Infohabitar, Ano XI, n.º
518
Tendências
nos corredores e zonas de passagem domésticas
António Baptista Coelho
Artigo LXVII da Série habitar e viver melhor
Continuando
a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos
acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e
habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns,
vamos, agora, falar com algum detalhe sobre os espaços que constituem os nossos
“pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas
que os qualificam.
Tendências
nos corredores e zonas de passagem domésticas
Um
dos aspectos que continua a ser estruturador de uma boa solução doméstica é que
ela se caracterize por uma economia ponderada de circulações, conseguida
através da mínima extensão e do aproveitamento máximo das circulações por
corredor (por exemplo por dupla utilidade para circulação e para arrumações em
roupeiros) e também mediante a mínima extensão e posicionamento estratégico das
eventuais zonas de circulação obrigatória através de compartimentos mais
sociais (por exemplo, quartos com acessos através de salas e cozinhas).
Mais
do que uma questão de compartimentação as opções ligadas ao desenvolvimento de corredores e outros espaços de circulação
doméstica têm a ver com opções fundamentais de organização e de formas de
habitar.
(Exemplo) Escada doméstica como elemento "plástico" de habitação
Fig. 01: Escada doméstica como elemento "plástico" de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H4-5, Arquitetura: Jan Christer Ahlbäck.
A circulação pode, praticamente, desaparecer, ficando o referido "espaço-concha" mínimo ou máximo, e, aliás, vale a pena lembrar que os espaços específicos de circulação terão sido uma invenção, seja nas habitações com serviçais, onde estes espaços existiam nas áreas de serviço, seja nas habitações “de rendimento” onde tais espaços de circulação acabam por ser a base que estrutura uma divisão espacial que proporciona um máximo aproveitamento de um dado espaço disponível e a máxima concentração da volumetria construtiva.
E
lembremos, por exemplo, que hoje, por regra, não há empregados domésticos,
embora as razões ligadas ao máximo aproveitamento espacial se mantenham – mas
nesta matéria seria de grande interesse perceber-se melhor quais são as volumetrias
construtivamente mais económicas, considerando os cuidados de construção e de
equipamento (por exemplo, obrigatoriedade de ascensores).
(Exemplo) Circulação doméstica integrada no espaço habitacional
Uma
ideia que pode ficar nesta matéria das circulações domésticas é que quando
existam corredores estes devem ser razoavelmente largos e mobiláveis,
constituindo verdadeiros compartimentos, que até podem ter luz natural (directa
ou indirecta), ou usáveis como acesso a arrumações úteis, e que o seu
desenvolvimento deve ser extremamente cuidadoso e justificado.
Outra
ideia que deve ficar é que estará na altura de se colocarem em causa opções de
hierarquização doméstica, que têm sido consideradas positivas – por exemplo,
ligadas à definição de zonas domésticas mais íntimas e mais sociais – e que
são, por vezes, positivas, proporcionando diversidade de actividades e
privacidade entre actividades, mas que, outras vezes, são negativas, pois acabam
por “obrigar” a um funcionamento "maquinal", unívoco e rigidamente hierarquizado
de uma habitação, com problemas seja na adequação a diversos modos de habitar,
seja à evolução dos modos de habitar pela qual passam todas as famílias.
(Exemplo): Circulação doméstica como elemento "protagonista" de uma habitação
Fig. 03: Circulação doméstica de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 4-5, Arquitetura: Bengt Hidemark.
E
em tudo isto a reflexão sobre as circulações domésticas é fundamental, quando se
concebe e quando se escolhe uma habitação. E é bem interessante pensar que esta
matéria que, há vinte/trinta anos era assunto secundário na concepção
doméstica, é hoje, talvez, assunto prioritário, seja por aspectos de poupança de recursos financeiros (habitações mais pequenas), seja pela dinamização que estas opções funcionais provocam no desenvolvimento de novos modelos de organização/vida doméstica.
(Exemplo): Escada doméstica, como "elemento central" de habitação
Fig. 04: Escada doméstica, como "elemento central" de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 33-34, Arquitetura: Greger Dahlström.
Corredores
e escadas são elementos que podem caracterizar uma habitação, de forma
extremamente positiva e significativa; também são elementos difíceis de
utilizar e por isso no seu desenvolvimento fica evidenciada a qualidade
arquitectónica de uma dada solução habitacional – condição esta que se
aplica tanto aos edifícios unifamiliares , caraterizados por uma natural maior liberdade organizacional e espacial, seja ás habitações integradas em edifícios multifamiliares.
Bons
corredores e boas escadas residenciais fazem excelentes soluções domésticas,
daquelas que vemos nas revistas, e boas porque aliam, frequentemente,
funcionalidades e atractividade, associando à necessidade de proporcionar
acesso doméstico outros tipos de condições e mesmo "qualidades" habitacionais, por exemplo em termos
de ambientes dimensionais e cromáticos, servindo estratégias específicas de
estruturação e atractividade domésticas, portanto, dando acesso, mostrando e
estruturando, numa evidenciada relação forma – função .
(Exemplo): Circulação doméstica como "elemento central" de habitação
Fig. 05: Circulação doméstica como "elemento central" de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 30, Arquitetura: Gert Wingard, Monica Riton.
Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas editoriais:
· (i) Embora
a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo
corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada
por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos
artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De
acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 518
Artigo LXVII da Série habitar e viver melhor
Tendências nos corredores e zonas de
passagem domésticas
Editor: António Baptista Coelho – abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar
(GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais
Norte.
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