segunda-feira, julho 03, 2006

91 - Premiados e mencionados no Prémio INH 2006 - Infohabitar 91

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Premiados e mencionados no Prémio INH 2006

António Baptista Coelho e Maria Celeste Ramos

Uma das iniciativas que o INH assegurou ao longo dos seus 22 anos foi o Prémio INH, desenvolvido anualmente e que foi promovido, sem interrupções, ao longo de 18 edições anuais, entre 1989 e 2006; o Prémio de 2006 teve a sua cerimónia pública a 30 de Junho no Salão Nobre da Sociedade de Geografia de Lisboa.

O prémio INH integra a ponderação da qualidade arquitectónica, numa perspectiva muito ampla, mas também a apreciação do processo de promoção, da qualidade da construção e da apropriação pelos habitantes; e desenvolve essa apreciação sobre o que é visto realmente nos locais, espaços exteriores, edifícios e habitações, e não apenas em projectos e fotografias.

O Prémio INH integra ainda um outro aspecto fundamental, que são as sistemáticas sessões de análise e discussão sobre as características de cada empreendimento candidato, realizadas em cada local, com a presença do Júri multidisciplinar e dos promotores, construtores e projectistas de cada empreendimento; uma acção formativa e informativa que assegurou, ao longo das suas 18 edições anuais, o muito significativo número de 568 acções de dinamização da qualidade residencial. No final do artigo divulga-se a constituição do Júri do Prémio INH 2006.

E, de imediato, se faz a apresentação sumária dos conjuntos residenciais premiados e mencionados em 2006, utilizando-se os textos de síntese que correspondem à respectiva apreciação pelo Júri do Prémio e que constam da respectiva acta. No entanto e considerando o objectivo de divulgação que marca este artigo, associaram-se, por vezes, a esses textos, muito breves comentários complementares e relativamente informais, desenvolvidos pelos autores deste artigo e que, apenas para melhor esclarecimento, das respectivas autorias, foram escritos em itálico.




Prémio INH 2006 de Promoção Municipal foi atribuído ao empreendimento de 108 fogos em MonteEspinho, Leça daPalmeira, promovido pelo Município de Matosinhos, construído pela empresa FDO - Construções, S.A, com um projecto coordenado pela arquitecta Paula Petiz.





É um conjunto, constituído por habitação e equipamentos, com expressiva escala humana e grande rigor formal, que se relaciona, muito positivamente, com a comunidade envolvente, através de uma estrutura viária aberta e de equipamentos sociais, contribuindo, ainda, pela sua significativa qualidade urbana arquitectónica, para a valorização da zona de implantação. As habitações apresentam organização e dimensionamento exemplar, complementadas com espaços exteriores que têm em conta as duas escalas, a doméstica e a colectiva. Destacam-se, ainda, as escadas de exterior, que para além da função, são componente de valor estético e cromático e de valorização do clima urbano e determinam espaços exteriores suplementares, a usufruir, em segurança, por todas as classes etárias. Todos estes atributos são valorizados por uma construção muito bem executada, que foi desenvolvida, com grande eficácia, durante um período de obra muito curto. O conjunto atinge uma notável unidade de paisagem urbana e de pormenorização com evidente e muito positiva qualidade, constituindo-se num marco urbano e vicinal valorizador e regenerador da envolvente onde se integra e que ajuda a integrar; é aqui conseguido o difícil objectivo de fazer habitação de interesse social, que se distingue claramente pela positiva e que, assim, é, também, um elemento urbanao regenerador.





O Prémio INH 2006 de Promoção por Entidade Pública Empresarial foi atribuído ao empreendimento de 25 fogos em Jardim daSerra, Câmara deLobos, promovido pelo IHM – Investimentos Habitacionais daMadeira, EPE, construído pela empresa FDO – Construções, SA, com o projecto coordenado pelo arquitecto Carlos Gonçalves.





Neste empreendimento realça-se o muito adequado ajustamento do programa tipológico à população a que se dirige, o exemplar enraizamento dos edifícios num terreno particularmente difícil, desenhando-se com o relevo, a valorização da paisagem local e do sítio, numa verdadeira acção de requalificação ambiental, e a harmonização das construções em relação ao clima de altitude. Todos os espaços interiores das habitações dialogam com um amplo leque de espaços exteriores privados. A adaptabilidade natural deste projecto a moradores , com limitações de locomoção, sublinha as potencialidades desta solução de arquitectura, aliás expressivamente marcada por uma fortíssima e positiva apropriação pelos respectivos moradores, perfazendo uma solução de habitar que contribui para a dignificação das famílias. O nível de agrado com a casa e de apropriação da mesma, designadamente, em espaços e elementos com importante vista pública, atinge aqui características muito positivas e pouco frequentes, o que se considera ser um aspecto muito relevante e que também se liga ao referido e cuidadoso arquitectar de espaços domésticos, que, sendo dimensionalmente limitados, encontram no “jogo” interior exterior uma eficaz dimensão.




O Prémio INH 2006 de Promoção Privada foi atribuído ao empreendimento de 81 fogos em Gala, Figueira.daFoz, promovido pela empresa Efimóveis Imobiliária, SA, construído pela empresa Ferreira Construções, SA, com o projecto coordenado pelos arquitectos Duarte Nuno Simões, Nuno Simões e Joana Barbosa e pelo Eng.º Artur PintoMartins.




Uma concepção conjunta de arquitectura e estabilidade, caracteriza uma construção rigorosa, de imagem clara e de grande economia, atributos realçados por uma coloração apelativa que fazem destacar, positivamente, o novo conjunto na sua envolvente. Os azuis e cinza dos edifícios contrapõem-se com o verde dos generosos espaços exteriores pedonais e recreativos ajudando a criar um ambiente geral marcado pela dignidade, mas também pela alegria e por uma equilibrada diversidade. A solução geral do edifício proporciona uma positiva associação entre imagens e usos das tipologias uni e multifamiliares. As habitações oferecem organizações diversificadas, com uma relação espaço / luz muito interessante. Realça-se o equilíbrio entre um desenho de arquitectura sóbrio e depurado e uma imagem atraente e apropriável pelos seus habitantes, aspectos estes que levam a que este conjunto de habitação de interesse social, tenha uma presença claramente positiva e com influência regeneradora na zona urbana envolvente, marcando um verdadeiro espírito do lugar, muito humanizado e numa íntima relação com a natureza. Sublinha-se a cuidadosa e estimulante utilização de uma tipologia de galerias exteriores (tantas vezes considerada menos adequada), mas que surge com uma imagem associada seja ao unifamiliar seja à tradicional e apropriável varanda corrida.



O Prémio INH 2006 de Promoção Cooperativa no âmbito da Habitação a Custos Controlados foi atribuído ao empreendimento de 45 fogos no Bº da Senhora.daSaúde, Évora, promovido pela cooperativa CHC – Construção de Habitação Cooperativa, CRL, construído pela empresa AntónioMelro Rodrigues, Construção Civil e Obras Públicas, Lda, com o projecto coordenado pelo arquitecto Rui SilvaRusso.





Um pequeno programa urbano, na continuidade do edificado existente, muito bem integrado, em que se atingiu uma excelente ligação entre objectivos sociais, formais e funcionais, evidenciados no elevado grau de satisfação encontrado nos seus moradores. É de realçar a preocupação de oferecer à comunidade um espaço exterior generoso, no interior do quarteirão, claramente caracterizado por uma concepção funcional e por um equipamento muito cuidadosos e estratégicos, desenvolvidos com o objectivo de criação de um exterior de vizinhança com uso real, bem compatibilizado com a contiguidade das janelas dos fogos, de grande atractividade e com condições para poder ser usufruído por todas as classes etárias e em segurança. A imagem do conjunto é harmoniosa e geradora de equilíbrio, formal e visual, factor positivo na integração destas famílias. Realça-se, ainda, o próprio processo de promoção e de gestão urbana baseado numa eficaz colaboração entre a cooperativa e o município.





Menção Honrosa para 6 fogos em Salir, Loulé, promovidos pelo Município de Loulé e construídos pela empresa António Poucochinho, Lda, com o projecto coordenado pelo arquitecto MarceloSantos.




Projecto concebido para realojar uma pequena comunidade cigana, tendo em conta os modos de vida específicos desta população. Os espaços das habitações são complementados com espaços exteriores de escala doméstica, pequenos pátios privatizados, acolhedores e íntimos, frontais e posteriores, que propiciam actividades domésticas, ao ar livre, com grande mobilidade de relação interior-exterior. Todo o conjunto se harmoniza com o meio rural de grande valor ecológico onde se insere. Sublinha-se o grande interesse que tem a continuidade de experiências deste tipo, em que se tenta, na prática, o desenvolvimento de soluções tipológicas que sirvam, simultaneamente, modos de vida específicos e a manutenção de uma imagem urbana digna e atraente; e anota-se a importância que terá o acompanhamento da ocupação destas casas de forma a ajuizar da sua adequação.



Menção Honrosa para 30 fogos em Barroca, Murça, promovidos pelo Município de Murça, construídos pela empresa Manuel JoaquimCaldeira, Lda, com o projecto coordenado pelo arquitecto João Avelino de Sousa.





Neste empreendimento realça-se uma excelente adequação da edificação à pendente acentuada do terreno e uma interessante relação entre os edifícios que definem acessibilidades pedonais atractivas e muito amigáveis. As habitações de áreas bem dimensionadas, complementadas por espaços exteriores de escala doméstica, têm proporcionado positivas acções de apropriação pelos moradores. Neste conjunto sublinham-se pequenos mas importantes pormenores, seja ao nível do reforço da identidade e da apropriação, como é o caso dos pequenos pátios frontais, portas bem desenhadas e volumes e cores gerais que transmitem imagens de alegria, seja ao nível de aspectos funcionais positivos entre os quais se destacam as cozinhas espaçosas.




Menção Honrosa para 68 fogos em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, promovidos pela empresa Efimóveis, SA, construídos pela empresa FerreiraConstruções, SA, com o projecto coordenado pelos arquitectos J. Bragança e M. Marques.





Um projecto inovador que usa pequenos edifícios bifamiliares em bandas, agradavelmente seccionadas e é caracterizado pela organização das habitações em meios pisos procurando assim uma melhor adequação da construção à pendente acentuada do terreno. O desenho, no seu todo, é muito cuidado, de grande simplicidade e beleza formal e a procura de soluções para obter iluminação natural em todos os espaços é uma das particularidades a realçar neste projecto. A construção apresenta um elevado nível de execução, acentuando-se ainda a correcta implantação, relativamente à riquíssima e bela paisagem rural. Sublinha-se, ainda, seja a muito equilibrada solução que harmoniza, pelas suas características gerais de desenho urbano, a referida paisagem rural com uma agradável e bem caracterizada frente urbana, de bandas densificadas e repartidas, entre as quais se incluem pequenos espaços de enquadramento e de recreio. Salientam-se finalmente dois aspectos distintos: a opção global, que é realmente a mais indicada, de aplicar uma tipologia de certa forma amiga da paisagem e que nela se integra muito positivamente; e o sensível e aturado cuidado investido em toda a pormenorização de arquitectura, designadamente, no exterior público.




Menção Honrosa para 181 fogos em S.António, Faro, promovidos pela cooperativa CUPH – Urbanização Janelas.de Faro I, CRL, construídos pela empresa Varcril – Construções, SA e Edifer, SA, com o projecto coordenado pela arquitecta Jennifer Silva Pereira, pelo arquitecto Rogério Paulo Inácio e pelo arquitecto paisagista José Brito.




É um empreendimento urbano que guarda as memórias rurais do lugar, usando, positivamente, estas preexistências para estruturar e qualificar o conjunto edificado. A imagem urbana e residencial do conjunto é atraente, marcada por excelente solução de arquitectura urbana e de espaços públicos, que privilegia o peão e um desenho sóbrio realçado pela qualidade construtiva. Salienta-se, ainda, a muito agradável paleta cromática. Este é um belíssimo conjunto residencial e urbano, marcado, em termos de concepção, por uma rara e muito bem conseguida aliança entre arquitectura e arquitectura paisagista, caracterizado por uma rara atitude de “dar a volta” a uma zona ambientalmente degradada (as traseiras de uma frente urbana) recuperando-a com uma frente de boxes de estacionamento, aplicando uma rara solução de revestimento dos espaços exteriores que privilegia a infiltração da água da chuva nas amplas zonas verdes e pedonais, onde existe um raro estacionamento arborizado, que salvaguarda árvores preexistentes, e que estrutura toda a intervenção em torno e ao longo de um agradável e estimulante eixo pedonal e naturalizado, que tem uma extensão maximizada e se prolonga por atraentes pracetas pedonais. Nas habitações há que sublinhar a existência de cozinhas que são verdadeiras “salas de família.”



Menção Honrosa para 24 fogos em Colina., Ferreira.do Alentejo, promovidos pela Cooperativa de Habitação Económica Lar ParaTodos, CRL., construídos pela empresa António Jorge, Lda, com projecto coordenado pelo arquitecto AnteroFerreira.



É um empreendimento muito bem integrado, que tem em conta a pendente do terreno e apresenta como referência a arquitectura local tradicional. Os espaços interiores estão bem organizados e dimensionados, articulando-se com espaços exteriores privados, em pátios, com uma escala intimista e possibilitando grande diversidade de usos domésticos. O especial interesse desta intervenção refere-se a dois aspectos distintos: um deles é a capacidade de grande integração numa envolvente basicamente unifamiliar e ruralizada, aplicando-se, claramente, uma imagem térrea; e o outro o desenvolvimento de uma solução edificada em que se tenta, de certa forma, associar à vivência do unifamiliar todas as potencialidades que podem caracterizar o uso de um orgânico conjunto de espaços interiores, exteriores, de transição, mais e menos repartidos e delimitados por muros e servidos por acessos principais e de serviço, e tudo isto respeitando ao máximo uma imagem pública consistente e sóbria, com reduzido impacto visual.

Segue-se a indicação da constituição do Júri do Prémio INH 2006 (indicam-se todos os participantes nos trabalhos de análise, incluindo os elementos suplentes).

Eng.º José TeixeiraMonteiro, Presidente do Conselho Directivo do INH e Presidente do Júri.
Dr. JorgeMorgado e Eng.º PauloReis, do Instituto Nacional de Habitação (DCS)
Eng.ª Teresa Nunes, do Instituto Nacional de Habitação (DCN).
Arq.º Rogério de Oliveira Pampulha, do Instituto Nacional de Habitação (INH).
Arq.º Armindo AlvesCosta, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP).
Arq.º António Baptista Coelho, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
Dr. LuísFerreira daSilva e Eng.ª TeresaNogueira Simões, da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas (AECOPS).
Eng.ª Cristina Cardoso e Eng.ª Joana Vaz, da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).
Eng.ª Maria João Surrécio e Eng.º Manuel Agria, da Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas (ANEOP).
Sr. Carlos Alberto da CruzCoradinho, da Federação Nacional das Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).
Arq.ª Paisagista Maria CelesteRamos, da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas (APAP).
Eng.º Manuel Cenrada Guinapo, da Ordem dos Engenheiros (OE).

No Próximo artigo do Infohabitar tecem-se mais alguns comentários sobre a experiência do Prémio INH e, a propósito, e com toda a naturalidade, editam-se algumas apreciações, muito breves, sobre outros conjuntos candidatos nesta edição de 2006 e que na opinião de quem irá assinar esse artigo, também merecem pequenos, mas significativos destaques, aqui no Infohabitar, de forma a que alguns aspectos positivos de experiências residenciais e urbanas de habitação de interesse social não fiquem sem registo.

Lisboa, Encarnação- Olivais Norte e Bairro de Santo Amaro

António Baptista Coelho
Maria Celeste Ramos

Edição: José Baptista Coelho

2 de Julho de 2006

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