Artigo LXI da Série habitar e viver melhor
Infohabitar, Ano X, n.º 499
Espaços domésticos comuns
António Baptista Coelho
Continuando esta Série editorial sobre "habitar e viver
melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a
vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e
neste os seus espaços comuns, vamos, agora, falar com algum detalhe sobre s espaços
que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo
sobre as diversas facetas que os qualificam.
Primeiro
viajaremos pelos espaços domésticos comuns, isto é aqueles que são usados por
todos os habitantes de uma dada casa ou apartamento numa base geral de uso
partilhado e de alguma comunidade, espaços estes que constituirão também,
sempre, espaços de oferta a quem chega e que não seja morador, mas sem perder um
sentido de intimidade, antes pelo contrário, valorizando-o numa forte relação
com a marcação da identidade dos espaços que são nossos.
Depois
iremos até aos espaços domésticos privativos, portanto aqueles mais amigos de
um uso individual, ou muito ligado ao casal, e onde, também não há que excluir
os outros, mas sim acolhê-los marcando, aqui, ainda mais fortemente, aspectos
de identidade e de abrigo.
Aponta-se,
ainda, que tal como tem vindo a ser feito nesta viagem pelos espaços de um
habitar mais "amigo" e mais associado a um dia-a-dia verdadeiramente mais agradável e motivador, não iremos aqui cansar o leitor
com listagens funcionais e dimensionais, que são afinal matéria-base dos
técnicos que desenham o habitar, e matéria que já foi suficientemente tratada
por muitos autores ao longo de mais de cinquenta anos; interessa-nos “o resto”,
o “grande resto”, aquilo que faz as casas serem espaços únicos, espaços
estimulantes, espaços curiosos, espaços fortemente apropriáveis, a tal “casca
de caracol, mas aberta ao mundo”, nas palavras de Amália Rodrigues.
São
os seguintes os diversos tipos de espaços domésticos comuns que agora apenas se sintetizam e
que, em próximos artigos, iremos pormenorizar caso a caso:
Vestíbulo de entrada
A
definição de vestíbulo refere-se ao “espaço entre a via pública e a entrada dum
edifício”, ao “espaço entre a porta dum edifício e a principal escadaria
interior” e a “uma cavidade orgânica que serve de entrada a outra” (Novo
Dicionário da Língua Portuguesa, de Francisco Torrinha, Porto, Domingos
Barreira Editor, 1945).
Uma
ideia que pode ficar é que o vestíbulo, ou espaço de entrada numa habitação,
corresponde a um espaço de limiar e de transição entre o espaço público ou
comum (no caso de se tratar de um edifício multifamiliar) e o espaço doméstico
privado.
Fig. 1
Lavabo
O lavabo é uma pequena casa de banho de apoio,
minimamente equipada em termos de equipamentos de banho e higiene pessoal, que
serve, essencialmente, a zona mais social da casa e que, por isto, deve ter
também objectivos de identidade e apropriação, marcando pela sua localização e
pelo seu arranjo os cuidados de recepção.
Corredor e zonas de passagem
Um dos aspectos que continua a ser estruturador de
uma boa solução doméstica é que ela se caracteriza por uma economia ponderada
de circulações, conseguida através da mínima extensão e do aproveitamento
máximo das circulações por corredor (por exemplo por dupla utilidade para
circulação e para arrumações em roupeiros) e também mediante a mínima extensão e posicionamento estratégico das eventuais
zonas de circulação obrigatória através de compartimentos mais sociais (por
exemplo, quartos com acessos através de salas e cozinhas).
Sala ou zona de estar
Há
quem diga que o convívio familiar, a actividade que marca em primeira linha a
sala de estar ou sala-comum, é uma actividade cada vez menos efectiva.
Sinceramente não partilho de tal ideia, que julgo que estará na linha daquelas
que face a um problema dele se afastam de forma a tentarem resolvê-lo por não
lhe darem atenção.
Cozinha
Cozinha
para cozinhar ou para conviver? Uma pergunta que tem como resposta que numa
casa é necessário haver um espaço de preparação de refeições, espaço este
fundamentalmente funcional e marcado por um dado conjunto de instalações e
equipamentos, mas que não deve justificar um dado compartimento, feito
dimensionalmente à medida desse conjunto de instalações e equipamentos, como se
estivéssemos a conceber uma cozinha de um restaurante doméstico onde, quase
sempre, não há “empregados” cuja função é estar nessa cozinha laboratório a
preparar as refeições de quem habita aquela casa.
Áreas de serviço para arrumações
A
arrumação doméstica é, provavelmente, a função cuja importância tem sido menos
evidenciada no conjunto das funções habitacionais, e é aquela cujo evidente
teor “funcional”, dimensional e quantitativo, sendo muito claro e crítico, não
pode fazer diminuir os respectivos aspectos qualitativos e de opções
residenciais ambientais e de vivência.
Verdadeiras pequenas áreas de serviço -
Lavandaria e rouparia:
Habitualmente a lavandaria e rouparia doméstica está
associada à cozinha e, eventualmente, a uma casa de banho mais ampla, mas há
que manter total independência com os usos ligados à preparação de refeições.
Zona de refeições ou sala de jantar
Numa civilização urbana marcada pela falta de tempo
e de convívio, tudo o que se faça para privilegiar o encontro familiar é muito
positivo; e como todos temos a noção que as refeições estimulam o encontro e o
convívio, então não deve haver quaisquer dúvidas sobre o interesse de se
privilegiarem condições domésticas estimulantes para a prática de refeições
familiares potencialmente alargadas e conviviais.
Casa de banho
Quando
falamos de “casas de banho”, falamos dos espaços que incluem mais instalações
de águas e esgotos embebidas na construção, mas faz muito pouco sentido, numa
habitação que se deseja possa ser geradora de verdadeira satisfação, fazerem-se
“instalações sanitárias”, ostensivamente marcadas pela funcionalidade, pela
frieza ambiental e pela “objectividade” das respectiva “peças sanitárias”, tal
peças de catálogo em tamanho real.
Varanda e outras zonas exteriores privadas elevadas como pátios e pequenos quintais
O
título deste tema não faz justiça à ideia que se tem sobre a importância
potencial dos espaços exteriores privados, salientando-se que se considera que
estes espaços podem ter uma importância estruturadora da própria organização da
habitação, essencialmente no caso das habitações isoladas, mas igualmente em
conjuntos habitacionais coesos e mesmo em edifícios multifamiliares em altura.
Virtualidades domésticas do estacionamento em garagem
Este
título suscitará, naturalmente, dúvidas, mas a ideia é, simplesmente, que o
estacionamento comum em garagem possa ser um espaço, pelo menos, minimamente
agradável e com algum carácter doméstico, e deixe de ser uma espécie de “cave”
residual, estritamente funcional, por vezes suja e frequentemente mal iluminada
e com cheiros, por vezes, menos agradáveis através da qual entramos e saímos,
quase sempre, no nosso edifício.
Em
próximos artigos desta série iremos abordar cada uma das tipologias de espaços
domésticos comuns, aqui apontadas, considerando diversos aspetos tais como:
opções mais habituais; frequentes associações funcionais; hábitos interessantes
e apectos motivadores; principais problemas; novidades e tendências.
Notas editoriais:
· (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
· (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
· (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
INFOHABITAR Ano X, nº 499
Artigo LXI da Série habitar e viver melhor
Espaços domésticos comuns
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
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