Artigo da semana por João Rainha Castro
Estamos já na contagem decrescente para o 1.º Congresso Habitação no Espaço Lusófono, o 1.º CIHEL, que decorrerá entre 22 e 24 de Setembro próximos, no Grande Auditório do ISCTE-IUL, em Lisboa, por isso continuamos a insistir na divulgação deste grande evento sobre as matérias do habitar falado em português, mas continuamos, nesta edição, logo após esta divulgação, a publicação do artigo semanal do Infohabitar.
Fig. 00: o logo do 1.º CIHEL - realizado no âmbito do Curso de design Gráfico da Escola Secundária de Sacavém
O tema do 1.º CIHEL é o desenho e realização de bairros e agrupamentos residenciais para populações com baixos rendimentos, tema que será abordado em 5 conferências, 20 palestras e mais cerca de outras 30 comunicações, constantes do CD de Actas, por oradores provenientes de diversos países da lusofonia.
As intervenções estão organizadas em quatro temáticas: Políticas e programas – considerando situações de escala relativamente reduzida e a importância da reabilitação; Infraestruturas e equipamentos – considerando perfis de habitabilidade, papel do espaço público e serviços urbanos e sociais; Soluções habitacionais e modos de vida – considerando velhas e novas formas de habitar, desejos e necessidades; e Materiais e tecnologias – considerando aspectos de escassez de recursos e ligados às diversas facetas da sustentabilidade.
O site do 1.º CIHEL é o http://cihel01.wordpress.com/about/ e nele poderá realizar desde já a sua inscrição; e tenham, por favor, em atenção que há já um número significativo de inscrições.
Julgamos que bem a propósito se edita, esta semana, no Infohabitar um artigo sobre um excelente pequeno bairro ou agrupamento residencial para pessoas com baixos rendimentos: o BAIRRO LUTA PELA CASA - em CARNAXIDE.
UM CASO DE ESTUDO – BAIRRO LUTA PELA CASA - CARNAXIDEJoão Rainha Castro
Situado no limite Noroeste da Vila de Carnaxide, o Bairro de interesse Social “Luta pela Casa” é um exemplo real de integração de um equipamento de habitação social na malha edificada e consolidada de Carnaxide.
Fig. 01
Uma ampla mancha construída onde edifícios de 3 pisos (r/c + 2), moradias geminadas e 3 blocos de 5 pisos, num total de 100 habitações, se agrupam, harmonizam e organizam entre si criando variados espaços, ora mais contidos e semiprivados ora mais descomprimidos e públicos, definindo hierarquias de usos e ocupação.
Ao deambular como que perdido por entre os blocos construídos, subindo as escadas, atravessando pátios, descendo rampas, por entre sombras criadas pelas copas das árvores frondosas que pontuam os espaços livres deixados entre blocos, somos levados a perceber que o que tem nome de “Bairro” tem realmente vida de Bairro e que, ao caminhar, somos cumprimentados com vigorosos e nada desconfiados “bom dia” ou “boa tarde”.
Fig. 02
O bairro tem vida para além da patente no interior das habitações. No “ringue” de jogos e parque infantil as crianças lançam bolas e jogam ao berlinde enquanto os familiares mais velhos se sentam nos bancos dispostos na periferia destes espaços.
Fig. 03
Há, ainda, vários cafés, a esteticista, um espaço de escritórios, a escola básica e o pavilhão desportivo, todos estes serviços interligados por uma única via rodoviária (artéria motorizada do bairro). Interessante constatar que o bairro foi desenhado com largas circulações e atravessamentos pedonais que vencem desníveis, distâncias e que são hoje amplamente utilizados.
Pela forma como podemos vivenciar e experienciar o “ Bairro Luta pela Casa” é fácil perceber que este reúne em si um enorme rol de qualidades arquitectónicas habitacionais.
Fig. 04
Interessante, porém, é focar uma característica fundamental presente no exemplo retratado, que resulta da apropriação dos utilizadores, sendo por isso uma qualidade que não é mensurável no projecto – Apropriação.
Esta qualidade encontra-se amplamente manifestada, sendo traduzida na forma como cada um aceitou o seu espaço e o tornou seu, apropriando-se deste e tornando-o singular. É muito interessante perceber que esta marcação, mais ou menos ténue, foi e é praticada das mais variadas formas, e onde nuns locais vemos um grelhador com a casota do cão, num outro vemos uma pequena horta muito bem tratada e verdejante e num outro ainda vemos um jardim semiprivado já que todos podemos vislumbrar e até tocar e cheirar.
Fig. 05
Este apropriar será certamente consequência da adaptabilidade - outra das qualidades arquitectónica patentes no empreendimento. Adaptabilidade urbana como marca territorial perceptível que resulta na densificação urbana cuidadosa entre os edifícios diferenciados e os seus espaços exteriores de usos diversos e positivamente apropriados e bem responsabilizados.
Todas as qualidades arquitectónicas habitacionais acrescentam valor aos empreendimentos. Mas no exemplo do “Bairro Luta pela Casa”, a apropriação é lapidar onde o exterior urbano, a sua clareza e orientação, a forma como os seus espaços são definidos e diferenciados se traduzem na geração e identificação de momentos fortes de surpresa e variabilidade.
Fig. 06
Notas sobre a operação e o projecto arquitectónico do “Bairro Luta pela Casa”:O projecto teve origem na associação de moradores: A LUTA PELA CASA, a operação, com a dimensão de 100 habitações, foi iniciada em Julho de 1975 e a obra teve início em Maio de 1977.
O projecto foi realizado no âmbito do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), serviço SAAL/Lisboa e Centro/Sul, com coordenação do Arq.º Manuel Madruga, e Brigada Técnica constituída por vários técnicos e designadamente por Dante Pinto Macedo e Fernando Machado Menezes.
Breves notas do editor:O autor, João Rainha Castro, é Arquitecto Partner do Gabinete QUADRANTE Arquitectura, licenciado em Arquitectura em 98-2003 no Instituto Superior Técnico (IST), frequenta, actualmente, o Programa de Doutoramento em Arquitectura e Desenho Urbano do DECA do Instituto Superior Técnico.
Este programa de doutoramento em Arquitectura é participado pelo LNEC e específica e sistematicamente pelos doutorados do seu Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU), com participações do seu Núcleo de Ecologia Social (NESO).
Advertência ao leitor
Nota da edição: embora os artigos editados na revista Infohabitar sejam previamente avaliados e editorialmente trabalhados pela edição da revista, eles respeitam, ao máximo, o aspecto formal e o conteúdo que são propostos, inicialmente pelos respectivos autores, sublinhando-se que as matérias editadas se referem, apenas, aos pontos de vista, perspectivas e mesmo opiniões específicas dos respectivos autores sobre essas temáticas, não correspondendo a qualquer tomada de posição da edição da revista sobre esses assuntos.
Infohabitar, Ano VI, n.º 311
Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte, 12 de Setembro de 2010
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