Artigo LXIII da Série habitar e viver melhor
Infohabitar, Ano X, n.º 506
Continuando a Série editorial sobre "habitar e viver
melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a
vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar,
e neste os seus espaços comuns, vamos, agora, falar com algum detalhe sobre os
espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos,
refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam.
Primeiro viajaremos pelos espaços domésticos comuns, isto
é aqueles que são usados por todos os habitantes de uma dada casa ou
apartamento numa base geral de uso partilhado e de alguma comunidade; depois
iremos até aos espaços domésticos privativos, portanto aqueles mais amigos de
um uso individual, ou muito ligado ao casal. São os seguintes os espaços
domésticos comuns a abordar, sequencialmente, em artigos desta série: vestíbulo de entrada, lavabo, corredor e
zonas de passagem, sala ou zona de estar, cozinha, áreas de serviço para
arrumações, verdadeiras pequenas áreas de serviço - lavandaria e rouparia, zona
de refeições ou sala de jantar, casa de banho, varanda e outras zonas
exteriores privadas elevadas como pátios e pequenos quintais, virtualidades
domésticas do estacionamento em garagem.
No presente artigo serão abordados diversos
aspetos a ter em conta no projeto de espaços de lavabo.
(Nota geral: porque boa parte dos textos que servem de
base a esta série editorial estão elaborados desde há algum tempo, eles não
cumprem as regras do Acordo
Ortográfico).
Lavabo, espaço funcional ou de “cerimónia”
António Baptista Coelho
O lavabo é uma pequena casa de banho de apoio, minimamente equipada em termos de equipamentos de banho e higiene pessoal, que serve, essencialmente, a zona mais social da casa e que, por isto, deve ter também objectivos de identidade e apropriação, marcando pela sua localização e pelo seu arranjo os cuidados de recepção.
Deve
ter, assim, um desenvolvimento espacial e de acabamentos que ultrapasse,
claramente, aspectos estritamente funcionais e pela sua localização deve isolar
um visitante do interior doméstico mais íntimo, que pode estar, eventualmente,
desenvolvido e mantido de modo informal.
O
lavabo tem, naturalmente, funções práticas de apoio às actividades que se
desenvolvem na zona mais social da habitação e assegura, sempre, um importante
papel de alternativa ao uso da casa de banho principal.
Refere-se,
ainda, que numa habitação pequena o lavabo continua a poder assegurar
praticamente todos os perfis funcionais apontados, ainda que podendo ser
dimensionalmente reduzido a uma expressão mínima.
Fig. 1 - Pormenor de habitação da Bo01: Arquitetura por Bengt Hidemark.
Associações
interessantes com o lavabo
O
lavabo pode associar-se com o vestíbulo de entrada ou com outras zonas de
circulação doméstica mais ligadas à entrada na habitação.
Uma
associação interessante é a criação de um lavabo repartido em dois espaços,
sendo um de wc e outro com lavatório e que serve de pequena antecâmara ao
primeiro, permitindo-se, assim, uma sua agregação a compartimentos de estar,
como é o caso de uma sala-comum.
A
zona de lavatório do lavabo pode ser inserida também em outras associações
domésticas, sendo frequentemente ligada a aspectos mais formais e
representativos e integrando, por isso, também frequentemente, espelhos e
outros elementos de arranjo interior e apropriação, e assumindo, naturalmente,
o lavatório uma presença visual muito cuidada – mais um daqueles casos em que a
função tem a sua importância muito delimitada face à respectiva caracterização
formal.
Ainda
uma outra possível associação numa parte “externa” da zona de lavabo – a tal
zona onde será interessante a integração de uma pequena bacia de lavatório e de
um espelho – será à integração de um espaço de arrumação de vestuário e outros
elementos de protecção contra intempéries (frio e chuva), bem como de deposição
daquela grande diversidade de objectos que usamos no dia-a-dia (desde molhos de
chaves, a telemóveis e a pastas, por exemplo); uma possibilidade que poderia a
poder fazer prever a disponibilização de tomadas adequadas aos carregadores dos
múltiplos gadgets que hoje em dia nos acompanham e que acabam por “poluir”
quartos e salas.
Se
considerarmos um lavabo com um carácter fortemente “funcional” e prático, mas nos
restantes aspectos tão estratégico relativamente à zona mais social da
habitação como as soluções até aqui consideradas, então, poderemos imaginar que
será possível associar-lhe variadas funções de apoio aos serviços domésticos
com destaque para aquelas ligadas à lavandaria doméstica (lavar, tratar e,
eventual ou parcialmente, secar e arrumar roupas).
Fig. 2 - Pormenor de habitação da Bo01: Arquitetura por Bengt Andersson-Liselius, White Arkitekter AB .
Hábitos interessantes ligados ao lavabo
Será interessante considerar
a integração de espaços com a função de lavabo, mas limitados neste caso à
integração de lavatórios, em situações que estavam tradicionalmente associadas
a este tipo de integração, como é o caso dos quartos.
Aspectos motivadores a considerar no lavabo
Um aspecto claramente
motivador na presença e no uso de um lavabo é o seu arranjo ser desenvolvido
numa perspectiva de grande continuidade de acabamentos relativamente aos
espaços sociais domésticos que serve, devendo haver, sempre que possível,
entradas de luz natural e algumas transparências, reguladas no sentido da
privacidade, mas que de certa forma facultem uma presença agradável destes
espaços na vizinhança das zonas por eles mais servidas.
Outro aspecto motivador tem
a ver com a presença de plantas, sempre tradicionalmente associadas, quer a
zonas próximas de espaços de recepção, quer a zonas onde há instalações de
água.
Problemas correntes ligados ao lavabo
Provavelmente os problemas
mais correntes no uso dos lavabos terão a ver com as suas eventuais quebras de
privacidade, designadamente, em termos de ruídos durante o uso, pois há proximidade
física aos espaços mais sociais da habitação; haverá, portanto, de cuidar de
tais aspectos.
Questões levantadas (dimensionais e outras) no âmbito do lavabo
Não
haverá muitas questões a levantar a não ser quando pretendermos pintar o lavabo
com a mesma tinta que usamos na sala vizinha e tivermos problemas de
licenciamento por não usarmos aí o tradicional azulejo.
Em
termos dimensionais volta a referir-se a grande versatilidade oferecida pela
integração de lavabos articulados em duas áreas (de wc e de lavatório), bem
como o seu claro suplemento de funcionalidade relativamente à existência de uma
única casa de banho numa dada habitação; e diga-se que só desta maneira a casa
de banho poderá assumir plenamente a função expressa na sua designação – “casa de
banho” –, pois desta forma haverá sempre uma instalação sanitária disponível
durante um banho prolongado, que é o verdadeiro banho.
Novidades, dúvidas e tendências (ex., trabalho em casa; idosos, etc.) relacionadas com o lavabo
Como é sabido o lavabo é um
dos elementos domésticos mais apetecível em termos da expressão das mais
diversas “modas” em termos de arquitectura de interiores, condição que
provavelmente poderá levar, sempre que possível, a um seu dimensionamento
razoavelmente generoso.
O lavabo, mais do que uma
casa de banho, ou diversamente de uma casa de banho, pode desenvolver-se como
que no prolongamento do átrio doméstico; com os devidos cuidados de privacidade
relativos a determinados equipamentos sanitários, como é o caso da sanita; o
lavabo pode integrar-se de formas atraentes no espaço social de uma habitação,
transformando-se o lavar as mãos numa agradável cerimónia social,
resolvendo-se, por vezes, simultaneamente, relações espaciais e até com relativa
economia de áreas de circulação.
As
imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros
artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor na visita que
realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se
para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro
de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais
se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então
recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de
Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de
equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos nas respetivas referências.
Notas editoriais:
· (i) Embora
a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo
corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada
por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos
artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De
acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
INFOHABITAR Ano X, nº 506
Artigo LXIII da Série habitar e viver melhor
Lavabo, espaço
funcional ou de “cerimónia”
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar
(GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais
Norte.
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