domingo, outubro 02, 2011

363 - Quarteirão de unifamiliares densos em Padinho, Vila do Conde - Infohabitar 363

Infohabitar, Ano VII, n.º 363


Casos de Referência dos primeiros 5 anos do Prémio IHRU – V:
Quarteirão de unifamiliares densos em Padinho, Vila do Conde

Nota editorial:
Com o presente artigo tem continuidade uma nova série editorial no Infohabitar, que à semelhança de outras séries da nossa revista, terá uma edição alternada por outros artigos tematicamente autónomos ou também integrados em séries editoriais específicas.
Iremos editar “Casos de Referência dos primeiros 5 anos do Prémio IHRU” – Prémio Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana –, numa iniciativa que irá divulgar imagens e comentários técnicos de descrição e análise sumária de alguns dos candidatos às primeiras cinco edições daquele Prémio e que se fundamenta no interesse que sempre teve, tem e terá a divulgação de boas práticas de habitat (num sentido lato e verdadeiro de habitat), neste caso associadas a quatro grandes linhas de actividade específicas e que são, em seguida, apontadas:


(i) Promoção de novos conjuntos de habitação de interesse social - numa faceta de actividade em que o Estado e os seus parceiros têm de continuar activos, embora numa perspectiva mais delimitada e provavelmente cada vez mais atenta à adequação das soluções específicas aplicadas e sua qualidade arquitectónica.


(ii) Reabilitação de velhos edifícios e de conjuntos edificados, também com o objectivo específico de disponibilização de habitação de interesse social – um objectivo cujo interesse aqui se sublinha de forma bem evidenciada – ou de outras categorias habitacionais; estas acções de reabilitação habitacional estão e devem estar estrategicamente integradas em centros históricos e em outras malhas urbanas carentes de vitalização e melhoria física, numa faceta de actuação que, hoje em dia, assume importância estratégica e multifacetada, seja para os respectivos habitantes, seja para a cidade que se quer urgentemente mais e melhor habitada.


(iii) Reabilitação de velhos edifícios não-habitacionais para melhoria das suas condições de uso e de conforto no uso, considerando a manutenção das suas funcionalidades básicas ou a respectiva reconversão, total ou parcial, a novos usos; uma faceta de actuação também vital numa perspectiva de melhoria consolidada e durável da globalidade do tecido urbano.


(iv) (e finalmente) Reabilitação de espaços exteriores públicos ou de uso público, numa faceta de actuação com uma importância igualmente estratégica e ainda não devidamente considerada na sua urgência, no seu interesse e nas suas exigências específicas de projecto, obra e manutenção/gestão; afinal, será de uma adequada redinamização do uso dos nossos espaços públicos urbanos, em termos de frequência e intensidade de uso, que decorrerá boa parte da vitalização urbana dessas áreas e não bastam arranjos “de aspecto” para assegurar o êxito destas operações.


Em termos informativos refere-se que o Júri do Prémio IHRU integra representantes das seguintes instituições: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas, Ordem dos Arquitectos e Ordem dos Engenheiros. Em 2007 e porque este Prémio constituiu uma edição única do Prémio INH/IHRU (o Instituto Nacional de Habitação deu lugar ao IHRU no decurso do Prémio), o Júri integrou, ainda, representantes ANMP, da AECOP, da ANEOP e da FENACHE.
Numa primeira reunião do Prémio IHRU é feita uma pré-selecção dos empreendimentos a visitar e é elaborado um programa de visitas. Na última reunião, efectuada após as deslocações aos empreendimentos seleccionados, e após a revisão comentada das respectivas visitas (imagens projectadas) e de uma natural e sistemática discussão técnica o Júri atribui os respectivos Prémios e Menções.
Mais se esclarece que os candidatos aos Prémio IHRU, um prémio exclusivamente honorífico, concorrem nas variantes Construção ou Reabilitação: sendo que na primeira variante (Construção), há várias vertentes/categorias de concurso - Promoção Municipal e Regional, Promoção Cooperativa e Promoção Privada – enquanto na variante Reabilitação há, actualmente (à data da escrita deste artigo), há também várias vertentes de concurso - Reabilitação Isolada de Imóveis, Reabilitação ou Qualificação de Espaço Público e Reabilitação Integrada de Conjuntos Urbanos.
Sublinha-se, no entanto e desde já, que a apresentação dos casos de referência de candidatos ao Prémio IHRU, que irá sendo assegurada pelo Infohabitar, não dará importância significativa a estas vertentes “oficiais” do Prémio, preferindo salientar as quatro grandes linhas de actividade específicas acima apontadas, bem como aspectos específicos e interessantes de cada intervenção e optando por divulgar de forma não sistemática, não exaustiva, temporalmente não ordenada, e “em pé de igualdade” entre casos que obtiveram Prémios, outros que mereceram Menções Honrosas e ainda outros que não tiveram destaque especial no Prémio, mas que o autor destas linhas considera serem também casos com muito interesse e que, portanto, terá utilidade a sua divulgação; pois, afinal, a própria divulgação de casos de referência muito diversificados tem uma utilidade própria e, como bem sabemos, a cidade não se faz apenas de exemplos excepcionais, mas também de casos de referência com aspectos específicos e meritórios cuja divulgação é importante.
E de certa forma o Prémio IHRU tem a sua existência específica, que se vai cumprindo anualmente, e aqui no Infohabitar estamos num outro contexto de divulgação bem distinto e naturalmente mais flexível, até porque os comentários que acompanham as imagens dos conjuntos, edifícios e espaços que irão sendo divulgados, são apenas e naturalmente da responsabilidade do autor do artigo – com a excepção referida às citações das respectivas actas do Júri e/ou dos textos de apresentação dos respectivos catálogos do Prémio (devidamente assinaladas), que são anualmente ditados pelo IHRU.
Salienta-se, finalmente, que será fortemente privilegiada uma componente de ilustração e de imagens dos casos de referência editados, reduzindo-se os textos de comentário e reflexão ao máximo e caracterizando-os por uma perspectiva informal “de visitante” interessado da respectiva intervenção; e que se convidam os respectivos autores, promotores e habitantes a complementarem e a comentarem as respectivas obras e/ou os próprios comentários do Infohabitar, através de simples envios via e-mail à edição do Infohabitar, que, depois e logo que seja possível integrará os respectivos textos e, eventuais, imagens, nos respectivos artigos, ou, e em alternativa (casos de contribuições com dimensão e interesse significativos), poderá decidir pela sua edição autonomizada, se o respectivo autor autorizar esta possibilidade.
Considerando-se que não decorreu, ainda, a cerimónia de entrega dos Prémios IHRU 2011, não serão editados no Infohabitar até essa data candidaturas respeitantes a este anos de 2011.

Casos de Referência dos primeiros 5 anos do Prémio IHRU – V:
Quarteirão de unifamiliares densos em Padinho, Vila do Conde
Infohabitar, Ano VII, n.º 363
António Baptista Coelho



Fig. 01: imagem do projecto - implantação

32 fogos em Padinho – Vial do Pinheiro, promovidos pelo Município de Vila do Conde, construídos pela empresa António da Silva Campos, Lda., com o projecto e a coordenação do arquitecto Miguel Sousa.

“Este conjunto habitacional formado por edifícios unifamiliares de dois pisos, em banda contínua, distingue-se pela harmonização entre a construção e os diferentes espaços exteriores, privados e colectivos protegidos e intimistas, bem equipados onde não faltam árvores ornamentais que climatizam todo o conjunto. É um programa que tem em conta as características vivenciais das famílias que se pretendem realojar, uma população rural ligada ao cultivo da terra.”

Foi uma citação integral do texto de apresentação do catálogo do Prémio IHRU 2008; salienta-se que este texto de apresentação integra a acta do júri do respectivo Prémio, tendo sido, portanto, elaborado, conjuntamente, pelo respectivo Júri.



Fig. 02

Estamos em presença de uma solução de realojamento, desenvolvida pela Câmara Municipal de Vila do Conde, no âmbito de um quadro técnico de referência e já extensa e regularmente aplicado, que procura: (i) aplicar ao máximo soluções domésticas bastante estudadas, mas conjugadas em soluções urbanas e locais bem distintas e caracterizadas; (ii) disponibilizar o realojamento, de forma estrategicamente disseminada, perto dos sítios onde ele é realmente necessário; e (iii) aplicar uma tipologia de habitar, a que iremos dedicar algumas linhas de desenvolvimento, mas que se caracteriza, em termos gerais, por uma evidente escala humana e pela adequação a modos de vida rurais ou ruralizados.

Em termos de integração paisagística e urbana constata-se uma relação urbana coesa e em agradável continuidade com a envolvente, numa solução cuja identidade unifamiliar é interessantemente harmonizada com uma escala “quase urbana” de quarteirão horizontalizado, mas atraentemente denso.

Consegue-se assim aproximar o espaço ainda muito ruralizado que se respira no local à introdução de um pequeno pólo urbano/quarteirão com dimensão e carácter muito ligados à escala humana, e que, depois, é interiormente marcado por quintais de diversos tipos, numa reafirmação dessa mesma ruralidade, mas agora de certa forma muito integrada na referida continuidade urbana pontual/local.



Fig. 03

Estamos em presença de uma solução unifamiliar densificada de bandas contínuas, que oferecem uma imagem urbana “una” na sua envolvente exterior e que depois, após passagem em zonas de “entrada” estrategicamente estranguladas, oferece a habitantes e visitantes, no grande miolo do respectivo quarteirão, grandes pátios traseiros comuns, que se caracterizam por um uso pedonal diversificado e vitalizado pelas ligações directas às habitações, realizadas através de pequenos quintais/pátios privados delimitados por muros baixos.

Temos, assim, uma solução de bandas de edifícios unifamiliares que rodeiam e delimitam uma ampla zona pedonal perfeitamente segura para ser usada por crianças e idosos numa proximidade directa e às suas habitações.

E o acesso estratégico por parte de veículos parece ter sido, também, adequadamente considerado.



Fig. 04

De certa forma estamos em presença de uma solução de quarteirão que assume, praticamente, o sentido de “grande” edifício multifamiliar, mas horizontalmente desenvolvido, marcado por acessos comuns e de uso público, numa ambiguidade que irá, provavelmente, resguardando de usos menos adequados os amplos espaços exteriores comuns/públicos do interior do quarteirão; e uma condição de prevenção que é fortemente complementada pela total proximidade entre estes espaços e as janelas e outros vãos domésticos.

Por outro lado e de forma interessantemente ambígua, ou agradavelmente surpreendente, é neste mesmo âmago de espaço pedonal e “interiorizado” do miolo de quarteirão que podemos ter acesso, através de portas sóbrias e opacas a quintais privativos murados, alongados e com dimensão já interessante, estruturados numa banda construída autonomizada e destacada das habitações.



Fig. 05

Temos assim as vantagens de alguma proximidade urbana e eventualmente de algum convívio vicinal e de recreio juvenil potenciadas pela própria organização em quarteirão envolvendo um amplo espaço pedonal, não se perdendo as características específicas (vantagens) do habitar unifamiliar e havendo, depois, um conteúdo “ruralizado” específico (os referidos quintais alongados) que marca presença, de forma subtil, na vivência desse mesmo terreiro pedonal; numa condição ou situação de envolvências consecutivas, que tem também interesse específico em termos de carácter do lugar.

E, de certa forma, este conjunto de opções têm tudo a ver com a sensível aproximação, por parte do projectista e do promotor – ambos municipais, sublinha-se – a uma adequação a modos de vida eventualmente tão ruralizados, como “urbanizados”, deixando-se a cada família e a cada habitante uma excelente liberdade de opção/acção.




Complementarmente o que sucede nesta intervenção é uma especialização estratégica dos espaços exteriores sujeitos à manutenção e gestão pública: atente-se no elevado número de pequenos pátios privados, frontais e posteriores, que servem as bandas de moradias; atente-se no espaço pedonalizado público concentrado que preenche o interior do quarteirão; e atente-se, também aos amplos quintais agrícolas privados, mas resguardados da vista pública (permitindo alguma liberdade de apropriação sem se prejudicar a imagem urbana da vizinhança).

Finalmente e em termos urbanos há que sublinhar o carácter razoavelmente pedonalizado que marca o conjunto, onde se conseguiu uma boa “convivência” entre estruturas rodoviárias, envolventes, e pedonais, que preenchem o amplo miolo do quarteirão e que proporcionam adequadas condições para o recreio e, espera-se, mesmo para o convívio local; e tudo isto sob excelentes condições de vigilância natural a partir das habitações.



Fig. 07

Um aspecto de pormenor mas com grande interesse em termos de utilidade como ferramenta de integração urbana é o papel de remate e mesmo de alguma "camuflagem" de construções preesistentes e vizinhas que é assumido pelas continuidades/bandas de quintais agrícolas murados.

No que se refere à solução doméstica unifamiliar já se referiu que ela é estudada e depois aplicada de modos razoavelmente diversificados, produzindo-se algumas imagens orgânicas e com capacidade de caracterização e atractividade, relativamente aos seus moradores.



Fig. 08

Salienta-se, ainda, que esta solução unifamiliar densificada, mas, frequentemente, com pátios contíguos, para além dos amplos quintais rurais murados, tem um elevado potencial de adequação e de apropriação relativamente ao realojamento de famílias muito habituadas a uma vivência em grande relação com o exterior.



Fig. 09

E finalmente não se poderia deixar de sublinhar que esta solução urbana e habitacional se integra numa verdadeira política habitacional municipal, que vem sendo desenvolvida, desde há bastantes anos e julga-se com êxito, em termos dos já referidos objectivos de disseminação do realojamento nas zonas onde ele é necessário, de adequação tipológica e humana dessas soluções habitacionais e de preocupação com a sua qualidade urbana e arquitectónica, numa acção, que se sublinha tem sido baseada nos próprios técnicos municipais.



Fig. 10

Notas finais:

- A intervenção em Padinho, Vila do Conde que foi aqui brevemente apresentada e comentada foi distinguida com Menção Honrosa no Prémio IHRU 2008.



Bibliografia:

INSTITUTO DA HABITAÇÃO E DA REABILITAÇÃO URBANA; coord. Rogério Pampulha, Teresa Pereira e Isabel Forjaz, fotografias de António Baptista Coelho e Promotores – Prémio IHRU de Construção e Reabilitação 2008. Lisboa: IHRU, 2008, 55 pág.

Notas editoriais:


(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.

Infohabitar, Ano VII, n.º 363
2 de Outubro de 2011
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

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