Artigo LIX da Série habitar e viver melhor
Infohabitar, Ano X, n.º 497
Oferta diversificada de espaços domésticos específicos (I)
António Baptista Coelho
Iremos, agora, falar, globalmente, dos
compartimentos, cantos e recantos domésticos, dos espaços tendencialmente intimistas onde se processa
a vida diária das famílias, um leque variado de espaços habitualmente com
funções específicas, mas desejavelmente com uma equilibrada flexibilidade
funcional, espaços privilegiados da apropriação familiar e individual.
Uma habitabilidade ampla dos espaços domésticos
As características de habitabilidade dos espaços domésticos são, realmente, fundamentais para a qualidade residencial oferecida por um determinado empreendimento habitacional. Basta imaginarmos uma habitação constituída por compartimentos e espaços muito amplos, confortáveis e funcionais, que aceitem uma forte apropriação por mobiliário e diversas zonas de uso, para que fique quase praticamente provada essa afirmação.
E diz-se quase
provada porque essas condições não chegam, de facto, para uma boa
caracterização residencial. É também necessário, pelo menos, que a Vizinhança
Próxima ofereça boas condições para a vida diária.
Boas condições habitacionais interiores e exteriores
Deste modo definiu-se um "binómio" mínimo de qualificação residencial assente em boas condições domésticas de compartimentação/privativas e de vizinhança exterior/semi-públicas ou públicas, "binómio" esse que deverá ser estudado e explicado, pois poderá proporcionar conclusões interessantes sobre a satisfação residencial; e talvez que entre um e outro elemento possamos, depois, "inovar" com a afirmada introdução da grande importância de um "jogo tipológico" habitacional muito mais protagonista do que aquele que é habitualmente considerado - matéria que termos de deixar para outros desenvolvimentos.
Ainda sobre a
importância de boas condições de habitabilidade nos espaços e compartimentos do
fogo importa salientar que até a organização ("o layout") do fogo parece ser menos importante do que as
condições específicas dos seus Espaços e Compartimentos.
Esta afirmação
parece ser globalmente válida e tem grande importância quando a organização do
fogo se caracteriza por uma forte neutralidade e adaptabilidade, proporcionando
grande flexibilidade nos usos dos diversos Espaços e Compartimentos domésticos,
considerando-se, naturalmente, que estes últimos também suportam essa
flexibilidade ou multifuncionalidade, designadamente, através de boas condições
de espaciosidade e capacidade na arrumação de mobiliário.
Renovados objetivos de organização doméstica
Mais do que propor estruturas organizativas domésticas mais ou menos caracterizadas, que terão a ver com os bem conhecidos zonamentos funcionais, de que nos vamos ocupando ao longo deste trabalho - e desta série de artigos -, importa aqui, porque importa cada vez mais, apontar objectivos de organização doméstica que sejam tendencialmente adequados a um maior número e a uma muito grande amplitude de desejos e de gostos habitacionais, considerando, também, a actual e evidenciada mudança de hábitos domésticos que vão hoje marcando os sítios onde vivemos.Conviver melhor, anular dimensões mínimas e favorecer uma funcionalidade real
Sendo assim, apontam-se, em seguida, alguns aspectos (1) caracterizadores de uma adequada qualificação residencial dos espaços que compõem as nossas casas, talvez aspectos ligados a casas potencialmente mais adequadas:
·
Uma ideia de poder receber e conviver
melhor, designadamente, através de boas condições de recepção, no
hall/vestíbulo e de um cuidadoso dimensionamento das zonas mais sociais do fogo
– vestíbulo, circulações sociais, sala comum e cozinha. Este objectivo pode ser
atingido através de "meia-dúzia" de metros quadrados
"suplementares" na sala-comum e na cozinha (acima das áreas
recomendadas para habitações de baixo custo), desde que as respectivas
configurações espaciais e dimensões estruturadoras sejam adequadas. Uma ideia
forte em termos dos modos como “aquela” casa poderá apoiar o convívio
doméstico, ideia esta que poderá ter de se desenvolver através de compensações
dimensionais entre sala comum e cozinha, proporcionando-se, por exemplo, uma
ampla cozinha convivial e uma sala mais adequada para o estar e, até,
eventualmente, para o trabalho em casa.
Fig. 1
Fig. 1
·
Favorecer pequenos incrementos dimensionais nos quartos menos amplos,
possibilitando mais flexibilidade na arrumação de peças de mobiliário, e optar
conscienciosamente sempre que estejam em causa dimensões mínimas. Isto não
significa que não se apliquem tais dimensões mínimas em casos específicos
quando funcionalmente julgados adequados, o que tem a ver, por designadamente,
com a disposição de enfiamentos de camas individuais.
Segundo Sven Thiberg (2) há que aplicar estrategicamente suplementos dimensionais, apurando-se os espaços e compartimentos onde "um metro quadrado extra", suplementar às indicações mínimas regulamentares, pode aumentar significativamente as condições de habitabilidade (acessibilidade, agradabilidade de uso, alternativas de ocupação); uma matéria que tem igual aplicabilidade em soluções habitacionais acima das indicações mínimas.
Estes
suplementos dimensionais estratégicos estão associados à capacidade de se
integrarem várias sub-zonas funcionais em cada compartimento, uma condição
fundamental para a respectiva versatilidade de uso, seja em diversidade de
funções, seja em diferentes modos de vida e diversas formas de ocupação por
actividades e diversos tipos de mobiliário, condições estas muito interessantes
considerando-se, por exemplo, a adequação a diversas minorias étnicas.
·
Favorecer pequenos e funcionais incrementos dimensionais
em espaços de circulação, proporcionando que estes espaços ganhem,
verdadeiramente, uma outra e importante valência para integração de mobiliário
com evidentes ganhos em habitabilidade e apropriação da habitação.
·
Aumentar significativamente a funcionalidade no desempenho das tarefas
domésticas e de outras actividades diárias, em toda a
habitação, através de uma cuidadosa concepção que evite espaços potencialmente
muito cheios de mobiliário e equipamento. (3)
Notas:
(1) Estes
aspectos são apontados, sinteticamente, no estudo do LNEC, realizado pelo autor
e intitulado “ Do Bairro e da Vizinhança à Habitação”.
(2) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and
Design in Sweden", p. 128.
(3) A
funcionalidade estrita de cada Espaço relativamente à(s) sua(s)
"função(ões) de base", deve ponderar os seguintes factores:
dimensionamento; comandos de instalações "embebidas"; equipamentos
fixos; capacidade de integração de mobiliário com diferentes características
tipológicas, dimensionais e de quantidades de peças unitárias agregadas ou
reunidas; existência de espaços suplementares para (i) mobilar posteriormente,
(ii) equipar posteriormente e (iii) movimentar-se e usar adequadamente os
espaços.
Notas editoriais:
·
(i) Embora a edição dos artigos editados na
Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se
tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico
e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o
pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e
comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
·
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se
tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da
Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa
de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a
tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
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e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
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negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
INFOHABITAR Ano X, nº 497
Artigo LIX da
Série habitar e viver melhor
Oferta diversificada de espaços domésticos específicos I
GHabitar
(GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional,
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