segunda-feira, setembro 08, 2014

499 - Espaços domésticos comuns - Infohabitar 499

Artigo LXI da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 499


Espaços domésticos comuns

António Baptista Coelho

Continuando esta Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns, vamos, agora, falar com algum detalhe sobre s espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam.
Primeiro viajaremos pelos espaços domésticos comuns, isto é aqueles que são usados por todos os habitantes de uma dada casa ou apartamento numa base geral de uso partilhado e de alguma comunidade, espaços estes que constituirão também, sempre, espaços de oferta a quem chega e que não seja morador, mas sem perder um sentido de intimidade, antes pelo contrário, valorizando-o numa forte relação com a marcação da identidade dos espaços que são nossos.
Depois iremos até aos espaços domésticos privativos, portanto aqueles mais amigos de um uso individual, ou muito ligado ao casal, e onde, também não há que excluir os outros, mas sim acolhê-los marcando, aqui, ainda mais fortemente, aspectos de identidade e de abrigo.
Aponta-se, ainda, que tal como tem vindo a ser feito nesta viagem pelos espaços de um habitar mais "amigo" e mais associado a um dia-a-dia verdadeiramente mais agradável e motivador, não iremos aqui cansar o leitor com listagens funcionais e dimensionais, que são afinal matéria-base dos técnicos que desenham o habitar, e matéria que já foi suficientemente tratada por muitos autores ao longo de mais de cinquenta anos; interessa-nos “o resto”, o “grande resto”, aquilo que faz as casas serem espaços únicos, espaços estimulantes, espaços curiosos, espaços fortemente apropriáveis, a tal “casca de caracol, mas aberta ao mundo”, nas palavras de Amália Rodrigues.

São os seguintes os diversos tipos de espaços domésticos comuns que agora apenas se sintetizam e que, em próximos artigos, iremos pormenorizar caso a caso:



Vestíbulo de entrada

A definição de vestíbulo refere-se ao “espaço entre a via pública e a entrada dum edifício”, ao “espaço entre a porta dum edifício e a principal escadaria interior” e a “uma cavidade orgânica que serve de entrada a outra” (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Francisco Torrinha, Porto, Domingos Barreira Editor, 1945).
Uma ideia que pode ficar é que o vestíbulo, ou espaço de entrada numa habitação, corresponde a um espaço de limiar e de transição entre o espaço público ou comum (no caso de se tratar de um edifício multifamiliar) e o espaço doméstico privado.



Fig. 1

Lavabo

O lavabo é uma pequena casa de banho de apoio, minimamente equipada em termos de equipamentos de banho e higiene pessoal, que serve, essencialmente, a zona mais social da casa e que, por isto, deve ter também objectivos de identidade e apropriação, marcando pela sua localização e pelo seu arranjo os cuidados de recepção.

Corredor e zonas de passagem

Um dos aspectos que continua a ser estruturador de uma boa solução doméstica é que ela se caracteriza por uma economia ponderada de circulações, conseguida através da mínima extensão e do aproveitamento máximo das circulações por corredor (por exemplo por dupla utilidade para circulação e para arrumações em roupeiros) e também mediante a mínima extensão e posicionamento estratégico das eventuais zonas de circulação obrigatória através de compartimentos mais sociais (por exemplo, quartos com acessos através de salas e cozinhas).

Sala ou zona de estar

Há quem diga que o convívio familiar, a actividade que marca em primeira linha a sala de estar ou sala-comum, é uma actividade cada vez menos efectiva. Sinceramente não partilho de tal ideia, que julgo que estará na linha daquelas que face a um problema dele se afastam de forma a tentarem resolvê-lo por não lhe darem atenção.

Cozinha

Cozinha para cozinhar ou para conviver? Uma pergunta que tem como resposta que numa casa é necessário haver um espaço de preparação de refeições, espaço este fundamentalmente funcional e marcado por um dado conjunto de instalações e equipamentos, mas que não deve justificar um dado compartimento, feito dimensionalmente à medida desse conjunto de instalações e equipamentos, como se estivéssemos a conceber uma cozinha de um restaurante doméstico onde, quase sempre, não há “empregados” cuja função é estar nessa cozinha laboratório a preparar as refeições de quem habita aquela casa.

Áreas de serviço para arrumações

A arrumação doméstica é, provavelmente, a função cuja importância tem sido menos evidenciada no conjunto das funções habitacionais, e é aquela cujo evidente teor “funcional”, dimensional e quantitativo, sendo muito claro e crítico, não pode fazer diminuir os respectivos aspectos qualitativos e de opções residenciais ambientais e de vivência.

Verdadeiras pequenas áreas de serviço - Lavandaria e rouparia: 
Habitualmente a lavandaria e rouparia doméstica está associada à cozinha e, eventualmente, a uma casa de banho mais ampla, mas há que manter total independência com os usos ligados à preparação de refeições.

Zona de refeições ou sala de jantar

Numa civilização urbana marcada pela falta de tempo e de convívio, tudo o que se faça para privilegiar o encontro familiar é muito positivo; e como todos temos a noção que as refeições estimulam o encontro e o convívio, então não deve haver quaisquer dúvidas sobre o interesse de se privilegiarem condições domésticas estimulantes para a prática de refeições familiares potencialmente alargadas e conviviais.

Casa de banho

Quando falamos de “casas de banho”, falamos dos espaços que incluem mais instalações de águas e esgotos embebidas na construção, mas faz muito pouco sentido, numa habitação que se deseja possa ser geradora de verdadeira satisfação, fazerem-se “instalações sanitárias”, ostensivamente marcadas pela funcionalidade, pela frieza ambiental e pela “objectividade” das respectiva “peças sanitárias”, tal peças de catálogo em tamanho real.

Varanda e outras zonas exteriores privadas elevadas como pátios e pequenos quintais

O título deste tema não faz justiça à ideia que se tem sobre a importância potencial dos espaços exteriores privados, salientando-se que se considera que estes espaços podem ter uma importância estruturadora da própria organização da habitação, essencialmente no caso das habitações isoladas, mas igualmente em conjuntos habitacionais coesos e mesmo em edifícios multifamiliares em altura.

Virtualidades domésticas do estacionamento em garagem

Este título suscitará, naturalmente, dúvidas, mas a ideia é, simplesmente, que o estacionamento comum em garagem possa ser um espaço, pelo menos, minimamente agradável e com algum carácter doméstico, e deixe de ser uma espécie de “cave” residual, estritamente funcional, por vezes suja e frequentemente mal iluminada e com cheiros, por vezes, menos agradáveis através da qual entramos e saímos, quase sempre, no nosso edifício.

Em próximos artigos desta série iremos abordar cada uma das tipologias de espaços domésticos comuns, aqui apontadas, considerando diversos aspetos tais como: opções mais habituais; frequentes associações funcionais; hábitos interessantes e apectos motivadores; principais problemas; novidades e tendências.


Notas editoriais:
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INFOHABITAR Ano X, nº 499
Artigo LXI da Série habitar e viver melhor

   Espaços domésticos comuns

Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional


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