quarta-feira, setembro 24, 2025

Contribuições para a Habitação de Interesse Social, hoje, em Portugal – infohabitar # 950

Contribuições para a Habitação de Interesse Social, hoje, em Portugal infohabitar # 950

Informa-se que para aceder (fazer download) do mais recente Catálogo Interativo da Infohabitar, que está tematicamente organizado em mais de 20 temas e tem links diretos para os 922 artigos da Infohabitar, existentes em janeiro de 2025 (documento pdf ilustrado e com mais de 80 pg), usar o link seguinte:

https://drive.google.com/file/d/1vw4IDFnNdnc08KJ_In5yO58oPQYkCYX1/view?usp=sharing

Infohabitar, ano XXI, n.º 950

Edição: quarta-feira 24 de setembro de 2025


Fig. 1: legenda mais abaixo com imagem repetida

 

Importante nota prévia e  informativa

Tal como temos divulgado A GHABITAR promove, a 25 de setembro no CIUL, em Lisboa, das 17:00 às 19:00, um encontro sobre Cooperação na Habitação.

Num tempo de crise habitacional, urge repensar políticas e práticas centradas na solidariedade e na ação coletiva e, por isso, o modelo cooperativo surge como uma das alternativas mais óbvias à especulação e à exclusão. Pretendemos, assim, debater como o ecossistema Estado, privados e terceiro setor olham para esta orientação constitucional e como se pode sair deste impasse em que parece que caímos e que a todos preocupa.

https://www.facebook.com/susana.machado.9047/posts/pfbid0pmriuupFo9MiYGJFXcXPG9JRDwDTTyh3QWGVkWp4686wcUV6A2ATs545Mar6RG7dl


Editorial do n.º 950 da Infohabitar

Caros leitores da Infohabitar,

Estamos juntos há mais de 20 anos e há mais de 950 edições semanais, praticamente sem falhas, sendo a presente edição “oficialmente” a 950ª, pois outras houve não numeradas.

É com uma especial emoção que escrevo estas linhas e é com muita especial emoção que passo os olhos pelos nomes dos 102 amigos e colegas que contribuíram com artigos para esta excelente aventura editorial; uma listagem que está sempre presente na margem esquerda da nossa revista.

O número 950 não é o n.º 1000 de uma revista/publicação, mas aproxima-se “perigosamente” desse marco histórico, que provavelmente acontecerá em inícios de 2027 e que penso deverá merecer uma “festa de arromba”.

Mas 950 edições são realmente um “número redondo”, que dá gosto dizer: 950 edições da Infohabitar - revista semanal – E-zine magazine – sobre o habitat humano, editada à quarta feira, ligada à GHabitar - Associação Portuguesa Promoção Qualidade Habitacional.

Quanto ao artigo de hoje, intitulado “Contribuições para a Habitação de Interesse Social, hoje, em Portugal – infohabitar # 950”, ele mantém (porque houve no último ano outros artigos, que julgo estruturantes, sobre a matéria e que são registados no final do presente artigo com os respectivosblinks) e desenvolve uma reflexão informal sobre este assunto hoje finalmente tão discutido, e uma reflexão que se procurou ser aditiva, cuidadosa e informada, sobre o que julgo dever ser a nova habitação de interesse social portuguesa, apresentando um conjunto de reflexões cujo perfil é identificável no respetivo índice e onde, na prática, tento fazer algumas sínteses possíveis ou “naturais” sobre este assunto.

Quero fazer, ainda, uma nota ,muito especial, para o “artigo/legenda”, que abre esta edição, acompanhando uma imagem do grande, único e atualmente carenciado de reabilitação e divulgação “Olivais Norte Modernista”; uma imagem que quer ilustrar e antecipar, na prática e informalmente, boa parte dos aspetos desenvolvidos no artigo, e cuja legenda foi crescendo, tornando-se um artigo/legenda e antecipando um próximo artigo especifico sobre este excelente bairro lisboeta e português, que muito merece a nossa atenção.

Recebam os meus agradecimentos sinceros pela atenção dedicada a esta linhas e a tantas outras aqui publicadas ao longo de mais de vinte anos da nossa revista semanal infohabitar, que tal como aqui acabou de ser apontado é “nossa” e portanto continua sempre aberta a novas propostas de artigos,

 e recebam, também as saudações muito calorosas, do vosso

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

Presidente da MAG do GHabitar

Coordenador do CIHEL

Vogal Dir. NHC Social Coop. de Solidariedade


Lisboa, 24 de setembro de 2025


Fig.1

Legenda/artigo a propósito do grande Olivais Norte Modernista 

Como única ilustração deste artigo, mas com uma extensa legenda, que acaba por se assumir como um pequeno artigo dentro do artigo “mãe”, pois acaba por abordar, neste caso na prática, boa parte dos assuntos tratados neste artigo 950, que sintetiza um conjunto de contributos para a melhoria da habitação de interesse social portuguesa, apresenta-se uma imagem que corresponde a um enquadramento fotográfico geral de arquitectura urbana e residencial entre os muitos excelentes enquadramentos fotográficos que são possíveis no Bairro de Olivais Norte em Lisboa (não confundir com Olivais Sul, como por vezes acontece): um enquadramento fotográfico em que surgem duas “categorias” habitacionais entre as quatro (mais uma: I, II, III, IV e HR) aplicadas entre nós até cerca de 1970, e que variavam, essencialmente, na tipologia edificada (alta e baixa altura e respetivamente com e sem ascensores), dimensionamento das respetivas áreas domésticas e na elaboração da respetiva pormenorização, mas “não”, sublinhe-se, nos respetivos aspetos de qualidade arquitectónica global.

Voltando à imagem, na primeira linha de vista temos partes de duas correntezas de edifícios baixos, cuja extrema economia dimensional (fogos e espaços comuns) e construtiva, que integravam a Categoria I, “mínima” (entre quatro mais uma “categorias” de habitação económica, então existentes e até cerca de 1970), não arriscou a sua evidente dignidade e qualidade de imagem urbana – Arquitectura de Braula Reis e João Matoso – e em segunda linha, na imagem, uma torre residencial, que integrava a Categoria II (intermédia nas quatro “categorias” existentes e muito aplicada), uma torre que corresponde a um dos melhores edifícios residenciais jamais construídos entre nós e cuja solução, repetida no bairro, recebeu um Prémio Valmor – Arquitectura de Nuno Teotónio Pereira, António Freitas e Nuno Portas.

Olivais Norte – o “O. Norte Modernista” como irei intitular um próximo artigo – é uma malha urbana e paisagística paisagística com cerca de 1900 habitações, em 40 hectares (cerca de 200 habitantes/hectare, atente-se), teve o seu processo de planeamento pormenorizado dirigido pelo arquitecto-urbanista José Rafael Botelho – baseado num plano anteriormente elaborado pelos arquitectos José Sommer Ribeiro e Pedro Falcão e Cunha – e foi uma intervenção pública e municipal onde se aliaram os esforços dos promotores e técnicos das HE-FCP e do Gabinete Técnico de Habitação da CML, mais alguns outros promotores institucionais e associativos.

Olivais Norte – o “O. Norte Modernista” – é, passados quase 70 anos da sua construção, um exemplo vivo (i) de qualidade da arquitectura urbana residencial e das suas soluções pormenorizadas e diversificadas (em tipologias de edifícios e de fogos), (ii) qualidade da integração sociocultural atingida, (iii) adequação à satisfação residencial já de várias gerações de habitantes, (iv) integração de arte urbana (tão rara mas efetiva e quase generalizada neste bairro), (v) inovadoras soluções urbanas pormenorizadas (espaços mistos peões-veículos entre outros aspetos), (vi) integração valorizada de preexistências, (vii) qualidade construtiva do edificado e dos exteriores, (viii) adequação ecológica e solar dos edifícios (reparem: nos anos de 1960), (ix) e inovadora, mas fundamental, participação da arquitectura paisagista na organização geral da implantação de edifícios e no arranjo pormenorizado dos seus espaços exteriores, ainda hoje inovadores e muito humanizados em muitos aspetos, hoje infelizmente muito deficientes de manutenção.

Quero concluir este pequeno artigo/grande legenda defendendo que este "único" Olivais Norte Modernista é (i) um bairro que merece uma atenção patrimonial e profunda urgente nos vários aspetos das sua imagem urbana (por exemplo, designadamente, através de uma estratégia de gestão que procure aliar moradores, intervenção pública e adequada informação), podendo e merecendo assumir uma importante divulgação europeia como conjunto urbano modernista exemplar (e atente-se nos frequentes visitas que já acontecem frequentemente no bairro) e ainda por cima de habitação de interesse social e (ii) um bairro que não merece a grave deterioração que incide sobre uma parte significativa das suas caraterísticas de imagem urbana e arquitetónica, deterioração essa que decorre, por um lado, das infelizmente bastante generalizadas e negativas apropriações dos moradores em edifícios que são realmente “patrimoniais” (ex., “marquises” sem qualquer uniformidade e cuidado de desenho), e, por outro lado, da crítica deterioração e ausência de cuidados que marca grande parte dos respetivos espaços exteriores públicos, que evidenciam a ausência dos essenciais cuidados regulares públicos de manutenção e, atualmente, mesmo de reabilitação do que eram os seus exemplares espaços exteriores “verdes” e construídos;  e uma situação de grave deterioração de boa parte do exterior público dos Olivais Norte que tem acontecido, de modo evidenciado, nas últimas dezenas de anos; uma situação que deve começar a ser urgentemente revertida com uma gestão adequada e participada e o esforço de todos, públicos e privados, seguindo-se, até, exemplos que penso terem sido já desenvolvidos em Lisboa (em situações que julgo similares, ex., Av.ª do Brasil, numa intervenção praticamente simultânea em edifícios privados e pracetas públicas adjacentes) e, se possível, utilizando-se apoios patrimoniais específicos que porventura existam disponíveis no País e a nível da UE, e desenvolvendo-se intervenções estrategicamente faseadas em diversas áreas do bairro, aproveitando-se para procurar resolver, cuidadosamente, problemas pontuais existentes (ex., falta local de estacionamentos, falta de mobiliário urbano e falta de equipamentos de campos de jogos, bem como  outros aspetos a identificar e onde se salienta a necessidade de um cuidadoso replantio das espécies vegetais originariamente escolhidas, apenas com alterações bem justificadas por aspetos de saúde, como as alergias).

Quem queira visitar o O Norte Modernista, ainda bem impactante na sua vivência e imagem, não ficará desiludido e pode até ir de Metro até à estação da Encarnação que se situa no centro de Olivais Norte e onde poderia e deveria ser instalado um pequeno e prático “centro” informativo e de divulgação sobre o Bairro, desde que, naturalmente, integrado numa sua urgente ação de reabilitação, regeneração e divulgação. 


Contribuições para a Habitação de Interesse Social, hoje, em Portugal infohabitar # 950

António Baptista Coelho


Índice

1. Breve introdução a uma abordagem específica sobre a habitação de interesse social

2. Importância da consensualização sobre as caraterísticas básicas ou essenciais do habitar/ habitação

3. Sobre o vital combate à uniformização e consequente estigmatização da habitação de interesse social, fazendo-se boa habitação de interesse social

(i)             Gestão

(ii)           Tecnologia e industrialização da construção

(iii)          Durabilidade construtiva e “no uso”

(iv)         Projeto

(v)           Tipologias

(vi)         Aspetos regulamentares

(vii)        Reabilitação habitacional

(viii)      Acesso à habitação de interesse social

4. Sobre a aliança  entre satisfação residencial e qualidade arquitectónica e como a garantir

5. Breves notas sobre a urgência da disponibilização de novas formas de habitar

6. Algumas poucas notas práticas sobre a atualidade da urgente promoção de habitação de interesse social em Portugal

Anexo: Artigos do autor sobre habitação de interesse social em Portugal editados na Infohabitar em 2025

 

1. Breve introdução a uma abordagem específica sobre a habitação de interesse social

Numa altura em que todos falam de habitação e de “habitação social”, sendo que alguns dos que delas falam pouco mais sabem do que aquilo que perguntaram “oportunamente” a assessores eles próprios frequentemente muito mal informados sobre essas matérias, parece valer a pena continuar a editar várias reflexões sobre o assunto habitacional e sobree a atual crítica carência de habitação de interesse social portuguesa e europeia, privilegiando-se a experiência adquirida, no meu caso ao logo de uma vida de trabalho, e numa perspectiva ponderada, portanto, teórico-prática (ou vice-versa) e baseada em diversas facetas de abordagem.

Neste sentido têm sido editados, “desde sempre” (desde há cerca de 20 anos), na Infohabitar artigos de muitos autores e designadamente de colegas do GHabitar (antigo Grupo Habitar) sobre as matérias habitacionais e sobre as questões mais específicas ligadas à urgente promoção de habitação de interesse social em Portugal e ao papel dos arquitectos ou da Arquitectura nesta urgente problemática.

O presente artigo é também uma contribuição com esse objetivo geral e enquadrado na perspetiva do que que se julga poder ser a utilidade dos conhecimentos habitacionais condensados nos membros do GHabitar; mas, evidentemente, não deixando de ser uma reflexão fortemente pessoal e realizada num sentido da minha experiência pessoal e de vida no âmbito do estudo teórico-prático da qualidade habitacional e dos aspetos que julgo deverem caracterizar a habitação de interesse social, procurando-se uma faceta de análise ampla, onde deve prevalecer o duplo objetivo da satisfação dos habitantes e da qualidade arquitetónica culturalmente valorizadora. A minha formação em Arquitectura está, evidentemente, sempre presente, mas procuro, sempre, algum equilíbrio com a condição de habitante e mesmo de participante ativo na valorização do habitar, neste caso aplicando naturalmente a minha ligação, de longa data, à Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

Falta dizer que esta é mais uma reflexão, aditiva a uma série de muitos artigos que  já publiquei; mas talvez seja uma reflexão especialmente abrangente e que procurei ser identificadora de renovados caminhos de análise, estudo e divulgação.

2. Importância da consensualização sobre as caraterísticas básicas ou essenciais do habitar/habitação

Penso que, em primeiro, lugar seria muito importante haver uma reflexão, o mais possível, consensual sobre o que entendemos por “habitação” ou “habitar”, no sentido de, por uma vez:

(i)  por um lado, afastarmos os “fantasmas” da repetição “nauseante” de soluções de alojamento tendencialmente “todas iguais”, interior e exteriormente, fortemente uniformizadas, tendencialmente uniformizadoras dos modos de habitar de quem lá vai viver, e sem quaisquer aspetos de incentivo à identidade local, e o que dizer à apropriação pessoal dos conjuntos e espaços residenciais;

(ii)  e, por outro lado, entendermos a habitação como algo que se passa entre o espaço pessoal de cada um em sua casa e o espaço urbano citadino que é de cada um mas também é de todos, e entre estes dois “pontos” do “tabuleiro” do jogo urbano, que deve ser um “jogo”, bem conjugado e sequenciado, a habitação deverá também passar-se nas vizinhanças e nos vitais espaços de relação, transição e coesão entre todas essas dimensões residenciais; os tais espaços que só existem na arquitectura de qualidade e que aliás são os elementos fundamentais da Arquitectura, na opinião de grandes mestres.

Antes de avançar mais um pouco nestas matérias que são vitais para (i) a coesão urbana física/funcional, (ii) para a integração/coesão social e para a (iii) própria coesão de imagens e caraterísticas específicas de cada sequência e de cada sítio urbanos, penso que é essencial contribuir para a construção, consolidação e consensualização desta base de entendimento geral sobre o que pode e deve ser entendido como habitação e habitar; um habitar cuja caraterização geral e aspetos essenciais de constituição valham para todos nós “habitantes”, desde o mais rico e autónomo ao mais pobre e carente de apoios; e não tenhamos qualquer dúvida que é possível fazer habitação de interesse social com uma qualidade arquitectónica residencial equiparável à existente numa habitação dita de luxo, onde, aliás, por vezes, tal qualidade é, até, muito discutível, pois ela não depende apenas de quantidades de áreas e de custos de acabamentos.

Pormenorizando um pouco matérias, cada uma delas apaixonante e muito ampla, lembremos que é essencial sentirmo-nos identificados com o sítio onde habitamos, com o edifício que habitamos e com os espaços domésticos que habitamos, para que tais condições influenciem, positivamente, a nossa vida individual, familiar e de vizinhança, e por aqui chegamos à bem discutida e fundamentada noção de que o “habitar” tem a ver com “apropriar/marcar” e ser, “mutuamente” e também, bem marcado pelos aspetos que caraterizam especificamente os sítios que habitamos. E, naturalmente que tal não é possível com repetições “doentias” e tantas vezes mal concebidas, de edifícios, de agrupamentos de edifícios e de soluções de fogos onde apenas varia a “ala” de quartos (mais ou menos alongada), estando o resto da casa funcionalmente imutável desde há cerca de um século, imagine-se; repetições estas que, no limite, irão fazer apagar qualquer sentido de pertença e de identidade e que anularão qualquer possível perspetiva de influência positiva desse quadro arquitectónico no nosso dia-a-dia e na nossa perspectiva vivencial e urbana.

E atenção que não se quer discutir aqui a bem conhecida questão da influência, maior ou menor, do nosso meio de vida diário no comportamento; que, sabemos, será maior ou menor consoante diversas variáveis socioculturais, de integração global urbana e de boa acessibilidade da intervenção, da sua gestão local e da respetiva qualidade física e visual concreta do espaço arquitectado (incluído evidentemente as questões de acessibilidade); mas julgo que ninguém discute que tal influência existe realmente e que um conjunto residencial bem qualificado em todos esses aspetos terá sempre influências (muito) positivas nos seus moradores; assim como a situação contrária terá, naturalmente, influências sociais e comportamentais (muito) negativas e pouco antecipáveis.

Por outro lado, por favor não se usem as velhas desculpas da repetição das soluções ser a panaceia da habitação de interesse social, porque redutora dos seus custos; porque, evidentemente, não se defendem projetos individualizados, mas apenas conjuntos de projetos específicos para cada intervenção, bem integrados em termos das suas componentes edificadas e de espaços de uso público, e com uma dimensão social (n.º de fogos) não excessiva em cada intervenção – ainda que, por exemplo, a mesma intervenção possa até ser repartida por diversas localizações mais ou menos próximas e utilizando, basicamente, os mesmos projetos.

E nada disto é novo, a Federação de Caixas de Previdência (FCP) e o Instituto Nacional de Habitação (INH/IHRU) fizeram-no, em Portugal. em dois quartos de século, a primeira a partir de cerca de 1940/5 e o segundo a partir de 1984/5; sendo que no caso do INH este instituto assegurou a concretização de uma grande quantidade de conjuntos habitacionais em colaboração com o Estado Central, mas diretamente promovidos, com estratégica autonomia, por Cooperativas, Municípios e Empresas, desmultiplicando, diversificando e adequando localmente as soluções habitacionais e assegurando, então, a resolução do que na altura era uma muito crítica falta de habitação em Portugal.

3. Sobre o vital combate à uniformização e consequente estigmatização da habitação de interesse social, fazendo-se boa habitação de interesse social

Repete-se que a habitação não fica mais barata por ser “doentiamente” repetida, fica mais barata se for bem projetada, e usando-se, por exemplo, soluções repetidas de vãos exteriores muito bem concebidos, bem como um amplo leque de outras soluções construtivas bem desenvolvidas e aplicadas e, sim, repetidas, mas em conjuntos não quantitativamente excessivos e/ou concentrados e/ou muito próximos, e bem caraterizados por aspetos formais cuidadosamente variados em diversos elementos estruturantes e pormenorizados como são, por exemplo, as agregações modulares, as cores e as texturas, os tipos de revestimentos, os elementos “anexados” especializados e ainda outros elementos que fazem o abecedário dos bons projectistas, que por vezes os consideram “pequenos segredos” de conceção com os quais fazem soluções residenciais de baixo custo, com repetições que não parecem sê-lo e até, por vezes, inventando novos elementos e aplicando fortes ligações com a escala humana.

Esta matéria liga-se, ainda, a outros aspetos/questões fundamentais na promoção de habitação dita de baixo custo, que aqui serão apenas minimamente apontados, mas cuja importância pode ser, provavelmente, idêntica aos aspetos projetuais acima salientados – e naturalmente, assume-se o cumprimento de aspetos essenciais de conforto ambiental, poupança energética e segurança geral e contra incêndios:

(a ordem dos seguintes aspetos, “i a ix”, é razoavelmente aleatória)

(i) A questão estruturante da gestão, o mais possível integrada, de todo o processo do chamado “realojamento” ou da promoção de habitação de interesse social, que deveria aprender com o processo cooperativo da FENACHE, com algumas soluções de aliança com o setor privado em Contratos de Desenvolvimento de Habitação e, naturalmente, com alguns processos exemplares de promoção municipal por parte de determinados municípios perfeitamente identificáveis; pois não faz sentido segmentar todo este processo quando muito ganhamos com a máxima relação entre as suas diversas etapas, incluindo naturalmente a gestão de proximidade a realizar após a ocupação – e sobre esta matéria chama-se a atenção para o artigo sobre o bairro cooperativo do Vale Formoso de Cima em que colaborei com o Presidente da FENACHE, Manuel Tereso e cujo link se encontra no final deste artigo.

(ii) A questão bem atual de uma adequada tecnologia e industrialização da construção, ligada ao mundo dos aspetos da falta de mão de obra qualificada e mesmo de opções essenciais em termos de tipologia construtiva (mais mão de obra pouco qualificada ou menos mão de obra mais qualificada e aplicando processos menos “rústicos”); e nesta matéria há soluções “antigas” de industrialização construtiva, como as aplicadas pela Icesa, que importa revisitar, assim como outros caminhos de prefabricação total ou parcial; e tudo isto numa ligação íntima com os novos processos de projeto e provavelmente com as soluções BIM.

(iii) A questão, essencial, da durabilidade construtiva e “no uso” da habitação de interesse social, não sendo mesmo de admitir que em qualquer promoção residencial apoiada pelo Estado estes níveis de durabilidade construtiva e no uso e de associados excelentes critérios de funcionalidade e economia na manutenção não sejam garantidos a um nível de grande exigência e tendo-se em conta potenciais usos muito deficientes e até agressivos; e isto tem tudo a ver com os aspetos anteriormente apontados da gestão e da tecnologia e industrialização da construção e respetivos custos, pois estes custos devem ser considerados numa perspectiva de longo prazo, incluindo portanto respetivos aspetos de manutenção e eventual reabilitação, e tendo em conta usos potencialmente agressivos no que se refere à funcionalidade e ao aspeto dos respetivos elementos construtivos e de equipamento da habitação.

(iv) A questão do projeto e aqui não me refiro ao de Arquitectura especificamente, mas a todo o projeto que pode e deve aproveitar, ao máximo, as novas ferramentas digitais, tanto num evidente sentido de essencial eficácia, rigor e, consequente, controlo de qualidade e de custos finais, mas também do grande potencial que existe para uma relativa mas expressiva diversificação de soluções finais, mas usando “módulos” e “pacotes” de “micro-soluções” residenciais e construtivas estes sim racionalmente tão repetidos, como fiáveis, provados e eficazes; criando-se soluções aparentemente únicas e bem caraterizáveis feitas com elementos estandardizados e portanto económicos e qualitativamente garantidos, e com  bases de projeto bem provadas e experimentadas, o que sem dúvida reduzirá custos sem se reduzir a qualidade geral e final das soluções; antes pelo contrário.

(v) Relacionada com o projeto mas também com a gestão geral e com o ordenamento territorial temos a questão das opções básicas por tipologias de edifícios em altura ou, preferencialmente e, quando em ações de realojamento mais complexas, sempre que possível, de baixa altura e densificados, proporcionando-se, com estes últimos, soluções mais apropriáveis, menos dependentes de dispendiosos equipamentos como ascensores, muito mais amigas de uma gestão mais económica a prazo e, suplementarmente, proporcionando, tendencialmente soluções urbanas com maior relação entre espaços públicos e vistas domésticas, o que é, sem dúvida, uma condição de maior segurança natural no uso do exterior público. Tais opções também têm a ver com a coragem de se alterarem regulamentações locais, mudando-se tipologias edificadas, e densificando-se estrategicamente, aproveitando-se para vitalizar localmente e avançando-se na essencial integração e “dispersão” de variados grupos socioculturais, e diversificação de vários tipos e soluções de habitação de interesse social, caminho este que deveria ser, finalmente, seguido em Portugal – penso que nunca o foi de forma sistemática nas últimas dezenas de anos, mas esta é mais uma daquelas matérias que nos leva longe e há que fazer justiça aos mais de 25 anos de dispersão de pequenos conjuntos de habitação de interesse social apoiados pelo INH/IHRU.

(vi) Esta última grande questão ligada às opções tipológicas da habitação de interesse social prende-se, como é evidente, com aspetos regulamentares gerais – desde os de ordenamento urbano aos construtivos e dimensionais; uma perspetiva que nos levaria muito longe, mas onde ficamos, para já, apenas, com os seguintes apontamentos práticos e, repito, pessoais:

(a) as alterações na ocupação urbana são vitais, não só porque permitirão fazer habitação de interesse social onde será mais bem-vinda em termos urbanos, mais integrada, mais acessível relativamente a transportes públicos e potencialmente muito mais ligada à cidade, porque inserível em “pequenos conjuntos” e até em edifícios que preencham pequenos vazios urbanos, diluindo-se positivamente os novos habitantes em vizinhanças preexistentes e que, por sua vez, ganhem equipamentos com estas novas intervenções; este tipo de alterações que também pode e deve poder modificar tipologias de edifícios previstas em cada local é já um dado adquirido em muitos países europeus: “ver para crer”, e não tenhamos dúvida que este caminho é essencial no sentido de se proporcionarem terrenos a custos reais que viabilizem a promoção de habitação de interesse social financeira e socialmente sustentável;

(b) no que se refere às questões de regulamentação geral da construção de habitação de interesse social, julga-se que esta terá de ser drasticamente simplificada não perdendo, evidentemente, quaisquer aspetos essenciais de qualidade e de segurança, mas proporcionando, talvez, diversos níveis de soluções finais em termos de áreas e de tipos de acabamentos – e afinal tal condição já quase existe atualmente por exemplo com o designado Estatuto Fiscal Cooperativo que proporciona fogos um pouco maiores e naturalmente com menores apoios oficiais. Não se trata aqui, penso eu, de voltar às antigas Categorias (I a IV, mais HR) realizadas pelas Habitações Económicas, mas se olharmos para o que então foi feito encontramos extraordinárias soluções residenciais feitas com áreas realmente mínimas e que resultaram de forma esplêndida e aliás servindo já várias gerações. Por aqui fico, para já, nesta sensível matéria que muito tem a discutir, mas julgo que exigir o que atualmente se exige, globalmente, à habitação de interesse social e simultaneamente querer baixar-lhe o custo por metro quadrado, só numa história de ficção, é o que penso.

(vii) Importa ainda acrescentar como aspeto/questão fundamental na promoção de habitação dita de baixo custo a positiva aplicação de boas soluções de espaços públicos, desde a sua estruturação geral e clara ao seu adequado acabamento, lembrando-se aqui que esta questão foi uma das essenciais na elaboração da nova fase de habitação de interesse social portuguesa com o INH em 1984. Não deveria ser possível e não é realmente possível habitar espaços residenciais inacabados, assim como não é nada recomendável fazerem-se conjuntos ditos urbanos cujos espaços públicos não tenham “forma”, continuidade, usos concretos, ligações urbanas, visibilidade natural a partir das habitações contíguas, verde urbano expressivo e viável e adequada gestão corrente; e além de tudo isto é possível avançar em tipologias de exteriores de relação entre espaços privados e espaços públicos. O que não é aceitável é que o exterior dito público seja tendencialmente residual e/ou contenha espaços residuais, “escondidos” e facilmente deteriotados.

(viii) Neste conjunto de questões/aspetos fundamentais na promoção de habitação dita de baixo custo quero ainda referir, sinteticamente, que na minha opinião será muito difícil aplicar a tão necessária reabilitação habitacional na resolução do urgente problema de necessidades quantitativamente críticas de habitação de interesse social, isto porque não temos, ainda, parâmetros verdadeiramente confiáveis sobre o custo da reabilitação, e se na construção nova sabemos com o que contamos e temos o problema que temos, o que dizer da reabilitação? Isto não inviabiliza o avanço nesta área mas enquadra-o de forma estratégica e neste mesmo sentido seria, de uma vez, essencial fazer em Portugal o que foi feito há anos em Espanha no sentido de se apurarem e de forma extremamente prática o que podem ser as “condições básicas de habitabilidade” de fogos reabilitados e atenção, consulte-se a legislação espanhola (regionalmente elaborada) pois o que foi considerado “básico” é MESMO básico. Mas de qualquer forma e embora este caminho do uso da reabilitação na satisfação das urgentes necessidades de habitação de interesse social seja bem importante, designadamente na revitalização social diversificada do centro mais antigo das povoações e cidades, ele será sempre marginal face aos deficits de habitação de baixo custo existentes.

(ix) Julgo, ainda, que o acesso à habitação de interesse social deve ser geral e possível a qualquer pessoa ou agregado familiar, independentemente do seu rendimento, sendo que as respetivas condições de pagamento (renda ou compra), deverão ser adequadamente fixadas e as condições de “reserva” da propriedade deverão também ser claramente definidas e cumpridas, não sendo de aceitar qualquer tipo de especulação realizado com base em habitações desenvolvidas com apoios do Estado central e dos Municípios. Naturalmente que determinados tipos de promoção de habitação de interesse social, como os desenvolvidos por cooperativas e por empresas, serão mais adequados a esta faceta da oferta de habitação de interesse social, tal como foi aliás atrás apontado para o caso existente do Estatuto Fiscal Cooperativo – provavelmente habitações um pouco mais espaçosas e pormenorizadas em termos de acabamentos, mas também com maior custo e igualmente com as semelhantes limitações em termos de propriedade.

Quanto ao escalonamento da atribuição de habitação penso que, em situações correntes (ex., que não de “calamidade” por exemplo), todas as pessoas e agregados familiares dos mais diversos grupos socioculturais e etários com carências habitacionais críticas, que não tenham condições próprias suficientes para solucionarem a sua falta de habitação devem ser apoiados em total igualdade de condições, considerando-se, designadamente, o que poderemos resumir como a data da respetiva inscrição no município respetivo e os respetivos regulamentos de atribuição de fogos, não sendo aceitáveis quaisquer alterações a essa ordem de indicação de carência. O que aliás penso ser a situação vigente.

(x) (perdoem esta inserção, mas é apenas para reforçar que considero este conjunto de aspetos/questões que fundamentais na promoção de habitação dita de baixo custo como um tema razoavelmente “em aberto”)

4. Sobre a aliança entre satisfação residencial e qualidade arquitectónica e como a garantir

Voltando, agora, mais à área especificamente arquitectónica do habitar e especificamente da habitação de interesse social, quero avançar um pouco na relação entre o que se “oferece” em termos de habitar aos moradores de conjuntos de habitação de interesse social, ou o que se lhes tem proporcionado em termos por um lado de satisfação habitacional global (do fogo(habitação à integração urbana) e, por outro, do que podemos considerar como uma qualidade arquitectónica mais específica e mais ligada ao próprio “desenho” destas soluções.

É daqueles temas sobre os quais se devem fazer “teses” e boas “teses”, e será aqui apenas aflorado no sentido de podermos considerar, até, que a satisfação habitacional integra totamente a questão da qualidade arquitectónica, e sou levado a defender esta posição, que é complexa, sem dúvida, mas que adianta para a mesa da concepção (estirador e monitor) os equilíbrios possíveis e os equilíbrios propostos entre o que sabemos satisfazer uma boa parte dos habitantes – e sabemos ainda pouco sobre o assunto – e as matérias mais do “desenho”, da forma e seus equilíbrios, que são também matéria bem efectiva da Arquitectura, como é evidente.

Podemos apontar que será sempre essencial considerar o que sabemos sobre as questões da satisfação residencial - por exemplo nas análises pós ocupação realizadas desde C. Alexander cerca de 1975 até muitos colegas arquitectos brasileiros com uma natural destaque para a Prof.ª Sheila Ornstein, passando também pelas análises que coordenei no saudoso Núcleo de Arquitectura do LNEC há cerca de 20 anos, e que aqui várias vezes tenho lembrado; e será também sempre essencial LER a sério os escritos dos bons projetistas arquitectos que escreveram sobre o assunto e são alguns, leituras estas que não são possíveis através de “resumos” informatizados disponíveis na WWW, mas que existem em “livros” que é urgente ler: e evidentemente ler também outras especialidades que abordam a satisfação habitacional com autores nas áreas da medicina, da engenharia, da filosofia, da geografia e da sociologia, por exemplo; e estes também não se encontram nas súmulas rápidas existentes na WWW; perdoem-me esta posição mas é preciso pôr “os pontos nos is”, sobre aspetos tão importantes como estes.

E é também igualmente importante ASSUMIR plenamente as matérias intimamente ligadas ao projeto arquitectónico residencial e à concepção de arquitectura habitacional, como? Lendo os respetivos projetistas que escreveram sobre o assunto, estudando os seus projetos, visitando as melhores obras, considerando uma essencial lógica de projetos de referência e procurando discutir, divulgar e consensualizar conclusões ainda que parciais e temporárias; e nada disto é novo, mas dá trabalho e é urgente.

E em seguida fazer a fusão possível entre satisfação e “desenho” e ter a coragem para depois “voltar ao local do crime” (o conceito não é meu) e tirar daí as devidas ideias, divulgá-las e aplicá-las nas próximas obras.

Se perguntarem como será possível avançar num processo deste tipo, que procure assegurar o melhor equilíbrio possível entre satisfação e desenho, que procure assegurar o melhor possível a melhor qualidade residencial a partir de uma dada atribuição projetual? Não penso que existam soluções garantidas, mas talvez existam soluções fiavelmente aproximadas, talvez num caminho essencialmente “curricular”, devidamente matizado pela introdução de novos projetistas e devidamente equilibrado no que se refere à atribuição de agrupamentos residenciais de maior ou menor dimensão consoante a respetiva relevância curricular e prática residencial e designadamente em habitação de baixo custo (e isto faz-se por essa Europa fora, desde há muito tempo e também por cá se fez). Agora não tenho dúvida que é matéria que não podemos deixar quase “ao Deus dará”, e há excelentes exemplos de concursos cuidadosos e muito bem fundamentados que resultaram de forma extraordinária, tal como aconteceu há bem pouco tempo em Lisboa nos mais de 800 fogos do  Bairro Cooperativo do Vale Formoso de Cima e em outros grandes conjuntos cooperativos em todo o País – e aqui na Infohabitar há artigos sobre este assunto específico.

5. Breves notas sobre a urgência da disponibilização de novas formas de habitar

Não poderia concluir esta reflexão sem uma referência específica à importância de se avançar corajosamente no apoio e na disponibilização de novas ou renovadas formas de habitar em privado e em coletivo, numa perspetiva que é essencial após mais de um século de “regulamentação” habitacional estritamente funcionalista, sendo que quando estas ferramentas funcionalistas são estudadas e aplicadas por especialistas com uma adequada e ampla formação cultural e/ou por arquitectos projetistas com idênticos conhecimentos, essa funcionalidade fica traduzida num respeito pelo essencial dessa funcionalidade, que dá até, por vezes, primazia a outros aspetos organizadores domésticos e edificados, como os hábitos e os desejos e modos de habitar específicos; mas quando tais aspetos “funcionalistas” são aplicados correntemente por projetistas sem essa formação e/ou preocupação, o resultado é quase sempre maquinal e estereotipado, tornando-se, por exemplo, as recomendações “regras” e os mínimos as medidas “obrigatórias”.

Sendo assim e como devemos avançar para ideias que tenham um máximo de aplicação prática será muito desejável que se desenvolvam recomendações técnicas específicas direcionadas para uma “crítica” ponderada e exemplificada aos excessos funcionalistas  e para o apoio concreto a “novas formas de habitar”; caminho este que fica ainda mais atual quando acolhemos tanta gente de tantos sítios do mundo.

E há uma renovada forma de habitar que merece atenção urgente e específica, antes que se torne mais uma nova “mergência”, trata-se da “habitação intergeracional”, uma solução de habitação que alia fogos privados e diversificados a um conjunto de espaços e equipamentos comuns de apoio diverso pessoal e social e que deverão acolher uma parte significativa das pessoas que integram a “revolução grisalha”, mas de um modo perfeitamente integrado com outros grupos etários, outros gostos e necessidades habitacionais e, até, outras tipologias habitacionais, sendo essencial que esta nova oferta habitacional seja também integrada no âmbito da habitação de interesse social; e aliás há já, felizmente, excelentes exemplos práticos nacionais deste tipo de soluções de habitar.

6. Algumas poucas notas práticas sobre a atualidade da urgente promoção de habitação de interesse social em Portugal

Um aspeto bem importante que ainda gostaria de abordar neste artigo “de síntese”, é a questão da urgência da falta de habitação de interesse social ligada à continuidade da sua discussão em termos de objetivos de qualidade; discussão esta que aqui tenho estado a desenvolver.

Penso, sinceramente, que é ainda bem oportuno continuar a refletir sobre os aspetos que se julga deverem marcar a conceção e o desenvolvimento da habitação de interesse social em Portugal; temo-lo feito desde sempre aqui na Infohabitar, revista semanal que iniciou a sua edição há cerca de 20 anos, e temos redinamizado tais edições desde há cerca de dois/três anos, quando a urgência da promoção de habitação de interesse social se revelou publicamente mais evidente.

Não é portanto de agora, nem de “ontem”, que aqui tentamos proporcionar ideias e exemplos de como melhor fazer habitação de interesse social em Portugal, nem este artigo será o último a abordar estas matérias: longe disso; nem a discussão sobre esta matéria se esgotará proximamente: longe disso; nem infelizmente as carências habitacionais portuguesas mais urgentes serão magicamente resolvidas em poucos anos; e há portanto tempo para melhorar, fundamentadamente, na promoção de habitação de interesse social; mas há que ter vontade política e técnica para assim avançar; há que ter vontade política e técnica para revisitar o que de melhor se fez no passado em habitação em Portugal; há que ter vontade política e técnica para não mais repetir os erros feitos em habitação de interesse social, entre nós, especialmente na década de 1970 e também pontualmente em casos posteriores; e há que ter a vontade política e técnica para avançar com um pacto de regime sólido que garanta este caminho quantitativo e qualitativo na habitação de interesse social portuguesa através de várias legislaturas, mantendo-se a promoção de habitação de interesse social ativa anualmente e cumprindo regras estáveis  e utilizando renovadas e eficazes estruturas operacionais de enquadramento, talvez à imagem de  como se montou o INH em 1984.

E a Infohabitar acolhe aqui as vossas contribuições sobre esta matéria e este problema que são de todos nós.

 

Lisboa/Encarnação e Casais de Baixo/Azambuja

Setembro de 2025

António Baptista Coelho

 

Artigos de ABCoelho sobre habitação de interesse social em Portugal editados na Infohabitar em 2025; o primeiro artigo tem como primeiro autor Manuel Tereso

(Lista bibliográfica com links para os respetivos artigos na Infohabitar)

Entre a gestão global e o projeto de arquitectura urbana, o caso do Vale Formoso de Cima em Lisboa, um Bairro de Habitação a Custos Controlados de Promoção Cooperativa - Infohabitar # 926

Sobre os “anos dourados” das cooperativas de habitação económica, antes do INH (ed. revista e aumentada) – infohabitar # 932

Os Anos Dourados da Habitação a Custos Controlados (HCC) apoiada pelo INH/IHRU – nova edição, revista, com Editorial sobre a importância das Cooperativas de Habitação Económica – infohabitar # 937

Contribuir para a qualidade da nova Habitação de Interesse Social Portuguesa – nova edição, revista, com novo Editorial – infohabitar # 939

Do bairro aos espaços domésticos da Nova Habitação de Interesse Social Portuguesa – nova edição, revista, com novo Editorial – infohabitar # 940

Recomendações para a Nova Habitação de Interesse Social Portuguesa – edição revista com Editorial – infohabitar # 941

Notas recomendativas para a Nova Habitação de Interesse Social Portuguesa – infohabitar # 942

Habitação de Interesse Social e Verdadeiro Direito à Habitação e à Cidade – Infohabitar # 943

 

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

(iv) Oportunamente haverá novidades no sentido do gradual, mas expressivo, incremento das exigências editoriais da Infohabitar, da diversificação do seu corpo editorial e do aprofundamento da sua utilidade no apoio à qualidade arquitectónica residencial, com especial enfoque na habitação de baixo custo.

Contribuições para a Habitação de Interesse Social, hoje, em Portugal infohabitar # 950

Informa-se que para aceder (fazer download) do mais recente Catálogo Interativo da Infohabitar, que está tematicamente organizado em mais de 20 temas e tem links diretos para os 922 artigos da Infohabitar, existentes em janeiro de 2025 (documento pdf ilustrado e com mais de 80 pg), usar o link seguinte:

https://drive.google.com/file/d/1vw4IDFnNdnc08KJ_In5yO58oPQYkCYX1/view?usp=sharing

Infohabitar, ano XXI, n.º 950

Edição: quarta-feira 24 de setembro de 2025

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo pelo LNEC.

abc.infohabitar@gmail.com

 Os aspetos técnicos do lançamento da Infohabitar e o apoio continuado à sua edição foram proporcionados por diversas pessoas, salientando-se, naturalmente, a constante disponibilidade e os conhecimentos técnicos do doutor José Romana Baptista Coelho.

Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

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