Infohabitar, Ano XIII, n.º 616
Inovar no espaço da cozinha doméstica
– 4 artigos sobre o tema e um novo texto
por António Baptista Coelho
No
início de setembro de 2017 a Infohabitar retomou as suas edições regulares, através
da edição de um novo artigo em cada semana, logo à segunda-feira,
aproveitando-se para, mais uma vez, enviar um amigável desafio aos leitores no
sentido de poderem enviar para o editor (mail referido no final do artigo)
propostas de artigos para edição (a enviar para abc@lnec.pt).
Considerando que, durante um número muito significativo de semanas a Infohabitar editou artigos integrados no âmbito da série designada “Habitar e Viver Melhor”, lembrámo-nos de proporcionar uma desenvolvida e comentada revisão desta matéria, antes de prosseguirmos na edição desta série; uma revisão que inclui, sublinha-se, sistematicamente, novos textos de síntese de comentário sobre cada uma das matérias específicas tratadas em cada edição.
Neste sentido e neste artigo apresentam-se, em seguida, os títulos interactivos dos artigos da série “Habitar e Viver Melhor”, que abordam as temáticas do interior da habitação e, designadamente, de uma adequada inovação nos espaços de cozinha doméstica, aproveitando-se para acrescentar, no final do artigo, uma nova nota de reflexão sobres estas apaixonantes matérias; e salienta-se que todos os artigos qui editados, desde início de Setembro de 2017, integram, logo a seguir à listagem interactiva dos artigos, novos textos de reflexão sobre a envolvente habitacional, as novas tipologias residenciais, a estrututação dos respectivos edifícios e a organização e estruturação habitacional.
Em próximos artigos iremos continuar a disponibilizar reflexões sobre os diversos tipos de espaços habitacionais e domésticos, mais comuns, ou mais privados e personalizados, que integram e caracterizam cada fogo/habitação.
Lembra-se que bastará ao leitor “clicar” no título do artigo que lhe interessa para o poder consultar.
Lembra-se, ainda, que por motivos alheios à Infohabitar, que muito lamentamos e que já apontámos, na Infohabitar, a maior parte dos artigos desta série editorial não conta, neste momento, com as respectivas ilustrações; estando, no entanto, disponíveis todos os seus textos, que se caracterizam por expressiva autonomia relativamente às referidas imagens; em tempo procuraremos ir repondo as referidas ilustrações, agora através de uma ferramenta integrada no próprio processo editorial do nosso blog/revista.
Finalmente regista-se que o processo editorial da Infohabitar, revista ligada à ação da GHabitar - Associação Portuguesa de Promoção da Qualidade Habitacional (GHabitar APPQH) – associação que tem a sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) –, voltou a estar, desde o princípio de setembro de 2017, em boa parte, sedeado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e nos seus Departamento de Edifícios e Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT); aproveitando-se para se agradecer todos os essenciais apoios disponibilizados por estas entidades.
São os seguintes os quatro (4) artigos disponibilizados sobre o tema “Inovar no espaço da cozinha doméstica”:
Sobre
as temáticas associadas e associáveis à matéria geral do interior da habitação
e, designadamente, ao conjunto de actividades que se desenvolvem habitualmente
ou que se poderão desenvolver em espaços de cozinha doméstica, podemos referir,
em primeiro lugar, a importância da cozinha como espaço convivial; uma
importância que marcou o espaço de cozinhar doméstico desde sempre, pois, na
prática, foi este, com naturalidade, o espaço doméstico convivial de eleição na
maioria das famílias, só não o sendo em situações de separação entre quem
cozinhava e quem tomava as respectivas refeições, portanto quando da existência
de empregados domésticos com a finalidade de preparar e servir as refeições; e
a esta importante finalidade convivial do espaço de cozinha voltaremos mais à
frente neste texto a propósito de variados subtemas, como são, por exemplo, o
habitar dos pequenos agregados familiares e o habitar de “interesse social”.
Cruzando esta última reflexão com a nossa história próxima associada à habitação funcionalista, teremos uma altura em que se avançou e bem para a facilitação dos trabalhos domésticos, de certa forma, “maquinizando-se” os trabalhos associados à preparação e ao servir de refeições, e, no limite, atingindo-se aquilo que é frequentemente designado de “cozinha laboratório”, numa evolução que tem os seus aspectos muito positivos associados à adequada racionalização dos trabalhos de preparação e servir refeições, que são dos trabalhos domésticos mais “pesados”, mas que, por vezes, esquece que quem trabalha na cozinha de hoje e na esmagadora maioria das nossas habitações não são empregados domésticos, mas sim todos nós os membros dos respectivos agregados familiares; e que, por isso, há que harmonizar essa essencial e específica funcionalidade – que está aliás associada a outros aspectos funcionais domésticos muito importantes, designadamente, na área das arrumações especializadas – com a continuidade da integração de quem cozinha e serve refeições no âmago do respectivo agregado familiar, em termos de continuidade do respectivo convívio e do acompanhamento familiar específico de idosos e crianças.
Cruzando esta última reflexão com a nossa história próxima associada à habitação funcionalista, teremos uma altura em que se avançou e bem para a facilitação dos trabalhos domésticos, de certa forma, “maquinizando-se” os trabalhos associados à preparação e ao servir de refeições, e, no limite, atingindo-se aquilo que é frequentemente designado de “cozinha laboratório”, numa evolução que tem os seus aspectos muito positivos associados à adequada racionalização dos trabalhos de preparação e servir refeições, que são dos trabalhos domésticos mais “pesados”, mas que, por vezes, esquece que quem trabalha na cozinha de hoje e na esmagadora maioria das nossas habitações não são empregados domésticos, mas sim todos nós os membros dos respectivos agregados familiares; e que, por isso, há que harmonizar essa essencial e específica funcionalidade – que está aliás associada a outros aspectos funcionais domésticos muito importantes, designadamente, na área das arrumações especializadas – com a continuidade da integração de quem cozinha e serve refeições no âmago do respectivo agregado familiar, em termos de continuidade do respectivo convívio e do acompanhamento familiar específico de idosos e crianças.
Esta é uma matéria fundamental numa boa habitação, mais amigável, mais convivial mais familiarmente integrada e acredite-se que é matéria frequentemente muito descuidada, em favor da, naturalmente, muito mais simples racionalização das operações de preparação e serviço de refeições.
Na
prática trata-se de manter na cozinha a sua velha e natural função de convívio
familiar enquanto se preparam e tomam refeições, um convívio bem natural e
efectivo desde o princípio da evolução do homo sapiens, quando inventámos o uso
do fogo para cozinhar e a propósito do fogo e do conforto e segurança que nos
dava, ficávamos em companhia e a comunicar mais um pouco pela noite dentro.
Para tal as nossas cozinhas têm de ter espaço adequado
para uma mesa de refeições, que aliás pode ser também espaço para preparar
refeições, ou, em alternativa, pode existir um amplo espaço de cozinha e
refeições, estimulantemente caracterizado como “sala de família”.
Naturalmente
que para se dinamizar o convívio nos espaços de cozinha estes devem ter
ambientes adequados e confortáveis, sendo que será importante que as condições
de tiragem de fumos e cheiros, as condições de integração de máquinas e os seus
potenciais ruídos e , globalmente, as condições de conforto ambiental aí
proporcionadas, sejam devidamente consideradas pois de contrário as cozinhas não
são atraentes para o convívio familiar e alargado.
Considerando
estas matérias de conforto ambiental e funcional na cozinha e do
desenvolvimento de espaços de cozinha convivialmente atraentes, importa
salientar, desde já, que, frequentemente, são integradas na cozinha funções domésticas
pouco compatíveis com a preparação e o servir de refeições; estamos a
considerar, designadamente, as funções ligadas ao tratamento de roupa, que
poderão e deverão ter espaços específicos de exercício, mas também algumas funções
associadas a uma arrumação geral, por vezes também pouco compatíveis com uma
sua grande integração no espaço da cozinha.
De
certa forma estaremos aqui no âmbito do que se poderá considerar como algumas
confusões em termos de misturas funcionais domésticas realmente pouco compatíveis,
mas que encontram no espaço de cozinha e mal-usando-se simples justificações
funcionais, o espaço que sobra e que dá jeito para libertar os outros espaços
da habitação; isto, naturalmente, quando em quadros de áreas domésticas
marcados por áreas e dimensões mínimas – na prática a cozinha, assim como
outros espaços domésticos, “estrategicamente” considerados muito funcionais
(como as chamadas “instalações sanitárias”) acabam por ser as zonas em que se
reduzem, frequentemente, e logo à partida áreas e dimensões, justificando-se
esta opção com aspectos funcionais, que na prática são muito limitados, porque
ou não integram importantes funções como é o caso das refeições (ditas “correntes”),
ou integram-nas mas com áreas frequentemente tão reduzidas e residuais que
acabam por resultar na integração de minúsculas mesas em que cada um pode
eventualmente tomar uma refeição, mas sozinho.
E
estamos a pensar em refeições na cozinha, mas poderíamos pensar em passar a
ferro na cozinha e no estar informal na cozinha e até – mas com todos os
necessários cuidados de segurança – o brincar infantil na cozinha ou pelo
menos o fazer os trabalhos de casa na cozinha; ou tudo isto numa cozinha/sala
de família.
Esta
tendência de “pequenez” dimensional que tanto afecta, frequentemente, a concepção
do espaço de cozinha doméstico e que, aliás, tem até base regulamentar –
regulamento realizado em pleno período funcionalista – acaba por afectar,
frequentemente, o desenvolvimento de espaços de cozinha em habitações sem
grandes limitações espaciais onde não há o suplemento funcional, ambiental e de
alma para reinventar e retomar o fazer de “uma cozinha” que possa até
constituir um dos corações caracterizadores da habitação.
O
que se tem estado a referir sobre o que se pode designar o recuperar de uma
cozinha estrategicamente multifuncional liga-se a um oportuno objectivo de quase-duplicação
dos espaços conviviais e sociais domésticos, proporcionando-se que a sala-de-estar
possa ser usada de variadas formas e de acordo com grande variedade de gostos e
modos de habitar; com variados exemplos de apropriação entre os quais se
referem a criação de uma zona de estar muito associada à leitura e/ou à televisão
e/ou à audição de música, ou o desenvolvimento de uma sala de estar bastante
formal e “de visitas”, marcada por mobiliário “especial”, ou ainda o
desenvolvimento de uma zona de estar multifuncional e frequente usada como
espaço de trabalho profissional e/ou como espaço de estudo dos jovens; e
atenção que será sempre possível integrar numa sala como estas uma mesa (ex., escamoteável
ou extensível) para se usar em refeições mais formais e em datas especiais. E
naturalmente que este sentido de cozinha multifuncional é muito oportuno quando
estamos a lidar com áreas controladas (“habitação de interesse social”).
Em
todas estas perspectivas de uma renovada e adequada concepção do espaço de
cozinha há um aspecto a sublinhar, que é vital e que se refere ao
desenvolvimento, na cozinha, de um espaço doméstico verdadeiramente acolhedor,
seja nos seus aspectos estruturantes e organizativos, seja no que se refere ao
respectivo conforto ambiental (luz natural, higrométrica, conforto sonoro),
seja no desenvolvimento de agradáveis relações visuais com o exterior da
habitação e com os seus outros espaços interiores, seja em todos os seus
respectivos aspectos de pormenorização e de equilibrada capacidade de apropriação
(ex., sítio para introduzir vasos com plantas, sítio para introduzir um móvel
de família, etc.).
Esta
última matéria daria(dará!?) um artigo e, portanto, aqui não é desenvolvida,
limitando-nos a referir que este sentido de expressiva criação, na cozinha, de um espaço doméstico
verdadeiramente acolhedor, está, frequente, nos antípodas, do que habitualmente
se fazia – e não só em habitação de interesse social –, quando se desenvolviam
espaços de cozinha estritamente funcionais em termos de dimensão, de ambiente e
de relacionamento (que poderiam até ser designados como “instalações para
cozinhar”, a exemplo das designadas “instalações sanitárias”).
Ainda
sobre a cozinha há duas matérias que importa, desde já, apontar e que poderão
merecer, depois, desenvolvimentos específicos: trata-se da cozinha para os
idosos e da cozinha para quem pouco cozinha, porque compra habitualmente refeições
pré cozinhadas ou até, raramente, toma refeições em casa.
A
noção que parece prevalecer no que respeita à caracterização de uma cozinha bem
adequada para pessoas idosas, é que ele deve ser tão segura e expressiva e
funcionalmente adaptada no sentido de se facilitarem e “securizarem” as funções
de preparação, apoio e toma de refeições, como tão expressivamente agradável, atraente, funcionalmente
estimulante e adequada e potencialmente convivial, proporcionando-se uma
estratégica concentração de actividades domésticas na cozinha e, eventualmente,
libertando-se, até, outros espaços da habitação para apoio a outras actividades
e passatempos e/ou para um “concentrado” uso ocasional; numa perspectiva que
acaba por poder concentrar os trabalhos domésticos diários num espaço mais
circunscrito e facilmente mantido em adequadas condições de conforto.
Relativamente
à cozinha para “quem não cozinha” ou pouco cozinha, apenas se refere que as opções
de grande integração da cozinha num espaço multifuncional do tipo “sala de família”
ou a expressiva caracterização da cozinha como espaço doméstico muito agradável
e personalizável/apropriável (ex., mobiliário de família, quadros nas paredes,
revestimentos calorosos, etc.) são opções que integram fortemente o espaço “tradicional”
da cozinha no conjunto da habitação, anulando-se
a existência de um espaço funcional de “instalações para cozinhar” pouco ou
nada utilizado e ambientalmente descontinuado relativamente ao resto da habitação.
Quanto
a novidades e tendências nas cozinhas domésticas delas já aqui falámos um pouco,
mas é interessante e oportuno ter em conta o actual crescimento do interesse na
elaboração de pratos mais cuidados (a televisão está inundada de programas
associados a esta tendência), uma situação que pode e deve fazer pensar e
programar zonas de preparação de refeições potencialmente bem adequadas a uma
cozinha expressivamente elaborada e associada ao uso de um leque alargado de
ingredientes e utensílios (havendo de considerar a respectiva e adequada
arrumação); e há outras novas tendências que podem e devem ter reflexo no
desenvolvimento das cozinhas domésticas como é o caso da criação de pequenas
garrafeiras, frequentemente associadas a exigências ambientais especializadas;
e a
estas matérias relativas aos espaços e usos das cozinhas domésticas e às
variadas formas da sua apropriação por diversas categorias de habitantes, voltaremos
(mas nos artigos acima disponibilizados encontrarão, desde já, um amplo
conjunto de reflexões).
Notas editoriais:
(i)
Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a
caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de
edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii)
De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado
nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Infohabitar, Ano XIII, n.º 616
Inovar no
espaço da cozinha doméstica – 4 artigos sobre o tema e um novo texto
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e
Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC; Infohabitar,
Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de
Habitação Económica (FENACHE).
Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa,
Encarnação - Olivais Norte.
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