Infohabitar, Ano XI, n.º
519
Artigo
LXVII I da Série habitar e viver melhor
(nota: imagens removidas devido a problemas editoriais alheios à edição da Infohabitar)
Continuamos a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na
qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade
urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços
comuns. Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem
os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as
diversas facetas que os qualificam.
A sala-comum, para estar, conviver e para outros usos
António Baptista Coelho
O convívio familiar, a atividade que marca a sala-comum
Há quem diga que o convívio familiar, a atividade que marca em primeira linha a sala de estar ou sala-comum, é uma atividade cada vez menos efetiva, mas não se partilha tal ideia, que se julga estará na linha daquelas que face a um problema dele se afastam de forma a tentarem resolvê-lo por não lhe darem atenção; o que evidentemente não faz qualquer sentido.
Julga-se haver nesta matéria alguma confusão que terá a ver, essencialmente, com a ideia de que as pessoas não poderão conviver, em suas casas, nos sítios onde mais gostam de conviver, porque certos "especialistas" consideram que o convívio doméstico "tem" de acontecer dentro de determinados parâmetros funcionais e espaciais, excessivamente "zonados", hierarquizados e delimitados: o que verdadeiramente não parece, hoje em dia, fazer qualquer sentido quando queremos servir uma grande diversidade de modos de habitar o espaço doméstico.
Julga-se haver nesta matéria alguma confusão que terá a ver, essencialmente, com a ideia de que as pessoas não poderão conviver, em suas casas, nos sítios onde mais gostam de conviver, porque certos "especialistas" consideram que o convívio doméstico "tem" de acontecer dentro de determinados parâmetros funcionais e espaciais, excessivamente "zonados", hierarquizados e delimitados: o que verdadeiramente não parece, hoje em dia, fazer qualquer sentido quando queremos servir uma grande diversidade de modos de habitar o espaço doméstico.
Nesta linha de reflexão, que
se considera sem sentido, estão, por exemplo, as famosas “cozinhas
laboratório”, as zonas de refeições formais longe das janelas, os espaços de
estar onde não cabe uma zona convivial mínima e as zonas de estar onde o estar
para acontecer está num palco sem qualquer tipo de recato visual e de sossego.
E referem-se estes espaços
pois todos eles, em termos gerais e se bem dimensionados e estruturados, podem
ser, potencialmente, espaços conviviais domésticos e, portanto, espaços de
primeira linha como zonas de estar.
O que é fundamental é que haja
possibilidades de estar, em sossego ou em convívio, em cada habitação, um estar
que pode acontecer numa ampla cozinha, numa sala de jantar ou numa sala de
estar, ou então numa sala, sabiamente designada de “comum”, que pode integrar
todos esses espaços e funções: preparação de refeições, refeições em comum, e
estar sozinho ou acompanhado.
Fig. 01: Cozinha-sala de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H4-5, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
Um estar que ele próprio tem um amplo leque de facetas de atividade
Um estar que ele próprio tem
um amplo leque de facetas de atividade, tão distintas como estar simplesmente a
repousar, estar a conviver num grupo razoavelmente amplo, estar a ver TV, ou,
ainda e especialmente hoje em dia, estar a trabalhar ou a estudar.
Iremos falar mais à frente de
outros espaços específicos onde tais atividades se realizam – como cozinhas,
salas de jantar, etc. –, mas é importante sublinhar, desde já, que o que
importa para uma casa mais estimulante é que esta atividade “nuclear”, convivial
e tão enriquecedora de um "estar", mais sozinho ou mais em companhia,
fazendo tantas coisas ou quase nada, se possa exercer da melhor forma possível,
seja em espaços próprios, seja em espaços alternativos.
Uma tal opção significa a
"programação" de um "estar" doméstico que proporcione que
as pessoas se encontrem e convivam, na sua casa, porque o querem fazer e porque
naqueles sítios há excelentes (ou pelo menos adequadas) condições para esse
estar diversificado, e não porque há uma função que se designa “estar” e há um
espaço único onde tal função parece ser possível (pelo menos "em
planta") e onde, tantas vezes, é apenas miseravelmente possível.
De forma sintética o estar e o
convívio domésticos, numa habitação que esteja entre condições dimensionais
mínimas e excelentes (mas não excecionais), poderá acontecer, de forma
privilegiada, associado: à preparação de refeições, à principal zona de lazer
da casa; a espaços de lazer e de trabalho mais recatados; e, naturalmente, a
espaços de dormir e fortemente privativos. E não se consideram situações excecionais
em termos de espaço e de condições específicas, pois nestas não há praticamente
limites para o apoio a esta função convivial doméstica.
O estar doméstico (convivial ou privatizado) deve ser possível em diversos espaços da habitação
O que importa aqui sublinhar é
ser fundamental que o estar recatado e o estar convivial doméstico sejam
possíveis nas melhores condições numa significativa alternativa de
possibilidades: por exemplo, na cozinha, na sala-comum, em um dos quartos e,
por exemplo, numa varanda.
">Fig. 02: Sala espacialmente estimulante em termos de
sub-espaços e relações com outras zonas domésticas de uma habitação do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13-14,
Arquitetura: Charles Moore, Ruble, Yudell, Bertil Öhrström.Esta é a ideia que se quer sublinhar, que o estar doméstico não é uma obrigação “maquinal”, é uma excelente e desejável possibilidade, e que, sendo-o, tem de ter alternativas cativantes onde seja possível, e, mais do que ser possível, onde seja verdadeiramente agradável e enriquecedor das experiências individuais e comuns/familiares dos respetivos habitantes, porque dispondo de versatilidade de organizações de mobiliário e adequadas localizações.
Numa situação inversa teremos
e temos, frequentemente, um único sítio onde o convívio doméstico mais alargado
é possível, frequentemente, na designada sala-comum, tantas vezes mal
localizada e, portanto, podendo prejudicar a vivência e o sossego doméstico, e
onde, também frequentemente, o espaço disponível leva a organizações de
mobiliário deficientes, muito pouco flexíveis, e onde o espaço sobrante é
manifestamente insuficiente.
E por isto o estar deve ser
previsto, tanto de forma concentrada na sala, como de modo disseminado nos
vários quartos de dormir, com relevo para os dos jovens, como ainda em certas
saletas e escritórios; embora o estar, a reunião e os tempos livres da família
possam ter lugar privilegiado numa sala de família multifuncional, que pode
existir com um carácter mais independente ou mais ligado à preparação de
refeições, havendo na restante habitação outros espaços afins mas com funções
mais particularizadas, tais como escritórios, saletas de cerimónia e
quartos/sala, numa perspetiva que cumpra a tal diversificação de alternativas
de estar e de múltiplas atividades domésticas que funcionará como verdadeiro catalisador
da satisfação com a habitação.
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros
artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na
visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of
Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para
registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições
habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de
Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias
Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze
municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da
Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de
soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios
técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto
de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de Malmö,
designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas
de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo
autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos
edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores
domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos
projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos
designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de
interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos
respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes
ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos
referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos
respetivos projetistas de arquitetura.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e
adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a
ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 519
Artigo
LXVIII da Série habitar e viver melhor
A sala-comum multifuncional
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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