terça-feira, junho 04, 2019

689 - Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689

Infohabitar, Ano XV, n.º 689                      

Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689

Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)


Em seguida, serão brevemente abordados alguns aspectos da relação entre a satisfação habitacional nos espaços domésticos e o desenvolvimento de determinadas soluções gerais de equipamentos e instalações, considerando-se, essencialmente, as matérias ligadas, por um lado à apropriação desses espaços, por outro a aspectos de atractividade/aceitação das mesmas soluções e, naturalmente, a aspectos essenciais de funcionalidade e adequação global das mesmas soluções.

Introdução a uma reflexão geral sobre equipamentos e instalações domésticas

Chama-se a atenção para o carácter informal, embora naturalmente cuidadoso, destes comentários/reflexões e para o sentido prospectivo dos mesmos, pois tem-se bem a noção de que se está a entrar em matérias tão interessantes como sensíveis, designadamente, porque marcadas por muitas dezenas de anos de carga regulamentar e d que podemos designar, embora de modo redutor e apenas aproximado, de uma “ideologia doméstica funcionalista”; e salienta-se, ainda, serem estas reflexões apenas generalistas e introdutórias à temática.

Importa, desde já, clarificar que designamos, aqui, como equipamentos domésticos todos os tipos de elementos “embebidos” na habitação – tipo mobiliário fixo – que proporcionam à vida doméstica o que podemos considerar como condições básicas de funcionalidade; tal como será o caso de um conjunto de armários e bancadas de cozinha e de uma série de elementos de arrumação fixos, como armários e roupeiros embutidos.

Como instalações referimo-nos a elementos ligados a redes de electricidade, água, esgotos, telecomunicações, etc., elementos estes que também têm parcelas muito assimiláveis aos equipamentos domésticos fixos e aos seus aspectos de apropriação e atractividade, sob a forma das variadas “louças” sanitárias (banheiras, lavatórios, bidés, sanitas) – elementos estes que acabam por ter uma dupla caracterização funcional e formal.

Regista-se, ainda, que a previsão de um dado conjunto de elementos de equipamento fixo e de instalações está, habitualmente, associada espaços onde há disponibilização de água (“espaços húmidos”) e, consequentemente à introdução de revestimentos impermeáveis em paredes e pisos, bastante mais dispendiosos do que os acabamentos correntes.
  
E desde já podemos considerar que a indicação de um dado equipamento mínimo, em termos de armários e bancadas, está, habitualmente, associado à previsão de um funcionamento, pelo menos, mínimo do espaço de cozinha, tendo em conta aspectos de higiene e de funcionalidade; uma previsão que, interessantemente, tem similaridades em soluções mínimas associadas a operações de auto-acabamento dos espaços domésticos e em soluções bastante elaboradas onde existe a possibilidade de escolha entre diversos “pacotes” de equipamentos, instalações e acabamentos finais.


Fig. 01: naturalmente, certas soluções de equipamentos domésticos - neste caso uma habitação "forrada" a prateleiras e lambris de madeira - caracterizam profundamente a sua identidade e imagem.


Equipamentos e instalações, aspectos relativamente “inovadores”

Um tipo interessante de reflexão a considerar é a necessidade de uma revisão urgente dos aspectos para-regulamentares e regulamentares que marcam a previsão de equipamentos e instalações domésticas, actualizando-a no que se liga à existência de novos tipos de instalações e de acabamentos de “zonas húmidas” e tendo em conta, designadamente, os aspectos de apropriação e a diversidade de modos de habitar que marcam e marcarão a actualidade e o futuro próximo.

Outro aspecto importante a ter em conta refere-se à temática da apropriação doméstica, um assunto que podemos exemplificar com a situação, muito corrente, de global “destruição” das louças e revestimentos sanitários e também, frequentemente, dos equipamentos e revestimentos das cozinhas, para sua substituição por outros elementos escolhidos pelos próprios habitantes no sentido de uma forte apropriação desses espaços/elementos – uma situação que, muitas vezes, afecta elementos a estrear.

E esta situação leva-nos a pensar sobre o interesse estratégico: (i) de se preverem elementos de equipamentos e de instalações com expressiva neutralidade de imagens e, portanto, harmonizáveis com um amplo leque de arranjos domésticos; e/ou (ii) de se disponibilizarem, numa determinada fase da obra e conhecidos os respectivos moradores, “pacotes” específicos de equipamentos e de determinados elementos de instalações. 
 
Estas reflexões podem, ainda, ser expressivamente ampliadas e flexibilizadas se avançarmos num caminho de exploração e experimentação de novos modos de habitar e de, associadas, novas caracterizações de determinados espaços domésticos, com relevo, por exemplo, para: cozinhas integradas em salas de família multifuncionais e multiambientais, onde os aspectos de funcionalidade devem ser bem harmonizados com um essencial sentido doméstico, acolhedor e atraente; “instalações sanitárias” domésticas que o deixem de ser, no que se refere a uma expressão excessiva de funcionalidade, convertendo-se em estimulantes “salas de banho”, que evidenciem a importância da relação entre a água, a higiene, a saúde e o lazer, relegando, frequentemente, as sanitas para zonas específicas e bem demarcadas; “salas de banho” onde estejam integrados equipamentos de lavagem e secagem de roupas; e mesmo quartos onde se integrem espaços de banho protagonistas e atraentes.

E não tenhamos dúvidas de que a inovação nos modos de habitar vai mais longe do que estas “simples” considerações sobre novos modos de encarar cozinhas/salas, casas de banho e quartos multifuncionais.

Como aspectos práticos que importa, de certa forma, “ressalvar” ou reservar quando se desenvolvem estes tipo de reflexões práticas, ou mesmo no caso geral do desenvolvimento de equipamentos e, especificamente, de instalações domésticas, salientam-se os cuidados de: higiene geral no uso e na facilidade de manutenção corrente, ventilação e evacuação do vapor de água e facilitação de intervenções eventuais, designadamente, no acesso a canalizações – uma situação que pode fazer pensar e, eventualmente, recomendar o uso de canalizações aparentes ou facilmente visitáveis (ex., através de tectos ou pisos “falsos”); pois não tenhamos dúvidas que os problemas com canalizações são dos mais complexos e frequentes na “vida” de uma habitação.

Como última nota de remate neste conjunto de reflexões, refere-se que a sua aplicação terá de ser harmonizada com os aspectos regulamentares específicos e aplicáveis e/ou vice-versa ...

Equipamentos e instalações, alguns aspectos específicos

Os equipamentos domésticos fixos não são, habitualmente, elementos protagonistas num espaço doméstico, mas sim elementos que apoiam, funcionalmente, a sua adequada vivência.

No entanto e porque não há regra sem excepção, os equipamentos domésticos fixos ganham expressivo protagonismo – ainda que numa frequente perspectiva de “camuflagem” da sua presença e desse protagonismo – em determinadas soluções habitacionais inovadoras, designadamente, quando marcadas por extensas soluções de equipamentos, habitualmente, destinados à camuflagem de grandes espaços de arrumação doméstica (ex., sequências alongadas de grandes armários embutidos) e/ou ao assegurar de uma expressiva versatilidade por transformação rápida e profunda de determinados ambientes domésticos (ex., extensa parede, aparentemente, “vazia”, e que quase instantaneamente se reconfigura numa série de estantes cheias de livros, “transformando” um dado espaço doméstico anteriormente dedicado ao estar, numa zona de trabalho e/ou de biblioteca).

Todos os elementos de equipamento e de instalações domésticas devem ser programados no sentido de se facilitar a sua limpeza corrente e naturalmente o seu uso; e neste sentido importa sublinhar que as peças sanitárias devem ser posicionadas de modo a permitirem, tanto a limpeza fácil e "em profundidade" das casas de banho, como a existência de boas áreas de utilização.

Todos os elementos de manobra de vãos, elementos de protecção de vãos e armários devem caracterizar-se por uma durabilidade e ergonomia maximizadas, sublinhando-se, neste sentido que, hoje em dia, é essencial aplicar uma estratégis de capacidade de uso “universal”, que privilegie o uso adequado, seguro e estimulante por parte de pessoas idosas.

Em termos particulares, embora ainda a título de exemplos, fazem-se, em seguida, algumas considerações sobre alguns equipamentos e instalações específicos.

Os estendais exteriores devem ter boa capacidade de roupa estendida, não devem exigir cuidados de manutenção especiais, devem proporcionar total segurança no seu uso e especificamente por pessoas com dificuldades de movimentação e devem ter boa aparência exterior.

A instalação de chaminés de "fogo aberto" e de "salamandras" (fogões de sala) deve obrigar a uma estratégia de ventilação constante dos respectivos compartimentos e de toda a habitação de modo a anular-se o risco de intoxicação.
Na cozinha importa existirem adequadas capacidades de tiragem de vapores e fumos, designadamente, através de chaminé tradicional com tiragem contínua, que se considera mais adequada e segura, do que a solução através de exaustor mecânico.

A solução de ventilação forçada em casas de banho interiores (sem janelas), através da existência de uma entrada (inferior) e de uma saída (superior) de ar, é considerada como uma solução apenas de recurso, que carece de verificação no que se refere ao seu funcionamento (facilmente fica aparente a entrada de ar quando aproximamos a mão das grelhas de entrada).

No entanto e tendo em conta as actuais exigências regulamentares de áreas folgadas em casas de banho, considerando o seu uso por pessoas em cadeiras de rodas, recomenda-se que estas novas espaçosas casas de banho tenham janelas exteriores, dispondo de elementos de ventilação específicos; faz realmente muito pouco sentido que um espaço com cerca de 5m2 e tão usado nas mais diversas funções seja interior, e o que se ganha na habitabilidade doméstica é muito significativo em termos ambientais específicos e de verdadeiro ambiente doméstico.

Instalações, alguns aspectos específicos

Tal como acontece com boa parte dos equipamentos, as instalações domésticas não são elementos protagonistas num espaço doméstico, mas sim elementos que apoiam, funcionalmente, a sua adequada vivência.

Sobre as instalações a tendência tem sido a sua total integração da própria massa da construção, numa acção de verdadeira destruição de alvenarias para integrar roços para os mais diversos tipos de canalizações onde passam água e fios, julgando-se que o presente e o próximo futuro deveria trazer à construção uma racionalidade de integração de instalações que acabasse com este desperdício de mão-de-obra e com a redução da qualidade da própria obra feita, o que só será conseguido com soluções "positivas" de incorporação de tubagens.

E este caminho é ainda favorecido quando as opções de adaptação da habitação a variados tipos de ocupação obrigam a reconversões, por vezes, radicais nessas instalações, com toda uma nova destruição de material e desperdício de mão-de-obra, para se reposicionarem as tomadas, se aumentar o número e deslocar os controlos de luz, e mesmo para se aumentar o número e mudar o sítio das peças sanitárias e equipamentos de cozinha.

Há, ainda, outros tipos de instalações mais "pesadas" como determinados tipos de soluções de evacuação de lixo e novos tipos de instalações de duplicação de instalações de água, por exemplo, aproveitando-se a água da chuva para autoclismos, que obrigam a cuidados muito específicos em termos de projecto.

Sobre a introdução de instalações de ar condicionado, que está bem na ordem do dia por diversas razões, apenas se refere, aqui, que elas apenas devem surgir nos espaços domésticos como uma opção de “segunda linha”, sendo essencial privilegiar o adequado isolamento e a adequada ventilação natural do conjunto dos espaços de cada habitação e tendo, evidentemente, em conta a sua envolvente directa.

Havendo introdução de instalações de ar condicionado não faz, evidentemente, qualquer sentido que a aplicação dos respectivos elementos exteriores não seja feita, exclusivamente, em espaços devidamente previstos para essa finalidade; pois se assim não acontecer os respectivos edifícios terão as suas imagens expressivamente degradadas.

Retira-se daqui que, por um lado, a concepção habitacional tem de considerar a integração de núcleos estruturantes de instalações que, estrategicamente, possam servir variados tipos de soluções domésticas, sendo que, depois, a fase final das diversas redes de instalações só ganhará com soluções de desenvolvimento muito flexíveis e alteráveis com um mínimo de complexidade construtiva.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 689

Equipamentos e instalações domésticas e qualidade arquitectónica – Infohabitar 689


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo/LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

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