Infohabitar, Ano XI, n.º 521
(nota: imagens removidas devido a problemas editoriais alheios à edição da Infohabitar)
Continuamos a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns. Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e continuamos na sala-comum.
A sala-comum: problemas, potencialidades e inovações
Artigo LXX da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
Fig. 01: Sala espacialmente estimulante em termos de sub-espaços e relações com outras zonas domésticas de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 21 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Sala-comum: problemas correntes
Os mais frequentes problemas
nas zonas de estar ligam-se com a exiguidade espacial, seja global, seja por
existência de dimensões muito reduzidas, levando à dificuldade de instalação e
de vivência de diversas atividades (por exemplo, refeições, estar, ler, ver TV,
trabalhar).
Este problema pode originar
que a sala-comum acabe por se reduzir a uma zona de estar, ou a uma zona de
refeições ou, frequentemente, a uma zona muito pouco útil porque atravancada
por muito mobiliário.
Uma solução eficaz para este
problema pode ser dada pela contiguidade entre a sala-comum e um quarto,
condição esta que proporciona a eventual criação de uma sala maior ou a
manutenção da referida compartimentação.
Os problemas são mais
frequentes em habitações com maior número de habitantes porque as soluções
habitacionais tendem a não se caracterizar por uma relação adequada entre mais
quartos e um suplemento de área significativo na sala-comum e na cozinha.
Os referidos problemas de
exiguidade espacial na sala de estar ou comum decorrem, quer de possíveis
condições de reduzido desafogo espacial, quer pelo uso de mobiliário
excessivamente dimensionado, não tendo as pessoas, habitualmente, a noção do
espaço necessário para a respetiva instalação e para que possa ser usado de uma
forma agradável. – este é um problema genérico mas que afeta especialmente
salas e zonas de refeições, que são os espaços mais divulgados nos meios de
comunicação e onde a maioria das pessoas tenta investir de uma forma
expressiva.
Sala-comum: questões levantadas (dimensionais e outras)
As questões levantadas são
de ordem mais geral ou de maior pormenor.
Em termos gerais é possível refletir
sobre a eventual inexistência de uma sala-comum “corrente”, que poderá ser
substituída por um espaço amplo de estar, refeições e cozinha, caracterizado
por uma forte fusão entre estas funções, embora, conforme a opção de projeto,
possa haver uma dominância formal de alguma(s) delas. Ainda globalmente a
sala-comum pode ser substituída por um compartimento multifuncional do tipo "grande
quarto", que os habitantes poderão
usar na medida das suas necessidades e desejos, devendo, neste caso,
haver uma ampla cozinha convivial.
Em termos particularizados
destaca-se a frequente dificuldade de instalar um adequado espaço de estar, com
sofás e mesas de apoio, bem como a também frequente dificuldade de articular
este espaço com as necessidades funcionais colocadas pelo uso da TV, situação
esta ainda tornada mais complexa, quer pelo crescimento dimensional dos
monitores de TV, quer pela sua articulação com outros elementos protagonistas
numa sala-comum, como é o caso de uma lareira ou de um outro dispositivo com
idênticas funções e conotações simbólicas de centralidade e de reunião.
O remédio para tais questões
está essencialmente na aplicação de dimensões relativamente desafogadas,
capazes de aceitarem diversas configurações de conjuntos de mobiliário e de
equipamento.
E haverá ainda que
considerar a integração de um local para instalação de uma aparelhagem de som
e, por exemplo, de apoio ao estudo e ao trabalho profissional em casa, funções
estas que poderão ser eventualmente integradas, numa zona reduzida,
considerando-se a actual miniaturização das referidas aparelhagens e a
constatação de que o ouvir música e o trabalhar são funções que provavelmente
terão de acontecer em alternativa ao ver/ouvir TV, designadamente, quando as condições
de espaciosidade da sala-comum não permitirem uma maior convivência de atividades
através da distância entre as mesmas.
Finalmente, há que sublinhar
que a sala-comum deve ser, mais do que um espaço de convívio e atividade
doméstica diversificada, um espaço de receção de amigos e eventualmente de
outras pessoas relativamente às quais se possa até fazer alguma cerimónia, e um
espaço de suporte de atividades culturais e de aprofundamento do mundo pessoal
de cada habitante, por exemplo, através da criação de boas condições para a
leitura, para a audição de música e para a prática de passatempos diversos, que
podem ir dos jogos de vídeo aos jogos de cartas.
Fig. 02: Sala espacial e funcionalmente inovadora de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 21 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Fig. 02: Sala espacial e funcionalmente inovadora de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 21 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Sala-comum: novidades, dúvidas e tendências (ex., trabalho em casa; idosos, etc.)
Tudo o que atrás se referiu
leva à consideração da sala-comum como um espaço doméstico que deve ser
concebido com um elevado grau de exigência, e considerando uma expressiva
adaptabilidade, aspetos estes que nada têm a ver com o tipo de atenção
estereotipada que leva a produzir salas-comuns que suportam, e mal, apenas uma
exígua zona de estar e uma reduzida zona de refeições ditas formais. E não se
imagine que o que não se pode fazer na sala-comum se fará nos quartos, porque é
fundamental oferecer condições para estar em grupo, “em companhia”,
desempenhando as mesmas ou diversas atividades.
E as tendências para
salas-comuns parecem ser de crescente multifuncionalidade e de afirmada
caracterização formal e simbólica deste espaço como verdadeira montra familiar
e pessoal. E se na casa viver apenas uma única pessoa, então a sala acaba por
ser um seu cartão de identidade.
O estar doméstico constitui,
hoje em dia, provavelmente, em conjunto com o cenário da cozinha, um par de aspetos
domésticos profundamente valorizados pela sociedade. E considerando esta perspetiva
tanto se definem condições de caracterização destes espaços como verdadeiras "montras"
para visitas, e pouco úteis no dia-a-dia, como estes espaços são intensamente
usados como verdadeiros núcleos do habitar diário.
Para o espaço de estar e
considerando estas possibilidades e também a grande diversidade e a potencial
simultaneidade dos usos aí frequentes, a principal “receita” parece ser espaço
suficiente, dimensões adaptáveis e uma estratégica separação do resto da
habitação de forma a que se reduzam os potencias conflitos por geração de
ruídos e por falta de privacidade e de autonomiza do uso da casa pelos seus
diversos habitantes, isoladamente e em grupos.
Fig. 03: Sala espacial e cromaticamente estimulante de uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 25 26, Arquitetura: Gor¨sn Mansson, Marianne Dahlbäck.
Notas:
(1) Sven Thiberg (Sven
Thiberg, Ed., "Housing Research and Design in Sweden", p. 195)
defende que uma sala basicamente com uma planta quadrada e dimensionada de
acordo com uma dimensão base, mínima, de largura de cerca de 4.30/4.50m permite
um arranjo flexível de zonas de estar, embora não permitindo a integração, no
seu interior, de uma zona de refeições. Relativamente a este assunto e tal como
referi num estudo anterior, é importante proporcionar uma grande variedade de
possibilidades de integração na zona de estar de diversos tipos e grupos de
elementos de mobiliário, porque diversos estudos têm já revelado uma forte
discrepância entre os modelos de mobiliário previstos pelos projectistas e a
realidade desenvolvida pelos ocupantes.
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros
artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na
visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of
Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para
registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições
habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de
Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias
Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze
municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da
Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de
soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios
técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto
de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de Malmö,
designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas
de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo
autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos
edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores
domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos
projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos
designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de
interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos
respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes
ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos
referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos
respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 521
Artigo
LXX da Série habitar e viver melhor
A sala-comum: problemas, potencialidades e inovações
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário