As máquinas domésticas - Infohabitar n.º 541
António Baptista Coelho
Artigo LXXXII da Série
habitar e viver melhor
Continuamos,
em seguida, a Série editorial sobre "habitar
e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial
desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício
multifamiliar.
Estamos
agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos
“pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas
que os qualificam; e continuamos a desenvolver
uma reflexão sobre os espaços de arrumação domésticos, seja no sentido do
"arrumar" das máquinas domésticas, seja no que se refere à arrumação
específica associada à lavandaria doméstica.
O arrumar as máquinas domésticas
Sobre o arrumar das
máquinas domésticas já falámos um pouco, quando lembrámos o interesse que tem
para agradabilidade da vivência na cozinha que não haja aqui significativas
perturbações em termos de ruído.
Realmente há aqui
uma dupla necessidade: que as maquinas de lavar roupa e louça e, eventualmente,
de secar roupa estejam em locais “super-funcionais”, relativamente às suas
diversas funções e que elas possam estar ligadas sem perturbarem o conforto acústico
na cozinha e naturalmente em outros espaços domésticos de estadia e convívio.
Já se referiu que
uma das soluções está na escolha de máquinas pouco ruidosas, e nesta matéria
parece ser urgente que além da classificação relativa ao consumo energético
seja facultada uma clara classificação relativa ao respectivo nível de ruído.
Outra solução será
a arrumação das máquinas associadas ao tratamento de roupas num espaço próprio
e acusticamente isolável da continuidade dos espaços associados à cozinha;
condição esta que se julga ser até conveniente no sentido de se desenvolver um
espaço específico de tratamento de roupas, bem distinto, tal como deve ser, do
espaço de preparação de refeições, mas atenção que, sendo um espaço para
instalação de máquinas, ele deve cumprir exigências rigorosas também em termos
de isolamento relativamente ao exterior.
Fig. 01: pormenor de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13 - 14, Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil Ohrström.
O frigorífico é uma
outra grande máquina doméstica cuja
importância funcional, e até quase simbólica, bem como o seu muito
significativo dimensionamento, exige um cuidado na respectiva integração na
cozinha, muito pouco conseguido em casos habitacionais correntes. Realmente o
frigorífico é, habitualmente, um verdadeiro grande armário, com importância
crucial no funcionamento diário da cozinha, e até da própria vivência diária na
habitação, cuja localização relativa é, habitualmente, fonte de más consequências
na vivência da cozinha, tantas vezes atravancando o espaço de movimentação, ou
prejudicando gravemente a possibilidade da cozinha ser também um espaço de
refeições ou mesmo de estar, agradável para além de funcional, ou ainda
constituindo, por vezes, uma barreira à entrada da luz natural no coração da
cozinha.
A solução para esta
situação, que é infelizmente frequente, até porque os frigoríficos têm sido
cada vez maiores – lembremo-nos dos primeiros modelos à altura do ombro,
habitualmente decorados/rematados por um urso polar em louça, e façamos uma
comparação com os actuais “armários” frigoríficos com a altura de portas – tem
a ver com uma adequada previsão da integração do frigorífico considerando a sua
utilidade:
(i) na arrumação de
alimentos;
(ii) no apoio
directo à preparação de refeições;
e (iii) no apoio de
serviço eventual a toda a habitação e designadamente ao funcionamento convivial
da sala-comum.
Mas o frigorífico
também deve ser considerado no que se refere ao seu aspecto visual, tendo em
conta o seu volume muito significativo.
Considerando-se
estes aspectos na estruturação pormenorizada da própria cozinha, de forma a
harmonizar, claramente, a sua presença relativamente às várias actividades que
se podem e devem desenrolar nas cozinhas – a ideia aqui é até que o frigorífico
constitua um elemento de atractividade visual da própria cozinha, de certa
forma aliando-se o que está, naturalmente, na vontade dos habitantes –
evidenciando-se um grande electrodoméstico – com um sentido funcional e “ambiental”
doméstico aprofundado.
Fig. 02: pormenor de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 13 - 14, Arquitetura: Moore, Ruble, Yudell, Bertil Ohrström.
O “arrumar” dos apoios ao tratamento da roupa e da própria roupa a secar
Outro esquecimento
é frequente na estruturação dos espaços de serviço de uma habitação,
referimo-nos aos espaços, ainda significativos, que são sistemática e
semanalmente necessários para assegurar os diversos passos do tratamento das
roupas domésticas.
Tal como acontece
com outras funcionalidades domésticas estes espaços crescem, directamente, com
a dimensão da família, e é racional, que, por exemplo, em habitações mínimas –
com um quarto ou mesmo sem um espaço específico para quarto – estes espaços de
tratamento de roupas possam até não existir, considerando-se que as pessoas que
vivem sozinhas ou em casais, em zonas urbanas densas, poderão optar por fazer o
seu tratamento de roupas fora de casa.
Será, no entanto, prudente
que, mesmo nestes casos tal função seja pelo menos minimamente prevista – por
exemplo, com espaço adequado para a instalação de uma máquina de lavar e secar
roupa (exige pequena abertura própria para o exterior), até associada, por
exemplo, a outros espaços funcionais.
Numa situação
corrente é fundamental que haja uma previsão funcional, quer para o espaço de
arrumação da roupa para levar, quer de um outro espaço relativamente desafogado
para a montagem periódica de uma tábua para passar a ferro, quer de espaços
específicos para arrumação de apoio de roupa já tratada, quer, naturalmente, de
um espaço específico para colocar a roupa a secar no exterior. E há que
sublinhar que todos estes espaços são funcionalmente exigentes e não são muito
compatíveis com a preparação de refeições, exigindo, assim, cuidados
específicos de previsão e de integração na habitação.
Naturalmente que
uma cozinha espaçosa e funcionalmente desafogada pode acolher quase todas estas
necessidades, com natural exclusão do espaço de estendal, numa base de
funcionamento periódico, mas há que prever os espaços de arrumação de apoio e,
sublinha-se, que quando não se verifica uma verdadeira espaciosidade o
resultado será sempre a periódica geração de situações de atravancamento e de mistura
entre roupas e cozinha, que parece ser sempre de evitar.
Quanto à previsão
do estendal exterior é, como sabemos, um tema recorrente, com defensores da
roupa a secar à vista de todos, porque é tradicional e é funcional e
sustentável o aproveitamento do sol e do vento, e com detratores desta solução,
procurando esconder estendais por considerarem menos adequada a sua exposição
“pública”.
Entre uma e outra
posição a ideia que parece ficar é que há soluções práticas, pouco
dispendiosas, que proporcionam o secar exterior da roupa com eficácia – é mais
o vento que seca a roupa do que o sol – e de forma pouco evidenciada ou até
“camuflada” em termos de vistas públicas. Há ainda soluções de desmultiplicação
do tratamento de roupas com a utilização do espaço de cobertura em terraço,
dividido em pequenas parcelas “boxes” individualizadas, destinadas
essencialmente à secagem de roupa.
Naturalmente,
haverá a possibilidade de desenvolver soluções comuns de lavagem de roupa,
designadamente, em conjuntos de pequenas habitações.
A ideia que fica,
relativamente a estas soluções com diversas facetas de partilha de espaços e
equipamentos comuns, é que elas não são, habitualmente, muito apreciadas,
talvez pelo “convívio” obrigatório a que sempre obrigam; e, assim, a opção talvez
mais viável de tratamento de roupa fora de casa é o que é realizado em serviços
próprios, assegurados por firmas especializadas, e que, eventualmente, até
poderão ter uma pequena delegação associada a um serviço diversificado de
condomínio.
Sobre o arrumar de
tudo o resto, de todos “os pequenos nadas” funcionais e não-funcionais, se
falará, com algum pormenor, em outros artigos desta série editorial.
References/Referências/notas
Nota importante sobre as imagens que ilustram o
artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo
em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na
edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 541
Artigo LXXXII da Série
habitar e viver melhor
As
máquinas domésticas - Infohabitar n.º 541
Editor: António Baptista Coelho
–abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição:
José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário