terça-feira, abril 02, 2019

681 - Tipologias da arrumação doméstica – Infohabitar 681

Infohabitar, Ano XV, n.º 681                      
Tipologias da arrumação doméstica – Infohabitar 681
Artigo da Série “Habitar e Viver Melhor”
por António Baptista Coelho (texto e imagem)


Sobre as tipologias da arrumação doméstica

No que se refere às escolhas básicas a considerar em termos de tipologias de arrumações domésticas, podemos ter duas soluções distintas, uma mais urbana e outra mais rural: (i) a arrumação em "roupeiros de cozinha", que permite grande acessibilidade a todos os géneros e produtos guardados, uma fácil monitorização do seu estado de conservação e de eventuais faltas, assim como uma forte capacidade de arrumação num espaço relativamente reduzido, mas que tem de ser formalmente regular; (ii) e no caso de predominância de um modo de vida mais rural, há a necessidade de apoiar capacidades de arrumação culinária centradas em despensas amplamente dimensionadas, e que podem ser integradas em espaços mal orientados, e até com configurações irregulares e acabamentos sumários, cuja capacidade de arrumação será tanto maior, quanto mais elevado for o grau de auto-suficiência da habitação.

Em tudo isto há que dar a devida atenção à grande quantidade de produtos comestíveis que, cada vez mais, são adquiridos, de uma vez só, em grandes acções de abastecimento, que exigem elevada capacidade de arrumação doméstica.

Aponta-se, em seguida, uma síntese tipológica de arrumações domésticas desenvolvida por Sven Thiberg (1) : armário vestibular multifuncional no “hall” de entrada do fogo; arrumação geral, numa posição central e funcionalmente neutra; roupeiros nos quartos ou em pequenas circulações comuns equipadas com grandes roupeiros e configurando zonas íntimas; armário de lavandaria, com diversos espaços específicos para diversos usos; armário para produtos alimentares, com diversos espaços específicos para diversos usos - equipamento alternativo à tradicional despensa de cozinha e que pode ter uma utilidade ampla, podendo até servir também como copa.


Fig. 01: é sempre possível e desejável inovar na definição de usos domésticos, incluindo as respectiva tipologias de arrumação - na imagem o que poderemos designar como "corredor/sala", incluindo recantos de estar e múltiplas soluções para arrumação de livros.  

A arrumação na cozinha, talvez o "nó górdio" da arrumação doméstica

A elevada pressão funcional que se exerce na cozinha não deve obrigar a que este espaço tenha, obrigatoriamente, um carácter de espaço de "arrumação" ou de "montra" de máquinas electrodomésticas ou de exercício de actividades quase laboratoriais. Se estas forem as opções dos habitantes, naturalmente, tudo bem, mas a cozinha pode ser um compartimento muito caloroso e amigável, onde as máquinas se integrem sem se dar por elas, e onde se desenvolve a apropriação doméstica através de diversos tipos de acabamentos.

Refere-se, ainda, que alguns electrodomésticos poderão emigrar para outros espaços de serviço próximos – por exemplo, no caso de uma pequena lavandaria doméstica – ou serem concentrados num pequeno espaço próprio, acusticamente isolado, que liberta a cozinha para a sua função culinária e convivial.

A  arrumação em armários fixos de cozinha é “regra” em todas as habitações, mas as condições de capacidade, diversidade e funcionalidade da respectiva arrumação, com destaque para a ergonomia e segurança no seu uso, podem ser e são habitualmente muito distintas, exigindo, portanto, um adequado projecto bem pormenorizado e que tenha, também, em conta a respectiva “imagem” criada: mais funcional/racional; mais “doméstica”/”quente”; mais integrável com mobiliário móvel, etc.

A despensa de cozinha, a “velha” despensa de cozinha, que estava e pode continuar a estar associada, geralmente, à arrumação de comestíveis diversos e exigindo preparação elaborada, pode ser, eventualmente, substituída por um despenseiro integrado no mobiliário fixo da cozinha e com uma eficaz estruturação dos diversos espaços de arrumação disponíveis – despenseiro este que, se diga, praticamente nunca existe. Salienta-se, ainda, a excelente adequação de uma pequena despensa, fresca e sem luz natural, para a existência de uma garrafeira.

A arrumação, dita, geral

A arrumação, dita, geral parece estar, desde há bastante tempo, esquecida, pois na realidade ocupa espaços, teoricamente, “melhor” utilizados directamente como espaço habitável.

No entanto uma “despensa geral”, adequadamente dimensionada e funcionalizada pode ser um trunfo na arrumação doméstica, libertando espaço para outras funções e/ou sendo utilizada para as mais diversas funções (ex., arrumação: estruturada de livros menos usados, do vestuário de Inverso ou de Verão, de ferramentas diversas, de brinquedos fora de uso, etc.).

As funções de arrumação geral podem, naturalmente, também serem cumpridas em armários embutidos e com diversas partes e elementos disponibilizados para arrumações específicas, devendo cumprir-se, aqui, globalmente, o tipo de exigências assinaladas para os roupeiros dos quartos, mas talvez com redução da importância da arrumação específica de roupas de vestir.

A arrumação nos quartos: reflexões complementares

Já se abordou, nesta série editorial, a matéria da arrumação nos quartos e a ideia aqui é apenas sublinhar que a sua disponiblização deve tender para o desenvolvimento de verdadeiros quartos de vestir e de apoio a diversas tipologias de arrumação pessoal, sempre que haja disponibilidade para tal, pois assim se liberta a zona de dormir e de outras actividades pessoais de lazer e trabalho de um teor funcional específico, pois não tenhamos dúvidas que a melhor arrumação é aquela mais ergonómica e mais pormenorizada no apoio às inúmeras necessidades de arrumação - por exemplo, desde as camisas, aos casacos longos e desde os sapatos às malas e sacos variados.

O quarto de hotel é a prova da adequação do que acabou de ser apontado e nele temos, quase sempre, a zona de vestir "destacada" da zona principal onde se integra a cama ou camas; naturalmente que este exemplo deverá crescer, funcional e dimensionalmente,  num programa doméstico.

Quando há condicionantes económicas uma possibilidade é disponibilizar uma ampla e complementar capacidade de arrumação num espaço neutral e comum a todos os habitantes do respectivo fogo, por exemplo, num corredor.

Em termos de aproveitamento espacial os roupeiros são excelentes desde que ocupando o máximo da altura disponível e estando organizados em diversas valências de arrumação, sendo, assim necessariamente caracterizados por adequadas condições de capacidade, diversidade e funcionalidade da respectiva arrumação, com destaque para a ergonomia e segurança no seu uso, exigindo, portanto, um adequado projecto bem pormenorizado e que tenha, também, em conta a respectiva “imagem” criada, sendo, provavelmente, desejável uma imagem “neutral”, talvez com acabamentos naturais ou idênticos aos da paredes contíguas. Quando esse tipo de cuidados de adequada estruturação pormenorizada da arrumação não existem, os roupeiros podem vir a tornar-se em sítios de potencial "arrumação" caótica, que, a prazo, se torna mais num problema do que numa vantagem.

Notas:
(1) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 186.


Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XV, n.º 681
Tipologias da arrumação doméstica – Infohabitar 681

Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo/LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil



Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

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