segunda-feira, maio 11, 2009

246 - AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO): MONITORANDO A ARQUITETURA! - Infohabitar 246

Infohabitar, Ano V, n.º 246

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO): MONITORANDO A ARQUITETURA!
Marilice Costi

Nota prévia e informativa:
Antes de apresentar o artigo da semana no Infohabitar, anuncia-se a abertura das candidaturas para inscrição no Mestrado Interdisciplinar sobre Risco, Trauma e Sociedade, um Mestrado que oferece também um Diploma de Pós-Graduação para quem optar por fazer apenas o primeiro ano do Curso.
Os elementos informativos sobre esta acção, que é apoiada pelo Infohabitar, pois aborda matérias essenciais para um bom habitar e tem uma estrutura/conteúdo curricular de alto nível, encontram-se nesta edição da nossa revista, após o seu artigo semanal.

Edição da semana do Infohabitar

Novamente, depois de um intervalo de alguns meses, temos o gosto de publicar e de ler um artigo da Arq.ª Marilice Costi, um dos colaboradores iniciais do Infohabitar.

Neste artigo Marilice Costi fala-nos das raízes e da natureza da “avaliação pós-ocupação”, a APO, como processo de monitorização e, diria mesmo, de acompanhamento e retroacção do e com o projecto e a obra de arquitectura, tratando-se, assim, de um tema extremamente actual e importante, designadamente, numa perspectiva de aproximação entre o que se projecta, no habitar, e a própria satisfação com o habitar, matéria esta abordada no último artigo editado, na semana passada, nesta nossa revista e uma matéria que foi também já intensamente desenvolvida no LNEC, pelo seu Núcleo de Arquitectura e Urbanismo, através de uma metodologia de análise retrospectiva habitacional multidisciplinar, aplicada, já, em três grandes “campanhas” e a um amplo leque de bairros e conjuntos de habitação de interesse social.


Marilice Costi vive e trabalha em Porto Alegre/RS – Brasil, é Arquitecta e Urbanista, Mestre em Arquitectura, Arteterapeuta e pesquisadora, dá cursos, é escritora e é directora de SANA ARTE LTDA, cujas amplas actividades são visíveis no portal http://www.sanaarquitetura.arq.br/ , tem diversos livros publicados e éditora-chefe da revista dos cuidadores: O CUIDADOR (http://www.ocuidador.com.br/).
Mantém, ainda o blog http://www.marilicecosti.blogspot.com/
A seguir à edição do artigo juntam-se as referências e o conteúdo do último número da revista O CUIDADOR.

O editor do Infohabitar
António Baptista Coelho

Desde já se refere que, na próxima semana o Infohabitar editará um outro excelente artigo de Marilice Costi, intitulado SALA DE AULA, ARQUITETURA, CORPO E APRENDIZAGEM

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO (APO):
MONITORANDO A ARQUITETURA!
Marilice Costi (1)

Os arquitetos são muito criticados por não darem importância para pesquisas, não se interessarem muito por números, análises de gráficos e tabelas. Mas, muitos deles vêm fazendo pesquisas e, cada vez mais, um olhar mais amplo vem sendo difundido nas escolas de Arquitetura e Engenharia. Naquela para desenvolver mais a visão técnica e nesta para sensibilizar mais para o humanismo.

A disciplina Avaliação Pós-Ocupação vem sendo parte do currículo em várias universidades devido à sua importância e às exigências do mercado em relação à qualidade dos produtos criados por arquitetos e engenheiros. No Brasil, o Código de Direitos do Consumidor e a NBR 9050 demonstram que a sociedade está atenta e cônscia de seus direitos: os espaços têm que servir às necessidades humanas de conforto, economia, acessibilidade, segurança, funcionalidade, durabilidade, resistência, estética e outras mais. Todo ambiente criado seja aberto ou fechado, público ou privado, grande ou pequeno, tem que satisfazer a seus usuários.




Fig. 01: uma acção de divulgação da APO, com Marilice Costi

Uma APO é um tipo de avaliação retrospectiva feita em ambientes construídos após certo tempo de ocupação. Surgiu no período de 1940-50 nos EUA, quando, pela primeira vez, a opinião dos usuários passou a fazer parte de pesquisas exploratórias executadas por geógrafos e psicólogos. A partir daí, os antropólogos e os arquitetos passaram a estudar as relações ambiente-comportamento apropriando-se de métodos das áreas da Psicologia, da Geografia, da Antropologia, da Sociologia e da Engenharia.

Tal avaliação é adotada para diagnosticar e recomendar novos projetos. Feita de forma sistêmica e realimentadora, pode propor modificações e reformas no ambiente, pois aprofunda conhecimentos sobre ele. Sua aplicabilidade encontra campo tanto em edificações de porte quanto em pequenos prédios, tanto em interiores quanto em pequenos objetos. Feita por especialistas-avaliadores, ela é o estudo da performance do ambiente considerando-se a opinião de seus ocupantes. É o que a diferencia de Avaliações de Desempenho.

Uma APO serve para aferir erros e acer­tos para que se possa monitorar a qualidade. Utiliza-se métodos ou multimétodos, avaliações rigorosas e siste­máticas, tanto em ambientes internos quanto em externos. Para faze-la, é necessário conhecer o ser humano e suas fases de vida, seu comportamento ambiental, como ele se apropria dos espaços, como marca território, como faz interferências, como adapta os locais às suas necessidades.

As etapas de uma APO podem ser análogas às do trabalho médico: a anamnese, para que se compreenda o problema; a investigação, para ampliar o conhecimento para dar diagnóstico seguro; o tratamento, que resulta em recomendações para projeto e para a obra; o prognóstico, para futuro acompanhamento e as orientações para administração ou manutenção.

E cada caso é um caso. Os espaços criados são como os seres vivos: têm vida útil. Nascem em determinado período histórico, vivem e, se não forem cuidados e revitalizados, degradam e morrem. O que dá maior vida útil a um prédio é a sua importância para as pessoas: se existiu vivência, história, vínculos de afeto com o lugar; quando a memória é viva; quando ainda existe o espírito do lugar (genius loci), mais possibilidade dele ser preservado. Estão aí os prédios históricos, os conjuntos urbanos, onde se encontra o imaginário dos cidadãos.

O valor dado aos espaços, é fundamental para que a vida da edificação se expanda.

Em área urbana degradada, uma APO possibilita que se compreenda os motivos de sua degradação. Para revitalizar, é preciso entender melhor como e quem a ocupará. Se o projeto não for feito de acordo com as necessidades da comunidade e com as técnicas adequadas ao tipo de usuário, nascerá morto.

Este tipo de pesquisa ambiental é elaborada através de métodos quantitativos e qualitativos para investigar, tanto os processos projetual e construtivo, quanto o uso e a ocupação do bem. A questão social e o comportamento dos usuários são estudados, pois satisfazer o cliente é a meta de todo profissional. Mas para realimentar o processo projetual e qualificar a arquitetura, é preciso saber até que ponto a empresa pode, quer ou deve investir. Mas como saber se o resultado foi adequado? Como descobrir? O que e como fazer? Há algo para acrescentar em projetos similares, um diferencial para auxiliar nas vendas? Ganhar da concorrência? Qual o índice de satisfação dos usuários?

Tanto em interiores como em áreas urbanas, além de entrevistas, questionários e visita exploratória, pode-se utilizar mapas mentais ou cognitivos. Também o uso de instrumentos de medição podem facilitar a análise dos espaços em relação aos confortos lumínico, térmico e acústico. Pode-se verificar se existe sustentabilidade, se há conservação de energia, se o manejo do sistema de ventilação, das esquadrias e do condicionamento do ar é adequado.

Desempenho dos materiais, segurança, funcionalidade, ergometria, acessibilidade, estética e imageabilidade, estrutura organizacional e economia são outros itens que podem ser estudados.

Todo dado coletado é precioso: a história da edificação, a legislação, os materiais e as técnicas construtivas empregadas (se existem patologias), a forma de ocupação, o tipo de uso e de usuário, a proposta do arquiteto e o existente. A organização dos dados coletados possibilitará a interpretação e a análise. Pode acontecer que, havendo resultados fundamentados, até se possa propor alterações na legislação.

Conhecer o envolvimento do usuário com os espaços democratiza as decisões de projeto, pois o homem é a parte dinâmica nos ambiente: é quem interfere destruindo ou qualificando. E é para ele que se faz arquitetura, não para servir ao ego dos profissionais. Habitabilidade e estética são desafios para o arquiteto que precisa sempre estar se atualizando e reconhecendo as mudanças sociais e culturais.

Se existe problema, com a Avaliação Pós-Ocupação, saber-se-á qual é e onde ele está, suas causas. Trazê-lo à tona, é iniciar o caminho para a solução. E se existe satisfação, é importante valorizar os profissionais ou a empresa envolvidos, dando material ao marketing.

Pesquisas são investimentos que podem gerar credibilidade. Nesse processo globalizante e competitivo, uma Avaliação Pós-Ocupação só tem a acrescentar, pois pode apontar novos caminhos, direcionar metas, reavaliar investimentos, reduzir custos.

Para fazer uma Avaliação Pós-Ocupação é preciso aprender a técnica de pesquisa científica (conhecimento teórico e experiência em métodos de investigação), desenvolver a crítica e a autocrítica da arquitetura, ser ético, saber das necessidades humanas espaciais, desenvolver a percepção em relação ao usuário e ao ambiente, conhecer o desempenho dos ambientes em função do envelope, obter maior compreensão dos espaços no detalhe e no todo – um olhar holístico. E trabalhar com múltiplas variáveis e em equipe. O resultado final será a possibilidade de compreender e projetar um espaço mais qualitativo, aquele que o ser humano pode usufruir adaptando-o minimamente durante toda a vida.

(1) Marilice Costi é professora universitária, mestre em Arquitetura na área de Economia e Habitabilidade, pesquisadora autônoma, pós-graduada em Arteterapia, escritora, oficineira, poetisa, criadora da Oficina de Poesia: A linguagem do poeta e a síntese interior. Diversos prêmios em literatura, livros publicados, membro da Academia Literária Feminina do RS, colaboradora (Info-IAB-RS e CONSUMIDOR-RS).



Em seguida, faz-se a apresentação sumária da revista "O Cuidador"






Fig. 02: capa do último número da revista O CUIDADOR

O CUIDADOR
a revista dos cuidadores
Ano I - nº3



EDITORIAL

Em toda situação de cuidado, é o cuidador que carrega a responsabilidade sobre o outro. O que é um cuidador?

Há os familiares cuidadores – que colam suas dores ao ato de cuidar dos seus
e junto podem carregar sentimentos negativos que também os fazem adoecer – e os cuidadores institucionais, profissionais do cuidar, que atuam nas relações de ajuda geralmente por talento ou escolha.

Além disto, amigos ou outras pessoas também cuidam.

Todos precisam se esvaziar do sofrimento que acolhem dos outros. Dores que são um mundo.

Olhar para o outro não significa que, por compaixão, tomemos aquela dor para nós. Para os mais sensíveis, é difícil não se sentirem parte da humanidade que sofre.

Perdas no dia-a-dia e em todo lugar, em todos os noticiários, que poderiam ser menores.

A verdade das coisas se completa com vários olhares.

Muitas pessoas não acolhem, não partilham, não são solidárias, não têm empatia, não se importam com a dor do outro. Algumas até usam os que dela precisam em benefício próprio.

Afirmam alguns cientistas, que isso vem carimbado nas mentes. Talvez.
Mas é sabido que viver em ambientes solidários estimula o aprendizado do cuidado.(...)

Informar o cuidador é fundamental. Nosso objetivo na escolha dos temas da revista.E sempre trazer a arte para que a mente descanse e descubra a beleza do criar.
Não foi para isto que fomos feitos?
Marilice Costieditora-chefe

SUMÁRIO de O CUIDADOR - Ano I - nº3
A FALA dos CUIDADORESGUERREIRAS EM UTI NEONATAL - Gabriela Nunes Cordeiro Gomes MouraUM CUIDADOR NO ABSURDO - Varda Dascal (de Israel)ARTETERAPIA PARA MILITARES - Eliane BarretoINTERDIÇÃO: UM CUIDADO IMPORTANTE - Cibele Gralha Mateus/Vanessa SchutzDEVERIA SER PROIBIDO - Diza GonzagaA CORAGEM E O MEDO DE UMA CUIDADORA - Inácia Regina BairrosQUANDO O AJUDAR É ANULAR-SE - Codependentes AnônimosA FUNÇÃO DO SILÊNCIO - Roseli Margareta Kühnrich de OliveiraCOLUNA - Luis Veiga Leitão (Portugal)

editora@ocuidador.com.br
PEDIDOS DE ASSINATURA - assinatura@ocuidador.com.br
51 30287667 - Porto Alegre/RS, Assinatura anual R$ 120,00 - (edição bimestral)



Divulgação do Mestrado Interdisciplinar sobre Risco, Trauma e Sociedade

Exmos. Senhores,Venho informar que se encontram agora abertas as candidaturas para inscrição no Mestrado Interdisciplinar sobre Risco, Trauma e Sociedade, um Mestrado que oferece também um Diploma de Pós-Graduação para quem optar por fazer apenas o primeiro ano do Curso,
Prof. Manuel João Ramos
Departamento de Antropologia, ISCTE, Av. Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal, tel: +351 217 903 011


Fig. 03: Mestrado Interdisciplinar sobre Risco, Trauma e Sociedade

Mestrado Interdisciplinar em Risco,Trauma e Sociedade

O Curso de Mestrado Interdisciplinar em Risco, Trauma e Sociedade oferece conhecimentos especializados sobre diversos riscos e suas consequências traumáticas nas sociedades humanas, e possibilita o estudo aprofundado em novos dominios de investigação transdisciplinar universitária.

Reúne docentes e estudantes de diversas formações, com o objectivo de desenvolver o cruzamento dos saberes promovidos pelas ciências sociais e pelas ciências de saúde, e potenciar respostas eficazes aos riscos e traumas que afectam as sociedades actuais.

O curso promove não apenas o estudo de problemas teóricos em várias especialidades, e a problematização das fronteiras entre áreas disciplinares, mas também o fortalecimento de laços entre a investigação fundamental e os imperativos da resposta profissionalizada nos domínios do risco e do trauma.

Coordenação Científica
Professor Doutor António Pedro Dores
Professor Doutor Manuel João Ramos

Comissão de Mestrado
Professor Doutor António Pedro Dores
Professor Doutor Manuel João Ramos
Dra. Filomena Araújo
Dr. Pedro Moniz Pereira

Condições de acesso

As condições de acesso ao curso exigem a titularidade de uma licenciatura ou equivalente legal, ou a titularidade de um grau académico superior estrangeiro reconhecido e satisfazendo os objectivos do grau de licenciado pelo Conselho Cientifico do ISCTE. Será dada preferencia aos titulares de licenciaturas em ciências sociais e em ciências da saúde, sendo recomendável um conhecimento adequado de inglês e francês.

Corpo Docente

Reúne docentes e estudantes de diversas formações, com o objectivo de desenvolver o cruzamento dos saberes promovidos pelas ciências sociais e pelas ciências de saúde, e potenciar respostas eficazes aos riscos e traumas que afectam as sociedades actuais.

As candidaturas serão apresentadas no Secretariado do Departamento de Antropologia do ISCTE, através de processo constando de: boletim de candidatura preenchido e assinado pelo próprio, certidão de licenciatura, incluindo a média final, curriculum vitae, incluindo cópias de dois trabalhos da licenciatura ou, alternativamente, cópia de dissertação de licenciatura ou de trabalhos publicados, uma carta de intenção ate 3 páginas explicitando as motivações para frequentar
o curso, e uma fotografia.

Calendário

Candidaturas:
1ª fase - de 4 de Maio a 14 de Julho de 2009
2ª fase - de 17 de Agosto a 4 de Setembro de 2009.

Matriculas: 14 a 18 de Setembro de 2009 (na secção de Mestrados)
Inicio das aulas: 21 de Setembro de 2009

1º Ano

1º Semestre
Antropologia da vlolêncla
Trauma e comportamento social: stress, memória e identidade
Métodos e técnlcas em ciênclas sociais

2.° Semestre
Antropologia da saúde
Gestão social do risco e do trauma
Risco e trauma: vertentes epidemiológicas e médicas

2º Ano

1º Semestre
Seminário de investigação
Produção de dissertação em Risco, Trauma e Sociedade - fase 1
1ª Optativa
2ª Optativa

2º Semestre
Produção de dissertação em Risco, Trauma e Sociedade - fase 2

O Boletim de candidatura pode ser descarregado a partir do site do Mestrado.
Para mais informações, consultar: http://mrts.da.iscte.pt/ ou contactar o secretariado do Departamento de Antropologia do ISCTE: ISCTE, Av. Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, tel: (+351)217903011, fax: (+351)217903012, email: secreatariado.da@iscte.pt , manuel.ramos@iscte.pthttp://iscte.pt/~mjsr/

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