- Infohabitar 55
A 22 de Novembro de 2005 decorreu no Centro de Congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, a 3.ª Sessão Técnica do Grupo Habitar (GH). Foi uma primeira incursão do GH numa temática que é, hoje em dia, crucial para todos nós e para os nossos próprios projectos de vida, mas também para a vida das nossas cidades, pois o envelhecimento da população e o envelhecimento do seu quadro de vida são processos que se influenciam, mútua e muito negativamente.
Após uma introdução sobre a dinâmica do GH, a intervenção de base da sessão foi realizada pelo doutor Paulo Machado, sociólogo, Investigador do Núcleo de Ecologia Social do LNEC. Em seguida, e com as palavras do próprio Paulo Machado faz-se a síntese da sua intervenção:
“Num quadro de profundas transformações demográficas, sociais, culturais, políticas e económicas, as cidades portuguesas acordam, a cada dia que passa, mais envelhecidas.
Causa e efeito dessas mesmas transformações, o envelhecimento urbano não surpreende mas faz pensar sobre:
Levantaram-se nesta intervenção variadas e interessantíssimas questões, e entre estas destacam-se e ficam para próximo debate e aprofundamento:
Em seguida o Eng.º Duarte Nuno Ribeiro Gonçalves, Presidente da Direcção da Cooperativa Colmeia, apresentou um inovador e recém—inaugurado equipamento para idosos e crianças na zona do Parque das Nações , em Lisboa, projectado pelos arquitectos do gabinete SerraAlvarez.
Neste conjunto, merecedor de uma visita, associa-se um quarteirão urbano atraente e agradavelmente densificado, destinado a habitação, com um piso térreo quase inteiramente destinado a dois equipamentos “gémeos”, acessíveis a partir de uma entrada comum, ligada a um serviço de gestão central e também comum aos dois equipamentos:
Nesta mesma linha de Intervenção seguiram-se as palavras de Guilherme Vilaverde, Presidente da FENACHE (Federação das Cooperativas de Habitação Económica) e da Cooperativa As Sete Bicas, de Matosinhos, sobre um novo equipamento misto, residencial e de apoio a idosos, actualmente a ser iniciado por esta cooperativa.
É também de grande interesse a perspectiva desta cooperativa, que depois de ter proporcionado excelentes condições de habitação a muitas famílias, acompanha a evolução das necessidades destas famílias, agora muitas delas já idosas, e propõe uma nova tipologia de habitar, do tipo “residência assistida”, em que se associam 30 quartos com todo um leque completo de serviços de apoio a “seniores”, a um conjunto relativamente corrente de habitações (40 fogos).
Nos quartos da “residência assistida” vai haver idosos que irão pagar uma mensalidade “social” ao lado de outros quartos cujas mensalidades são ao nível “do mercado”.
Sublinha-se que esta experiência “mista” de habitação e habitação assistida está já a ser repetida pela Cooperativa noutros empreendimentos em fase de programação. Pode-se, assim, salientar, tal como disse G. Vilaverde, que a iniciativa cooperativa, depois do apoio à infância, ao convívio, e ao equipamento diário e social está, agora, a seguir no sentido do apoio diversificado aos idosos, mas sempre de uma forma integrada, integradora e muito positivamente caracterizada em cada sítio de intervenção.
Finalmente o arquitecto e Investigador António Reis Cabrita, da Direcção do Grupo Habitar, associou a temática dos idosos na cidade envelhecida às respostas que podem ser proporcionadas pelas novas tipologias de habitação.
Não se irá aqui fazer, naturalmente, uma síntese adequada desta intervenção, tal ficará para o próprio em artigo próprio, que terá, sem dúvida, grande actualidade. Referem-se, apenas, e informalmente, alguns temas de interesse que foram apontados:
. a importância do apoio/enquadramento social;
. a grande expressão numérica dos idosos na sociedade actual;
. a crescente semelhança entre família nuclear e família de idosos;
. a actual e crescente valorização do espaço do habitar individual (o que tem grande interesse na problemática dos idosos);
. o “fechamento territorial” que caracteriza o nosso envelhecimento – mas que se associa a outros aspectos de relação e caracterização territorial (ex., “eu transporto comigo o meu mundo”, “eu tenho o meu recanto”);
. a possibilidade de fazer o espaço do habitar e designadamente o espaço doméstico adaptar-se ao envelhecimento da família e aos mundos dos idosos – situação que pode concretizar-se numa perspectiva que privilegie, por exemplo, “não mudar o idosos, mas mudar a casa”;
. e a preocupação, que tem de ser constante, de fazer o espaço doméstico prolongar-se, natural e agradavelmente, pela vizinhança, pelo bairro e pela cidade.
. a valorização da adaptabilidade e a grande importância da acessibilidade (com sentido amplo);
. o desenvolvimento de níveis de satisfação ergonómica: (i) gerais, (ii) para idosos e (iii) para situações-limite (que provavelmente podem ter ainda um dado escalonamento);
. a aplicação de soluções de arquitectura moderna consideradas muito adequadas para idosos (ex., compartimentação adaptável, abertura ao exterior, exterior privado e acessibilidade urbanas);
. e o desenvolvimento de soluções tipológicas específicas (ex., sub-divisão, geminação e “suites”).
Tal como referiu Reis Cabrita, o idoso vai assumir, cada vez mais, um papel activo e muito diversificado na sociedade, papel este bem distinto do corrente estereotipo que ainda temos do mesmo idoso.
Sendo assim há que pensar de forma integrada na problemática dos idosos e das cidades, provavelmente focando os aspectos de envelhecimento de uns e outras, mas aproveitando todas as virtualidades e especificidades que possam contribuir para a melhoria das condições de vida dos idosos – que serão cada vez mais – e das condições de vida nas cidades, onde cada vez mais pessoas viverão. E tal como foi referido pelo Arq. José Bicho não podemos, de forma alguma, criar “guetos” para idosos, tal como, infelizmente, criámos alguns “guetos” de “habitação social.”
O debate marcou todas as intervenções havidas e generalizou-se no final da sessão. A ideia que fica é que é uma temática que exige um aprofundamento cuidadoso, uma discussão extensa e um sistemático confrontar entre os estudos e a prática, e tudo isto com um carácter de urgência e prioritário. E sendo assim o GH está já a preparar uma nova sessão técnica sobre esta temática noutra cidade do País.
Lisboa e Encarnação/Olivais N, 28 Novembro 2005
Contactos do Grupo Habitar: Porto, José Clemente Ricon, Arq. - jroliveira@inh.pt - Tel. 226079670 / Fax. 226079679; Lisboa: António Baptista Coelho, Arq. - abc@lnec.pt - Tel. 218443679 / Fax. 218443028
Os idosos na cidade e a cidade envelhecida – Sessão Técnica do Grupo Habitar
um artigo de António Baptista CoelhoA 22 de Novembro de 2005 decorreu no Centro de Congressos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, a 3.ª Sessão Técnica do Grupo Habitar (GH). Foi uma primeira incursão do GH numa temática que é, hoje em dia, crucial para todos nós e para os nossos próprios projectos de vida, mas também para a vida das nossas cidades, pois o envelhecimento da população e o envelhecimento do seu quadro de vida são processos que se influenciam, mútua e muito negativamente.
Após uma introdução sobre a dinâmica do GH, a intervenção de base da sessão foi realizada pelo doutor Paulo Machado, sociólogo, Investigador do Núcleo de Ecologia Social do LNEC. Em seguida, e com as palavras do próprio Paulo Machado faz-se a síntese da sua intervenção:
“Num quadro de profundas transformações demográficas, sociais, culturais, políticas e económicas, as cidades portuguesas acordam, a cada dia que passa, mais envelhecidas.
Causa e efeito dessas mesmas transformações, o envelhecimento urbano não surpreende mas faz pensar sobre:
- a sustentabilidade dos tecidos urbanos num contexto de esgotamento intergeracional,
- a capacidade de corresponder à satisfação das exigências técnicas (mais ligadas ao edifício e ao fogo), funcionais (de segurança, de mobilidade, de acessibilidade aos bens e serviços) e avaliativas (qualidade de vida auto-percepcionada) dos idosos residentes,
- a humanização possível da cidade como património cultural/civilizacional.
Levantaram-se nesta intervenção variadas e interessantíssimas questões, e entre estas destacam-se e ficam para próximo debate e aprofundamento:
- A satisfação relativa a um dado espaço de vivência alarga-se da casa, à rua, ao bairro e à cidade; e a compreensão da relação entre as pessoas e os espaços exige um grande esforço interdisciplinar e metodológico, designadamente, no sentido de se poder e dever reinventar o lugar onde se envelhece – da cidade, ao bairro e à célula doméstica.
- A inversão da antiga “pirâmide” etária é algo de irreversível e temos de saber/fazer viver (n)uma sociedade/cidade com um número muito grande de idosos (cada vez mais idosos), de pessoas que vivem sozinhas, de idosos que vivem sós e de idosos cuja solidão se associa à pobreza. E este é um problema muito crítico em zonas do interior do País; e aqui o meio citadino até pode proporcionar alguns aspectos positivos.
- A satisfação das exigências técnicas não corresponde à satisfação das necessidades de bem-estar. Há excelentes equipamentos de apoio a idosos, em termos de funcionalidade conforto ambiental, em que as pessoas se sentem menos bem porque estão fora do seu espaço de habitar conhecido e “familiar”. Acabam por se sentir estranhos num ambiente que lhes é estranho. Os equipamentos deviam ser das comunidades e não apenas da cidade; e além disto a cidade transformou-se, tal como disse Paulo machado, “essa nova cidade que é a minha cidade, mas que eu já não reconheço.”
- E uma nova cidade que é muito pouco amiga do natural vagar dos idosos na circulação e no uso dos espaços públicos, e, generalizando-se, uma cidade muito pouco amiga do peão. Um questão que tem uma visibilidade clara nos terríveis números dos atropelamentos, mas que tem uma raiz profunda, ainda nas palavras de Paulo Machado, ”numa dissociação entre a casa e a rua que primeiro se estranhou e, depois, se entranhou.” Mas uma questão que também se liga a uma cidade que já não é marcada, como devia ser, pela civilidade.
- Mas é possível e essencial intervir na cidade e nos seus espaços públicos e nos seus elementos de vitalização, como são os pólos de comércio diário. É possível mas há que ter presente que o tempo de intervenção necessário é muito longo, “o médio prazo da cidade é muito longo” (P. Machado).
Em seguida o Eng.º Duarte Nuno Ribeiro Gonçalves, Presidente da Direcção da Cooperativa Colmeia, apresentou um inovador e recém—inaugurado equipamento para idosos e crianças na zona do Parque das Nações , em Lisboa, projectado pelos arquitectos do gabinete SerraAlvarez.
Neste conjunto, merecedor de uma visita, associa-se um quarteirão urbano atraente e agradavelmente densificado, destinado a habitação, com um piso térreo quase inteiramente destinado a dois equipamentos “gémeos”, acessíveis a partir de uma entrada comum, ligada a um serviço de gestão central e também comum aos dois equipamentos:
- um deles destinado a crianças (a “Casa das Abelhinhas”);
- e o outro destinado à estadia prolongada de idosos (a “Casa dos Mestres”), onde se integram 30 quartos individuais e duplos, para 45 residentes, com excelentes condições de privacidade, funcionalidade e convívio;
- entre um e outro equipamento, no miolo do quarteirão, um espaço exterior de lazer constitui, de certa forma, um espaço de relação entre as crianças e os idosos.
Nesta mesma linha de Intervenção seguiram-se as palavras de Guilherme Vilaverde, Presidente da FENACHE (Federação das Cooperativas de Habitação Económica) e da Cooperativa As Sete Bicas, de Matosinhos, sobre um novo equipamento misto, residencial e de apoio a idosos, actualmente a ser iniciado por esta cooperativa.
É também de grande interesse a perspectiva desta cooperativa, que depois de ter proporcionado excelentes condições de habitação a muitas famílias, acompanha a evolução das necessidades destas famílias, agora muitas delas já idosas, e propõe uma nova tipologia de habitar, do tipo “residência assistida”, em que se associam 30 quartos com todo um leque completo de serviços de apoio a “seniores”, a um conjunto relativamente corrente de habitações (40 fogos).
Nos quartos da “residência assistida” vai haver idosos que irão pagar uma mensalidade “social” ao lado de outros quartos cujas mensalidades são ao nível “do mercado”.
Sublinha-se que esta experiência “mista” de habitação e habitação assistida está já a ser repetida pela Cooperativa noutros empreendimentos em fase de programação. Pode-se, assim, salientar, tal como disse G. Vilaverde, que a iniciativa cooperativa, depois do apoio à infância, ao convívio, e ao equipamento diário e social está, agora, a seguir no sentido do apoio diversificado aos idosos, mas sempre de uma forma integrada, integradora e muito positivamente caracterizada em cada sítio de intervenção.
Finalmente o arquitecto e Investigador António Reis Cabrita, da Direcção do Grupo Habitar, associou a temática dos idosos na cidade envelhecida às respostas que podem ser proporcionadas pelas novas tipologias de habitação.
Não se irá aqui fazer, naturalmente, uma síntese adequada desta intervenção, tal ficará para o próprio em artigo próprio, que terá, sem dúvida, grande actualidade. Referem-se, apenas, e informalmente, alguns temas de interesse que foram apontados:
- A grande diversidade de respostas para o habitar dos idosos, ligada à grande diversidade das condições exigidas por: idosos sós mas autónomos, agregados familiares envelhecidos, idosos com necessidade de apoios específicos, idosos com necessidades de apoios críticos, etc.
- A urgente necessidade de se considerarem grandes aspectos estratégicos, tais como:
. a importância do apoio/enquadramento social;
. a grande expressão numérica dos idosos na sociedade actual;
. a crescente semelhança entre família nuclear e família de idosos;
. a actual e crescente valorização do espaço do habitar individual (o que tem grande interesse na problemática dos idosos);
. o “fechamento territorial” que caracteriza o nosso envelhecimento – mas que se associa a outros aspectos de relação e caracterização territorial (ex., “eu transporto comigo o meu mundo”, “eu tenho o meu recanto”);
. a possibilidade de fazer o espaço do habitar e designadamente o espaço doméstico adaptar-se ao envelhecimento da família e aos mundos dos idosos – situação que pode concretizar-se numa perspectiva que privilegie, por exemplo, “não mudar o idosos, mas mudar a casa”;
. e a preocupação, que tem de ser constante, de fazer o espaço doméstico prolongar-se, natural e agradavelmente, pela vizinhança, pelo bairro e pela cidade.
- A afirmação que um serviço humanizado é mais importante do que uma estrutura física muito boa – mas contudo é muito importante esta mesma qualidade. E a afirmação que a integração social, comunitária e familiar do idoso é ainda mais importante do que esse serviço humanizado.
- Relativamente ao projecto destaca-se:
. a valorização da adaptabilidade e a grande importância da acessibilidade (com sentido amplo);
. o desenvolvimento de níveis de satisfação ergonómica: (i) gerais, (ii) para idosos e (iii) para situações-limite (que provavelmente podem ter ainda um dado escalonamento);
. a aplicação de soluções de arquitectura moderna consideradas muito adequadas para idosos (ex., compartimentação adaptável, abertura ao exterior, exterior privado e acessibilidade urbanas);
. e o desenvolvimento de soluções tipológicas específicas (ex., sub-divisão, geminação e “suites”).
Tal como referiu Reis Cabrita, o idoso vai assumir, cada vez mais, um papel activo e muito diversificado na sociedade, papel este bem distinto do corrente estereotipo que ainda temos do mesmo idoso.
Sendo assim há que pensar de forma integrada na problemática dos idosos e das cidades, provavelmente focando os aspectos de envelhecimento de uns e outras, mas aproveitando todas as virtualidades e especificidades que possam contribuir para a melhoria das condições de vida dos idosos – que serão cada vez mais – e das condições de vida nas cidades, onde cada vez mais pessoas viverão. E tal como foi referido pelo Arq. José Bicho não podemos, de forma alguma, criar “guetos” para idosos, tal como, infelizmente, criámos alguns “guetos” de “habitação social.”
O debate marcou todas as intervenções havidas e generalizou-se no final da sessão. A ideia que fica é que é uma temática que exige um aprofundamento cuidadoso, uma discussão extensa e um sistemático confrontar entre os estudos e a prática, e tudo isto com um carácter de urgência e prioritário. E sendo assim o GH está já a preparar uma nova sessão técnica sobre esta temática noutra cidade do País.
Lisboa e Encarnação/Olivais N, 28 Novembro 2005
Contactos do Grupo Habitar: Porto, José Clemente Ricon, Arq. - jroliveira@inh.pt - Tel. 226079670 / Fax. 226079679; Lisboa: António Baptista Coelho, Arq. - abc@lnec.pt - Tel. 218443679 / Fax. 218443028
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