segunda-feira, abril 16, 2018

637 - Caracterização geral dos vãos exteriores II - Infohabitar 637



Infohabitar, Ano XIV, n.º 637


Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor” n.º CX



Caracterização geral dos vãos exteriores  II


por António Baptista Coelho (texto e imagens)

Segurança contra quedas a partir de vãos e de guardas de pisos elevados

Esta é uma matéria que nem deveria ser aqui apontada, pois é evidente que este tipo de segurança, contra quedas a partir de vãos exteriores e varandas/terraços, deveria ser acautelada, ao máximo, por disposições específicas sobre a alturas dos peitoris e sobre a pormenorização e constituição da parte dos vãos inferior a esses peitoris, ou, em alternativa, mecanismos legais que acautelem as situações de responsabilidade civil associadas às quedas de altura que podem, infelizmente, ocorrer -  pensa-se, por exemplo, e se tal for legalmente possível, na existência de uma declaração assinada por quem assuma gostar de viver em determinadas condições, que podem ser arriscadas no que se refere a quedas.

Não faz, evidentemente, qualquer sentido desenharem-se vãos e guardas que não tenham em conta a protecção contra quedas, mas também fazem pouco sentido normas que obriguem a soluções únicas. Será portanto necessário identificar soluções que garantam, o mais possível, essa segurança, mas contribuindo para a qualidade arquitectónica da solução global e não desperdiçando as potencialidades de vistas e de conforto ambiental desses vão e espaços elevados; e haverá, aqui, matéria para posteriores desenvolvimentos, designadamente, em termos de simples e úteis colectâneas de soluções pormenorizadas.


Segurança contra intrusões físicas e visuais em vãos exteriores térreos ou pouco elevados.

A questão da segurança contra intrusões em vãos exteriores térreos ou pouco elevados é uma matéria que tem de ser considerada, à partida, na solução de fenestração de um dado edifício, pois não faz sentido "esquecer" que essa será logo uma das preocupações dos respectivos habitantes. E atente-se que haverá, com certeza, uma associação entre estes aspectos de segurança contra intrusão e os de protecção da privacidade doméstica.

Não faz sentido que assim não aconteça pois a segurança contra intrusões tem de ser bem acautelada, em pisos térreos ou acessíveis directamente do exterior ou através de galerias comuns, através da consideração de vários aspectos entre os quais se salientam: a altura de janelas, muros e vedações; a visibilidade a partir de sítios muito usados; e a previsão de gradeamentos, gelosias, portadas e fechaduras de segurança.

Naturalmente não faz qualquer sentido que tais cuidados nãos sejam integrados com as respectivas exigências de privacidade visual e de agradabilidade, caso contrário a habitação transforma-se num fortim ...

E, evidentemente, tais cuidados de segurança e privacidade têm de ser integrados no projecto da habitação e do edifício, e desejavelmente devem contribuir para a sua qualidade global, pois são aspectos indissociáveis de boas condições habitacionais.




Vãos exteriores "estanques" e com abertura controlada

É fundamental que os vãos exteriores sejam estanques ao ar, à água da chuva e ao ruído (janelas de peito e de sacada, portas, respectivos peitoris, soleiras e ligações aos quadros dos vãos).

Esta é uma exigência básica, seja considerando todos os aspectos de relação visual e de conforto ambiental (isolamento térmico e impermeabilização), seja considerando o bem-estar doméstico, que tudo tem a ganhar com a possibilidade de nos podermos isolar de ruídos exteriores desagradáveis e incómodos (por exemplo o ruído do tráfego intenso, do vento e da chuva).

Mas é igualmente fundamental que os vãos exteriores não desperdicem a possibilidade de serem elementos de captação de luz, sol e ar renovado e fresco, e para tal é fundamental que existam elementos de controlo dessa luz, dessa radiação solar e desse ar, e que tais dispositivos sejam realmente eficazes e fáceis de usar.

E é também muito importante que os vãos exteriores envidraçados tenham uma manutenção e uma limpeza simplificadas, pois caso contrário os benefícios de uma boa fenestração ficarão muito diminuídos; e não tenhamos dúvida que o projecto tem de prever tais condições de manutenção e limpeza.

As janelas peito e de sacada podem ser de variados tipos funcionais e dimensionais, apresentarem diferentes características gerais de aspecto, disposição e configuração e estarem conjugadas com diversos tipos de elementos complementares (ex., bandeiras superiores ou laterais manobráveis). Não faz qualquer sentido é considerar-se "um vão" como um simples "buraco envidraçado", sem se contemplar a sua solução de funcionamento, seja em termos de controlo de luz e de capacidade de ventilação, seja considerando a sua manutenção e limpeza.

Tal como já se referiu uma janela não é apenas um vão transparente, é também o seu aproveitamento e controlo em termos de luz, insolação, ventilação, vistas exteriores, privacidade interior e segurança no uso e contra intrusões; só janelas em que todas estas facetas estejam adequadamente solucionadas, em termos funcionais e de imagem arquitectónica, serão janelas bem projectadas, e não é fácil.


Escolha e enquadramento da vistas sobre o exterior.

Tal como apontou Charles Moore: "As vistas existem já, a única habilidade está na sua captura através de janelas (quadros), a partir do interior. As vistas de exteriores assemelham-se às perspectivas que podemos apreciar em quadros pendurados nas paredes, mas mudam com as estações do ano e constantemente (estão vivas)...permitem a entrada do habitante na perspectiva exterior...". (1)

E esta é uma frase fundamental, que associa aos aspectos de conforto ambiental, assegurados pelos vãos exteriores, uma outra carga conceptual com idêntica importância: a captura, o enquadramento e a valorização de vistas exteriores, proporcionando a sua fruição pelos habitantes. Mas, infelizmente, todos conhecemos casos de janelas ou de "não-janelas" que, nem proporcionam "sol, luz e ar", nem nos facultam vistas e estimulantes; e há ainda aquelas famigeradas grandes paredes "cegas", que tão bem ficam nos desenhos de projecto e que, por acaso, são contíguas a vistas excepcionais, e ainda por cima a orientação de tais janelas seria óptima - tal não se compreende e não se deveria aceitar.

Considerando agora um certo carácter mais formal que pode existir no desenvolvimento dos vãos domésticos gostaria de referir que o único limite ao seu desenvolvimento deveria ser a boa mobilaridade do interior; mas aqui até há situações contrárias, em que o ritmo de uma dada solução de fachada/janelas produz compartimentos domésticos quase inúteis - enfim!

Sobre o partido formal da fenestração ele já foi aproximado nos aspectos da apropriação através do interessante povoamento de vãos profundos e amplos com variados objectos, numa opção que tanto identifica o interior doméstico, como o projecta um pouco sobre a respectiva vizinhança. Quanto a outras matérias formais e construtivas associadas ao tratamento exterior. e também interior, dos vãos elas são de grande importância arquitectónica, mas ligam-se essencialmente ao muno da concepção de cada solução, pelo que não serão aqui comentadas.


Gradação e melhor reflexão da luz no interior

Segundo Christopher Alexander, os vãos de janelas com arestas interiores ortogonais e aguçadas produzem desagradáveis (encandeantes) contrastes de luz (muito brilho/linha de escuridão) (2); e este autor considera que vãos de janela "fundos", cerca de 0.25/0.30m de profundidade e não ortogonais (ângulos de 50/60º com os planos das paredes interiores), proporcionam zonas de luz natural com intensidades intermédias, que reduzem os contrastes bruscos de luz e aumentam a reflexão da luz natural, tornando o espaço interior mais agradavelmente visível nos seus pormenores.

E cá estamos na aproximação aos referidos e tão apropriáveis vãos fundos, e salienta-se que, ultimamente, com as crescentes exigências de isolamento térmico, tais profundidades voltaram a poder ser correntes; e então nas áreas da reabilitação elas são casos correntes.


Sobre a racionalidade ou a subdivisão das zonas envidraçadas

Segundo Christopher Alexander as janelas amplas e com grandes chapas de vidro contínuas proporcionam vistas uniformes, enquanto várias janelas relativamente estreitas e verticais oferecem vistas diferentes.

Embora esta reflexão seja interessante, julga-se que ela pode ser tomada numa perspectiva ampla, direccionada para uma orgânica previsão da fenestração exterior, que também tem de levar em conta o custo inicial e de eventual substituição de grandes superfícies envidraçadas, assim como os custos iniciais de protecção (contra intempéries e contra intrusão) dos grandes vãos envidraçados.

Notas:

(1) Charles Moore; Gerard Allen; Donlyn Lyndon, "La Casa: Forma y Diseño", p. 101.

(2) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 913 e 914.


Notas editoriais:
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Infohabitar, Ano XIV, n.º 637

Caracterização geral dos vãos exteriores II


Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
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Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC.

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

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