi proposto, ignoram as consequências, consciente ou inconscientemente, relativamente aos locais que pertencem à água; já que há quem até desvie pequenos e grandes rios que, mais cedo ou mais tarde, acabam por reclamar o leito natural.

Ao encanar-se não importa que ribeira de pequena ou grande dimensão, como ao impermeabilizar-se o que deve continuar permeável, está-se a fazer "deserto" biofísico, em vez de considerar o ribeiro como área-colectiva e desenhar convenientemente o projecto de drenagem das águas pluviais, para o que não bastam "sumidouros."
Ao haver uma enxurrada, a água está, precisamente, a "ensinar" o homem que o seu esquecimento e distracção têm um preço.

Design with water - design with rainfall, é um conhecimento primário e diário dos denominados países desenvolvidos que amam as suas paisagens e, no entanto, há uma década que se vêm debaixo de água, só porque cortaram a floresta em excesso para agricultar e construir; floresta responsável pela absorção das quedas pluviométricas, pela absorção do CO2, pelo filtrar das poeiras, pela produção de oxigénio e pela manutenção da fauna e biodiversidade, para além de reguladora climática. Hoje, após alguns anos, não têm onde se esconder e fugir da água e, como dizia alguém em reportagem da BBC, exibida na semana passada na TV2, "nós não temos medo da energia atómica, não temos medo da guerra, temos medo da água", será dito em breve por toda a Europa, pelo menos.

Hoje, cada vez mais, qualquer projecto de ocupação do solo é interdisciplinar e não pode ignorar a interdisciplinaridade e a presença do arquitecto-paisagista, a única profissão que prepara o "olhar de não importa que paisagem" com sentido holístico, que não dá sabedoria a quem apenas papagueia conceitos.



Fig. 6 – olhar a paisagem urbana e natural no Sítio da Nazaré.

Os problemas têm de ser encarados com dignidade e não omitidos “e esperar que logo se vê", já que não há, igualmente, consciência do que é "área non aedificandi", a não ser as que estão listadas num qualquer DL, pois há situações que só o especialista sabe ver para além das que são seguidas pelos projectistas "by the book", pois que sendo a paisagem um texto legível, como texto manuscrito de alguém de ilegível caligrafia, assim são, também, as paisagens, e ninguém reclama a profissão de ninguém sendo que os saberes estão de tal forma desenvolvidos que ou há interdisciplinaridade acrescentando qualidade ao produto final, ou continua-se a trabalhar em "guetos intelectuais", e a natureza não está muito preocupada com essa situação, pelo contrário.

É uma questão de lentidão de mudança de mentalidade pois que em tudo o que é português impera a lentidão, excepto na invasão do betão e betuminoso e, assim, no aumento de área impermeável; e isto mesmo em passeios de peão de pedra natural, porque nenhum técnico prescinde do "cimento" mesmo nesta situação, impedindo que seja pavimento semi-permeável, para além de se tornar mais macio para a marcha para que sejam mais músculos a trabalhar na deslocação e não sempre os mesmos, se o pavimento for rígido.

As pedras dos passeios de peão assentam-se em terra, só terra, ou areia, ou areão, mais nada, sendo que os mais belos passeios de vidraço que foram criados há 2 séculos, são mais antigos do que o cimento. E com a falta de áreas de jardim, cada vez é mais distante a relação de área impermeável – área permeável, e a cidade fica reduzida a uma laje contínua de betão e de betuminoso, quem sabe para o automóvel poder, ainda, estacionar no passeio.

Automóvel que levou a que todas as ruas de todas as cidades do país fossem cobertas de betuminoso, acumulador de calor insuportável que, por sua vez, faz emitir partículas cancerosas adicionadas às que são erodidas pelos pneus e ao material dos próprios pneus que, igualmente, se desfazem com a idade do automóvel tornando a atmosfera das cidades irrespirável e insalubre. Mas convidam-se os leitores a ver alguns noticiários e a olhar o chão de outras cidades europeias, e lá se verão pavimentos de cubos de granito, tantas vezes renegados em Portugal em nome do automóvel e da menoridade estética e, por fim, do desamor ao peão.
Convida-se quem gosta de conhecer “Aldeias Históricas” de ruas de cubos de granito, passeios de peão de calcário e milhares de esplendorosas árvores de folha perene, e caduca, a que visite Nelas e logo verá o que foi aqui apontado sobre qualidade do ambiente urbano para o peão e saúde do habitante - é de facto uma Vila exemplar.

Não esqueçamos as catastróficas enxurradas de 1983, e mais recentemente, as de 2001 e, a estas, seguiu-se uma era de fogos imparáveis, cada vez mais catastróficos já que não se foi acumulando água no solo e tal que, acompanhado de ano de grande secura maior do que o habitual, se tornou o país inteiro no fogo de um inferno dantesco, em 2003 (lição magistral da natureza, independentemente da existência de "incendiários"); fogo que não pára e é cada vez mais brutal, apesar da satisfação governamental, porque em 2006 ardeu muito menos do que em 2005.

Porque, afinal, Outono é também tempo de enxurradas e de aluimentos, dentro e fora da cidade, podendo dar origem nas áreas metropolitanas, como é o caso sobretudo do Porto, mas também de Santarém, a verdadeiras catástrofes humanas que destroem bens e também vidas, como nas enxurradas de Novembro de 1983, catastróficas para todo o país, mas piores na Área Metropolitana de Lisboa, e ainda as últimas enxurradas em 1991.

Os habitantes da borda dos estuários de grandes rios estão sempre em alerta sendo que os acidentes são tanto maiores quanto os erros humanos praticados a montante dos rios e seus afluentes, com implantação de não importa que projecto que vai alterar a circulação da água superficial e mesmo subterrânea.

Se há enxurrada é porque essa água não é infiltrada, pelo menos no volume próprio da capacidade de absorção do solo, e do lugar, e se assim for a terra que a não recebe inunda, enquanto não expele o excedente para os efluentes; sendo que no Verão a terra está tão seca que não é difícil arder a vegetação seca de Verão, também porque não há ninguém no campo, e não são os bombeiros nem o destruir de centenas de hectares para traçar novos caminhos todos os anos, sem plano nem critério, mas chamando a todos "aceiros", para passarem e atingir zonas em fogo, nem as roças excessivas dos matos, também sem plano nem consciência, que vão resolver o que quer que seja.

Design with the water, design with the rain fall ou, de forma, mais ampla, desenhar com a natureza, é, também, um item fundamental de planeamento e de projecto, acompanhado de inteligente projecto de drenagem, que não se compadece com encanar ribeiras ou ignorar a sua existência, sendo que as enxurradas vão ano a ano "ensinando" como fazê-lo, sendo que a obrigação de considerar as "áreas non-aedificandi" não é suficiente, mas sim há que estudar e realizar "carta de condicionantes" da área de projecto e área envolvente.

E em 2007 veremos, pois que há 20 anos que o cenário é o mesmo tendo havido tempo de sobra para resolver a situação e se os orçamentos autárquicos são insuficientes, que se recorra ao voluntariado, porque já são até crianças muito jovens que limpam, em cada Verão, as lixeiras dos areais de muitas praias de Portugal, mas com planeamento feito por técnicos especialistas, para que tudo não seja inútil e irresponsável relativamente à generosidade dos cidadãos que não sabendo fazer podem aprender e transmitir não importa a quem.

Já está no “osso” todo o espaço físico português e basta olhar o que sucedeu ao Alentejo de onde o vento arrancou, por ano, mais de 100 toneladas de terra-viva (valor avançado já há uma década por Carlos Pimenta), porque a vegetação florestal também desapareceu ano a ano mesmo protegida por lei, e praticamente nenhuma área regenera em menos de uma década, e só se tiver terra-viva, e não for já só “pedra”.

Enxurrada + fogo + enxurrada + fogo + enxurrada + fogo, e não há mais nada (a não ser o vento) e, à semelhança do país vizinho, que se apressou a limpar o material queimado das matas ardidas e a usá-lo para protecção e formação de taludes artificiais, para conter chuvadas e minimizar deslizamentos e erosão pela água e pelo vento, o país que habitamos "deixa andar" e logo se verá.

Então esperemos para ver.

Outono, dará descanso também ao FOGO mas não dará descanso à ÁGUA.

Outono – preparação para o silêncio do Inverno – poderia ser também tempo de meditação para o TODO do que se é e tem sido quanto ao destino a dar à Cidade e ao Campo.

"A faculdade de criar nunca nos é dada sozinha. Ela anda sempre acompanhada do dom da observação ." Igor Stravinsky (1882-1971).

Maria Celeste d'Oliveira Ramos
Lisboa – Bairro do Alto de Santo Amaro
21 Setembro 2006, definitivo em 25 Setembro 2006
Fotos MCOR, excepto fotografias de parapente e da Nazaré de ABC.

Revisto para edição por António Baptista Coelho, em 4 de Outubro de 2006.
Edição de José Romana Baptista Coelho, em 5 de Outubro de 2006