Artigo LX da Série habitar e viver melhor
Infohabitar, Ano X, n.º 498
Oferta diversificada de espaços domésticos específicos II: variedade espacial e funcionalidade doméstica
Artigo LVX da Série habitar e viver melhor
Funcionalidade expressiva, mas dirigida para certas funções domésticas e não para determinados compartimentos
Tal como se tem
apontado nesta série de artigos, as matérias da funcionalidade doméstica
deverão ser específica e criteriosamente consideradas nas zonas de cozinha,
tratamento de roupa e de instalações sanitárias, que são aquelas que suportam
boa parte dos mais intensos serviços domésticos.
No entanto é
fundamental destacar, desde já, que a funcionalidade doméstica não pode ser
aplicada “cegamente” aos referidos compartimentos, mas especificamente às
funções de preparação de refeições, de higiene pessoal e de tratamento de
roupas que aí se desenvolvem, considerando-se que há muito mais vida doméstica
para lá de tais funções nestes mesmos compartimentos e é deste “para lá”
das funções que decorrerá boa parte do interesse das soluções domésticas, e
será neste caminho que surgirão as “cozinhas salas de família”, os “quartos de
banho” e os espaços de roupas domésticos; e atenção que não se está aqui a
tratar de “habitação de luxo”, pois por vezes é uma questão de larguras úteis e
do tal suplemento espacial estratégico
Nesta temática
salienta-se que uma das ideias que continuam a estruturar as preocupações
funcionais domésticas é o facilitar ao máximo a “lide da casa” nos seus
variados aspectos e numa altura em que, cada vez mais, não há ninguém
especificamente dedicado a uma tal lide, e essa facilitação encontra já um
excelente apoio em muitos estudos funcionais e designadamente nos estudos que
desde há muitos anos foram desenvolvidos pelo Núcleo de Arquitectura e
Urbanismo do LNEC e editados por esse Laboratório Nacional.
Funcionalidade doméstica privilegiando o convívio na habitação
E, nos
restantes compartimentos habitacionais, a funcionalidade tem de ser devidamente
conjugada com as outras qualidades domésticas e expressivamente embebida nos
mais diversos elementos que integram o espaço doméstico.
Ainda nestas temáticas
importa sublinhar que devem existir condições de funcionalidade e
agradabilidade do estar/lazer da família e das actividades domésticas diárias,
que na vida actual, das zonas urbanas, constituem as principais oportunidades
de convívio entre os elementos do mesmo agregado familiar (ex., preparar e
tomar refeição da noite/lavar e arrumar louça e utensílios/ver TV/conversar).
De certa forma o que aqui se propõe é que as zonas onde há um maior
investimento em tarefas domésticas possam ser também as zonas com um potencial
de convivialidade acrescido, uma condição que tem implicações seja numa
funcionalidade maximizada das tarefas “obrigatórias” e funcionalmente mais
exigentes, seja na protecção do convívio familiar relativamente a aspectos de
desagradabilidade associados, como é o caso dos ruídos e cheiros produzidos.
Funcionalidade doméstica expressivamente aplicada à arrumação
Outra das
ideias que importa aprofundar e que, muitas vezes, é pouco atendida refere-se à
oferta de uma (muito) boa capacidade de arrumação doméstica, tanto ao nível de arrumações
especializadas, pormenorizadamente concebidas e estrategicamente localizadas
(ex., roupeiros gerais e de quarto, despensa ou armário-despensa de cozinha),
como ao nível da capacidade de disposição de mobiliário.
Nesta matéria é muito importante
sublinhar que a capacidade geral de arrumação tem duas importantes
consequências na habitabilidade e na “felicidade” doméstica, pois liberta
realmente espaço habitável, espaço livre entre mobiliário, proporcionando,
suplementarmente, alternativas de arrumação e de escolha de mobiliário, e
porque ao proporcionar tais condições se constitui talvez no principal elemento
de apropriação da habitação pelos seus habitantes, o que é, sem dúvida, algo de
fundamental para uma profunda satisfação residencial.
E lembremos
que é sempre desejável a proposta de soluções alternativas de arrumação de
mobiliário numa dada solução de habitação.
Funcionalidade doméstica, apropriação pessoal e desafogo
Considerar que
a espaciosidade dos espaços e compartimentos domésticos deve permitir a personalização
espacial (ex., partes de parede livres para afixação de cartazes e desenhos,
pequena varanda com prateleiras ou poial para constituir uma colecção de plantas
em vasos, etc.).
Privilegiar
que em cada espaço doméstico exista "espaço livre" verdadeiramente
protagonista, seja para funções concretas (ex., circulação e recreio infantil),
seja para a fruição do próprio espaço livre, que é fundamental para um sentido
de espaço agradavelmente unificado; e há que considerar, esta perspectiva de
“espaço livre” em relação com compartimentos e espaços ocupados pelas
"mobílias completas" que são habitualmente usadas. Um espaço livre
que é especialmente importante nos casos de habitantes jovens e idosos.
Segundo Sven
Thiberg ("Housing Research and Design in Sweden", p. 157), a
existência de espaços livres de mobiliário nos compartimentos habitacionais
(livres) é importante, tanto para o recreio das crianças e o trabalho em casa,
como para aumentar a flexibilidade dos espaços a diversos arranjos de
mobiliário e simplificar os arranjos temporários (ex., festas familiares), por
outro lado, a existência de espaços livres de mobiliário, amplos e bem
proporcionados, nomeadamente, em vestíbulos e casas de banho, facilita os
cuidados com crianças e doentes e a movimentação de idosos e deficientes.
Funcionalidade doméstica e relação interior-exterior
Em termos de
ideia geral e estruturadora de uma adequada organização doméstica salienta-se o
interesse de se privilegiar um estimulante relacionamento entre todos os
elementos e espaços de relação entre o interior doméstico e as zonas exteriores
ao fogo, sejam elas os espaços comuns do edifício ou tratando-se do próprio
espaço exterior e ambiente de vizinhança. Esta é uma matéria que, por si só
pede um amplo desenvolvimento, no entanto há aqui temas de grande sensibilidade
e potencial formal/funcional como são as condições de segurança bem integradas
na imagem do edifício – isto é ganhar a relação com o exterior não a perdendo
na pormenorização da segurança contra intrusão (o que não é fácil) [fig.] – e o
integral aproveitamento da possibilidade de relação directa ou indirecta com o
exterior e o máximo aproveitamento das melhores condições de insolação,
iluminação natural e ventilação, equilibradamente compatibilizadas com os
diversos conteúdos funcionais dos compartimentos.
A configuração
e a localização dos vãos exteriores deve atender, nomeadamente, aos seguintes
aspectos: relação com as funções mais prováveis em cada compartimento;
insolação desejável e protecção da radiação solar, considerando a respectiva
orientação; ventilação desejável e, mesmo em condições adversas, bem
controlável; vistas exteriores próximas e paisagísticas funcionais e/ou
interessantes (por exemplo de um piso térreo sobre um maciço de vegetação, ou
sobre uma animada zona urbana); privacidade, que tem a ver com a natureza do
compartimento em causa; e iluminação natural adequada aos usos dominantes de
cada espaço ou compartimento, definida considerando a importância fundamental da
iluminação na satisfação residencial.
O conforto
ambiental geral dos diversos espaços e compartimentos domésticos deve estar de
acordo com as seguintes exigências básicas: a cozinha deve receber boa luz
natural ao longo de todo o dia; a sala deve receber Sol de manhã ou a partir do
meio da tarde; os quartos devem receber Sol de manhã e estarem protegidos do
Sol poente; as casas de banho devem ter janelas ou, no mínimo, um excelente
processo de ventilação forçada; a entrada do fogo e os corredores devem receber
luz do dia.
Notas editoriais:
· (i) Embora
a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo
corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada
por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos
artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais
dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da
exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De
acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível
técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
INFOHABITAR Ano X, nº 498
Artigo LX da Série habitar e viver melhor
Oferta diversificada de espaços domésticos específicos II: variedade espacial e funcionalidade doméstica
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar
(GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
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