Infohabitar, Ano XIII, n.º 613
“Interior da habitação: entrada, circulação e zonas mais sociais” – sete artigos sobre o tema e um novo texto
por António Baptista Coelho
Há
cerca de um mês a Infohabitar retomou as suas edições regulares, através da
edição de um novo artigo em cada semana, logo à segunda-feira, aproveitando-se
para, mais uma vez, enviar um amigável desafio aos leitores no sentido de
poderem enviar para o editor (mail referido no final do artigo) propostas de
artigos para edição.
Considerando
que, durante um número muito significativo de semanas a Infohabitar tem editado
artigos integrados no âmbito da série designada “Habitar e Viver Melhor”,
lembrámo-nos de proporcionar uma desenvolvida e comentada revisão desta matéria,
antes de prosseguirmos na edição desta série; uma revisão que inclui,
sublinha-se, sistematicamente, novos
textos de síntese de comentário sobre cada uma das matérias específicas
tratadas em cada edição.
Neste
sentido e neste artigo apresentam-se, em seguida, os títulos interativos dos artigos da série “Habitar e Viver
Melhor”, que abordam as temáticas do interior da habitação e, designadamente,
dos seus espaços de entrada, circulação e zonas mais sociais, aproveitando-se
para acrescentar, no final do artigo, uma nova nota de reflexão sobres estas
apaixonantes e tão atuais matérias; e salienta-se que todos os artigos qui
editados, desde início de Setembro de 2017, integram, logo a seguir à listagem
interactiva dos artigos, novos textos de reflexão sobre a envolvente
habitacional, as novas tipologias residenciais, a estrututação dos respectivos
edifícios e a organização e estruturação habitacional.
Em
próximos artigos iremos disponibilizar reflexões sobre os diversos tipos de
espaços habitacionais e domésticos, mais comuns, ou mais privados e
personalizados, que integram e caraterizam cada fogo/habitação.
Lembra-se
que bastará ao leitor “clicar” no título do artigo que lhe interessa para o
poder consultar.
Lembra-se,
ainda, que por motivos alheios à Infohabitar, que muito lamentamos e que já apontámos, na Infohabitar, a maior parte dos artigos
desta série editorial não conta, neste momento, com as respetivas ilustrações;
estando, no entanto, disponíveis todos os seus textos, que se caraterizam por
expressiva autonomia relativamente às referidas imagens.
Finalmente
regista-se que o processo editorial da Infohabitar, revista ligada à ação da GHabitar
- Associação Portuguesa de Promoção da Qualidade Habitacional (GHabitar
APPQH) – associação que tem a sede na Federação Nacional de Cooperativas de
Habitação Económica (FENACHE) –, voltou a estar, desde o princípio de
setembro de 2017, em boa parte, sediado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e nos seus Departamento de Edifícios e Núcleo de Estudos Urbanos e
Territoriais (NUT); aproveitando-se para se agradecer todos os essenciais
apoios disponibilizados por estas entidades.
São
os seguintes os sete (7) artigos disponibilizados sobre o tema “Interior da habitação:
entrada, circulação e zonas mais sociais”:
Espaços domésticos comuns
Entrar na habitação, o vestíbulo de entrada
Circulações domésticas como espaços de vida - I
Circulações domésticas como espaços de vida - II
Lavabo, espaço funcional ou de “cerimónia”
Escadas domésticas
Corredores e zonas de passagem domésticas
Sobre
as temáticas associadas e associáveis à matéria geral do interior da habitação
e, designadamente, dos seus espaços de entrada, circulação e zonas mais sociais
muito há a dizer e sublinha-se que o que a seguir se aponta, em alguns
parágrafos temáticos, corresponde, apenas, a uma informal reflexão sobre estes estimulantes
assuntos.
A
“ditadura funcionalista” levou, frequentemente, a uma rígida estruturação
hierárquica da habitação, produzindo-se, assim, quase sempre, vivências
domésticas estereotipadas, pouco ricas, excessivamente compartimentadas e
muitas vezes monótonas e desinteressantes, com zonas, por vezes, reservadas e
pouco usadas e outras intensamente usadas, pouco espaçosas e até mal situadas.
Mas
essa “ditadura funcionalista” também se caracterizou, muto frequentemente, ao
nível do espaço doméstico, pelo apoio ao desenvolvimento de uma estrutura, mais
ou menos radiculada, de espaços de entrada e de circulação expressivamente
separados dos outros espaços da “casa” e, muitas, vezes funcionalmente usáveis
apenas para a dita função da circulação doméstica; obtendo-se, por vezes,
caricatas situações em que áreas de fogos muito limitadas, porque de habitação
de interesse social, mas com um substancial número de quartos, integram extensos
e conturbados corredores.
Não se
trata, aqui, de negar os aspectos positivos de uma adequada privatização dos
espaços domésticos e da possibilidade que eles devem oferecer para uma gradação
de privacidade e de convivialidade, mas essencialmente de defender que tais
condições deveriam poder ser assumidas de modo opcional pelos respectivos
habitantes, proporcionando-se diversas formas de vivência de cada espaço
doméstico.
A
questão da privacidade, uma questão “de base” na concepção arquitectónica
habitacional, poderá/deverá ter deversas formas de abordagem, seja no interior
da habitação, seja na sua estruturada relação com o exterior público ou comum
(do edifício multifamiliar); afirmação que apenas quer sublinhar situações sem
sentido em que organizações domésticas extremamente hierarquizadas e
sequencialmente privatizadas convivem com uma expressiva inexistência de
privacidade na relação com o exterior, público ou comum.
Os
espaços domésticos/privados com características de uso mais comuns, e
designadamente, os espaços de entrada e de circulação são elementos de
estruturação da organização doméstica que devem ser responsáveis não só pela
respectiva funcionalidade, mas por uma funcionalidade devidamente submetida a
um sentido “doméstico” (não “maquinal”), e por uma adequada caracterização da
habitação em termos de solução de arquitectura, caracterização esta que importa
ligara a aspectos de clareza de leitura/uso, de sentido de percepção mais global
ou mais gradual dos respectivos espaços e, naturalmente, a um essencial
potencial de adaptabilidade e apropriação da habitação a diversos modos e
gostos de habitar.
Em tudo isto julga-se importante caldear as bem conhecidas e expressivamente aplicadas necessidades domésticas de privacidade com as talvez menos conhecidas e muito menos aplicadas necessidades domésticas de uma convivialidade naturalmente mitigada mas potencialmente muito expressiva; e estas são necessidades muito pouco servidas por espaços domésticos rigidamente hierarquizados e compartimentados, e servidos por alongados, estreitos e conturbados corredores.
Que
soluções então? Não as desenvolveremos aqui, para já, de modo pormenorizado, pois
será melhor que elas possam ficar à discrição dos leitores; mas que elas
existem é um facto.
Importa
naturalmente fazer aqui uma espécie de parêntese referindo que tudo isto, todos
estes potenciais de caracterização e adaptabilidade domésticas, que se jogam
nas zonas de entrada e de circulação e, naturalmente, também nos espaços dos
próprios compartimentos, ganha com um sentido de espaciosidade, sendo que um
espaço doméstico mais espaçoso e com dimensões mais folgadas é, evidentemente,
um espaço com maior potencial de adaptabilidade, tal como temos vindo aqui a
reflectir; mas há que apontar que é possível e existem excelentes exemplos de
soluções habitacionais espacialmente pouco folgadas em termos de áreas que
conseguem proporcionar as qualidades equilibradas de privacidade e de
convivialidade, aqui defendidas, e isto em estruturações domésticas
agradavelmente articuladas, pouco rígidas e pouco hierarquizadas.
E em
tudo isto há que lembrar e reforçar a importância dos espaços antes da entrada
na habitação, que nos “preparam” para nela entrar (vão de entrada) e dos
elementos e espaços de contacto do mundo doméstico com o exterior (vãos de
peito e de sacada das janelas); trata-se, afinal, de considerar a habitação
realmente “fundida” e na continuidade com os espaços comuns e públicos que a
envolvem; uma opção que faz realmente arquitectura, a tal grande Arquitectura
feita nos espaços de passagem, de transição e de contacto, como defende Siza
Vieira; e ao articular desta forma a habitação com a sua envolvente proporciona
que os espaços de circulação e de entrada não sejam elementos de “impasse”, mas
sim de relacionamento numa estutura com verdadeira continuidade – trata-se de
entrar e circular na habitação para depois, olhar pelas janelas, ou sair para a
varanda ou para o pátio ou jardim, fechando-se, de certa forma um “círculo” de
relações exterior/interior/exterior e público/comum/privado/público no qual
pouco sentido parecem fazer circulações extremamente rígidas e hierarquizadas.
Passando,
agora para algumas notas sobre espaços domésticos mais “comuns” e
expressivamente de circulação ou recepção; aos quais voltaremos, mais
pormenorizadamente, em próximos artigosfuturos, pode-se referir que quase tudo
numa habitação “começa” na entrada, ou talvez antes dela, no patim ou galeria
comum, mas a ação de entrar na habitação, e o respectivo espaço ou vestíbulo de
entrada deverá sempre ser assunto marcante no desenho de uma habitação, ainda
que tal espaço seja, eventualmente, pouco destrinçável de um outro com o qual
se conjugue.
A
possibilidade de existirem acessos/entradas alternativas (mais de serviço e
principal) é interessante, mas tem, naturalmente a ver com a espaciosidade
global da solução doméstica.
Globalmente,
a entrada na habitação deve proporcionar privacidade interior e capacidade de
recepção, sendo que outros aspectos de maior ou menor compartimentação da mesma
entrada poderão ser considerados menos importantes.
As
questões regulamentares associáveis à segurança contra risco de incêndio
deverão ser naturalmente consideradas e respeitadas, no entanto julga-se que é
bastante discutível que elas possam obrigar a uma dada compartimentação
habitacional que estaria, afinal, associada a uma obrigatória situação de
portas fechadas, o que no interior da habitação é algo extremamente discutível.
Uma
boa entrada doméstica é um espaço que deve ter luz natural e ventilação e neste
sentido obrigará, frequentemente, a uma conjugação afirmada com outros espaços
e compartimentos contíguos.
Que
outros usos poderão ser acolhidos numa entrada doméstica para além dos mais
conhecidos aspectos de recepção, apoio ao vestir, despir e guardar de alguns
agasalhos? Talvez a apresentação de algum mobiliário “representativo” e, no
limite, talvez a própria extensão de algumas actividades possíveis na
sala-comum; isto considerando-a nas suas diversas valências (jantar formal e
estar) e condionando-se esta opção a vontades expressas de maior ou menor
abertura de tais actividades a quem chega/entra na “casa” – no limite e lembrando muito do que se passa
na habitação popular/tradicional, poderemos ter uma entrada que dá para uma
zona de jantar formal, quase convidando quem chega a sentar e partilhar uma
refeição de boas-vindas.
E
temos assim já o tema desta pequena reflexão que corresponde à assunção das circulações
domésticas como espaços de vida, matéria que iremos desenvolver em próximos
textos, mas que, essencialmente, tem a ver com a sua consideração e variada
leitura, seja como elementos de clarificação da estruturação doméstica – e simultaneamente
de sua caracterização – , seja como elementos de circulação, seja como
elementos/espaços domésticos com outras utilidades complementares e
potencialmente muito diversas – desde zonas expressivamente mobiláveis a
verdadeiras pequenas “galerias” de arte domésticas.
Caso
a habitação tenha um razoável desenvolvimento, será interessante que ela possa
integrar um pequeno compartimento que se pode designar de lavabo, e que possua
característica funcionais adequadas, mas também de alguma “cerimónia”; caso a
habitação tenha pequena dimensão a situação da respectiva casa de banho deverá
poder cumprir estas funções ainda que de forma mitigada, não devendo obrigar a
uma expressiva intrusão na privacidade do morador, que é duplamente negativa
para o morador e para o visitante.
Quando
existem escadas domésticas importa, basicamente, que elas sejam funcionais e
expressivamente confortáveis e seguras no seu uso, mas também importa que elas sejam
importantes elementos de atractividade e eventualmente de caracterização doméstica,
uma condição que pode ser conseguida aliando-se as escadas a outros espaços e
elementos domésticos e tirando-se partido destas alianças e posições privilegiadas.
Uma coisa importa, portanto, sublinhar: uma escada doméstica pode e deve ser
muito mais do que um simples elemento funcional na globalidade da respectiva
habitação.
De
certa forma e globalmente há que “resgatar” as zonas de entrada, os corredores
e as zonas de passagem domésticas de uma sua “velha” e muito exclusiva
caracterização funcional, tratando estes elementos de uma forma positivamente inovadora
e caracterizadora da respectiva solução habitacional, tendo-se em conta quer a
a sua história em termos de formas e funções, quer os novos usos e desejos
habitacionais e visando-se, sempre, uma positiva adaptabilidade das organizações
e pormenorizações domésticas.
e a
estas matérias voltaremos …
Notas editoriais:
(i)
Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a
caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de
edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii)
De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado
nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XIII, n.º 613
“Interior da habitação: entrada, circulação e zonas
mais sociais” – sete artigos sobre o tema e um novo texto
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e
Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC; Infohabitar,
Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de
Habitação Económica (FENACHE).
Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa,
Encarnação - Olivais Norte.
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