Inovar
no exterior privado – Infohabitar n.º 574
António Baptista Coelho
Artigo
XCI da Série habitar e viver melhor
Novidades e tendências nos espaços exteriores privados
Já falámos
nesta série editorial e designadamente nos últimos artigos, de muitos aspectos
associados a esta matéria dos novos caminhos no desenvolvimento de espaços
exteriores privativos.
Importa, no
entanto, fazer aqui mais algumas notas específicas para alguns aspectos que
estão actualmente na primeira linha da atenção pública e por isso iremos
comentar, brevemente, alguns aspectos ligados com a pormenorização da
densificação urbana, associados à intensificação da naturalização do espaço
urbano e ligados à integração doméstica de marquises/estufas – matérias abordadas
no livro do LNEC, de minha autoria, intitulado “Do bairro e da vizinhança à
habitação”.
Segundo
Claude Lamure, o pátio faz aumentar a densidade e a intimidade do habitat
unifamiliar proporcionando uma utilização múltipla (desde trabalhos ligados ao
serviço doméstico, até horticultura e jardinagem limitadas e funções de estar e
recreio); segundo o autor, as respectivas áreas mínimas variam entre 30 e 40m²,
devendo crescer sensivelmente nas habitações com maior número de quartos, caso
contrário, defende o autor, produzem-se conflitos entre recreio de crianças e
outras actividades (1).
Fig. 01: pátio privado de habitação unifamiliar
e/ou de habitação integrada em piso térreo de edifício multifamiliar
- exterior de habitações do conjunto urbano "Bo01
City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em
Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Henrik Haremst.~
Exterior privado construindo exterior público aliciante
O estar
exterior exige, simultaneamente, insolação, abrigo dos ventos dominantes e uma
ponderada e graduável intimidade (ponderada, porque, por exemplo, os idosos apreciam
vistas de actividades).
A graduação
da intimidade pode realizar-se, simplesmente, pela opção entre diferentes tipos
e alturas de vedações, desde que com imagens públicas prévia e adequadamente
coordenadas em termos de imagem urbana; diferentes tipos de sebes e de vedações
podem proporcionar essas condições, para além de estimularem o convívio natural
entre vizinhos ocupados na sua manutenção. Um outro processo simples de se
conseguir essa diferenciação é a existência de uma marcada diferença de nível
entre o espaço público e os terraços ou pátios privados contíguos.
Naturalmente
que um projecto urbano e habitacional densificado, designadamente, através da
introdução de pátios privados, exige um extremo cuidado de pormenorização,
sendo possíveis estimulantes misturas tipológicas uni e multifamiliares, assim
como a conjugação entre diversas tipologias habitacionais nos mesmos edifícios;
não será um projecto ao alcance de quem conceba/desenhe menos bem, mas são soluções
extremamente aliciantes pela aliança que nos oferecem entre privacidade e
apropriação de cada “mundo” privado – onde por exemplo se entre através de um
pequeno pátio murado e privativo – e potenciais agregações densificadas e
orgânicas ou racionalizadas de elevados números de habitações, num acentuar de
um “mundo” público também muito estimulante e, potencialmente, muito
diversificado.
Quanto ao
potencial de intensa naturalização do espaço urbano, por introdução de
multifacetados elementos de verde urbano, numa estratégia de fixação de
carbono, amenização climática, redução de poluição, apoio à apropriação dos
diversos espaços e suavização do ambiente citadino, numa sintética referência
às múltiplas vantagens do verde urbano, essa intensa naturalização encontra nos
espaços exteriores privativos e comuns os seus locais de eleição, desde as
estreitas jardinetas frontais, aos profundos quintais traseiros, às floreiras
nas fachadas e às filas de vasos e floreiras em varandas e terraços; e isto
para não falar nas coberturas “verdes”.
Tal como
apontei, há alguns anos, no livro do LNEC “Do bairro e da vizinhança à
habitação”, são muito variadas as formas que podem assumir as plantas nos
edifícios (ex., floreiras mais ou menos salientes, pequenos jardins de cobertura,
trepadeiras, vasos evidenciados, caramanchões, pérgulas protegendo zonas
exteriores, etc.), e, naturalmente, os respectivos conteúdos de expressão, que
contribuem para as imagens gerais dos edifícios onde se integram, são, pelo
menos tão variados e sempre muito ricos, porque relativamente livres (uma
planta nunca é igual a outra, quanto muito é idêntica).
De certo esta
matéria corresponde a uma composição de arquitetura urbana com duas variáveis
básicas: tipo de dispositivo de suporte da vegetação; e características formais
e vegetativas das plantas usadas. Um interessante exemplo desta variedade de
soluções é proporcionado pelas "floreiras interiores" ("internal
closed window boxes") (2), que parecem ser capazes de produzir uma
belíssima conjugação de planos contíguos, marcando a profundidade dos vãos.
Fig. 02: um projecto urbano e habitacional
densificado, designadamente, através da introdução de pátios privados, exige um
extremo cuidado de pormenorização, sendo possíveis estimulantes misturas
tipológicas uni e multifamiliares - exterior de habitações do
conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito
da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Greger
Dahlström.
O interesse da natureza no meio urbano
É também
muito interessante verificar o importante efeito bilateral que podem ter,
facilmente, as floreiras que rematam espaços exteriores privados e elevados: pelo
lado privado, e ao nível das respectivas habitações, aumentam a segurança da varanda,
"loggia" ou terraço e diminuem ou anulam possíveis efeitos de
vertigem, para além de terem uma imagem envolvente que simula a contiguidade
com um jardim (nas vistas a partir do interior do fogo); pelo lado público,
fazem descer a vegetação sobre a rua, humanizando-a, em escala e em conteúdo
residencial.
E tal como refere
Cliff Tandy (3) "as plantas de interior (e as situadas no limiar
exterior/interior) têm as seguintes funções: relacionar espaços interiores;
ligar espaços interiores e exteriores; proporcionar privacidade, filtros e
barreiras visuais; demarcar fronteiras; e complementar ou contrastar, formal,
textural e cromaticamente materiais, superfícies e objectos contíguos ou
próximos."
Há, portanto,
um enorme leque de soluções de integração do verde nos edifícios habitacionais
e suas envolventes. Não é “obrigatório” uma tal integração, mas não é possível
fingir-se que não existem tais possibilidades e que uma tal integração tem
inúmeras vantagens, tal como acima se salientou.
Fig. 03: o interesse, privado e público, da
natureza no meio urbano, uma matéria que tem muito a desenvolver - exterior de habitações do conjunto
urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da
exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Kai
Wartiainem, Ingrid Reppen.
Marquises envidraçadas
Considerando,
agora, o espaço “interior” doméstico, e segundo Luc Bourdeau (4), a existência
de uma marquise envidraçada profunda, concebida de raiz como estufa/solário, é
um elemento que contribui para a poupança energética no aquecimento da habitação,
durante o tempo frio, e além disto está provado que fomenta a criação de
plantas em casa e, cumulativamente, proporciona a prática de diversas
actividades (como por exemplo, tomar refeições, repousar, realizar passatempos,
trabalhar), num espaço exterior/interior, e portanto, em agradável contacto com
o exterior ambiental, paisagístico e urbano; e salienta-se, ainda, que uma
parte significativa destas actividades continuam a ser praticadas também, na
estufa/solário, durante o Inverno, garantindo-se, assim, uma continuidade de
relacionamentos com o exterior.
Para o bom
funcionamento das estufas/solários ao longo de todo o ano, considerando a sua
contribuição para uma boa temperatura interior, é necessário que nelas existam
vãos exteriores e dispositivos de sombreamento reguláveis, e que sejam mantidos
vãos envidraçados e controláveis entre elas e os compartimentos contíguos; o
que permitirá aos habitantes a escolha, diária, entre o aproveitamento do calor
acumulado na estufa, ou o seu bloqueio nesse espaço, seguido de simples
operações de ventilação que o rejeitem para o exterior. Comenta-se, ainda, que
esta opção de falar das marquises ou estufas como espaços exteriores privativos
é, naturalmente, discutível, pois elas são, exactamente, espaços de limiar e de
transição entre exterior e interior.
E conclui-se,
nesta série editorial, esta matéria dos espaços exteriores privados, referindo que
quem nunca teve o privilégio de habitar um jardim privado, ainda que pequeno,
mas bem orientado e dimensionado, ou uma ampla varanda bem desenhada,
dimensionada e orientada – recebendo o sol matinal e fresca ao final da tarde
-, não sabe realmente as vantagens em termos de ambiente e de vivência que tais
espaços do habitar nos proporcionam; uma matéria a desenvolver, sem dúvida!
Notas
(1) Claude
Lamure, "Adaptation du Logement à la Vie Familiale", p. 210.
(2) Cliff
Tandy (Ed.), "Handbook of Urban Landscape", p. 256.
(3) Cliff
Tandy (Ed.), "Handbook of Urban Landscape", p. 252.
(4) Luc
Bourdeau, "Satisfaction and Behavior of the Occupants of Buildings with
Sunspaces, Influence on the Energy Savings", p. 107.
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional
de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das
Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e
quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da
Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de
soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios
técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto
de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 574
Artigo
XCI da Série habitar e viver melhor
Inovar
no exterior privado – Infohabitar n.º 574
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.
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