segunda-feira, agosto 25, 2014

497 - Oferta diversificada de espaços domésticos específicos I - Infohabitar 497

Artigo LIX da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 497

Oferta diversificada de espaços domésticos específicos (I)

António Baptista Coelho

Iremos, agora, falar, globalmente, dos compartimentos, cantos e recantos domésticos, dos espaços tendencialmente intimistas onde se processa a vida diária das famílias, um leque variado de espaços habitualmente com funções específicas, mas desejavelmente com uma equilibrada flexibilidade funcional, espaços privilegiados da apropriação familiar e individual.

Uma habitabilidade ampla dos espaços domésticos

As características de habitabilidade dos espaços domésticos são, realmente, fundamentais para a qualidade residencial oferecida por um determinado empreendimento habitacional. Basta imaginarmos uma habitação constituída por compartimentos e espaços muito amplos, confortáveis e funcionais, que aceitem uma forte apropriação por mobiliário e diversas zonas de uso, para que fique quase praticamente provada essa afirmação.

E diz-se quase provada porque essas condições não chegam, de facto, para uma boa caracterização residencial. É também necessário, pelo menos, que a Vizinhança Próxima ofereça boas condições para a vida diária.

Boas condições habitacionais interiores e exteriores

Deste modo definiu-se um "binómio" mínimo de qualificação residencial assente em boas condições domésticas de compartimentação/privativas e de vizinhança exterior/semi-públicas ou públicas, "binómio" esse que deverá ser estudado e explicado, pois poderá proporcionar conclusões interessantes sobre a satisfação residencial; e talvez que entre um e outro elemento possamos, depois, "inovar" com a afirmada introdução da grande importância de um "jogo tipológico" habitacional muito mais protagonista do que aquele que é habitualmente considerado - matéria que termos de deixar para outros desenvolvimentos.

Ainda sobre a importância de boas condições de habitabilidade nos espaços e compartimentos do fogo importa salientar que até a organização ("o layout") do fogo parece ser menos importante do que as condições específicas dos seus Espaços e Compartimentos.

Esta afirmação parece ser globalmente válida e tem grande importância quando a organização do fogo se caracteriza por uma forte neutralidade e adaptabilidade, proporcionando grande flexibilidade nos usos dos diversos Espaços e Compartimentos domésticos, considerando-se, naturalmente, que estes últimos também suportam essa flexibilidade ou multifuncionalidade, designadamente, através de boas condições de espaciosidade e capacidade na arrumação de mobiliário.

Renovados objetivos de organização doméstica

Mais do que propor estruturas organizativas domésticas mais ou menos caracterizadas, que terão a ver com os bem conhecidos zonamentos funcionais, de que nos vamos ocupando ao longo deste trabalho - e desta série de artigos -, importa aqui, porque importa cada vez mais, apontar objectivos de organização doméstica que sejam tendencialmente adequados a um maior número e a uma muito grande amplitude de desejos e de gostos habitacionais, considerando, também, a actual e evidenciada mudança de hábitos domésticos que vão hoje marcando os sítios onde vivemos.

Conviver melhor, anular dimensões mínimas e favorecer uma funcionalidade real

Sendo assim, apontam-se, em seguida, alguns aspectos (1) caracterizadores de uma adequada qualificação residencial dos espaços que compõem as nossas casas, talvez aspectos ligados a casas potencialmente mais adequadas:

·      Uma ideia de poder receber e conviver melhor, designadamente, através de boas condições de recepção, no hall/vestíbulo e de um cuidadoso dimensionamento das zonas mais sociais do fogo – vestíbulo, circulações sociais, sala comum e cozinha. Este objectivo pode ser atingido através de "meia-dúzia" de metros quadrados "suplementares" na sala-comum e na cozinha (acima das áreas recomendadas para habitações de baixo custo), desde que as respectivas configurações espaciais e dimensões estruturadoras sejam adequadas. Uma ideia forte em termos dos modos como “aquela” casa poderá apoiar o convívio doméstico, ideia esta que poderá ter de se desenvolver através de compensações dimensionais entre sala comum e cozinha, proporcionando-se, por exemplo, uma ampla cozinha convivial e uma sala mais adequada para o estar e, até, eventualmente, para o trabalho em casa.



Fig. 1

·      Favorecer pequenos incrementos dimensionais nos quartos menos amplos, possibilitando mais flexibilidade na arrumação de peças de mobiliário, e optar conscienciosamente sempre que estejam em causa dimensões mínimas. Isto não significa que não se apliquem tais dimensões mínimas em casos específicos quando funcionalmente julgados adequados, o que tem a ver, por designadamente, com a disposição de enfiamentos de camas individuais.

Segundo Sven Thiberg (2) há que aplicar estrategicamente suplementos dimensionais, apurando-se os espaços e compartimentos onde "um metro quadrado extra", suplementar às indicações mínimas regulamentares, pode aumentar significativamente as condições de habitabilidade (acessibilidade, agradabilidade de uso, alternativas de ocupação); uma matéria que tem igual aplicabilidade em soluções habitacionais acima das indicações mínimas.

Estes suplementos dimensionais estratégicos estão associados à capacidade de se integrarem várias sub-zonas funcionais em cada compartimento, uma condição fundamental para a respectiva versatilidade de uso, seja em diversidade de funções, seja em diferentes modos de vida e diversas formas de ocupação por actividades e diversos tipos de mobiliário, condições estas muito interessantes considerando-se, por exemplo, a adequação a diversas minorias étnicas.

·      Favorecer pequenos e funcionais incrementos dimensionais em espaços de circulação, proporcionando que estes espaços ganhem, verdadeiramente, uma outra e importante valência para integração de mobiliário com evidentes ganhos em habitabilidade e apropriação da habitação.
·      Aumentar significativamente a funcionalidade no desempenho das tarefas domésticas e de outras actividades diárias, em toda a habitação, através de uma cuidadosa concepção que evite espaços potencialmente muito cheios de mobiliário e equipamento. (3)

Notas:
(1) Estes aspectos são apontados, sinteticamente, no estudo do LNEC, realizado pelo autor e intitulado “ Do Bairro e da Vizinhança à Habitação”.
(2) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 128.
(3) A funcionalidade estrita de cada Espaço relativamente à(s) sua(s) "função(ões) de base", deve ponderar os seguintes factores: dimensionamento; comandos de instalações "embebidas"; equipamentos fixos; capacidade de integração de mobiliário com diferentes características tipológicas, dimensionais e de quantidades de peças unitárias agregadas ou reunidas; existência de espaços suplementares para (i) mobilar posteriormente, (ii) equipar posteriormente e (iii) movimentar-se e usar adequadamente os espaços.

Notas editoriais:
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INFOHABITAR Ano X, nº 497
Artigo LIX da Série habitar e viver melhor

Oferta diversificada de espaços domésticos específicos I

Editor: António Baptista Coelho
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