http://labhab.fau.usp.br/3cihel/
O 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.
Infohabitar,
Ano XI, n.º 542
Arrumações domésticas: aspetos inovadores – Infohabitar n.º 542
António Baptista Coelho
Artigo
LXXXIII da Série habitar e viver melhor
Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre
"habitar e viver melhor",
na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de
proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os
espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos,
refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e continuamos a desenvolver uma reflexão sobre os espaços de arrumação
domésticos, agora considerando matérias diversas que ficam para desenvolvimento
futuro, como aquelas associadas a áreas mínimas e a novas formas de habitar.
Arrumação doméstica: hábitos interessantes e críticos
Como já se apontou em artigos desta
série, uma maior e mais diversificada capacidade de arrumação tem a ver com
hábitos residenciais marcados por modos de vida não-urbanos, no entanto a
vivência da cidade é também caracterizada pela profusão dos mais diversos e
numerosos gadgets, elementos de comunicação e consumíveis, que invadem as
nossas casas, diariamente, e que obrigam, cada vez mais, a uma grande e
sistemática disciplina de triagem, rejeição, arrumação e, eventual
arquivamento, se não se quiser assumir o risco de se viver, constantemente, num
ambiente doméstico desarrumado e confuso.
Há, ainda, que sublinhar que a
intensificação do trabalho profissional e do estudo em casa é um aspecto que
marca o habitar de hoje e que muito agrava a referida invasão doméstica de
gadgets, elementos de comunicação e consumíveis; de certa forma trata-se de
associar à casa boa parte ou a totalidade das valências de um escritório
doméstico.
Naturalmente que a disseminação de uma
adequada capacidade de arrumação, por toda a habitação, tal como acabou de se
apontar, muito ajuda nesta “batalha” diária contra a desarrumação, seja pela
arrumação disponibilizada, seja, indirectamente, pela capacidade de “esconder”
a desarrumação com alguma facilidade.
Uma coisa é certa, quanto menor for a
capacidade de arrumação doméstica oferecido, tanto maior a necessidade de
sistematização e de disciplina nessa luta diária contra a desarrumação.
Fig. 01: interior de habitação do
conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito
da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H21 – 24,
Arquitetura: Mario Campi,
Arne Jönsson, Jan Telving.
Arrumação doméstica: problemas correntes
A arrumação eficaz e bem disseminada ao
longo dos diversos espaços domésticos é um factor fundamental para a
funcionalidade, a agradabilidade e a satisfação do desenrolar das actividades
que aí são frequentes, sublinhando-se que a ocorrência de uma situação distinta
terá como consequência a ocorrência dos mais diversos tipos de problemas nessas
actividades, e o avolumar de um sentimento de insatisfação com as respectivas
condições domésticas.
A afirmação que acabou de se fazer não deve ser considerada um “lugar comum” pois nos tempos de hoje, que vão passando com um sentido crítico de velocidade e urgência, tudo e mesmo tudo aquilo que se possa fazer para garantir um máximo de funcionalidade doméstica é essencial para se ganhar uma espécie de “lastro”, em termos de adaptabilidade no uso da casa; e neste lastro tem uma importância vital a existência de uma significativa, bem disseminada e multifuncional capacidade de arrumação doméstica.
Podemos aprofundar ainda, um pouco mais, esta reflexão considerando que, actualmente, há três tipos de tarefas críticas num uso doméstico “autonomizado”, porque realizado praticamente sem ajudas profissionais (por exemplo empregadas) ou com tais ajudas reduzidas ao mínimo:
A afirmação que acabou de se fazer não deve ser considerada um “lugar comum” pois nos tempos de hoje, que vão passando com um sentido crítico de velocidade e urgência, tudo e mesmo tudo aquilo que se possa fazer para garantir um máximo de funcionalidade doméstica é essencial para se ganhar uma espécie de “lastro”, em termos de adaptabilidade no uso da casa; e neste lastro tem uma importância vital a existência de uma significativa, bem disseminada e multifuncional capacidade de arrumação doméstica.
Podemos aprofundar ainda, um pouco mais, esta reflexão considerando que, actualmente, há três tipos de tarefas críticas num uso doméstico “autonomizado”, porque realizado praticamente sem ajudas profissionais (por exemplo empregadas) ou com tais ajudas reduzidas ao mínimo:
. as tarefas associadas à preparação de
refeições e ao tratamento de roupas, que poderão e deverão ter um apoio
funcional específico e maximizado, tal como foi e será aqui apontado;
. as tarefas associadas à arrumação
doméstica, que poderão ser grandemente facilitadas através da estratégia que
acabou de ser referida;
. e as tarefas associadas à limpeza
doméstica, às quais dedicaremos, mais à frente, um parágrafo específico.
Tudo o que se faça, em termos de
concepção de espaços, acabamentos e equipamentos para agilizar estas tarefas
constitui uma vantagem determinante para o melhor e mais satisfatório uso da
casa; e se considerarmos o uso da casa pelo grupo, cada vez mais alargado, de
pessoas idosas, então estas vantagens assumem, ainda, uma importância mais
determinante e que obriga a cuidados ergonómicos, funcionais e dimensionais
específicos.
Fig. 02: interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H21 – 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Arrumação doméstica: questões levantadas por áreas mínimas
Como já se apontou, em artigos desta
série, a existência de áreas habitacionais mínimas não é compatível com a
ausência de adequadas capacidades de arrumação, pois face a esta ausência a
arrumação tenderá a ser assegurada, muito provavelmente através de soluções
improvisadas e funcionalmente negativas, em espaços que estão já nos mínimos
funcionais, com resultados, que, frequentemente produzirão situações domésticas
atravancadas e sem quaisquer condições de agradabilidade e de satisfação.
Conclui-se, assim, que quanto mais
reduzido for o dimensionamento doméstico, tanto maior deverá ser o cuidado
investido na previsão dos respectivos espaços e elementos de arrumação.
E quando há áreas mínimas e,
frequentemente, dimensões mínimas, há que cortar no mobilar, o que até é também
lógico em termos das poupanças financeiras associadas, e deveria haver uma
tipologia de mobiliário específica, eventualmente marcada com um símbolo
específico, que fosse caracterizada, seja por um dimensionamento funcional mas
mínimo, e por dispositivos funcionais, de integração e de durabilidade muito
adequados (exemplo, pequenas mesas rebatíveis, cadeiras dobráveis e bem
arrumáveis em conjuntos compactos, sofás confortáveis mas pouco volumosos,
camas cujo estrado funciona como grande espaço de arrumação, zonas domésticas
com tecto rebaixado e aproveitado como espaço de arrumação, lavatórios
dimensionalmente reduzidos, etc.).
Caso contrário e caso frequente, como
os habitantes não têm nem têm de ter uma formação em aspectos de espacialidade
e de integração dimensional, irão arranjar elementos de mobiliário que são
adequados a habitações com mais 50% a 100% da área de que dispõem realmente.
E o exemplo prático do que se está a
referir é a opção de mobiliário e equipamento embutido, multifuncional,
versátil, subdimensionado, muito durável e facilmente limpável de autocaravanas
e de iates; embora a comparação com as unidades habitacionais "mínimas"
não possa ser directa, na prática esta é uma reflexão que sempre nos levará
longe .
Fig. 03: interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H21 – 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Fig. 03: interior de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H21 – 24, Arquitetura: Mario Campi, Arne Jönsson, Jan Telving.
Arrumação doméstica: novidades e tendências (ex., trabalho em casa; idosos, etc.)
Uma boa capacidade de arrumação
doméstica é uma condição essencial no uso flexibilizado e adaptativo de uma
habitação a diversos modos de vida e composições familiares, o que constitui um
aspecto de grande importância quando hoje em dia cada vez mais há que favorecer
uma máxima diversificação das características residenciais pormenorizadas.
Uma casa com uma boa capacidade de
arrumação pode, praticamente, converter-se em diversos cenários domésticos com
um mínimo de alterações significativas, mas quando não há tal capacidade tudo o
que se altera tem reflexos muitas vezes críticos na vivência de toda a
habitação, num crescendo de problemas que se agrava com a existência de áreas e
dimensões mínimas.
Estes aspectos têm relação directa com
a actual tendência de se intensificar o trabalho profissional em casa, que
obriga naturalmente a condições específicas de arrumação e à sua
compatibilização com os espaços e as arrumações domésticas...
E a existência de uma boa capacidade de
arrumação doméstica é um dos aspectos determinantes da adequação de uma casa à
sua vivência prolongada por habitantes idosos, proporcionando o gradual
“arquivamento” dos mais diversos elementos, o que é duplamente útil, seja no
sentido em que se disponibilizam condições de arrumação diversificadas, para os
mais diversos bens acumulados ao longo da vida, seja no sentido em que a boa
arrumação pode proporcionar um apreciável desimpedimento dos espaços
domésticos, condição positiva para a vivência dos idosos.
References/Referências/notas
Nota importante sobre as imagens que
ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e
que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram
recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição
habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em
2001.
Aproveita-se para lembrar o grande
interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo
“organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que
integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a
Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das
Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01
teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase
do novo bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma
das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja
possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas
aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado
número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a
identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação
adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais
projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam
as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta,
quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em
relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de
referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo
em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na
edição.
Infohabitar, Ano XI, n.º 542
Artigo
LXXXIII da Série habitar e viver melhor
Arrumações domésticas: aspetos
inovadores - Infohabitar n.º 542
Editor: António Baptista
Coelho
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário