Infohabitar,
Ano XV, n.º 689
Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)
Em seguida, serão brevemente abordados alguns
aspectos da relação entre a satisfação habitacional nos espaços domésticos e o
desenvolvimento de determinadas soluções gerais de equipamentos e instalações,
considerando-se, essencialmente, as matérias ligadas, por um lado à apropriação
desses espaços, por outro a aspectos de atractividade/aceitação das mesmas
soluções e, naturalmente, a aspectos essenciais de funcionalidade e adequação
global das mesmas soluções.
Introdução a uma reflexão geral sobre equipamentos e instalações domésticas
Chama-se a atenção para o carácter informal,
embora naturalmente cuidadoso, destes comentários/reflexões e para o sentido
prospectivo dos mesmos, pois tem-se bem a noção de que se está a entrar em
matérias tão interessantes como sensíveis, designadamente, porque marcadas por muitas
dezenas de anos de carga regulamentar e d que podemos designar, embora de modo
redutor e apenas aproximado, de uma “ideologia doméstica funcionalista”; e
salienta-se, ainda, serem estas reflexões apenas generalistas e introdutórias à
temática.
Importa, desde já, clarificar que designamos,
aqui, como equipamentos domésticos todos os tipos de elementos “embebidos” na
habitação – tipo mobiliário fixo – que proporcionam à vida doméstica o que
podemos considerar como condições básicas de funcionalidade; tal como será o
caso de um conjunto de armários e bancadas de cozinha e de uma série de
elementos de arrumação fixos, como armários e roupeiros embutidos.
Como instalações referimo-nos a elementos
ligados a redes de electricidade, água, esgotos, telecomunicações, etc.,
elementos estes que também têm parcelas muito assimiláveis aos equipamentos
domésticos fixos e aos seus aspectos de apropriação e atractividade, sob a
forma das variadas “louças” sanitárias (banheiras, lavatórios, bidés, sanitas)
– elementos estes que acabam por ter uma dupla caracterização funcional e
formal.
Regista-se, ainda, que a previsão de um dado
conjunto de elementos de equipamento fixo e de instalações está, habitualmente,
associada espaços onde há disponibilização de água (“espaços húmidos”) e,
consequentemente à introdução de revestimentos impermeáveis em paredes e pisos,
bastante mais dispendiosos do que os acabamentos correntes.
E desde já podemos considerar que a indicação
de um dado equipamento mínimo, em termos de armários e bancadas, está,
habitualmente, associado à previsão de um funcionamento, pelo menos, mínimo do
espaço de cozinha, tendo em conta aspectos de higiene e de funcionalidade; uma
previsão que, interessantemente, tem similaridades em soluções mínimas
associadas a operações de auto-acabamento dos espaços domésticos e em soluções
bastante elaboradas onde existe a possibilidade de escolha entre diversos
“pacotes” de equipamentos, instalações e acabamentos finais.
Fig. 01: naturalmente, certas soluções de equipamentos domésticos - neste caso uma habitação "forrada" a prateleiras e lambris de madeira - caracterizam profundamente a sua identidade e imagem.
Equipamentos e instalações, aspectos relativamente “inovadores”
Um tipo interessante de reflexão a considerar é
a necessidade de uma revisão urgente dos aspectos para-regulamentares e
regulamentares que marcam a previsão de equipamentos e instalações domésticas,
actualizando-a no que se liga à existência de novos tipos de instalações e de
acabamentos de “zonas húmidas” e tendo em conta, designadamente, os aspectos de
apropriação e a diversidade de modos de habitar que marcam e marcarão a
actualidade e o futuro próximo.
Outro aspecto importante a ter em conta refere-se
à temática da apropriação doméstica, um assunto que podemos exemplificar com a
situação, muito corrente, de global “destruição” das louças e revestimentos
sanitários e também, frequentemente, dos equipamentos e revestimentos das
cozinhas, para sua substituição por outros elementos escolhidos pelos próprios
habitantes no sentido de uma forte apropriação desses espaços/elementos – uma
situação que, muitas vezes, afecta elementos a estrear.
E esta situação leva-nos a pensar sobre o
interesse estratégico: (i) de se preverem elementos de equipamentos e de
instalações com expressiva neutralidade de imagens e, portanto, harmonizáveis
com um amplo leque de arranjos domésticos; e/ou (ii) de se disponibilizarem,
numa determinada fase da obra e conhecidos os respectivos moradores, “pacotes”
específicos de equipamentos e de determinados elementos de instalações.
Estas reflexões podem, ainda, ser
expressivamente ampliadas e flexibilizadas se avançarmos num caminho de
exploração e experimentação de novos modos de habitar e de, associadas, novas
caracterizações de determinados espaços domésticos, com relevo, por exemplo,
para: cozinhas integradas em salas de família multifuncionais e
multiambientais, onde os aspectos de funcionalidade devem ser bem harmonizados com
um essencial sentido doméstico, acolhedor e atraente; “instalações sanitárias”
domésticas que o deixem de ser, no que se refere a uma expressão excessiva de
funcionalidade, convertendo-se em estimulantes “salas de banho”, que evidenciem
a importância da relação entre a água, a higiene, a saúde e o lazer, relegando,
frequentemente, as sanitas para zonas específicas e bem demarcadas; “salas de
banho” onde estejam integrados equipamentos de lavagem e secagem de roupas; e
mesmo quartos onde se integrem espaços de banho protagonistas e atraentes.
E não tenhamos dúvidas de que a inovação nos
modos de habitar vai mais longe do que estas “simples” considerações sobre
novos modos de encarar cozinhas/salas, casas de banho e quartos
multifuncionais.
Como aspectos práticos que importa, de certa
forma, “ressalvar” ou reservar quando se desenvolvem estes tipo de reflexões
práticas, ou mesmo no caso geral do desenvolvimento de equipamentos e,
especificamente, de instalações domésticas, salientam-se os cuidados de: higiene
geral no uso e na facilidade de manutenção corrente, ventilação e evacuação do
vapor de água e facilitação de intervenções eventuais, designadamente, no
acesso a canalizações – uma situação que pode fazer pensar e, eventualmente,
recomendar o uso de canalizações aparentes ou facilmente visitáveis (ex.,
através de tectos ou pisos “falsos”); pois não tenhamos dúvidas que os
problemas com canalizações são dos mais complexos e frequentes na “vida” de uma
habitação.
Como última nota de remate neste conjunto de
reflexões, refere-se que a sua aplicação terá de ser harmonizada com os
aspectos regulamentares específicos e aplicáveis e/ou vice-versa ...
Equipamentos e instalações, alguns aspectos específicos
Os equipamentos domésticos fixos não são,
habitualmente, elementos protagonistas num espaço doméstico, mas sim elementos
que apoiam, funcionalmente, a sua adequada vivência.
No entanto e porque não há regra sem excepção,
os equipamentos domésticos fixos ganham expressivo protagonismo – ainda que
numa frequente perspectiva de “camuflagem” da sua presença e desse protagonismo
– em determinadas soluções habitacionais inovadoras, designadamente, quando
marcadas por extensas soluções de equipamentos, habitualmente, destinados à
camuflagem de grandes espaços de arrumação doméstica (ex., sequências alongadas
de grandes armários embutidos) e/ou ao assegurar de uma expressiva
versatilidade por transformação rápida e profunda de determinados ambientes
domésticos (ex., extensa parede, aparentemente, “vazia”, e que quase instantaneamente
se reconfigura numa série de estantes cheias de livros, “transformando” um dado
espaço doméstico anteriormente dedicado ao estar, numa zona de trabalho e/ou de
biblioteca).
Todos os elementos de equipamento e de
instalações domésticas devem ser programados no sentido de se facilitar a sua
limpeza corrente e naturalmente o seu uso; e neste sentido importa sublinhar
que as peças sanitárias devem ser posicionadas de modo a permitirem, tanto a
limpeza fácil e "em profundidade" das casas de banho, como a
existência de boas áreas de utilização.
Todos os elementos de manobra de vãos,
elementos de protecção de vãos e armários devem caracterizar-se por uma
durabilidade e ergonomia maximizadas, sublinhando-se, neste sentido que, hoje
em dia, é essencial aplicar uma estratégis de capacidade de uso “universal”,
que privilegie o uso adequado, seguro e estimulante por parte de pessoas
idosas.
Em termos particulares, embora ainda a título
de exemplos, fazem-se, em seguida, algumas considerações sobre alguns equipamentos
e instalações específicos.
Os estendais exteriores devem ter boa
capacidade de roupa estendida, não devem exigir cuidados de manutenção
especiais, devem proporcionar total segurança no seu uso e especificamente por
pessoas com dificuldades de movimentação e devem ter boa aparência exterior.
A instalação de chaminés de "fogo
aberto" e de "salamandras" (fogões de sala) deve obrigar a uma
estratégia de ventilação constante dos respectivos compartimentos e de toda a
habitação de modo a anular-se o risco de intoxicação.
Na cozinha importa existirem adequadas
capacidades de tiragem de vapores e fumos, designadamente, através de chaminé
tradicional com tiragem contínua, que se considera mais adequada e segura, do
que a solução através de exaustor mecânico.
A solução de ventilação forçada em casas de
banho interiores (sem janelas), através da existência de uma entrada (inferior)
e de uma saída (superior) de ar, é considerada como uma solução apenas de
recurso, que carece de verificação no que se refere ao seu funcionamento
(facilmente fica aparente a entrada de ar quando aproximamos a mão das grelhas
de entrada).
No entanto e tendo em conta as actuais
exigências regulamentares de áreas folgadas em casas de banho, considerando o
seu uso por pessoas em cadeiras de rodas, recomenda-se que estas novas
espaçosas casas de banho tenham janelas exteriores, dispondo de elementos de
ventilação específicos; faz realmente muito pouco sentido que um espaço com
cerca de 5m2 e tão usado nas mais diversas funções seja interior, e o que se
ganha na habitabilidade doméstica é muito significativo em termos ambientais
específicos e de verdadeiro ambiente doméstico.
Instalações, alguns aspectos específicos
Tal como acontece com boa parte dos
equipamentos, as instalações domésticas não são elementos protagonistas num
espaço doméstico, mas sim elementos que apoiam, funcionalmente, a sua adequada
vivência.
Sobre as instalações a tendência tem sido a sua
total integração da própria massa da construção, numa acção de verdadeira
destruição de alvenarias para integrar roços para os mais diversos tipos de
canalizações onde passam água e fios, julgando-se que o presente e o próximo
futuro deveria trazer à construção uma racionalidade de integração de
instalações que acabasse com este desperdício de mão-de-obra e com a redução da
qualidade da própria obra feita, o que só será conseguido com soluções
"positivas" de incorporação de tubagens.
E este caminho é ainda favorecido quando as
opções de adaptação da habitação a variados tipos de ocupação obrigam a
reconversões, por vezes, radicais nessas instalações, com toda uma nova
destruição de material e desperdício de mão-de-obra, para se reposicionarem as
tomadas, se aumentar o número e deslocar os controlos de luz, e mesmo para se
aumentar o número e mudar o sítio das peças sanitárias e equipamentos de
cozinha.
Há, ainda, outros tipos de instalações mais
"pesadas" como determinados tipos de soluções de evacuação de lixo e
novos tipos de instalações de duplicação de instalações de água, por exemplo,
aproveitando-se a água da chuva para autoclismos, que obrigam a cuidados muito
específicos em termos de projecto.
Sobre a introdução de instalações de ar
condicionado, que está bem na ordem do dia por diversas razões, apenas se
refere, aqui, que elas apenas devem surgir nos espaços domésticos como uma
opção de “segunda linha”, sendo essencial privilegiar o adequado isolamento e a
adequada ventilação natural do conjunto dos espaços de cada habitação e tendo,
evidentemente, em conta a sua envolvente directa.
Havendo introdução de
instalações de ar condicionado não faz, evidentemente, qualquer sentido que a
aplicação dos respectivos elementos exteriores não seja feita, exclusivamente,
em espaços devidamente previstos para essa finalidade; pois se assim não acontecer
os respectivos edifícios terão as suas imagens expressivamente degradadas.
Retira-se daqui que, por um lado, a concepção
habitacional tem de considerar a integração de núcleos estruturantes de
instalações que, estrategicamente, possam servir variados tipos de soluções
domésticas, sendo que, depois, a fase final das diversas redes de instalações
só ganhará com soluções de desenvolvimento muito flexíveis e alteráveis com um
mínimo de complexidade construtiva.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo
sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XV, n.º 689
Equipamentos e instalações
domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em
Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto,
Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo/LNEC – Laboratório
Nacional de Engenharia Civil
Revista do GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação
com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
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