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Infohabitar,
Ano XI, n.º 531
Cozinha: algumas questões de projeto
Artigo LXXIII da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre
"habitar e viver melhor",
na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de
proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os
seus espaços comuns. Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços
que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo
sobre as diversas facetas que os qualificam; e continuamos com alguns aspetos sobre e algumas questões que aí se
colocam.
Orientação preferencial das cozinhas
Um outro espeto relativo às cozinhas e que é, constantemente, motivo de
dúvida na fase inicial da conceção residencial, tem a ver com a sua orientação
preferencial, que é, habitualmente, referida aos quadrantes mais a Norte.
Esta é uma matéria sobre a qual há, no entanto, ma reflexão a fazer que
tem a ver, designadamente, com os seguintes dois tipos de aspetos:
com a situação de ter de haver compartimentos expostos a esses
quadrantes, quando se consideram habitações com ventilação cruzada e duas
frentes, sendo uma delas mais a Sul – condição esta que parece ser a ideal –, e
com a preferência que nestes casos deve ser dada aos quartos e salas na
orientação mais a Sul, pois estes compartimentos e, designadamente, os quartos
muito ganharão ao serem naturalmente aquecidos, no Inverno, durante o dia, para
depois serem usados ao final da tarde e à noite;
não podemos esquecer que na quase totalidade dos casos são os próprios
habitantes a usarem a cozinha para prepararem as suas refeições e assim há que
ter em conta o seu conforto nesses espaços, não sendo, de todo adequado, que
eles sejam concebidos como sendo destinados a alguém que ali estaria a realizar
uma função “maquinal” e “de serviço”; hoje em dia tal não faz qualquer sentido,
pois mesmo em situações de "cozinhas-laboratório" ou de recantos de
cozinha, tais espaços devem ser expressivamente confortáveis, para além de
serem funcionais e seguros na sua utilização.
Fig. 01: Cozinha de habitação do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H29 - H31, Arquitetura: Gert Wingardh, Monica Riton.
Portanto, o que haverá a concluir desta questão?
Talvez que a cozinha deva poder ser, tendencialmente, associada às
condições ambientais que caracterizam a zona de estar doméstica, por exemplo,
desenvolvendo-se na sua contiguidade, desde que tal condição não seja
significativamente responsável pela disposição dos quartos orientados, de forma
expressiva, a quadrantes Norte.
Por outras palavras, se há algum espaço a “sacrificar” a essa
orientação mais a Norte, a cozinha deverá ser o primeiro, até porque durante o
Verão essa mesma disposição será um fator específico de conforto no seu uso
próprio e da sua boa influência ambiental no resto da casa, pois será um espaço
tendencialmente fresco, com vantagens seja para a conservação dos alimentos,
seja para o desenvolvimento da preparação de refeições, com uso do fogão – uso
este que, afinal, será, também um fator de equilíbrio ambiental da vivência da
cozinha em tempo frio.
Uma outra questão ambiental a considerar na conceção do espaço de
cozinha liga-se com o erro, frequente, de se considerar que esta zona doméstica
se deve ligar ao exterior de forma diversa do que acontece nas restantes zonas
de estar – afinal, como tem ficado claro o espaço de cozinha deverá ser,
sempre, e também uma zona de estar.
Fig. 02: Sala de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H29 - H31, Arquitetura: Gert Wingardh, Monica Riton - o tipo de fenestração é idêntico na sala e na cozinha.
Na prática faz muito pouco sentido tratar as janelas das zonas de cozinha apenas como sendo vãos funcionais, por exemplo, de acesso a estendais de roupa, assim como não faz qualquer sentido “enclausurar” o espaço de cozinha “atrás” de um espaço de tratamento de roupas (lavar e secar), interiorizando-o e prejudicando fortemente as suas condições de conforto ambiental (ventilação e iluminação natural), e mesmo “entristecendo-o” de forma crítica.
Iluminação natural de cozinhas
Em termos de segurança e eficácia nas tarefas do cozinhar é fundamental
que elas se desenvolvam em espaços e bancadas muito bem iluminados
naturalmente, e, além disto, e porque somos nós os habitantes que estamos no espaço
de cozinha a cozinhar e em outras atividades associadas, também será bem
interessante que aí possamos ter boas vistas sobre o exterior.
E atente-se a que este tipo de cuidados podem e devem ser determinantes
na estruturação doméstica e ajudam, até, por exemplo, na fundamental
autonomização do tratamento de roupas relativamente à preparação de refeições; atividades
estas (cozinhar e tratar a roupa), que afinal nada têm em comum em termos
funcionais e ambientais, apenas eram, habitualmente, realizadas pelas mesmas
pessoas: as “donas de casa” e as empregadas; mas esta é uma situação que parece
ter mudado radicalmente.
Fig. 03: Pormenor de cozinha de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H29 - H31, Arquitetura: Gert Wingardh, Monica Riton.
Condições de conforto ambiental em cozinhas
E finalmente uma última questão ambiental: é essencial que as cozinhas
tenham excelentes condições de luz e de ventilação naturais (janelas de abrir)
ou "forçada" (grelhas de entrada e saída de ar).
E nesta matéria há que sublinhar que, sem dúvida, são preferenciais as
condições de iluminação e ventilação naturais, aliás com importância claramente
acentuada numa altura em que se procura uma maior sustentabilidade ambiental
habitacional; e aqui há que sublinhar que, por vezes, se faz o mais complicado
nestas matérias da sustentabilidade ambiental e se esquece o mais simples e
igualmente importante como é o caso.
E, ainda nesta matéria, há que salientar que, muitas vezes, a famosa
ventilação forçada é claramente deficiente ou corresponde a sistemas cuja
eficácia de ventilação é claramente duvidosa ou que obrigam, mesmo, a soluções
mecânicas que gastam energia para a resolução de uma situação que pode e deve
ter uma resolução “natural”.
References
Referências/notas
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e
que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram
recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição
habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em
2001.
Aproveita-se para lembrar o grande
interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo
“organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que
integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a
Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das
Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01
teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase
do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma
das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja
possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas
aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado
número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a
identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação
adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais
projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam
as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta,
quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em
relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de
referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 531
Artigo
LXXIII da Série habitar e viver melhor
Cozinha: algumas questões de projeto
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
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GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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