Divulgação do 1.º CIHEL e artigo de António Carvalho
Estamos já a cerca de três semanas do 1.º Congresso Habitação no Espaço Lusófono, o 1.º CIHEL, que decorrerá entre 22 e 24 de Setembro próximos, no Grande Auditório do ISCTE-IUL, em Lisboa, por isso continuamos a insistir na divulgação deste grande evento sobre as matérias do habitar falado em português, mas retomamos, nesta edição, logo após esta divulção, a publicação do artigo semanal do Infohabitar.
O tema do 1.º CIHEL é o desenho e realização de bairros e agrupamentos residenciais para populações com baixos rendimentos, tema que srá abordado em 5 conferências, 20 palestras pouco extensas e mais cerca de outras 30 comunicações, constantes do CD de Actas, por oradores provenientes de diversos países da lusofonia, sendo as intervenções organizadas em quatro temáticas: Políticas e programas – considerando situações de escala relativamente reduzida e a importância da reabilitação; Infraestruturas e equipamentos – considerando perfis de habitabilidade, papel do espaço público e serviços urbanos e sociais; Soluções habitacionais e modos de vida – considerando velhas e novas formas de habitar, desejos e necessidades; e Materiais e tecnologias – considerando aspectos de escassez de recursos e ligados às diversas facetas da sustentabilidade.
O site do 1.º CIHEL é o http://cihel01.wordpress.com/about/ e nele poderá realizar desde já a sua inscrição.
Artigo da semana:Cruzamento da Av. EUA/Av. Roma: adaptabilidade e atractividadepor António Carvalho
O Bairro de Alvalade tem revelado no seu conjunto uma notável capacidade de adaptação a novos usos e utentes, ao longo das suas seis décadas de existência, sem perder significativamente as suas qualidades ambientais de bairro residencial misto.
Alguns dos seus edifícios têm suportado violentas intervenções individuais por parte dos habitantes ou utentes das fracções que os constituem, sem com isso perderem o essencial da sua identidade e atractividade. Considero como exemplo claro dessa adaptabilidade os quatro edifícios-torre do cruzamento Av. de Roma / Av. EUA, obras ímpares no contexto urbano de Lisboa e mesmo nacional.
Creio que parte do segredo do sucesso da sua adaptatividade reside na formidável qualidade plástica destes quatro edifícios, diversos mas com matriz composicional comum (diferentemente posicionados no espaço, transformando um simples cruzamento de vias num verdadeiro “landmark” urbano, como se uma verdadeira praça fosse — que não é).
De facto a implantação dos edifícios, aparentemente simétricos e paralelos dois a dois, corresponde a um remate urbano altamente complexo e sofisticado de quatro quarteirões totalmente diferentes, cuja irregularidade só a fotografia aérea (ou a planta na fase de projecto...) permite avaliar.
Em termos de desenho urbano, trata-se de uma solução extremamente engenhosa de como resolver um cruzamento não ortogonal, recorrendo ao paralelismos das diagonais.
Nos edifícios, o recurso à simplicidade do impacto da dupla cor branco/bordeaux, associado à sábia utilização da composição de fachada em retículas de diferentes dimensões e escalas, constituídas por diferentes elementos geradores de volumes e sombras (desde floreiras balançadas sobre a fachada, passando pelos pilares e vigas ou lajes de pavimento, até às grelhas das varandas), conseguem absorver e quase anular elementos intrusos (como sejam caixilharias de marquises clandestinas, toldos ou anúncios publicitários) que em edifícios mais frágeis teriam um efeito totalmente destrutivo.
De igual modo a requintada composição de fachada tripartida em piso térreo/embasamento comercial, pisos superiores habitacionais (elegantemente interrompidos por um piso corrido recuado) e último piso (de apartamentos-estúdio com volumetria caprichosamente diferenciada em cada torre) confere aos quatro edifícios uma fortíssima personalidade, encimando a colina da Av. Estados Unidos da América, numa atractividade de longo alcance.
Assim se prova que os edifícios — tal como as pessoas de grande beleza interior e personalidade forte —, aguentam as rugas do tempo, mantendo o sex-appeal mesmo sem operações plásticas... será essa a verdadeira atractividade da adaptabilidade em arquitectura.
Por último há ainda a realçar como qualidade arquitectónica, urbanística e vivencial o facto de cada um destes edifícios ser conhecido no bairro por “nome próprio”, decorrente da identificação do seu uso pelos moradores: ele é o da Caixa, o Luanda, o dos Correios e o Vá-Vá!
Breves notas do editor:
O autor do artigo, António Carvalho, é arquitecto e professor de Arquitectura, membro fundador do Grupo Habitar, está a cooperar em matérias de investigação do Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e frequenta, actualmente, o Programa de Doutoramento em Arquitectura e Desenho Urbano do DECA do IST.
Este programa de doutoramento em Arquitectura é participado pelo LNEC e específicamente e sistematicamente pelos doutorados do seu Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU), com participações do seu Núcleo de Ecologia Social (NESO).
Advertência ao leitor
Embora os artigos editados na revista Infohabitar sejam previamente avaliados e editorialmente trabalhados pela edição da revista, eles respeitam, ao máximo, o aspecto formal e o conteúdo que são propostos, inicialmente pelos respectivos autores, sublinhando-se que as matérias editadas se referem, apenas, aos pontos de vista, perspectivas e mesmo opiniões específicas dos respectivos autores sobre essas temáticas, não correspondendo a qualquer tomada de posição da edição da revista sobre esses assuntos.
Infohabitar, Ano VI, n.º 310Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte, 3 de Setembro de 2010
2 comentários :
e o nome do arquitecto(s) que preojectou estes fantásticos edifícios?????
De acordo com um artigo no Wikipédia, "Filipe Nobre Figueiredo e José Segurado projectam em 1952 o cruzamento das duas mais importantes avenidas do Bairro de Alvalade com quatro grandes blocos de treze pisos dispostos na perpendicular, contrariando a praça prevista no plano, constituem assim um dos mais claros exemplos da aplicação, na arquitectura portuguesa da década de 50."
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Os_blocos_habitacionais_no_cruzamento_da_Avenida_E.U.A._e_a_Avenida_de_Roma
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