Infohabitar,
Ano XV, n.º 681
Tipologias da arrumação doméstica –
Infohabitar 681
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)
Sobre as tipologias da arrumação doméstica
No que se refere às escolhas básicas a considerar em termos
de tipologias de arrumações domésticas, podemos ter duas soluções distintas,
uma mais urbana e outra mais rural: (i) a arrumação em "roupeiros de
cozinha", que permite grande acessibilidade a todos os géneros e produtos
guardados, uma fácil monitorização do seu estado de conservação e de eventuais
faltas, assim como uma forte capacidade de arrumação num espaço relativamente
reduzido, mas que tem de ser formalmente regular; (ii) e no caso de
predominância de um modo de vida mais rural, há a necessidade de apoiar
capacidades de arrumação culinária centradas em despensas amplamente
dimensionadas, e que podem ser integradas em espaços mal orientados, e até com
configurações irregulares e acabamentos sumários, cuja capacidade de arrumação
será tanto maior, quanto mais elevado for o grau de auto-suficiência da
habitação.
Em tudo isto há que dar a devida atenção à grande quantidade
de produtos comestíveis que, cada vez mais, são adquiridos, de uma vez só, em
grandes acções de abastecimento, que exigem elevada capacidade de arrumação
doméstica.
Aponta-se, em seguida, uma síntese tipológica de arrumações
domésticas desenvolvida por Sven Thiberg (1) : armário vestibular
multifuncional no “hall” de entrada do fogo; arrumação geral, numa posição
central e funcionalmente neutra; roupeiros nos quartos ou em pequenas circulações
comuns equipadas com grandes roupeiros e configurando zonas íntimas; armário de
lavandaria, com diversos espaços específicos para diversos usos; armário para
produtos alimentares, com diversos espaços específicos para diversos usos -
equipamento alternativo à tradicional despensa de cozinha e que pode ter uma
utilidade ampla, podendo até servir também como copa.
Fig. 01: é sempre possível e desejável inovar na definição de usos domésticos, incluindo as respectiva tipologias de arrumação - na imagem o que poderemos designar como "corredor/sala", incluindo recantos de estar e múltiplas soluções para arrumação de livros.
A arrumação na cozinha, talvez o "nó górdio" da arrumação doméstica
A elevada pressão funcional que se exerce na cozinha não
deve obrigar a que este espaço tenha, obrigatoriamente, um carácter de espaço
de "arrumação" ou de "montra" de máquinas electrodomésticas
ou de exercício de actividades quase laboratoriais. Se estas forem as opções
dos habitantes, naturalmente, tudo bem, mas a cozinha pode ser um compartimento
muito caloroso e amigável, onde as máquinas se integrem sem se dar por elas, e
onde se desenvolve a apropriação doméstica através de diversos tipos de
acabamentos.
Refere-se, ainda, que alguns electrodomésticos poderão
emigrar para outros espaços de serviço próximos – por exemplo, no caso de uma
pequena lavandaria doméstica – ou serem concentrados num pequeno espaço
próprio, acusticamente isolado, que liberta a cozinha para a sua função
culinária e convivial.
A arrumação em armários
fixos de cozinha é “regra” em todas as habitações, mas as condições de
capacidade, diversidade e funcionalidade da respectiva arrumação, com destaque
para a ergonomia e segurança no seu uso, podem ser e são habitualmente muito
distintas, exigindo, portanto, um adequado projecto bem pormenorizado e que
tenha, também, em conta a respectiva “imagem” criada: mais funcional/racional;
mais “doméstica”/”quente”; mais integrável com mobiliário móvel, etc.
A despensa de cozinha, a “velha” despensa de cozinha, que
estava e pode continuar a estar associada, geralmente, à arrumação de
comestíveis diversos e exigindo preparação elaborada, pode ser, eventualmente,
substituída por um despenseiro integrado no mobiliário fixo da cozinha e com
uma eficaz estruturação dos diversos espaços de arrumação disponíveis –
despenseiro este que, se diga, praticamente nunca existe. Salienta-se, ainda, a
excelente adequação de uma pequena despensa, fresca e sem luz natural, para a
existência de uma garrafeira.
A arrumação, dita, geral
A arrumação, dita, geral parece estar, desde há bastante
tempo, esquecida, pois na realidade ocupa espaços, teoricamente, “melhor”
utilizados directamente como espaço habitável.
No entanto uma “despensa geral”, adequadamente dimensionada
e funcionalizada pode ser um trunfo na arrumação doméstica, libertando espaço
para outras funções e/ou sendo utilizada para as mais diversas funções (ex.,
arrumação: estruturada de livros menos usados, do vestuário de Inverso ou de
Verão, de ferramentas diversas, de brinquedos fora de uso, etc.).
As funções de arrumação geral podem, naturalmente, também
serem cumpridas em armários embutidos e com diversas partes e elementos
disponibilizados para arrumações específicas, devendo cumprir-se, aqui,
globalmente, o tipo de exigências assinaladas para os roupeiros dos quartos,
mas talvez com redução da importância da arrumação específica de roupas de
vestir.
A arrumação nos quartos: reflexões complementares
Já se abordou, nesta série editorial, a matéria da arrumação
nos quartos e a ideia aqui é apenas sublinhar que a sua disponiblização deve
tender para o desenvolvimento de verdadeiros quartos de vestir e de apoio a
diversas tipologias de arrumação pessoal, sempre que haja disponibilidade para
tal, pois assim se liberta a zona de dormir e de outras actividades pessoais de
lazer e trabalho de um teor funcional específico, pois não tenhamos dúvidas que
a melhor arrumação é aquela mais ergonómica e mais pormenorizada no apoio às
inúmeras necessidades de arrumação - por exemplo, desde as camisas, aos casacos
longos e desde os sapatos às malas e sacos variados.
O quarto de hotel é a prova da adequação do que acabou de
ser apontado e nele temos, quase sempre, a zona de vestir "destacada"
da zona principal onde se integra a cama ou camas; naturalmente que este
exemplo deverá crescer, funcional e dimensionalmente, num programa doméstico.
Quando há condicionantes económicas uma possibilidade é
disponibilizar uma ampla e complementar capacidade de arrumação num espaço
neutral e comum a todos os habitantes do respectivo fogo, por exemplo, num
corredor.
Em termos de aproveitamento espacial os roupeiros são
excelentes desde que ocupando o máximo da altura disponível e estando
organizados em diversas valências de arrumação, sendo, assim necessariamente
caracterizados por adequadas condições de capacidade, diversidade e
funcionalidade da respectiva arrumação, com destaque para a ergonomia e
segurança no seu uso, exigindo, portanto, um adequado projecto bem
pormenorizado e que tenha, também, em conta a respectiva “imagem” criada,
sendo, provavelmente, desejável uma imagem “neutral”, talvez com acabamentos
naturais ou idênticos aos da paredes contíguas. Quando esse tipo de cuidados de
adequada estruturação pormenorizada da arrumação não existem, os roupeiros
podem vir a tornar-se em sítios de potencial "arrumação" caótica,
que, a prazo, se torna mais num problema do que numa vantagem.
Notas:
(1) Sven
Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden ", p. 186.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo
sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XV, n.º 681
Tipologias da arrumação doméstica –
Infohabitar 681
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP
– Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal
com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo/LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia
Civil
Revista do GHabitar (GH) Associação
Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação
com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Apoio à Edição: José Baptista Coelho -
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
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