Infohabitar, Ano XI, n.º 517
Interrompendo uma sequência de edições dedicadas a esboços de arquitetura/urbanismo retomam-se as edições de textos de conteúdo com mais um artigo da "Série habitar e viver melhor", neste caso sobre escadas e corredores domésticos.
Com calorosos cumprimentos aos leitores,
O editor da Infohabitar
António Baptista Coelho
Escadas domésticas
Artigo LXVI da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
Continuando
a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos
acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e
habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns,
vamos, agora, falar com algum detalhe sobre os espaços que constituem os nossos
“pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas
que os qualificam.
Sobre
as escadas privativas muito haveria a dizer, e talvez que o mais que se deveria
dizer, tal como acontece com muitas outras análises de espaços domésticos que
aqui são feitas, é que o mais fácil e o mais simples de considerar são os
aspectos dimensionais e funcionais de uma escada doméstica, depois, depois,
deles sobra quase tudo; isto, naturalmente, quando se quer tirar um partido
máximo, arquitectónico e residencial, de uma escada doméstica.
E
a propósito desta ideia basta lembrar que há escadas cujo interesse e cuja
beleza são tais que a sua funcionalidade fica claramente relegada para um
segundo plano; evidentemente que esta situação poderá tornar a respectiva
habitação pouco adequada por exemplo para uma pessoa com dificuldades na
movimentação, mas atenção que, mesmo num caso destes poderá haver uma
circulação alternativa e uma possibilidade de essa pessoa fazer toda a sua vida
doméstica sem ter de recorrer àquela escada.
Fig. 01: Escada doméstica de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H8-12, Arquitetura: Kim Dalgaard, Tue Traerup Madsen.
A
escada privativa, a escada no interior da habitação é, assim, tanto um elemento
funcional como um elemento simbólico e de apropriação da casa. Isto não
significa que o seu desenho não deva proporcionar, por regra, um uso
confortável e seguro, mas havendo pessoas com dificuldades na movimentação elas
deverão escolher uma casa num único nível ou usar o quarto que desejavelmente
deverá sempre existir no nível de entrada de uma habitação em dois níveis.
Fig. 02: Escada doméstica de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13-14, Arquitetura: Charles Moore, Ruble, Yudell, Bertil Öhrström.
Reduzir
o elemento escada doméstica a uma figura estritamente funcional é, assim,
arriscar criticamente a possibilidade de uma verdadeira concepção arquitectónica,
pois a escada privada pode articular-se com diversos volumes e planos,
prolongar-se por paredes, pavimentos e bancos, rodear ou ser rodeada por outros
elementos, e, porque, como refere Rob Krier (1), há grande
variedade de tipos de escadas possíveis; destacando, este autor, que as escadas
circulares acanhadas são difíceis para pessoas com dificuldades físicas e para
o acesso de objectos volumosos e que "deve ser evitada a alternância entre
lanços circulares e rectos, porque isso torna muito difícil cada um encontrar o
seu próprio ritmo de passo".
Fig. 03: Escada doméstica de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: autoria não identificada.
Ainda
nesta matéria do arquitectar de escadas privativas que sejam verdadeiros
elementos de arquitectura de interiores, mas que possam oferecer adequadas
condições de conforto, e Segundo Lamure, a aplicação de dimensões mínimas de
largura nas escadas privativas dos fogos não parece ser um factor negativo, mas
a existência de patins intermédios é já um factor importante para o seu uso
seguro e agradável. (2)
E
assim se sublinha que a escada privativa pode e deve ser um fortíssimo elemento
de caracterização do ambiente doméstico, e ainda que por razões de economia ela
deva ser barata e discreta, ela deve ser sempre protagonista nesse ambiente.
Fig. 04: Escada doméstica de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - h15-16, Arquitetura: Mats Molén.
Notas:
(1) Rob Krier, "Elements of Architecture", pp. 48 e 49.
(2) Claude Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", p. 195.
Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas editoriais:
· (i) Embora
a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo
corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada
por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos
artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De
acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 517
Artigo LXVI da Série habitar e viver melhor
Escadas domésticas
Editor: António Baptista Coelho – abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar
(GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais
Norte.
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