Infohabitar, Ano XV, n.º 670
Os muitos sítios de uma boa habitação I - Infohabitar 670
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”por António Baptista Coelho (texto e imagens)
Nota importante:
retoma-se, com este artigo, a publicação da Série editorial “Habitar e Viver Melhor”,
cujo último artigo foi publicado, aqui na Infohabitar, em maio de 2018.
Sobre uma habitação feita mais por sítios
específicos do que por espaços ditos de/para actividades e funções domésticas
Aproveitando para lembrar, entre outros autores
Arquitectos, o grande Christopher Alexander e a sua incontornável “linguagem de
padrões”, que tanto influenciou tanta gente e é tão poucas vezes citada ou
referenciada, podemos referir que uma habitação, um mundo doméstico que, para o
ser, tem de integrar, potencialmente, os vários mundos domésticos específicos
dos respectivos habitantes, mais o respectivo agregado comum e convivial, muito
mais do que um “simples” complexo funcional – e ainda assim o número de funções
é extenso – deveria ser constituído e constituível por uma potencial e muito
extensa diversidade de “cantos”, “recantos” e “sítios” adequados a uma enorme
variedade de misturas funcionais e apropriações pessoais e de grupo específicas
e dinâmicas.
Sobre a previsão destes tipo de “cantos”, “recantos”
e “sítios” domésticos, que são, em boa
parte, os grandes responsáveis pela criação de um grande mundo pessoal e familiar,
destacam-se alguns aspectos muito variados e, designadamente, de agradabilidade
e de conforto ambiental, de adaptabilidade, de funcionalidade com sentido lato
e de adequada, rica e apropriável pormenorização arquitectónica, que, em
seguida, muito brevemente se apontam – não exaustivamente (trata-se de um texto
naturalmente dinâmico):
Sítios de conviver/estar, cozinhar e tomar refeições
Uma cozinha ampla e convidativa, porque com muita
luz natural e bem localizada/acessível a partir de fora da habitação pode
constituir um excelente espaço focal doméstico, muito apto para inúmeras
actividades, desde a preparação de refeições tanto numa perspectiva funcional
como noutra convivial, ao tomar de refeições informais ou mesmo formais, até,
por exemplo, o acompanhamento de crianças em trabalhos escolares e no seu
recreio, até à prática de passa-tempos específicos que, por exemplo, exijam boa
luz, bancadas de trabalho funcionais e fácil limpeza; e, naturalmente, este
“novelo” de actividades pode e deve incluir a possibilidade do estar/lazer
acompanhando, ou não, aquelas outras actividades.
Uma outra óptima alternativa ao sítio de TV e cinema
em casa é, també, este "sítio de cozinhar e conviver", um espaço que
corresponde a uma cozinha de família, ou mesmo a uma sala de família, informal,
e onde se integre um desafogado espaço para cozinhar e para refeições, neste
último caso, além de um espaço específico de estar/lazer.
E, consequentemente, podemos estar a “libertar” a
sala-comum, essencialmente, para actividades ligadas ao estar e ao lazer e
recreio domésticos, eventualmente, menos informais; podendo, no entanto,
existir sempre uma opção alternativa para refeições mais formais e com
numerosos convivas nesse espaço – por exemplo, através de mobiliário escamoteável (dobrável, extensível, etc.).
Fig. 01: Os muitos sítios, possíveis e desejáveis num boa habitação.
Fig. 01: Os muitos sítios, possíveis e desejáveis num boa habitação.
Sítios de repousar/estar
Sobre o interesse da previsão de sítios específicos
para repousar, apenas se aponta não fazer qualquer sentido aquela já velha e
gasta previsão exclusiva de quartos com camas, de um lado, e salas com sofás do
outro, estando estes sofás virados para a televisão: e mais nada.
Sempre que possível o quarto deve oferecer condições
de repouso e leitura numa cadeira confortável, e na sala e mesmo na cozinha
deve ser possível "estar/lazeirar", assim como em varandas e outros
exteriores privados.
E outros espaços da habitação serão propícios a
sítios/recantos de repouso, lazer, leitura, etc.
Naturalmente que o espaço doméstico tem custos e,
portanto, limites, mas, por vezes, é muito menos questão de espaço a mais, mas
essencialmente de um bom projecto/previsão de variadas formas de ocupação; e um
sofá não tem de ser um enorme elemento de mobília; e pode bastar uma boa
cadeira de descanso.
Afinal um bom “estar” doméstico contrapontua e
complementa, muito positivamente, uma boa estrutura de circulação doméstica; e
uma habitação é, evidente e naturalmente, um espaço de estar, de estadia, de
permanência.
Naturalmente que bons sítios de repousar e estar
exigem adequados e diversos cuidados de conforto ambiental, talvez com um
enfoque especial nas condições de iluminação natural e/ou artificial.
Sítios de conversar
Os sítios de conversar, estar e conviver fazem muito
por uma boa habitação
Sobre os sítios conversar, estar e conviver é
realmente fundamental que toda a habitação seja estruturada com esse objectivo
convivial, seja na entrada, seja do lado de fora da entrada, seja nos espaços
de refeições, seja na zona de estar e nos quartos, seja nos espaços exteriores
privativos, seja nas zonas de passagem; e este objectivo é verdadeiramente
estruturante de uma habitação que, positivamente, nos “rodeie” e ampare e tem a
ver com o desenvolvimento de adequadas condições dimensionais, ambientais e
relacionais, bem equilibradas e que, portanto, tanto podem e devem marcar pequenos
estúdios como grandes apartamentos.
Sítios com escadas
Os sítios com escadas são lugares naturalmente
estimulantes e sendo-o devem ser aproveitados, ao máximo, na sua relação com os
outros espaços domésticos e através da sua pormenorização específica,
tornando-os simbólicos e evidenciados, mas procurando sempre não quebrar
relações de privacidade.
Sótãos habitados
Os sótãos habitados/habitáveis são lugares
naturalmente estimulantes e misteriosos, sendo fundamental que a sua
acessibilidade e as suas condições de isolamento térmico e ventilação sejam bem
previstas de modo a que possam ter uma utilidade maximizada.
Caves habitadas
As caves habitadas/habitáveis são também lugares
naturalmente estimulantes e misteriosos, sendo fundamental que a sua acessibilidade
e as suas condições de isolamento térmico e ventilação sejam bem previstas de
modo a que possam ter uma utilidade maximizada.
Sítios com banheiras
O desenvolvimento de sítios com banheiras corresponde,
basicamente, à recuperação de uma tipologia de verdadeira "casa de
banho", que naturalmente será marcada pela banheira e que poderá optar
pela separação da zona de sanita em espaço próprio, ganhando-se numa ambiente
de "sala de banhos", polarizada pela banheira e quase obrigatoriamente
dispondo de luz e ventilação naturais, condições que permitirão a existência de
plantas, que completarão um agradável ambiente.
E
a banheira poderá ainda “emigrar”, da casa de banho, para outras zonas
domésticas, aliás, num percurso de sentido inverso ao que fez ao longo da
história do espaço doméstico, pois há muitos anos os banhos eram tomados nos
quartos ou mesmo nas salas junto das lareiras.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo
sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XV, n.º 670
Os muitos sítios de uma boa habitação I -
Infohabitar 670
Artigo da Série “Habitar e Viver
Melhor”
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
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com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
Apoio à Edição: José Baptista Coelho -
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
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