Infohabitar n.º 572 - Ano XII
Motivar
o uso dos espaços exteriores privados – Infohabitar n.º 572
Artigo
LXXXIX da Série habitar e viver melhor
António Baptista Coelho
Hábitos interessantes no exterior privado
Alexander
refere (1) que o jardim, o terraço e o pátio domésticos foram, ao longo da
história, espaços realmente habitados, privados e aprazíveis, ainda que
pequenos eram verdadeiros “compartimentos” da casa, embora sem tecto
construído, constituindo verdadeiras salas de estar e saletas ao ar livre. Uma
virtualidade doméstica que estava, naturalmente, associada aos grupos sociais
mais favorecidos – lembremos Roma e a disparidade das condições domésticas
entre quem vivia em Villas ou em Insula - , mas que hoje em dia pode ser
“reciclada” para um uso muito mais universal e vulgarizado, até porque espaços
sem janelas e quase sem instalações são espaços baratos de construir.
Naturalmente
que para se conseguirem bons resultados na criação de verdadeiro espaços
domésticos de estar, de convívio e de refeições no exterior privativo há, como
já se apontou atrás, que os orientar e proteger bem relativamente às condições
de insolação e de ventos dominantes, e que os pormenorizar e caracterizar como
suficientemente encerrados ou com configurações fortemente afirmadas,
nomeadamente, nos cantos, e com amplas zonas cobertas ou bem protegidas por
toldos e pérgulas; e estes ambientes deverão ser expressivamente recatados em
relação ao exterior público e claramente revelados e exibidos no interior
doméstico, nomeadamente, através de janelas panorâmicas, que propiciem uma
estratégica e sempre estimulante fusão de amplos espaços interiores e
exteriores.
Fig.
01: pequenos pátios privados no terraço de multifamiliares, mas com todo o caráter de exteriores "térreos" - exterior de habitações do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Ralph Erskine.
.
Motivar o uso do exterior privado
Como
características desejáveis nos espaços para permanência no exterior privado,
além de terem uma adequada insolação e estarem protegidos do vento e
proporcionarem vistas exteriores agradáveis e úteis, salienta-se a respectiva
capacidade para aceitarem conjuntos de mobiliário de exterior e equipamentos
para lazer e tempos livres, capazes de motivarem o estar no exterior de
pessoas, isoladamente ou em grupo.
Como
condições mínimas, por exemplo, uma varanda deve disponibilizar espaço para um
pequeno grupo de pessoas sentadas em torno de uma mesa ou para duas cadeiras de
repouso lado a lado, enquanto um quintal privado deve proporcionar uma zona
pavimentada para se realizarem pequenas festas e convívios domésticos.
Segundo
Alexander, os espaços exteriores elevados mais usados são aqueles com dimensões
mínimas de cerca de 1.80m (outro patamar ainda mais reduzido é definido pela
dimensão mínima de 1.20m), total ou parcialmente reentrantes nos volumes
edificados, ou "amparados" em saliências desses mesmos volumes,
porque são sentidos como mais privados (relativamente a vizinhos), abrigados e
seguros. (2)
Utilizando
elementos de um estudo que realizei para o LNEC em 2000 (ITA 2, “Do bairro e da
vizinhança à habitação”), e em termos de conforto ambiental no exterior é
essencial que os espaços exteriores privativos estejam resguardados dos ventos
e tenham agradável exposição ao Sol, essencialmente, de manhã e ao fim da
tarde.
Por
exemplo, o uso das "loggias", sendo mais satisfatório do que o uso de
varandas com idênticas configurações, é também mais sensível à escolha das
melhores orientações, relativamente ao Sol, aos ventos dominantes, à
proximidade dos ângulos dos edifícios e à altura ao solo (o vento aumenta
próximo desses ângulos e com a referida altura) e aos ruídos exteriores; e
sobre esta temática Lamure é da opinião que não se podendo desenvolver
"loggias" com excelentes condições de conforto ambiental mais vale
atribuir esses espaços ao interior dos respectivos fogos (3), o que parece ser
uma excelente opção e uma opção que faz evidenciar a questão do encerramento
anárquico de marquises.
Fig. 02: exemplo do que pode ser a grande diversidade de espaços exteriores privados - exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of
Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em
2001 (ver nota final) - Arquitetura: Greger Dahlström.
Opções no exterior privado
Nesta
matéria julga-se importante destacar três opções de actuação: uma primeira que
passa pela previsão inicial de um encerramento de determinados espaços por
marquises; uma segunda opção que passa pela oferta de espaços abertos mas cujo
encerramento seja opcional, embora esteja perfeitamente clarificado em termos
das suas soluções e imagens pormenorizadas; e uma terceira opção referida à
tolerância zero relativamente a qualquer encerramento por marquises que não
esteja convenientemente previsto e que, portanto, resultará sempre na grave
deterioração da imagem do respectivo edifício.
Um aspecto
fundamental em tudo isto e que pode mesmo anular toda a potencialidade de uso
do exterior privativo, caso não seja adequadamente considerado, refere-se à
necessidade de serem disponibilizadas perfeitas condições de
segurança nesses espaços para o recreio de crianças; condições estas ligadas,
essencialmente, à anulação ou redução dos riscos de queda das crianças para o
exterior do respectivo espaço e de intrusão facilitada a partir do exterior.
Fig. 03: exemplo de uma marquise que alia uma excelente vista paisagística a uma excelente imagem urbana da sua própria aparência (uma solução de verdadeira transparência no encerramento de uma varanda) - exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Johan Nyrén.
Vistas nos exteriores privados
Uma outra matéria determinante no uso dos espaços exteriores privativos refere-se às vistas que eles devem propiciar, que devem ser interessantes sobre a rua e a paisagem envolvente, e à inexistência de quebras de intimidade doméstica, seja do exterior sobre estes espaços, seja a partir destes espaços sobre idênticos espaços privativos contíguos ou da vizinhança em grande proximidade. E nesta matéria o comentário que há que fazer é da ausência de sentido que tem qualquer varanda, ou outro espaço exterior privativo, cujo uso prejudique a intimidade e o conforto de outros espaços privados contíguos ou próximos.
Notas
(1) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray
Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp.
672 e 673.
(2) Christopher Alexander;
Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje
de Patrones", pp. 687 e 688.
(3) Claude Lamure,
"Adaptation du Logement à la Vie Familiale", p. 210.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional
Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas
aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes
ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos
referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos
respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 572
Artigo
LXXXIX da Série habitar e viver melhor
Motivar
o uso dos espaços exteriores privados – Infohabitar n.º 572
Editor: António Baptista
Coelho
–abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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