quarta-feira, setembro 12, 2012

407 - A natureza num jogo urbano humanizado (artigo); e notícias do 2.º CIHEL - Infohabitar 407


Infohabitar Ano VIII, N.º 407

Notícias do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono – 2.º CIHEL - http://2cihel.lnec.pt/2cihel.html

Esta pequena notícia marca o final da informação aos autores relativamente à submissão de artigos ao 2.º CIHEL; todas as respostas já seguiram endereçadas aos e-mails remetentes dos respectivos resumos de artigos.

O próximo prazo corresponde à entrega das comunicações completas e elementos complementares e é 22 de Outubro de 2012.

Agradece-se a contribuição já proporcionada e solicita-se o máximo respeito deste prazo e das indicações/instruções enviadas integradas no template que acompanhou a apreciação das comunicações.

Salienta-se que, em breve, serão abertas as inscrições no Congresso, e devidamente divulgadas: seja pelo site do Congresso; seja aqui no Infohabitar; seja por e-mails aos autores de comunicações e aos muitos outros potenciais interessados em participar nos trabalhos.

Aproxima-se, assim, a data de envio das comunicações completas, EXCLUSIVAMENTE, para o seguinte endereço eletrónico, Email: comunicacoes2cihel@lnec.pt
Próximas datas a reter:
  • Abertura das inscrições no Congresso: a divulgar brevemente.
  • Inscrição dos comunicantes, e envio do texto das comunicações e dos dados complementares até 22 de outubro de 2012.
  • Eventual solicitação de revisões de algumas comunicações até 30 novembro de 2012.
  • Entrega da revisão final (quando aplicável): até 15 dezembro de 2012.

ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA
Na presente edição do Infohabitar continua-se a publicação corrente da série habitar e viver melhor; com o artigo n.º XVIII desta série, intitulado:
A NATUREZA NUM JOGO URBANO HUMANIZADO
António Baptista Coelho

Sidónio Pardal escreveu que "a vegetação é elemento amenizador do meio urbano, unificador, suporte de continuidades"; e a presença ou a ausência evidenciadas de "verde urbano" são situações que caracterizam verdadeiramente os lugares.

Há, assim portanto duas facetas fundamentais na integração do verde urbano, uma delas directamente associada a uma melhoria das condições de conforto ambiental no exterior e nos próprios edifícios, e uma outra faceta mais de desenho ou concepção e que tem a ver com opções de projecto.


Fig. 01

Realmente o verde urbano é fundamental e incontornável numa perspectiva de amenização do meio urbano, de melhoria das condições de conforto ambiental na cidade (temperatura, humidade) e é responsável por uma significativa parcela da fixação do CO2 – Al Gore, no âmbito do seu filme, recentemente exibido, “An Inconvenient Truth”, refere que uma árvore consome, em média, ao longo da sua vida, uma tonelada de CO2; e só não se entende é a razão de não haver uma política sistemática de plantação de árvores nos espaços urbanos, pois para além do referido é impressionante o conjunto das suas vantagens, tal como fica evidente com a longa citação de um exemplar documento da London Tree Officers Association (LTOA), cujo site se recomenda (http://www.ltoa.org.uk/ ).

Apontam-se, assim, em seguida, as múltiplas vantagens da introdução de árvores na cidade (entre aspas citações da LTOA).

Nas áreas da saúde e do bem-estar: as árvores reduzem o risco de cancro na pele através do sombreamento; “os níveis de stress e de doença são, frequentemente, mais baixos na presença de árvores”; “as árvores contribuem para níveis reduzidos de ruído e de poeiras”; e “à medida que as árvores se desenvolvem e envelhecem elas proporcionam carácter e sentido de lugar e de permanência, enquanto libertam cheiros e aromas que provocam uma resposta emocional positiva”.

Em termos de influência no clima local: “as árvores, para além de absorverem dióxido de carbono (o principal gás gerador do efeito de estufa), e de produzirem oxigénio, filtram, absorvem e reduzem os gases poluidores” (alguns deles produzidos pelos veículos), “incluindo o ozono, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e dióxido de nitrogénio”; “suavizam, localmente, picos extremos de temperaturas, refrescando no Verão e aquecendo no Inverno”; “árvores com copas grandes e de grandes folhas acolhem a chuva, amortecendo a progressão da água entre o céu e o solo, ajudando a reduzir o risco de enxurradas”.

Em termos aspectos sociais e ambientais: as árvores constituem “pontos focais comunitários que incluam árvores proporcionam amenidade, valia estética e continuidade histórica”; “as árvores proporcionam … um apreciável acréscimo de amenidades às famílias e às comunidades”; “as árvores marcam a mudança das estações do ano com alterações nas folhas e mudanças na floração” – e é fundamental que o ciclo das estações seja sentido por todos e especialmente pelos urbanitas - ; “As árvores oferecem habitats para um amplo leque de espécies de vida bravia ao longo de todo o ano” – as árvores são, assim, elementos fundamentais no apoio à biodiversidade, com uma utilidade que alia aspectos intrínsecos de manutenção das espécies, com aspectos igualmente importantes de espectáculo biológico oferecido aos urbanitas.

E no que se refere a vantagens económicas: “a presença de árvores pode fazer aumentar o valor de propriedades residenciais e comerciais entre 5% e 18%, enquanto o valor do terreno não infraestruturado, que integre árvores adultas, pode aumentar até cerca de 27%” (valores londrinos); “quando as árvores são plantadas estrategicamente podem reduzir emissões de combustível fóssil, através da redução dos custos de combustível para aquecimento e arrefecimento dos edifícios”; “as árvores proporcionam a criação de emprego nos mais variados ramos de actividade (ex., jardinagem)”; “as árvores proporcionam uma fonte sustentada de “composto”, feito de folhas, assim como biocombustível produzido de aparas de madeira”.

E como importante suplemento a todas estas vantagens regista-se que o verde urbano tem uma importância tão vital como impossível de quantificar, pois, como nos diz Daniel Filipe, se refere a uma fundamental dimensão afectiva: o jardim “é um pequeno mundo a três dimensões sentimentais.” (1)

A pergunta que aqui se deixa é que se está provado o tão grande interesse da arborização urbana não se entende a razão de uma tal medida não avançar e com carácter de urgência. E, provavelmente, a melhor resposta nesta matéria estará na aplicação de espécies arbóreas muito duradouras, pouco exigentes em manutenção e que suportem bem a poluição urbana, aliás, como tem sido feito, nos últimos anos, em grandes cidades nipónicas e norte-americanas.

Na temática de um habitar gerador de satisfação e agrado, o verde urbano pode ser elemento fulcral. Julga-se que isto terá ficado bem justificado com as longas citações da LTOA, e fica, também, evidenciado em frequentes acções de reabilitação urbana e habitacional em que ao nível citadino a acção preponderante corresponde a uma profunda renaturalização da zona intervencionada; e estes casos, que foram frequentes em França, são, frequentemente, designados de acções de “residencialização”, o que faz pensar: Naturalizar para residencializar, não é?

  

Fig. 02

Considerando que os benefícios ambientais do verde urbano ficaram aqui já razoavelmente apontados, circunscrevemo-nos, agora, às matérias da contribuição do verde urbano para as questões de desenho e a propósito lembra-se uma frase de Purini:"O jardim é um tema censurado, e por muitas razões, pela moderna cultura arquitectónica,... lugar do imprevisível, do fantástico, do mistério, o jardim representa a instabilidade e a contínua metamorfose do mundo (2)..."

Uma ideia que é reforçada pela seguinte afirmação de Sidónio Pardal e Costa Lobo:"As alamedas, os passeios arborizados, os jardins e os parques, enquanto espaços arquitectónicos, trazem uma carga simbólica do «natural» para o espaço construído" (3).

E os mesmos autores (4) apontam que, os jardins urbanos começaram por ser espaços de encontro social e elementos representativos da cidade, mas hoje em dia eles respondem também a outras necessidades, entre as quais se destaca o contacto com a natureza, que é proporcionado a citadinos bem enraizados e habitando edifícios em altura (que são reinos de interioridade); e numa tal perspectiva os jardins de hoje têm de suprir ou compensar essa crítica ausência da natureza no meio urbano, chegando-se ao habitar e podendo associar, estrategicamente, valências ambientais específicas de sossego e quietude, pois "as alamedas, os passeios arborizados, os jardins e os parques, enquanto espaços arquitectónicos, trazem uma carga simbólica do «natural» para o espaço construído".(5)

Tudo isto se liga a uma matéria de estruturação urbana de pequena escala, ou de pormenor, que tem muito a ver com os jogos urbanos e de entradas de habitações. Realmente quando nos aproximamos de casa, quando saímos de casa e quando circulamos perto da nossa habitação, estamos naturalmente mais predispostos para apreciar o pormenor e a razão de ser desse pormenor, e nesta perspectiva a razão de ser de muitos elementos do verde urbano ficará bem evidenciada, designadamente, em termos de interesse e diversidade visual, afectividade em relação a elementos naturais, suporte de uma estimulante biodiversidade, relação com o equilíbrio ambiental, acção em termos de filtro da poluição atmosférica e acústica e protagonismo efectivo na suavização e na integração dos edifícios e outros elementos construídos.


Fig. 03

Se aliarmos a todo este potencial, uma outra fundamental perspectiva, que vê o verde urbano a partir do interior de cada habitação, poderemos ainda juntar a esses aspectos, outros ligados à melhoria da privacidade do interior doméstico e ao importante exercício da apropriação e da identidade de cada pátio ou quintal privados, mas também de cada terraço, de cada varanda e, mesmo, naturalmente, de cada vão de janela ou de porta; assim tais apropriações sejam facilitadas pela concepção de Arquitectura.

E nesta estreita, e por vezes íntima, relação entre verde e edifício, não podemos deixar de voltar a sublinhar o papel da natureza na amenização ambiental dos espaços interiores que lhe são contíguos; e ninguém tem dúvida que, por exemplo, a significativa redução de temperatura que caracteriza os espaços sombreados pelas árvores é uma benesse que vai poder ser aproveitada pelos quartos e outros compartimentos contíguos, bastando, quase sempre, um simples abrir de janela.

A ideia que fica, para já, pois a estas matérias voltaremos, noutras perspectivas, nesta série editorial, é que para um agradável jogo urbano do pormenor é fundamental a participação, extremamente diversificada, das relações com a natureza e, especificamente, dos variadíssimos elementos de verde urbano; naturalmente que nestas matérias as árvores são verdadeiros protagonistas, pela sua escala e pelo seu potencial como verdadeiros jardins verticais, mas há uma riquíssima disponibilidade de soluções, opções e elementos capazes de participar, muito activamente, na criação de uma habitação mais agradável e estimulante, porque amenizada pela natureza, habitada pela natureza e por ela humanamente caracterizada.


Fig. 04

E fiquemos com uma imagem escrita: "Além dos parques, são de extrema utilidade as pequenas jardinetas, refúgios de tranquilidade e de convívio espalhados pela cidade; mas melhor ainda é os edifícios no meio do verde (6)..."; e assim rematamos este tema com uma estratégica nostalgia de um verdadeiro racionalismo, aliás numa perspectiva em parte recuperada com as actuais preocupações de sustentabilidade ambiental.

Notas:

(1) Daniel Filipe, “Discurso sobre a cidade”, Lisboa, Editorial Presença, Colecção Forma n.º 8, 1977, p. 77 (1ªed. 1956).
(2) Franco Purini, "La Arquitectura Didactica", p. 231.
(3) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 113.
(4) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 117.
(5) Sidónio Pardal; P. Correia; M. Costa Lobo, "Normas Urbanísticas, Vol. II", p. 113.
(6) Francisco Keil Amaral, "Lisboa uma Cidade em Transformação", p. 57.


Notas editoriais:

 (i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.

 (ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.

 (iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 407

Editor: António Baptista Coelho

Edição de José Baptista Coelho

Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

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