domingo, maio 31, 2015

535 - Desenhos de edifícios e natureza - Infohabitar 535

http://labhab.fau.usp.br/3cihel/ 

Notícia: o 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.

Infohabitar, Ano XI, n.º 535
Desenhos de edifícios e natureza
António Baptista Coelho

Apresentam-se, em seguida, desenhos rápidos realizados, no local, na Covilhã, e outros "sem modelo", feitos com base em conjuntos de edifícios; em cada um deles fazem-se alguns comentários práticos.

Relação entre edifícios e meio natural

Desenho 1: um apontamento feito no local e acabado, a cor, em casa, tentando-se dar a noção do Convento de Santo António (Reitoria da UBI) em forte integração com a natureza envolvente; esta relação entre edifícios e meio natural foi algo que se perdeu, em boa parte, quando da urbanização desenfreada e desqualificada, tendo-se destruído muita paisagem natural e urbana, um processo que temos de começar a suavizar e anular, designadamente, através de uma estratégica melhoria de determinadas zonas e percursos considerados prioritários.


Recuperação da paisagem urbana


Desenho 2: um apontamento feito no local, a lápis, na zona do Jardim do Lago, Covilhã, e que ainda aguarda eventual acabamento; tal como foi atrás referido a questão da urgente recuperação da paisagem urbana é algo, tão importante como complexo, mas hoje em dia vital para a adequada (re)caracterização local, e que tem de conciliar esforços e sensibilidades de diversos protagonistas, técnicos e políticos; será difícil, mas é urgente.  


Formas edificadas e construídas


Desenho 3: a mistura plástica das formas edificadas e construídas foi e será sempre motivo de desenho; aqui inventado com bastante liberdade.



Desenho 4: novamente a mistura plástica das formas edificadas e construídas; aqui inventado tratado de forma um pouco menos livre.



A quase qualidade expressiva de aglomerados praticamente caóticos




Desenho 5: e ainda a mistura plástica das formas edificadas e construídas; aqui tratada de forma mais elaborada e demorada; procura-se experimentar o que pode ser a quase qualidade expressiva de aglomerados praticamente caóticos.


Importância da paisagem urbana


Desenho 6: novamente um pouco de paisagem urbana da Covilhã tratada de forma bastante rápida e livre; a ideia é sempre reforçar a importância da paisagem urbana, seja na sua fruição direta e "interior", seja no seu papel como elemento de identidade e apropriação.


Infohabitar, Ano XI, n.º 535
Desenhos de edifícios e natureza
Editor: António Baptista Coelho – abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.



domingo, maio 24, 2015

534 - Arrumação domésticas: aspetos gerais - Infohabitar n.º 534




O 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.


Infohabitar, Ano XI, n.º 534

Arrumação domésticas: aspetos gerais
António Baptista Coelho
Artigo LXXX da Série habitar e viver melhor


Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e desenvolvemos hoje uma reflexão sobre os espaços de arrumação domésticos.

O relevo a dar à arrumação doméstica


Pequena introdução sobre uma função cuja importância tem sido descurada
A arrumação doméstica é, provavelmente, a função cuja importância tem sido menos evidenciada no conjunto das funções habitacionais, e é aquela cujo evidente teor “funcional”, dimensional e quantitativo, sendo muito claro e crítico, não pode fazer diminuir os respetivos aspetos qualitativos e de opções residenciais ambientais e de vivência.

Uma habitação marcada por excelente e adaptável capacidade e arrumação

De certa forma é até possível considerar a própria compartimentação doméstica como uma meta-arrumação, que numa situação-limite poderá resumir-se a uma planta livre na qual se poderão distribuir, diversificada e mutacionalmente, alguns elementos de mobiliário com carácter extremamente móvel – lembrando, por exemplo, os velhos modos de viver medievais – que garantam um mínimo necessário de arrumações (sendo a restante arrumação garantida, por exemplo, de forma concentrada, em elementos/espaços específicos), podendo ser a própria compartimentação assegurada por tabiques móveis e também com evidente carácter mutacional e adaptável.

Lembramos, aqui estas possibilidades pois, como se entende, elas marcam, profundamente, determinadas opções de estruturação doméstica, não apenas tradicionais – o caso da habitação japonesa, por exemplo –, mas também “inovadoras” e atuais; referimo-nos aquelas soluções de quase planta livre, com instalações (elementos com águas e esgotos) bem concentradas e com soluções de arrumação igualmente concentradas, e associadas a soluções de compartimentação dinâmicas, porque potencialmente geradoras de diversos ambientes domésticos – escondendo ou mostrando, por exemplo, diversos espaços funcionais.

Arrumação como base de funcionalidade geral

A arrumação doméstica constitui uma verdadeira retaguarda logística da funcionalidade e do desafogo no interior privativo de uma habitação, possibilitando que as outras atividades se desenvolvam com eficácia, satisfação e “à vontade”, proporcionando, mesmo, margens ou reservas de “vivência”, evidenciadas, por exemplo, quer em situações em que é possível encerrar, facilmente, determinados espaços, que podem estar mais desarrumados ou que não gostemos de revelar, quer em situações de ocupação provisória e eventual de determinados espaços com camas ou outras pequenas zonas funcionais facilmente escamoteáveis, quando é, por exemplo, necessário acolher um hóspede ou disponibilizar mais uma pequena zona de trabalho ou de estar.

Fig. 01: Imagem de cozinha/sala de família com excelente capacidade de arrumação, de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 4, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.

Arrumação e apropriação

E a arrumação doméstica tem uma fundamental dimensão de apropriação, pois é pela capacidade de arrumar, dispor, evidenciar, tapar, e criar associações de mobiliário e outros elementos de arquitetura de interiores, que podemos apropriar a nossa casa, evidenciar a sua e a nossa identidade e expressar a quem nos visita aquilo que mais desejamos comunicar na forma como vivemos e, consequentemente, em muito daquilo em que acreditamos e que nos motiva.

Várias "dimensões" da arrumação doméstica

As várias dimensões da arrumação doméstica ficam bem evidentes na capacidade de uma dada sala poder acolher, com desafogo, e com alternativas de disposição, elementos de mobiliário patrimonial que gostemos de evidenciar e que, cumulativamente, ofereçam excelentes capacidades de arrumação; e parece ficar, assim, bem evidenciada a falta de cuidado que muitos projectos de habitação dedicam a esta matéria, obrigando, tantas vezes, a soluções de mobiliário estereotipadas e, além disso, atravancadas (por exemplo, com enormes sofás em espaços com dimensões acanhadas) e até funcionalmente deficientes.

Finalmente, nesta abordagem a uma redescoberta importância da arrumação, há que sublinhar alguns aspetos:

- A arrumação pode ultrapassar os aspetos específicos que a ela estão habitualmente associados para abarcar a capacidade de proporcionar, com eficácia, alterações radicais de ambientes domésticos – por exemplo transformar um pequeno quarto em saleta, através da elevação ou rebatimento da cama. Esta virtualidade da arrumação, em termos de conversão rápida e radical de espaços domésticos, associa os aspectos referidos de arrumação geral e de arrumação de mobiliário com aspectos de curiosidade, diversidade e surpresa no recheio dos espaços domésticos, aspecto este que merece um desenvolvimento específico.

- Aspectos de curiosidade, diversidade e surpresa no recheio dos espaços domésticos: as passagens “embebidas” em grandes roupeiros, as continuidades de portas de arrumações e de quartos, as paredes de arrumação, as paredes-biblioteca, etc.

- A arrumação numa habitação pode ser altamente diversificada, versátil, disseminada e com elevada capacidade global.

- A arrumação, as portas, rodapés, e outros aspetos de pormenorização interior podem/devem integrar uma “solução” de arranjo/aspecto única, marcada pela sobriedade e diversidade de relações de integração.

O arrumar do mobiliário e do resto

Em primeiro lugar, há que sublinhar que a ação de arrumar o mobiliário se refere ao principal aspeto de apropriação da habitação pelos seus habitantes, sendo que esta apropriação se centra, na prática, na, frequente, apropriação do espaço doméstico pelo casal que habita, ou neste pelo elemento do casal que assume preponderância nesta ação; e aponta-se este aspeto porque, frequentemente, crianças, jovens e mesmo idosos têm os seus espaços mais "pessoais" marcados pelo "mobilador" de serviço, um agente que, até, em certos grupos sociais tem uma intervenção profissional específica, ao nível da arquitetura de interiores, dita frequentemente "decoração", e neste caso a maior ou menor adequação a necessidades e gostos específicos fica a depender da respetiva qualidade profissional da intervenção, que no entanto se pauta, com infeliz frequência, por um desenrolar de modismos e "mestrias" pessoais, que pouco aou nada ligam a esses aspetos de adequação.

Fig. 02: Sala-comum com boa capacidade de integração de mobiliário de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 5, Arquitetura: Bengt Hidemark.

Vantagens de uma casa bem mobilável

Naturalmente que  a existência de boas extensões de paredes bem usáveis, de cima a baixo e sem grandes "zonas mortas" devido ao funcionamento de portas e janelas, associada a um versátil e razoavelmente folgado dimensionamento geral dos compartimentos e espaços de circulação, neste caso com especial enfoque nas respetivas dimensões menores ("de largura"), é uma condição básica para uma boa "mobilaridade".

"Mobilaridade" e adaptabilidade

E podemos ir um pouco mais longe, considerando que se o "hábito faz o monge", então o mobilar fará a natureza do compartimento, e assim habitações em que todas as suas assoalhadas tenham dimensões folgadas e boa mobilaridade - o que não implica serem "super-espaçosas" - são óptimas pois, cada um dos seus espaços poderá tornar-se: quarto, sala, saleta, escritório, sala de jantar, atelier, pequena galeria de arte, oficina, quarto de vestir, e, até quem sabe, grande sala de banhos, etc., etc. Numa versatilidade que tudo tem a ver com o desenvolvimento de casas apreciadas por muitos e onde muitos podem habitar, marcar e alterar em termos de usos, ao longo de extensos períodos temporais, e aqui há matérias associadas a conceitos de durabilidade do parque habitacional e ligadas a aspectos essenciais de adaptabilidade doméstica e de "casa para a vida" ou de "casa para muitas vidas".

E nestas matérias é importante considerar que muito poderá depender de opções básicas entre as quais se destacam aquelas em que se prefere ter um menor número de compartimentos, favorecendo-se uma maior espaciosidade e mobilaridade dos mesmos.
Importa considerar a arrumação doméstica numa dupla e estruturante perspetiva: uma expressiva capacidade de arrumação de diversos tipos e famílias de mobiliário que sejam os mais habituais em cada tipo de compartimento (por exemplo quartos, salas, etc.); e uma capacidade de arrumação dos inúmeros pequenos objetos e elementos, dos tipos mais diversos, que estão ligados à nossa vida diária em casa.

O primeiro tipo de capacidade de arrumação está “embebido” em cada compartimento e em cada espaço doméstico e, basicamente, é apreciável pela quantidade de mobiliário que é possível “arrumar” em cada espaço da nossa casa, mas naturalmente arrumado de forma a que tenha um máximo de utilidade e a que proporcione espaço livre agradável e desafogado à sua volta.

Esta capacidade deve poder encontrar-se seja num corredor e num espaço de entrada, que se possam mobilar, para serem mais úteis e também mais acolhedores e domesticamente caracterizados, além de servirem como espaços de passagem, seja numa casa de banho ou numa cozinha, que se possam mobilar, pelo menos minimamente, para serem mais úteis e também mais acolhedoras, mais “domésticos”, seja num quarto, para que este possa ser, assim, mais apropriado e individualizado, e naturalmente mais útil, seja numa sala-comum, para que esta possa cumprir, realmente, a sua função-base de integração de várias actividades domésticas, deixando espaço livre para o bom uso das diversas zonas e não se resumir, como é infelizmente frequente, a uma espécie de mostruário de peças de mobiliário entre as quais é, até, muitas vezes, difícil passar.

A importância da capacidade de integração de mobiliário

É importante sublinhar que a capacidade de arrumação de mobiliário oferecida por uma dada habitação deveria ser um elemento considerado com tanto cuidado como o cuidado investido, por exemplo, na boa iluminação natural doméstica, pois trata-se aqui de disponibilizar a um dado agregado familiar a mais importante condição de apropriação do seu espaço de vida diária, uma apropriação que tem ligações directas com a fundamental adaptabilidade de cada habitação às necessidades, modos de vida e sonhos de habitar de cada um de nós, mas que também se liga, directamente, à capacidade de identificação e de marcação de cada casa em relação com quem a habita, proporcionando-se, de certa forma, uma extensão da identidade de cada um de nós e de cada grupo familiar ao seu espaço de habitar privado, o que tem também uma enorme importância – e que faz sobressair, mais uma vez, o tanto que no habitar está para além dos “simples” aspectos funcionais.

References/Referências/notas


Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


Infohabitar, Ano XI, n.º 534
Artigo LXXX da Série habitar e viver melhor
Arrumação domésticas: aspetos gerais - Infohabitar n.º 534

Editor: António Baptista Coelho 
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, maio 17, 2015

533 - Do desenho ao espaço urbano I




O 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.
Infohabitar, Ano XI, n.º 533

Do desenho ao espaço urbano

Artigo I da Série "Do desenho ao espaço urbano"

por António Baptista Coelho

Apresentam-se, em seguida, alguns apontamentos desenhados realizados, no local, a partir da observação de elementos naturais que caraterizam o Bairro de Olivais Norte em Lisboa. Estes desenhos rápidos são dedicados aos meus alunos do 1.º ano de Desenho do Mestrado Integrado em Arquitetura da Universidade da Beira Interior.
Acompanham-se os apontamentos desenhados com breves apontamentos escritos sobre diversas matérias, quer relativas à elaboração dos desenhos, quer sobre aspetos a propósito, relacionados com o urbanismo e o habitat humano.
Inicia-se, assim, uma nova série editorial, intitulada "Do desenho ao espaço urbano".



Desenhos de árvores

Desenhos de árvores, aproveitando estarem ainda sem folhas ou com poucas folhas; a respetiva estrutura fica bem aparente, mais desenhável, e conseguimos atentar mais no sentido orgânico e na expressividade das formas, contando com alguma textura e especialmente com as sombras.



Caminhos entre as árvores

Os caminhos entre as árvores propiciam desenhar com um estimulante sentido de profundidade e de perspetiva natural e muito livre; acaba por ser um exercício que alia a libertação sempre dada pelo desenho de elementos naturais a uma aproximação à matéria do ordenamento urbano e paisagístico.

Os caminhos entre as árvores permitem-nos libertar o pensamento enquanto por eles passeamos, uma possibilidade excelente quando eles se "embebem" em meios urbanos.






Relação entre edifícios e natureza

Em termos de exercício de desenho é excelente associarmos o desenho de elementos naturais e edificados, pois tanto se referenciam mutuamente em termos dimensionais, como o seu diverso tratamento desenhado permite-nos uma experiência livre e expressiva, acentuando-se os aspetos caratetísticos de uns e outros.

Aliar natureza e espaço urbano  foi sempre um dos principais objetivos de muitos projetistas, talvez também pela razão acima referida (mais "plástica"), mas esencialmente pelos benefícios que daí resultam para o habitante; é apenas necessário que de tal conjugação nenhum dos elementos resulte menorizado, o que acontece claramente em Olivais-Norte, Lisboa. 





Relação entre edifícios e natureza

Os comentários feitos acima aqui se repetem, mas nesta vizinhança bem expressiva eles assumem especial interesse, tanto plástica como urbanisticamente.
E é muito interessante termos aqui uma natureza sabiamente projetada com um sentido quase "bravio", que é em boa parte cercada/contida por grandes e excelentes edifícios modernistas sobre pilares; o que propicia toda uma transparência ao nível térreo.




Natureza e biodiversidade na cidade

A imagem foi real e todos os dias se repete com infinitas variações, pois termos amplas zonas naturalizadas corresponde a termos um apoio forte à biodiversidade.

E em termos de prática de desenho é óptimo tentarmos "fixar" cenas completas como esta, que duram alguns instantes mas que podemos tentar fixar e colocar rapidamente no papel (a aguada fica para depois).





"Verde" urbano como espetáculo cromático

Ao longo do ano o verde urbano vai-nos oferecendo um verdadeiro espetáculo de formas, de cores e de cheiros; matéria tão importante para quem desenha como para quem habita estes espaços.
E reforça-se, aqui, o enorme interesse que há em desenharmos "repetidamente" os mesmos temas e os "mesmos" enquadramentos, uma técnica que nos faz desenhar cada vez com mais naturalidade e liberdade criativa.


O espetáculo das árvores

As árvores são espetáculo formal geral, de perspetiva e de tons de luz e cor.
Matérias que tanto interessam ao desenhador como ao projetista e, muito mais, ao habitante.



A natureza é contraponto da edificação

Desenhamos a natureza quase sem nos lembrarmos de fazer linhas direitas, quase que deixando o lápis ou a caneta desenharem sozinhos, com o objetivo de captar a forma geral do nosso modelo.

De certa maneira aqui fica a justificação do grande interesse da ligação entre natureza e espaço urbano, pois aquela suaviza, naturaliza e esbate a frequente "dureza" e forte geometria dos espaços construídos e edificados.



Infohabitar, Ano XI, n.º 533

Artigo I da Série "Do desenho ao espaço urbano"

Editor: António Baptista Coelho –
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional


Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, maio 10, 2015

532 - O espaço de cozinha: novidades e tendências - Infohabitar 532




Últimas notícias: o 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.

Infohabitar, Ano XI, n.º 532

O espaço de cozinha: novidades e tendências

António Baptista Coelho

Artigo LXXIX da Série habitar e viver melhor


Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e concluímos hoje a reflexão sobre o espaço de cozinha.

O espaço de cozinha: novidades e tendências


A cozinha como zona de refeições

Uma excelente solução, embora ainda pouco habitual, é a integração de uma atraente zona de preparação de refeições num espaçoso compartimento multinacional, marcado pelo convívio informal e familiar.
E, de certa forma, esta solução pode concretizar-se em duas opções distintas:
- uma sala-comum onde se integra um espaço de kitchenete;
- ou uma cozinha-sala de família, onde o espaço de preparação de refeições assume um protagonismo forte e digno.

Fig. 01: Zona de cozinha e de refeições de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 33 - 34, Arquitetura: Greger Dhalström.

A cozinha como espaço bem equipado

É importante referir que o falar-se de kitchenetes não significa que estas não possam dispor de um excelente potencial funcional em termos de preparação de refeições; podendo constituir-se em espaços plenamente equipados, até no sentido de poderem minimizar ao máximo os incómodos ambientais (ex., ruído, cheiros) nas zonas contíguas.
E, portanto, mais do que uma relação direta entre números de quartos e tipos de cozinhas, devemos considerar, a partir de uma adequada base funcional para cozinhar em boas condições próprias e de influência na restante vida doméstica (exemplo, ruídos, cheiros, vapores), opções de habitar que favoreçam ambientes específicos, tal como acabaram de ser apontados.


Relação entre dimensão da habitação e espaço de cozinha

Naturalmente, que os pequenos apartamentos estarão mais adequados a soluções em kitchenete, mas é perfeitamente possível e adequado pensar, por exemplo, num pequeno apartamento estruturado, por exemplo, em torno de uma espaçosa cozinha-sala de família, ou dispondo de uma espaçosa e “clássica” cozinha onde se possam tomar refeições, assim como é possível imaginar um grande apartamento onde apenas existe uma kitchenete, embora extremamente bem equipada em termos funcionais e “maquinais”.

Fig. 02: Zona de cozinha e de estar de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 36 - 37, Arquitetura: Bengt Hidemark, Ingemar Jönsson.

Adequação a diversos modos/formas de habitar

E todas estas opções marcam diversas formas de fazer um habitar privado e bem caracterizado pelas formas de habitar de quem o vive; formas bem distintas das ordinárias soluções industrializadas de tantas cozinhas que conhecemos, e que acabam por se definir como verdadeiros eletrodomésticos gigantes, que mais do que usar, acabamos por ter de, nós próprios, servir no dia-a-dia (limpar, arrumar, manter, “não riscar”, etc.).


Novos espaços de preparação de refeições

Talvez que as pessoas não apreciem as "cozinhas laboratório", tal como apontou M. Imbert (1), talvez que se aceitem bem as cozinhas mais pequenas, quando se dispõe de um espaço específico para refeições, talvez seja agradável, aquela “solução à americana", em que a preparação de refeições está totalmente integrada numa sala de família, que pode ser o espaço de refeições e de convívio diário e "à vontade", onde as crianças brincam e trabalham e onde se vê televisão.
E importa aqui salientar o enorme potencial de convívio que têm hoje em dia os espaços de cozinhas; e um potencial que é estratégico numa sociedade atual marcada pelo isolamento doméstico e pelo individualismo.
Cristopher Alexander  (2) defendia, já há bastante tempo, que a função de cozinhar deve ser recuperada como elemento quotidiano animador da vida familiar, através da sua integração com o estar familiar e por uma relação direta com as restantes áreas comuns da habitação.
De certa forma é também insistir, estrategicamente, na intensificação das relações face a face, nesta era globalizada e "internetizada", também no interior da habitação.


Cozinha multifuncional como um novo espaço doméstico

Considerando essa referência do espaço de cozinha como elemento quotidiano animador da vida familiar, lembremos que diversas pessoas podem trabalhar conjuntamente numa grande e bem iluminada cozinha, com bancada alongada, mesa de refeições espaçosa e, até, por exemplo, um recanto para um sofá (3); transforma-se, assim, a cozinha num espaço doméstico de convívio pleno de potencialidades funcionais, formais e de dinamização da vida privada.
E com certeza que todas estas possibilidades e outras acima apontadas serão sempre preferíveis a soluções estereotipadas onde, tantas vezes, o espaço está lá apenas para que as pessoas se movimentem no trabalho que executam nas bancadas de cozinha, quase como se fossem robots.


Cozinha multifuncional adequada a idosos e jovens

E atente-se que uma cozinha-sala, bem configurada, é um compartimento com grande utilidade, quer ao serviço da informalidade em fogos para jovens casais e vivendo sós, quer ao serviço da estratégica concentração de atividades e espaços, em fogos para idosos, nomeadamente, quando estes precisam de ajudas na cozinha e quando já se caracterizam por algumas dificuldades de movimentação.


Diversas imagens da cozinha

Quanto à imagem mais “tecno” ou mais “rústica” de uma cozinha ela terá de ficar à escolha de quem a vá usar, no entanto algo diz que nos sentimos muito mais “em casa”, num ambiente caloroso, e é, pelo contrário, difícil de imaginar o cozinhar em cozinhas laboratório, revestidas a metal reluzente, isto, pelo menos, quando somos nós próprios a viver/usar realmente tais espaços.

Fig. 03: Zona de cozinha que é, também, a única zona de acesso a uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 35, Arquitetura: Kai Wartiainem, Ingrid Reppen.

Cozinha-sala de estar e cozinha sala de família

Para concluir esta temática, a perspectiva de uma cozinha-sala de estar e de família pode ser considerada de duas formas distintas:
- uma delas, relativamente corrente, em que tal espaço surge como alternativo a outros espaços de estar, numa solução tão associável a habitações amplas, como até a habitações com controlos de área, assegurando-se, neste caso, possibilidades de usos diversificados tanto na pequena sala-cozinha, como na pequena sala-comum que com ela estará conjugada;
- e uma outra, menos corrente e sempre mais discutível, em que existe, realmente, apenas uma única zona para cozinhar, refeições e estar, uma solução tanto menos corrente e adequada, quanto maior for a habitação em termos de número de quartos.
E pode haver, ainda, inovações radicais como aquele em que uma ampla cozinha, bem assumida como tal, para espaço essencialmente dedicado à preparação de refeições, integra, também, a única entrada na habitação.

References


Referências/notas
(1) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville Nouvelle du Vaudreil", p. 12.
(2) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 587 e 588.
(3) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 122.


Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XI, n.º 532
Artigo LXXIX da Série habitar e viver melhor
O espaço de cozinha: novidades e tendências

Editor: António Baptista Coelho 
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.