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Lazer, arte, aprendizagem e envelhecimento - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar #
817
Infohabitar,
Ano XVIII, n.º 817
Edição:
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Artigo VIII da série editorial da
Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através
de uma Cooperativa a Custo Controlado”
Caros leitores da Infohabitar,
Com o presente artigo continuamos a série editorial da Infohabitar especificamente dedicada a uma abordagem global e bibliográfica dos amplos, sensíveis e urgentes aspetos associados às necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, desejável e naturalmente integrados em quadros intergeracionais, dinamizados e convivializados pelas cooperativas que estão, desde há dezenas de anos, dedicadas à promoção de habitação de interesse social com expressiva qualidade e frequentemente associada a um amplo leque de variadas e vitais atividades vicinais e urbanas.
Lembra-se, como sempre, que serão sempre muito
bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e
propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).
Despeço-me,
até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa
saúde para todos os caros leitores,
Lisboa,
em 1 de junho de 2022
António
Baptista Coelho
Editor
da Infohabitar
Nota introdutória à temática do Programa de
Habitação Adaptável Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)
Considerando-se
o atual quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao
crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e
com frequentes necessidades de apoio, a actual diversificação dos modos de vida
e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana
adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a
oportunidade do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação
Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta
residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e
financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a
Custos Controlados (3C).
O
PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções urbanas e residenciais
vocacionadas para a convivência intergeracional, adaptáveis a diversos modos de
vida, adequadas para pessoas com eventuais fragilidade físicas e mentais, mas
sem qualquer tipo de estigma institucional e de idadismo, funcionalmente mistas
e com presença urbana estimulante. O PHAI3C irá procurar identificar e
caracterizar tipos de soluções adequadas e sensíveis a uma integração habitacional
e intergeracional dos mais frágeis num quadro urbano claramente positivo e em
soluções edificadas que possam dar resposta, também, a outras novas e urgentes
necessidades habitacionais (ex., jovens e pessoas sós), num quadro residencial
marcado por uma gestão participada e eficaz, pela convivialidade espontânea e
social e financeiramente sustentável.
Trata-se,
tal como se aponta no título do artigo, de uma “versão de trabalho e base bibliográfica ” e,
portanto, de um artigo cujos conteúdos serão, ainda, substancialmente
revistos até se atingir uma versão estabilizada da temática referida no título;
no entanto, em virtude da metodologia usada, que se considera bastante sólida,
marcada pelo recurso a abundantes referências de fontes, devidamente apontadas
e sistematicamente comentadas no sentido da respetiva aplicação ao PHAI3C, e
tendo-se em conta a utilidade de se poder colocar à discussão os muitos aspetos
registados no sentido da sua possível aplicação prática no PHAI3C,
considerou-se ser interessante a divulgação desta temática/problemática nesta
fase de “versão de trabalho”, que, no entanto, foi já razoavelmente clarificada
– como exemplo do posterior tratamento para passagem a uma versão mais estável
teremos, provavelmente, referências bibliográficas mais reduzidas e boa parte
delas em português, assim como comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este
desenvolvimento irá sendo influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s)
pelos diversos temas e artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para
o designado documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação
razoavelmente sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.
Ainda
um outro aspeto que se sublinha marcar, desde o início, o teor do referido
documento-base do PHAI3C (a partir do qual serão gerados vários documentos
específicos: mais de enquadramento e mais práticos) é o sentido teórico-prático
que privilegia uma abordagem mais integrada e exemplificada da temática global
da habitação intergeracional adaptável e cooperativa, apontando-se exemplos e
ideias concretas logo desde as partes mais de enquadramento da abordagem da
temática como as que se desenvolvem neste artigo.
Notas introdutórias ao novo e presente
conjunto de artigos sobre habitação intergeracional
O
presente artigo inclui-se numa série
editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase
preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo
processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação
Aadaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C);
programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no
Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e
que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se
que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o
autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.
Neste
sentido salienta-se o papel visado para o presente artigo e para aqueles que o
precederam e os que lhe darão continuidade, no sentido de se proporcionar
uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão
alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais
adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas
necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa
sociedade ativa e integrada.
Nesta
perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação,
salienta-se que a forma e a extensão do texto que é apresentado no artigo
reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de
opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos
pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos
razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de
citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua
original.
Julga-se
que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso,
chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis
na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria bem complexa
como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a
custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.
Solicita-se a
compreensão dos leitores para lapsos e problemas de edição que, sem dúvida,
acontecem no texto que se segue, mas a opção era prolongar, excessivamente, o
período de elaboração de um texto que, afinal, se pretende seja essencialmente
prático; as próximas edições serão complementarmente revistas e melhoradas.
Regista-se,
também, que foram, pontualmente, retiradas, em alguns dos textos citados as numerações
relativas a notas bibliográficas específicas desses textos.
Lazer, arte, aprendizagem e envelhecimento - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 817
António Baptista Coelho
Com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.
Resumo
Neste artigo,
dedicado, globalmente, à temática de um adequado acompanhamento residencial do
envelhecimento trata-se, em primeiro lugar a relação entre o envelhecimento, o lazer, a arte, o contato com a natureza e a promoção de aprendizagens,
seguindo-se, depois uma abordagem mais específica dos espaços para lazer, arte
e aprendizagens integrados em espaços residenciais adequados a habitantes idosos
e fragilizados.
Introdução
Subtemáticas do presente item :
(i)
Envelhecimento, lazer, arte, contato com a natureza e aprendizagens
(ii)
Espaços para lazer, arte e aprendizagens
Avança-se, em seguida, neste item, com um leque de
tópicos que, aparentemente ou « à primeira vista », pouco terão a ver
com a caraterização física de intervenções urbanas e residenciais intergeracionais,
especialmente habilitadas para pessoas idosas e fragilizadas, tópicos estes
referidos a um apoio efetivo a variadas atividades de lazer, arte, contato
com a natureza e aprendizagens, mas que tudo indica, tendo como base
experiências concretas, poderem muito ajudar a fazerem a diferença entre
pessoas estimuladas com o seu dia-a-dia e a sua gradual evolução em termos de
conhecimentos e práticas, assim como com vizinhanças e comunidades vivas,
humanamente estimulantes de uma nova fase de vida e urbanamente atraentes e os
tantos sítios que conhecemos e que são quase « dormitórios com cuidados de
enfermagem » onde vão subsistindo dia após dia pessoas que muitas vezes
vão desistindo das suas vidas.
Afinal todos nós imaginamos que um dia, quando tivermos tempo
e disposição para tal, e provavelmente apenas quando aposentados das nossas
atividades principais e correntes, pois os fins de semana e mesmo as férias
acabam sempre por ser curtos para se encetarem verdadeiras novas atividades,
então, « nesse dia », iremos avançar em outras e novas direções, que,
frequentemente, associamos a um grande leque de tipos de lazer, e/ou a diversas
formas de arte e/ou mesmo a novos percursos de variadas aprendizagens e
formações específicas.
Mas, no entanto, quantas vezes lá chegados não temos o
« espírito » e a força anímica necessários para iniciar de forma
minimamente sustentada essas novas ou renovadas atividades ; uma força
mental e física que pode em boa parte depender de um enquadramento, pelo menos,
mínimo em termos « profissionais » ou de apoio pessoal específico,
assim como de adequados « cenários » físicos e sociais que nos
motivem e sustentem nessas atividades ; e não tenhamos quaisquer dúvidas
que tais condições fazem a diferença entre atividades verdadeiramente
motivadoras e tentativas frustantes e desmotivadoras e isto desde, por exemplo,
as práticas do desenho aguarelado à jardinagem ; e por isso se apontaram,
em seguida, alguns aspetos associados a estas temáticas e que se consideram de
grande interesse na programação de intervenções associáveis, por exemplo, ao
PHAI3C.
1. Envelhecimento, lazer, arte, contato com
a natureza e aprendizagens
Sobre a relação, que pode ser
estreita, entre o envelhecimento e um lazer marcado pela arte, pelo contato com
a natureza e por diversas aprendizagens abordam-se em seguida aspetos de
relacionamento positivo entre arte e envelhecimento, relação entre natureza e
envelhecimento, desenvolvimento de terapias específicas ligadas a diversos
tipos de expressões artísticas e de lazer, e elementos específicos para apoio
físico das atividades artísticas e formativas praticadas por seniores.
(i) Arte e envelhecimento
A prática artística considerada de modo informal
e verdadeira e naturalmente impactante no bem-estar humano pode assumir
especial relevo quando temos « todo o tempo do mundo » para lhe
dedicar algum tempo, quando temos uma orientação « mínima » para nos
acompanhar numa paciente, lenta e gradual evolução nas nossas capacidades de observação/atenção
e expressão artísticas e quando poderemos, realmente, entender que os tempos
passados, rápidos, quando estamos concentrados a tentar sintetizar e
concretizar determinados aspetos artísticos é um tempo tão rápido ou ausente
como benfazejo, em termos de descontração global e de apuro da nossa atenção e
mesmo da nossa identidade.
Procurou-se aqui visar a prática artística de
modo amplo, abarcando designadamente as áreas visuais, musicais e
performativas, mas a nossa reflexão tende sempre para as visuais – desenho,
fotografia, aguarela, pintura -, por « defeito » formativo ; no
entanto parece evidente e natural a idêntica importância das artes musicais e
ligadas por exemplo à expressão teatral ; e aliás todas elas se ligam,
como bem sabemos.
O tempo necessário para a sua prática será o
tempo sem horários da nossa aposentadoria, uma altura em que novas
aprendizagens e novas ou renovadas práticas poderão dar um melhor sentido ao
tempo de cada dia e uma nova realização a vontades e vocações eventualmente
adiadas ao longo de muitos anos ; mas em tudo isto reforça-se a
importância que sempre terá uma adequada formação e aliás uma qualidade
formativa que deverá marcar os caminhos « paralelos » de uma variada
formação cultural, extremamente diversificável, que também poderá e deverá
marcar e ajudar a ocupar, positivamente o tempo em que vamos ter « todo o
tempo do mundo ».
No workshop Research
Gaps and Opportunities for Exploring the Relationship of the Arts to Health and
Well-Being in Older Adults (1), apontaram-se, e citam-se e comentam-se,
brevemente, em seguida, várias vantagens da prática da arte por idosos: (negrito nosso)
So far, participation
in arts interventions has been linked with improving cognitive function and
memory, general self-esteem and well-being, as well as reducing stress and
other common symptoms of dementia, such as aggression, agitation, and
apathy.
Some
interventions promote social interaction, which has multiple psychosocial
benefits.
Music is the
most common participatory art studied, but theater, dance, and creative writing
also hold promise as effective health interventions for older people.
Design and
visual arts play an important role in the well-being and quality of life for older
people. (pg. 8)
Parece haver, assim, um leque
muito amplo de atividades artísticas cuja prática, naturalmente, numa base
« amadora », mas profissionalmente e formativamente bem acompanhada,
tem excelentes resultados ao nível do bem-estar e da saúde global das pessoas
idosas e, podemos, talvez, juntar de muitos idosos sozinhos.
Naturalmente, a existência de
excelentes condições em termos de arquitetura urbana e de interiores é um
excelente aliado neste impacto da prática da arte nos idosos, seja por existência
de condições globalmente agradáveis e estimulantes do uso dos espaços de vizinhança e comuns,
seja pela disponibilização de condições especificamente estimulantes da prática
das diversas formas de arte e de uma formação com caráter de lazer, condições
estas que acabam por se poder tornar em verdadeiros elementos de dinamização do
uso dos espaços comuns (ex., atelier de gravura, sala de desenho livre, pequeno
auditório multifuncional para palestras e projeções, pequena biblioteca, sala
de dança e de ginástica, etc.).
E por isto são, em seguida, citadas mais algumas conclusões do referido workshop Research Gaps and Opportunities for Exploring the Relationship of the Arts to Health and Well-Being in Older Adults: (negrito nosso)
The design
of residential buildings for older people can affect the amount and quality of
social interaction, physical activity, cognitive stimulation, and emotional
well-being of residents.
The
landscaping, traffic flow, building materials, and design of activity hubs all
contribute to the success or failure of a residential facility as a thriving
community.
In addition,
the increasing use of universal design can help older people participate more
fully in normal activities. Universal design embraces the integration of
“places, things, information, and communication” to expand accessibility to the
widest spectrum of users in the widest range of situations. (pg.
8)
E salienta-se que podemos
estar a lidar com pessoas tendencialmente fragilizadas e mesmo estressadas, tal como é sublinhado no referido workshop: (negrito nosso)
Noted that when
older people move from their homes to an assisted living facility, they are
giving up some independence, establishing relationships with a new support
network, and adjusting to an unfamiliar environment, all of which can
contribute to cognitive and emotional stress.
As health
and social care providers try to minimize the stress and ensure the new
environment is stimulating, they need to understand how the person and his or
her environment are linked. Crewe also mentioned that, as the older
population becomes more diverse, cultural differences in the physical
surroundings may need to be considered. (pg.
8)
Esta questão de um cuidado
acrescido quando exista um quadro sociocultural diversificado, num mesmo
conjunto residencial, que será mais sensível quando associado a um quadro etário
diversificado, em intervenções intergeracionais, é uma preocupação fundamental,
que, muito provavelmente, deverá ter consequências, quer na programação
espacial e respetivos aspetos de distâncias interpessoais, entre pessoas
sentadas e de pé, em situações mais e menos formais, quer na pormenorização
arquitectónica interior e nos variados aspetos de decoração dos espaços, que
deverão não suscitar reações negativas de uma grande maioria dos residentes e
visitantes.
E não tenhamos
dúvida de que a prática artística, assim como a formativa especializada,
razoavelmente acompanhadas em termos formativos de modo a proporcionar
resultados palpáveis, constitui um excelente processo de conjugação de
interesses pessoais e socioculturais diversificados, sendo que aqui talvez até
uma adequada prática artística seja realmente o caminho mais estimulante.
Fig. 01 : uma imagem do programa
intitulado « Vila dos Idosos », em São Paulo, Brasil ; uma
intervenção do programa Morar no Centro da Companhia Metropolitana de Habitação
de São Paulo (COHAB), que integra 145 unidades para pessoas idosas, realizado
em 2003-2007, com projeto de Arquitetura de VIGLIECCA&ASSOC – Arq.º Hector
Vigliecca e Associados. Mais imagens deste conjunto acompanharão os próximos
artigos desta série, tendo sido recolhidas no âmbito do 3.º Congresso
Internacional da Habitação no Espaço Lusófono (3.º CIHEL) promovido pelas FAU-
Mack, FAU-USP e IAU-USP.
(ii) Arte, bem-estar/saúde e envelhecimento
No mesmo workshop atrás referido, intitulado Research Gaps and Opportunities for Exploring the
Relationship of the Arts to Health and Well-Being in Older Adults, sublinham-se e são, em seguida, citados, benefícios provados das práticas
artísticas na melhoria das condições de bem-estar e de saúde de pessoas idosas
e fragilizadas e a necessidade de ter em conta, especificamente, as condições ambientais, mais
exigentes, de integração dessa arte (ex., luz natural), quando há muitos idosos
entre os seus utentes: (negrito e sublinhado nossos)
Kathy
Hathorn, a pioneer in therapeutic healthcare art, described how visual art
has been used in healthcare for more than 600 years, with early use often
focusing on religious themes,
Hathorn
reviewed some landmark studies that demonstrate the health benefits of
visual art. She presented three theories that underlie research in visual art
and health:
. Prospect
and Refuge Theory: The ability to see and the ability to hide are key to our
survival.
. Emotional
Congruence Theory: Our emotional states bias our perception of environmental
stimuli in ways that are congruent or match our feelings.
. Biophilia
Theory: Millions of years of evolution have left humans genetically prone to
respond positively to nature settings that fostered wellbeing and survival for
early humans.
A seminal
study of nine years of discharge data found that recovery from surgery was
faster for hospital patients who stayed in a room with a view of a natural
setting than for patients with a view of a brick wall. (pg. 20)
This
determines what visual art is appropriate to display in different settings.
With aging, significantly less light is available to the retina; depth
perception is impaired. Older people often develop lens sclerosis and cataracts
and they are more affected by glare and shadows.
Dementia and other cognitive impairments also affect how people perceive art. As the sense of time and place changes, the ability to recognize common objects may deteriorate. The emotional changes with dementia must be considered when selecting art for dementia patients. Hathorn relayed an example in which a picture of a natural landscape was calming for most people, but looked “empty” to AD patients,who asked where the people had gone… (pg. 21)
...
Mary
Mittleman and New York University School of Medicine researchers found that visual
arts programs reduced depression, improved socializing, and increased
self-esteem among participants. A Swedish study also found social and
cognitive benefits for patients who participated in an arts program. A pilot
study in five Midwestern nursing homes found that pictures and bird sounds
improved the bathing experience for patients, reducing agitation and aggression.
(pg. 27)
Não parece haver dúvidas, portanto, sobre a
importância das variadas artes, em termos de fruição e de prática, no bem-estar
de todos e, muito especialmente, das pessoas com mais tempo para lhes dedicar e
das pessoas fragilizadas em particular ; sendo importante sublinhar que,
se a prática (ex., tocar um instrumento) e a fruição (ex., ouvir música)
artísticas exigem condições específicas em termos funcionais e de conforto
ambiental para serem possíveis com um máximo de « eficácia » (ex.,
luz natural para o desenho, ausência de ruído e excesso de reverberação para a
música), considerando-se pessoas no pleno uso das suas faculdades (ex., visão,
audição, manualidades), então o que dizer quando se tratar de pessoas
fragilizadas e eventualmente condicionadas em termos físicos e de
percepção ?
E a estas condições acrescem os aspetos
« formativos » e de acompanhamento técnico dos
« formandos », que, também muito provavelmente, exigirão cuidados
específicos quando no caso de pessoas fragilizadas e condicionadas.
Tal como os leitores terão reparado alguns dos aspetos
que acabaram de ser considerados ligam-se à relação entre a arte e a natureza,
ou vice-versa, uma relação provavelmente tão velha como a história do homem
moderno, e uma temática tão rica como ampla, e portanto muito difícil de aqui
ser devidamente abordada ainda que de forma sintética e direcionada para o
nosso principal fim em vista, que é o desenvolvimento do PHAI3C.
Cabe no entanto referir aqui que, provavelmente,
alguns dos efeitos positivos ligados à prática da arte, também decorrerão de um
contacto continuado, próximo e afirmado com a natureza, seja em termos de uma
relação direta com a mesma (ex., através de jardinagem), seja pela sua fruição
(ex., fruir um espaço ajardinado), seja pela sua estimulante contiguidade (ex.,
boa janela sobre espaço natural próximo ou paisagístico) e até pelo seu
« reflexo » em termos de boas condições de conforto ambiental, (luz
natural, ruído controlado, temperatura controlada, alguma insolação, ventilação
natural). Apenas quem não sente a importância da arte na vida diária duvida da
relação entre a arte, ou mesmo a criatividade, e adequadas condições de relação
com a natureza ; e tudo isto assume importância relevante quando somos
mais idosos e temos « todo o tempo do mundo ».
(iii) Contato com a natureza e envelhecimento
Tal como se acabou
de apontar, o contato ativo com a natureza, designadamente, através da
jardinagem e da horticultura ou a « simples » fruição de
estimulantes espaços e elementos naturais, constitui uma outra família de atividades cuja
prática, também numa base « amadora », mas profissional e
formativamente bem acompanhada, tem excelentes resultados ao nível do bem-estar
e da saúde global das pessoas idosas e fragilizadas.
E aqui é interessante lembrar
a relação íntima e de sempre entre atividades artísticas e natureza, pois
lembramos que a primeira arte foi parceira direta da natureza (em termos de suportes,
meios e motivos) e que, desde os grandes mestres, « o desenho » de
elementos naturais constitui boa parte da prática básica e essencial de muitos
artistas, sempre repetida e revisitada.
Associado a este último
aspeto lembra-se a importância que tem,
para a saúde global dos humanos, um contato próximo, intenso e prolongado com a
natureza, importância esta que está bem provada desde os aspetos de conceção de
estabelecimentos de saúde e designadamente daqueles dedicados à saúde mental, à
conceção melhorada de edifícios para as mais diversas funções e onde a
existência de elementos naturais assegura, entre outros aspetos, condições de
suavização ambiental e de redução do stress.
E assim, julga-se que em
intervenções do PHAI3C a natureza deve ter uma presença protagonista e o mais
possível ativa, abrangendo-se desde as relações de vistas e de enquadramentos
visuais e físicos, à disponibilização de espaços privados exteriores com
elementos naturais e mesmo à existência, quer de pequenas hortas /jardins a
cuidar, pelo menos, parcialmente pelos residentes, quer de pequenos mas bem
elaborados e cuidados jardins que promovam um expressivo contato com a natureza
e/ou a fruição de condições específicas, por exemplo, de acalmia e de
concentração (ex., pequenos « jardins zen »); e sendo que até será
possível que alguns dos habitantes possam atuar como formadores e
aconselhadores dos outros por terem conhecimentos de horticultura.
(iv)Acessibilidades bem estruturadas e alternativas aos
espaços privados e comuns de um conjunto habitacional intergeracional
Para
ajudar a “abafar”, estratégica e positivamente, as diferenças culturais e
etárias há que dar grande prioridade às alternativas de acessibilidade, com o
máximo de privacidade, de cada residente
de intervenções do PHAI3C à sua própria unidade residencial, assim como e
paralelamente, apostar numa excelente recepção de visitantes nas zonas comuns e
numa forte relação de acessibilidades próprias privilegiando os principais
espaços comuns, mas sempre com cuidados de pré-visualização em aproximação a
esses espaços, de modo a incentivar-se uma socialização natural e voluntária e
em alternativa a um fácil recolhimento privado em cada habitação.
No âmbito destas
matérias, que se consideram determinantes para o êxito da prática de atividades
nos espaços comuns de uma intervenção do PHAI3C, citam-se algumas
considerações de Victor Regnier no mesmo workshop Research
Gaps and Opportunities for Exploring the Relationship of the Arts to Health and
Well-Being in Older Adults: (negrito
nosso)
In his
presentation, Victor Regnier emphasized the importance of making assisted
living homes welcoming to family members of all ages.
… The
design should allow for a primary pathway with links to activity rooms, dining
areas, and (17 Regnier, V. 2002. Design for Assisted Living: Guidelines for
Housing the Physically and Mentally Frail. (New York: John Wiley & Sons.) seating
areas for visitors as well as individual rooms. Windows, half-walls, or
balconies can allow residents to preview rooms before they enter them, so they
can decide whether they want to join the group or activity and avoid
unnecessary anxiety about chance encounters.
Considera-se
que esta possibilidade de bem- receber visitas é importante, obrigando, designadamente,
a razoáveis condições de espaciosidade na entrada principal, nas unidades residenciais
privadas (ainda que versatilmente organizadas) e em espaços comuns muito bem
geridos e cuidadosamente visíveis e acessíveis.
(v) Condições específicas para atividades formativas e conviviais concretas e para grupos específicos de utentes
É ainda Victor Regnier, no mesmo workshop Research
Gaps and
Opportunities for Exploring the Relationship of the Arts to Health and
Well-Being in Older Adults,
que nos aponta caminhos julgados preferenciais na conceção de espaços
específicos para determinadas atividades artísticas e de lazer, visando :
(i) espaços especializados ; (ii) ou espaços multifuncionais ; o que
parecendo óbvio em termos de conceção, não o é, como se tenta salientar em seguida, através de algumas citações a objetivos de projeto de Regnier: (negrito nosso)
Regnier
favors building activity rooms that might appeal to a limited group, such as a
recording or art studio, as well as all-purpose rooms that can accommodate a
range of more popular activities.
He noted that the design of staff offices is
also important to the overall feel of a building. Some care facilities use
floating desks or offices with Dutch doors to keep the staff more visually
accessible to residents.
Dementia
patients might benefit from additional specific design features.
A
symmetrical floor plan, for example, can be disorienting to older residents,
and asymmetrical layouts, with distinctive landmarks, like a statue or wall
decoration, can help orient residents. (pg.
19)
E se um determinado espaço tem uma localização, uma configuração e uma
pormenorização adequadas para pessoas dementes não serão, também, adequadas
para idosos fragilizados e/ou já um pouco afetados por demências?
E no mesmo workshop apontam-se condições específicas de positivo
conforto ambiental e de relação com a natureza como elementos importantes numa
intervenção residencial assistida, podendo nós especificarmos que tais
condições são muito importantes para uma boa prática de atividades artísticas e
de lazer, sendo mesmo vitais para algumas delas, designadamente, quando
praticadas por pessoas fragilizadas (ex., pintura, dança, audição de
música, etc.), embora haja que proporcionar « condições adaptáveis no
sentido de se defender a individualidade dos residentes »; tal como se evidencia em citações relativas a objetivos de projeto de Regnier: (negrito
nosso)
Lush
landscaping and natural light in interior areas are among other design elements
that contribute to the success of an assisted living facility. (pg. 19)
Responding
to a question from the audience about whether a design element that is
beneficial to one person might be detrimental to another, Regnier recognized
that designs need to be adaptable so residents can retain their sense of
individuality.
« As pessoas nas aulas fazem amigos e aprendem coisas
novas », uma frase que é abaixo contextualizada e que resume a importância
da existência de condições concretas e qualificadas para apoio e enquadramento
de atividades concretas a serem desenvolvidas por pessoas que estão numa fase
avançada das suas vidas e que por isso têm mais tempo e disponibilidade mental
para abordar novas ou renovadas atividades.
Mas não parece possível que um tal caminho vá longe, por exemplo, numa
sala multifuncional e partilhada, por exemplo, por uma aula/ação formativa e
por pessoas a realizarem outras atividades ou a circularem: há que proporcionar
condições, pelo, menos, minimamente adequadas para diversas atividades de
« lazer formativo » (aspas nossas); pela mesma razão da existência
nas escolas de espaços para seminários, por exemplo, e sendo que os
participantes idosos precisam de condições acrescidas de conforto físico e
ambiental para tirarem bom partido de tais ações (ex., iluminação natural e
artificial, isolamento acústico, adequada ergonomia de cadeiras e mesas, etc.).
E tal como se pode comprovar no exemplo que é, em seguida, apontado , referido ao estudo intitulado How Library Classes in the Arts Are Changing Aging, (2) tais condições podemo-las encontrar, até, em muitos
equipamentos já existentes e, quando criados de novo, tais instalações poderão
e deverão ter uma rentabilização e uma utilidade o mais amplas possível em
termos das respetivas vizinhanças urbanas, sendo possível e desejável
rentabilizar equipamentos existentes, usando-os ativamente com novos grupos de
residentes vizinhos, assim como disponibilizar os eventuais novos equipamentos
(ex., formativos) existentes em
intervenções do PHAI3C, não só para os respetivos residentes, mas também para
os outros habitantes da respetiva vizinhança ; proporcionando-se,
complementarmente, e para além de uma nova formação, mais integração e
convívio; e cita-se:
Six words
sum it up: The arts are good for you.
Inspired by
the research of the late Dr. Gene D. Cohen demonstrating the positive impact
cultural programs have on our intellectual, emotional and even physical health
as we age, nine years ago, Maura O’Malley and Ed Friedman co-founded Lifetime
Arts, a nonpro arts service organization.
The genius
of her idea lay in using public libraries to administer the programs for people
55 and older since every U.S. community has a public library. “In some
areas, libraries are the only cultural institution,” O’Malley adds.
Along the
way, people taking the classes make friends and learn something new.
O’Malley
says: “People show up at these library programs with no prior experience in
the arts, but they create communities in these libraries. The artists give
people tools and time to try new things. People who have never sung, danced or
taken a digital photograph learn to do so.” (pg.
1)
No
documento que acabou de ser citado recomenda-se a consulta ao grande e muito
útil quadro de atividades comentadas, que ali está registado: consulta em https://www.nextavenue.org/special-report/vitality-arts/
Em
termos globais referidos à caraterização de um espaço adequado para ações de
formação a integrar, eventualmente, numa intervenção do PHAI3C importará, desde
já, comentar que ele pode/deve ser um espaço aberto à comunidade mas bem gerido, por exemplo em termos da aceitação de novos
inscritos nas atividades previstas; desta forma um tal “mini-equipamento”
poderá “abrir” com um máximo de potenciais ganhos e um mínimo de riscos – e
aliás não será toda a gente a querer aprender, por exemplo, a fotografar ou a
dançar o tango.
Numa
outra importante perspetiva de desenvolvimento de ações formativas e
informativas associadas à existência de mais tempo livre de de maior
disponibilidade mental para o usar, podemos ter verdadeiras “comunidades
temáticas”, que podem ser, até, física, funcional e organizativamente
polarizadas por atividades e gostos específicos (ex., passeios, bibliofilia, horticultura,
floricultura, ginástica, desenho e pintura, conferências, leitura, etc.)
(vi) Envelhecimento, aprendizagens e terapias
Numa
sequência natural das preocupações e ideias, que estão aqui a ser apontadas,
referidas à melhor ocupação de tempos livres numa fase da vida onde eles são
mais abundantes, importa ter em conta que “havendo mais tempo”, haverá, também,
naturalmente, uma “fronteira temporal” mais próxima, condição esta que poderá
provocar uma maior exigência por parte dos formandos e que, para ter mais
êxito, deve ter como resposta um excelente nível profissional dos respetivos
professores e formadores, bem apoiado em adequadas condições físicas e de
equipamentos.
Importa
registar aqui que tendo em consideração práticas formativas profissionais e
exigentes, em termos das respetivas
condições “formativas” (ex., professor, instalações, programa), elas
poderão assumir funções terapêuticas.
Neste
sentido, por exemplo, a arteterapia usa processos e recursos artísticos (ex., visuais
ou sonoros) e expressivos como elementos terapêuticos, apoiados seja nas
ferramentas específicas das mais variadas formas de arte, seja nas ferramentas
e no conhecimento da pedagogia das ciências humanas e da medicina.
E
outras terapias associadas a outras atividades habitualmente praticadas como
lazer, atividades de tempos-livres e atividades de lazer, deverão ter, também
os seus caminhos específicos e pelo menos minimamente exigentes e
“profissionalizados” ou especializados, isto no sentido de se poderem garantir
um máximo de efeitos e resultados positivos na saúde ampla e na disposição dos
respetivos praticantes, que serão, frequentemente, pessoas fragilizadas.
Este
tipo de cuidados, aplicado, por exemplo, à biblioterapia – que pode
ser definida como a “prescrição de materiais de leitura com função terapêutica” (Wikipedia) –, consiste no aconselhamento da
leitura de determinados livros no sentido de apoiar no bem-estar de alguém que
pode estar com alguns problemas ocupacionais e/ou de saúde e que assim pode
encontrar numa leitura adequada e escolhida um apoio na ultrapassagem dessas
situações; usando-se, assim, a leitura como fonte múltipla de entretenimento,
conhecimento e acompanhamento pessoal;
mas ,evidentemente, um tal aconselhamento tem de ser muito cuidadoso e
pode/deve estar associado a outras iniciativas variadamente enriquecedoras,
como, por exemplo, a criação de clubes de leitura, e o desenvolvimento de
passeios temáticos (ex.a uma casa museu).
De
uma forma global poderemos aqui considerar um amplo leque de atividades
terapêuticas, capazes de assegurar importantes aspetos de acalmia
comportamental, estratégia de adequada ocupação temporal, melhorias de
concentração e de memória, prática de variadas manualidades e exercício físico
numa base regular, que serão agradável e facilmente associáveis a intervenções
do PHAI3C; apontando-se, em seguida, alguns exemplos: a arteterapia, a
ceramicoterapia, a biblioterapia, a escritoterapia, a musicoterapia, a
cineterapia, a desportoterapia, a ginasticoterapia, a passeioterapia, a
horticulturoterapia, a mascototerapia, etc. – algumas delas mutuamente
associáveis e todas elas exigindo cuidados específicos, especialmente ao nível
de acompanhamento formativo/informativo na sua previsão.
(vii) Notas « complementares » de reflexão
sobre os espaços de lazer residenciais e o envelhecimento
Julga-se que para adequadas configuração e programação de intervenções
do PHAI3C será de vital importância este avanço em termos de programação
organizativa e física de incentivo às mais diversas atividades de lazer e
ocupação temporal, muitas delas com um essencial cunho « profissionalizado »,
por parte dos « formadores », ainda que, provavelmente, sempre com um
salutar caráter « amador », por parte dos « formandos ».
Serão, provavelmente, tais atividades que irão justificar, dimensional,
ambiental e funcionalmente os espaços « nucleares » e caraterizadores
do complexo de espaços comuns de cada intervenção do PHAI3C, isto porque
programar apenas espaços ditos multifuncionais acaba, frequentemente, por se
traduzir num verdadeiro desperdício de meios e na concretização de ambientes
negativamente residuais e pouco ou nada usados ; e gfrequentes casos
destas últimas condições podemos encontrá-los, por exemplo, em muitos espaços
comuns hoteleiros, que, por mais equipados e luxuosos que sejam, se encontram,
frequentemente vazios e apenas com uma utilidade visual.
2. Espaços para lazer, arte e aprendizagem
destinados a pessoas fragilizadas
Neste
subitem avança-se, apenas, um pouco mais na temática da configuração específica
que se considera desejável para os espaços de lazer, arte e aprendizagem
integrados em intervenções residenciais com um número significativo de pessoas
idosas e fragilizadas.
Em
termos globais se quisermos incentivar espaços residenciais que estimulem, com
naturalidade, um envelhecimento ativo e participado, em vez de ficarmos,
apenas, por instalações com ambientes negativamente associados ao caráter de
uma “casa de repouso” onde nada acontece, ou de um edifício “institucional”
onde apenas se formalizaram aspetos regulamentares, deveremos habilitar,
cuidadosa e pormenorizadamente, os respetivos espaços comuns para múltiplas
atividades de lazer, artísticas e de aprendizagem.
Nesta
perspetiva há que ter em conta, por exemplo, o desenvolvimento do conceito
prático de postos ocupacionais dedicados a passa-tempos e marcados por aspetos
específicos de identidade, as designadas life-skill-stations associadas às memory-care-stations,
que se constituem em verdadeiros postos de
memória, identidade e apropriação, para além de serem sítios ocupacionais e de
trabalho; salientando-se que uma tal previsão poderá, provavelmente, também
incidir , de modo mais espícifico, no microzonamento dos espaços privados
residenciais das unidades do PHAI3C.
E
não poderíamos deixar de apontar neste tema, como consideração “paralela”, que
as nossas próprias habitações cumprem o seu papel, tanto mais efetivamente,
quanto mais forem e integrarem, com naturalidade e adequada evidência, várias life-skill-stations, em aspetos mais funcionais, e memory-care-stations,
em aspetos mais formais e de
apropriação e identidade.
Há
também que considerar as life-skill-stations
e, talvez de forma mitigada e
bem dirigida, memory-care-stations, integradas nos espaços comuns residenciais, até
devido ao seu eventual caráter oficional que pode ser pouco harmonizável com
unidades residenciais privadas com um reduzido leque espacial, e
sobre todas estas matérias é muito interessante e útil o artigo de William (Bill) Benbow
intitulado Design features for residente engagement and
meaningful activity (3);
Num menu de atividades desejáveis e disponíveis e para além do espaço de refeições e outros
espaços comuns específicos poderão, assim, existir microespaços equipados do
tipo life-skill-stations, concebidos especificamente no sentido de estimular
mental e fisicamente os residentes, levando-os, por exemplo, a reviverem
memórias agradáveis e construtivas ou a avançar na prática de atividades que
sempre desejaram realizar; o sentido mais comum ou mais privado de tais
atividades deverá ser opção dos próprios.
Para além deste importante nicho de atividades essencialmente individuais e com variada natureza, mais oficinal, mais artística ou mais colecionista, por exemplo, importa proporcionar condições formativas e informativas nos espaços comuns de intervenções do PHAI3C verdadeiramente adequadas a uma estimulante formação e informação de idosos e pessoas fragilizadas.
Para os leitores de Christopher Alexander e da sua incontornável “linguagem de padrões”, que marca o habitat humano em todos os seus aspetos, haverá aqui de proceder talvez a uma renovada repadronização dos espaços domésticos privados e dos espaços comuns residenciais, designadamente, no sentido de se proporcionar um “refinar” das atividades mais conhecidas em microatividades capazes de poder ajudar a “transformar” um “pequeno” espaço doméstico numa habitação subjetivamente muito mais desenvolvida e o conjunto dos espaços comuns residenciais de um PHAI3C numa grande família de pequenos espaços e múltiplas relações bem habilitados para um sem-número de microatividades e até “estados de alma”; um microcosmo de vizinhança bem próxima no qual os espaços formativos, informativos, conviviais e de relativo isolamento serão os protagonistas.
Nesta matéria socorremo-nos, ainda, de um interessante estudo de Emilia Plotka, intitulado Better spaces for learning, onde se defende e sintetiza que uma melhor conceção pormenorizada do interior destinado a atividades formativas e informativas leva, diretamente, a mais satisfação dos respetivos utentes, sublinhando-se que quanto mais sensíveis e fragilizados forem os formandos, mais exigentes deverão ser as condições apontadas (negritos nossos); e fiquemos com as respetivas citações de Emilia Plotka: (4)
How was good
design defined?
. Good
quality natural light, supported by good artificial lighting.
. Pupil
sense of ownership. School design that creates dedicated social
or self-directed learning spaces, incorporates child centred furniture, and
allows for the display of work or imagery pupils can identify with on the
walls.
. Simple,
natural ventilation systems. Flexible natural ventilation with
variable levels of ventilation, and higher ceilings to absorb stale air. Or
where that is not possible or appropriate, mechanical ventilation, which is
simple to operate and quickly responsive to allow air quality to be easily
maintained.
. Thermal
comfort and control over temperature...
. Optimum
amount of colour in learning spaces. To create interest
but not become a distraction. Opportunity for this should be incorporated into
design strategies.
. An optimum
level of visual interest in terms of design...
. Flexible
spaces. That can be zoned for various activity areas to help facilitate
learning.
. Good acoustics. For
effective learning, pupil engagement, and wellbeing.
. Simple
design that reduces reliance on complex mechanical systems... (pg. 22)
De notar que embora as referências sejam direcionadas a crianças, julga-se que elas poderão, globalmente, generalizadas a qualquer pessoa num quadro formativo.
É,
no entanto, essencial tendo-se em conta os objetivos que têm sido apontados
para as intervenções do PHAI3C, que tais condições direcionadas para a melhor
formação e informação dos residentes, sejam perfeitamente harmonizadas com o desenvolvimento de um ambiente residencial confortável, envolvente,
“personalizado” e mesmo tendencialmente doméstico, que se preconiza para essas
intervenções, evitando-se, designadamente, todos os aspetos de excessiva
funcionalidade e de “frieza ambiental”, pois um dos grandes objetivos aqui
visados é dinamizar uma formação e informação voluntárias e totalmente
submetidas a um ambiente global residencial, digno e caraterizado: porque,
afinal, estamos num espaço residencial, digno e atraente, onde se facilitam
variadas atividades e não num equipamento multifuncional com espaços para
dormir.
Notas:
(1) THE Arts and AGING Building the
Science - Summary of a
National Academies Workshop,
“Research Gaps and
Opportunities for Exploring the Relationship of the Arts to Health and
Well-Being in Older Adults”, February 2013, National Endowment for the Arts,
1100 Pennsylvania Avenue, nW
Washington, dc
20506-0001. Published by the national endowment for the Arts Office of research
& Analysis - ellen grantham, Program Analyst; don Ball, Publications
Manager; Prepared by Mary Kent and Rose Li, rose Li and Associates.
(2) How Library Classes in the Arts Are
Changing Aging - Lifetime Arts teaches older adults to dance, write and
perform; Next avenue 11 jul 18;
Linda Bernstein 2015; Part of the VITALITY ARTS SPECIAL REPORT - https://www.nextavenue.org/special-report/vitality-arts/
(3) Benbow, Bill, Design features for residente engagement and meaningful activity, Canadian
Nursing Home, Volume 25, nº 4, Dezembro, 2014, pg. 4 a 8.
(4) Better spaces for learning; Top
Marrk Schools; Written and
researched by Emilia Plotka; Edited
by Andrew Forth & Clare Corbett; With
thanks to: All the RIBA members and
other experts who have helped inform
this report over the last two years. ©
Royal Institute of British Architects (RIBA) May 2016
Notas editoriais
gerais:
(i) Embora a edição dos artigos
editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no
sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo
nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários
apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores
desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos
mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de
natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer
elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias,
desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos
respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as
necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar
o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em
conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Lazer, arte, aprendizagem e envelhecimento - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 817
Infohabitar,
Ano XVIII, n.º 817
Edição:
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Artigo VIII da série editorial da
Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através
de uma Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar – a revista da GHabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de
Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da
Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura
e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em
Lisboa
Revista da GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a
Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica
(FENACHE).
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