Infohabitar, Ano XIV, n.º 636
Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor” n.º CIX
Sobre a caracterizaçação dos vãos
exteriores importa referir, essencialmente, que eles têm uma enorme importância
em termos de conforto ambiental doméstico, em termos de luz, insolação,
ventilação, isolamento acústico e abertura de vistas exteriores, e que,
portanto, têm de ser muio bem concebidos em termos dimensionais e funcionais ao
serviço de todos esses fundamentais objectivos de melhor habitabilidade e
vivência doméstica- e para tal há uma enorme variedade de tipos de tipos gerais
de janelas (1): levantável, giratório, rebatível, basculante, pivotante, de
guilhotina; e de correr.
Não faz, portanto, qualquer
sentido que o vão exterior seja considerado apenas como elemento de composição
da fachada, há que harmonizar a sua dupla função e, sendo necessário, haverá
que privilegiar a sua função "interior", não havendo qualquer dúvida
de que uma boa janela exige um apurado cuidado de concepção.
Pormenorização geral dos vãos exteriores
Os vãos exteriores de peito e de sacada são, muito
provavelmente, tão importantes na satisfação doméstica, quanto o espaço
interior em que se conjugam; e haverá, muito provavelmente,
"mecanismos" de compensação que acabam por funcionar e que põem em
relevo o enrme problema criado por projectos de habitações dimensionalmente
exíguas, gloabelmente mal dimensionadas e mal orientadas, mas para além de tuso
isto, mal servidas por janelas exíguas, mal orientadas e pobremente desenhadas
em todos aqueles aspectos associados às matérias do conforto ambiental (luz
natural abundante, controlo de luz e de temperatura, ventilação e isolamento
sonoro) e ao desenvolvimento de verdadeiros "lugares-janela".
Os vão exteriores são fundamentais na criação de um
espaço doméstico que associe funcionalidade, segurança, conforto ambiental e
essenciais aspectos de comunicabilidade com o exterior e de apropriação; uma
importância claramente subalternizada coma excepção das boas arquitecturas.
Não é fácil fazer um adequado mapa "global" de possíveis vãos
exteriores, pois as janelas - de peito e de sacada - têm de garantir condições
que são, por vezes, antagónicas como é o caso da segurança contra quedas e
contra intrusões, a possibilidade de obscurecimento do interior doméstico e o
seu eficaz isolamento em termos de temperatura e contra o ruído exterior, e os
referidos aspectos de grande relação com o exterior natural e urbano, aspectos
estes também associados ao uso intenso dos espaços exteriores privativos e dos
riquíssimos limares de transição interior/exterior que muito ficarão a
dever ao desenvolvimento de boas
soluções de janelas e janelões; e com tudo isto há que harmonizar os custos,
tradicionalmente elevados nesta parte da obra.
Podemos dizer que uma (muito) boa janela é um verdadeiro
"tratado", pois assegura vistas e outras relações humanas entre
interior e exterior, isolamento térmico e contra os ruídos do exterior, ganhos
térmicos e ganhos de insolação controlados e bem distintos no Inverno e no
Verão, ventilação controlada do respectivo espaço doméstico, considerando que
este assume um papel específico na necessária solução global de ventilação da
habitação, e também assegura adequadas condições de segurança contra riscos de
queda e intrusões e, finalmente, assegura um importantíssimo papel seja na
funcionalidade e na apropriação do respectivo espaços doméstico que integra,
seja mesmo no nível de atractividade e de identidade que caracteriza o
respectivo edifício. E, naturalmente, uma "má janela", como se pode
concluir é quase como um falhanço crítico na qualidade global do projecto e na
sua influência na satisfação dos respectivos habitantes; e, infelizmente, não é
pouco frequente seja a associação crítica entre maus projectos gerais e de
janelas, seja a não valorização de um bom projecto geral, ou mesmo o seu muito sensível
empobrecimento através de más soluções de janelas.
As janelas domésticas e os seus elementos de
regulação devem ter, assim, designadamente, as seguintes características:
- proporcionarem abundante luz natural e radiação solar equilibrada manobra;
- isolarem do ruído e do calor do Verão;
- terem limpeza funcional e seguras e protecções reguláveis do interior e com facilidade;
- terem "bandeiras" de ventilação bem posicionadas e reguláveis, proporcionando ventilação cruzada entre compartimentos e o encaminhamento do ar mais para o tecto (para "varrer" o ar quente que aí se pode acumular), ou mais para baixo (refrescando directamente os habitantes);
- proporcionarem vistas exteriores agradáveis;
- poderem ser encerradas para proporcionarem segurança, privacidade e regulação da luz natural;
- participarem, activamente, seja na boa capacidade mobilável do respectivo compartimento, seja nas boas capacidades funcionais - luz natural e posicionamento relativo - das actividades aí potencialmente mais frequentes e mesmo na respectiva capacidade de apropriação e de atractividade, designadamente, pela expressão reforçada das suas margens - o exemplo desta capacidade é-nos proporcionado por muitas excelentes janelas de tantas habitações mais antigas;
- serem seguras na sua utilização habitual, considerando-se, designadamente, o seu uso por crianças;
- e, naturalmente, estarem, perfeitamente integradas no equilíbrio visual e no partido arquitectónico do respectivo projecto - condição básica e que poderia estar, aqui, ausente, pois trata-se de matéria realmente essencial e primária num bom projecto.
- proporcionarem abundante luz natural e radiação solar equilibrada manobra;
- isolarem do ruído e do calor do Verão;
- terem limpeza funcional e seguras e protecções reguláveis do interior e com facilidade;
- terem "bandeiras" de ventilação bem posicionadas e reguláveis, proporcionando ventilação cruzada entre compartimentos e o encaminhamento do ar mais para o tecto (para "varrer" o ar quente que aí se pode acumular), ou mais para baixo (refrescando directamente os habitantes);
- proporcionarem vistas exteriores agradáveis;
- poderem ser encerradas para proporcionarem segurança, privacidade e regulação da luz natural;
- participarem, activamente, seja na boa capacidade mobilável do respectivo compartimento, seja nas boas capacidades funcionais - luz natural e posicionamento relativo - das actividades aí potencialmente mais frequentes e mesmo na respectiva capacidade de apropriação e de atractividade, designadamente, pela expressão reforçada das suas margens - o exemplo desta capacidade é-nos proporcionado por muitas excelentes janelas de tantas habitações mais antigas;
- serem seguras na sua utilização habitual, considerando-se, designadamente, o seu uso por crianças;
- e, naturalmente, estarem, perfeitamente integradas no equilíbrio visual e no partido arquitectónico do respectivo projecto - condição básica e que poderia estar, aqui, ausente, pois trata-se de matéria realmente essencial e primária num bom projecto.
Todos reconhecemos a capacidade de atractividade interior e exterior dos vãos exteriores, uma capacidade que, no entanto, está pouco expressa na prática corrente e, nestas matérias há
"segredos" importantes entre os quais e segundo Alexander se saçienta
o reforço do tratamento das margens dos vãos, e nomeadamente dos exteriores,
que corresponde à evidenciação do
natural reforço que se tem de aplicar em torno de uma certa zona de um pano de
parede que se pretende abrir e tratar como janela ou porta; de certo modo
correspondendo a um desvio e a uma concentração de linhas de força, tal como
refere Alexander. (2)
De certa forma quando nos concentramos nos vãos
exteriores há que considerar reforços de visibilidade, de profundidades e de
transparências.
A profundidade aparente de um vão exterior é muito
importante, criando-se com os seus elementos de enquadramento e com outros
elementos suplementares, como os encalços e mesmo as cortinas, "um pequeno
mundo intermédio ou de limiar", entre o exterior público
e o nosso "santuário" doméstico interior, que fica bem destacado,
afastado e protegido.
Tal como se refere num estudo do LNEC já aqui, várias
vezes, citado (ITA 2), desde que exista algum espaço nesse limiar, ele pode ser
povoado e habitado, por plantas e objectos pessoais e domésticos (ex., molduras
com fotografias da família), situação esta que proporciona transições e
ligações entre espaços interiores e exteriores (ex., vários planos de plantas,
interiores e exteriores, privadas ou públicas) e constitui uma barreira
psicológica de protecção do nosso espaço doméstico; outra função básica destes
espaços é a marcação doméstica das fachadas, para além da sua, natural,
marcação pessoal (ex., aquela janela igual às outras, mas com uma planta bem
identificável, uma determinada cor nas cortinas e uma resma de livros, é a
nossa janela).
E há que sublinhar que, naturalmente, nada disto
acontece em janelas simplesmente recortadas e "chapadas" nas paredes,
interior e exteriormente, que são meros intervalos ou "ocos" da
construção; desta forma perde-se todo um importantíssimo mundo de escalas
reduzidas que marcam limiares e buffers que, tanto protegem, até termicamente,
como marcam e que podem ser excelentes locais de identidade e apropriação, pois
têm alguma, mitigada, visibilidade pública, estando em pisos pouco elevados - assunto
este que merecerá posterior e específico desenvolvimento - e porque são
assumidos com naturalidade como espaços positivamente "residuais"; e
nesta matéria pode-se comentar que se trata de espaços hoje construtivamente
sem sentido, o que é verdade, mas não deixando de ser verdade que aquelas
excelentes funções de protecção e identificação marginal continuam a fazer todo
o sentido, podendo justificar a sua "reconstituição" essencialmente
formal, e independente dos aspectos construtivos.
Importa sublinhar que a fenestração do habitar deve
adequar-se à altura a que é aplicada no edifício, tanto porque quanto mais
abaixo estiver maior área envidraçada é necessária para se obterem os mesmos
níveis de luz natural interior, como porque são diversas as relações visuais
que caracterizam a relação do interior sobre o exterior, conforme o nível em
que se está; e estes aspectos de desenho pormenorizado são elementos
estratégicos na caracterização da solução, salientando-se que aqui não se
defende a sistemática divesificação da fenestração, conforme os seus níveis de
aplicação, apenas que se tenha em atenção o que acabou de ser referido, até,
eventualmente, no estudo que se fala de um vão-tipo optimizado e aplicável de
forma muito generalizada. FIG
A fenestração térrea habitacional e próxima do nível
térreo exige uma concepção específica cuidada de modo a que se harmonizem boas
condições de iluminação natural e vistas com aspectos de segurança contra
intrusões e de privacidade visual, sendo muito provável o interesse de se
desenvolverem desníveis e interposições de espaços e elementos estratégicos,
assim como um "espessar" do vão, ele próprio elemento de primeira
linha na protecção visual que proporciona ao interior doméstico. E não tenhamos
dúvidas que todos estes cuidados são elementos que reforçam a força de
embasamento e o carácter do respectivo edifício.
Na próxima semana avançaremos para aspectos mais específicos do "desenho" dos vãos exteriores.
Na próxima semana avançaremos para aspectos mais específicos do "desenho" dos vãos exteriores.
Notas:
(1) Ernest Neufert, "Arte de
Projetar em Arquitetura", p. 111.
(2) Christopher Alexander; Sara
Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de
Patrones", pp. 919 e 920.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XIV, n.º 636
Caracterização geral dos vãos exteriores I
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt
Infohabitar, Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC.
Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
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