Infohabitar, Ano XIV, n.º 638
Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor” n.º CXI
Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor” n.º CXI
por António Baptista Coelho (texto e imagens)
Bay Windows e outros "lugares-janela"
Abordam-se,
aqui, isoladamente as Bay-windows e o que se designa de outros
"lugares-janela", por serem elementos fisicamente muito
caracterizados, e que embora seja, ainda, talvez, pouco comuns na nossa
tradição doméstica – designadamente no caso da bay-windows” –, estão
habitualmente associados a interessantes aspectos de apropriação e de
satisfação no interior das nossas casas.
Bay Windows
A bay window é
uma janela construída de forma a projectar-se para fora da respectiva parede
exterior, obtendo-se, assim, um quíntuplo resultado:
- uma vista exterior significativamente
caracterizada e única e fortemente associável a espaços domésticos;
- uma vista interior que marca, significativamente,
boa parte ou a totalidade de uma parede do respectivo compartimento;
- um potencial de vistas do interior sobre o
exterior significativamente potenciados, designadamente, com vistas laterais,
para além da vista frontal habitual;
- um potencial de tipos de envidraçados e de
abertura de janelas bastante significativo, podendo associar panos envidraçados
transparentes e outros translúcidos e diversos tipos de janelas de abrir, com
as respectivas vantagens em termos do controlo da ventilação natural;
- e, naturalmente, por fim, mas não menos importante
– antes pelo contrário – a definição/”construção” de um atraente – porque bem
iluminado e configurado – “lugar janela”.
Salienta-se, desde já, quatro outros aspectos que se
consideram muito importantes, em termos da capacidade de aplicação da bay window:
- A enorme capacidade de diversificação visual e
tipológica no desenvolvimento de bay windows; claramente não limitadas às
suas configurações mais tradicionais.
- A clara capacidade de aplicação das bay windows em edifícios unifamiliares
em banda cerrada e em grandes edifícios multifamiliares; portanto numa lógica
de aplicação que ultrapassa muito a sua “tradicional” aplicação em grandes
moradias isoladas.
- A grande versatilidade de “misturas” funcionais e
visuais interiores oferecidas pelas bay Windows.
- A grande capacidade de
conteúdo simbólico domesticamente associado, que é sempre oferecida pelas bay Windows , seja qual for a sua
tipolgia de aplicação – ex., desde uma aplicação corrente numa fachada a uma
aplicação menos corrente em galerias exteriores de acesso a fogos que integrem
um grande edifício multifamiliar.
É interessante sublinhar aqui que as bay windows terão sido exportadas do
oriente, onde existiam com a designação de "quiosques" e
"moucharabiés", com funções específicas de privatização, ventilação e
visulização estratégica da rua a partir do interior doméstico, para países do
norte da Europa onde a sua utilização se associou a aspectos de potenciação da
luz natural, pois acabam por proporcionar uma multiplicação das superfícies envidraçadas,
em determinadas zonas da habitação, assim como o aproveitamento maximizado de
tais zonas como espaços de lazer, estar, convívio e também com funções
específicas, por exemplo, de leitura e de trabalho.
E entre oriente e norte da Europa pouco foram empregues
nas nossas habitações portuguesas, a não ser sob a forma de algumas excelentes
"marquises", feitas como tal numa perspectiva de "jardins de
Inverno" e criando algmas soluções de evidente atractividade exterior e
interior.
É interessante pensar a propósito na possibilidade
de podermos "importar", com êxito, este e outros modelos/soluções de
espaços habitacionais; afinal na tão divulgada sociedade global tal
possibilidade acabará por ser bastante natural.
"Lugares-janela"
Embora a bay
window possa ser considerada o exemplo típico de um afirmado “lugar janela”,
muitos outros existem, até porque qualquer janela por pior configurada e
integrada que esteja será sempre um “lugar janela”.
E esta afirmação liga-se à múltiplas características
que podem ser oferecidas por uma janela:
- desde aspectos de luz natural contrastando no
interior;
- à potencialidade de vistas sobre o exterior e de “transporte”
de vistas exteriores para o interior (ex., vistas de árvores, vistas paisagísticas
amplas);
- a toda uma série de capacidades de ocupação e
apropriação espacial pormenorizadas que podem se oferecidas pelo “espaço contíguo
e próximo do vão”;
- capacidades estas que, naturalmente, irão variar,
seja com a respectiva configuração geral do vão (dimensionamento, orientação,
altura ao solo, eventual contiguidade com varanda funda ou de assomar), seja
com a tipologia básica da janela: de sacada, de “peito” baixo (janela “francesa”),
ou de peito;
- e capacidades estas que irão variar, e muito, com
a qualidade do respectivo projecto geral e pormenorizado de Arquitectura – e esta
referência não é casual, pois, frequentemente, até bons projectos falham em
grande parte quando chegam a este importante nível de desenho.
Muito do que aqui se referiu caminha no sentido da
constituição daquilo que podemos referir como "lugares-janela",
sítios que muito provavelmente irão ser locais preferidos de apropriação
pormenorizada e de uso diário, e sítios onde aquela ideia de que espaço a mais
não é obrigatoriamente melhor espaço, fica bem provada, assim como fica
evidenciada a grande relação que todos gostamos de ter, nos sítios que
habitamos, com boas condições de iluminação natural.
Outros "lugares-janela" ou "sítios junto à janela"
As janelas sempre constituíram espaços que cativam
actividades domésticas, sendo exemplo desta matéria os lugares para namorar,
"as namoradeiras", habitualmente integradas aproveitando-se os
encalços das espessa paredes antigas, e que poderão ser, eventualmente,
retomadas e reinterpretadas, pro exemplo, através de uma simulação dessas
espessuras utilizando-se os espaços assim criados para arrumações diversas.
Mas uma excelente forma de se aproveitarem os
"lugares-janela" ou "sítios junto à janela" é para
aproximar deles determinados pequenos conjuntos funcionais de mobiliário,
habitualmente associados à construção de agradáveis e estimulantes cenários
residenciais interiores, como é, por exemplo, o caso dos conjuntos "sofá
ou cadeira de repouso, móvel de apoio e candeeiro" e "pequena mesa e
duas cadeiras ou um cadeirão".
Mas os espaços na contiguidade das janelas podem
ser, ainda, excelentes sítios de limiar e de transição entre a rua e o
"verdadeiro" interior da habitação, sítio, frequentemente,
"entre janela e cortinado", onde, sendo possível, se houver um
peitoril largo e/ou se a parede for espessa (realmente ou de forma simulada),
há lugar à integração de imagens da família, plantas e variados elementos de
decoração/apropriação e identificação da habitação relativamente ao seu
exterior.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
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Infohabitar, Ano XIV, n.º 638
Bay Windows e outros "lugares-janela" - Infohabitar 638
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt
Infohabitar, Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC.
Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
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