https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true
Sobre as necessidades habitacionais mais específicas dos idosos “II” - versão de trabalho e base bibliográfica - Infohabitar # 811
Infohabitar, Ano XVIII, n.º 811
Edição: quarta-feira, 06 de abril de
2022
Nova série editorial sobre Habitação Intergeracional Adaptável e
Cooperativa – v
Caros leitores da
Infohabitar,
Lembra-se que serão muito
bem-vindos os comentários e novas sobre os artigos aqui editados e propostas de
novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com , ao meu cuidado).
Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de força e saúde para todos os caros leitores e seus familiares,
Lisboa, em 6 de abril de 2022
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Sobre as necessidades habitacionais mais específicas dos idosos “II” - versão de trabalho e base bibliográfica - Infohabitar # 811
António Baptista Coelho
Com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.
Notas introdutórias ao novo conjunto de artigos
sobre habitação integeracional
O presente artigo inclui-se
numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra
a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um
amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de
Habitação Aadaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C);
programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no
Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e
que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se
que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o
autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.
Neste sentido salienta-se o
papel visado para o presente artigo e para os que lhe darão continuidade, no
sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e
construtiva discussão alargada sobre estas muito urgentes e exigentes matérias
da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas.
Nesta
perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida
investigação, salienta-se que a forma e a extensão do texto que é apresentado
no artigo reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada,
de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos
pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos
razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de
citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua
original.
Julga-se
que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso,
chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis
na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria bem complexa
como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a
custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.
Nota
introdutória à temática do Programa de Habitação Adaptável Intergeracional –
Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)
Considerando-se o atual
quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao
crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e
com frequentes necessidades de apoio, a actual diversificação dos modos de vida
e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana
adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a
oportunidade do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação
Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta
residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e
financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a
Custos Controlados (3C).
O PHAI3C visa o estudo e a
proposta de soluções urbanas e residenciais vocacionadas para a convivência
intergeracional, adaptáveis a diversos modos de vida, adequadas para pessoas
com eventuais fragilidade físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma
institucional e de idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana
estimulante. O PHAI3C irá procurar identificar e caracterizar tipos de soluções
adequadas e sensíveis a uma integração habitacional e intergeracional dos mais
frágeis num quadro urbano claramente positivo e em soluções edificadas que
possam dar resposta, também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais
(ex., jovens e pessoas sós), num quadro residencial marcado por uma gestão
participada e eficaz, pela convivialidade espontânea e social e financeiramente
sustentável.
Trata-se, tal como se aponta
no título do artigo, de uma “versão de trabalho e base bibliográfica ” e, portanto, de um artigo cujos
conteúdos serão, ainda, substancialmente revistos até se atingir uma versão
estabilizada da temática referida no título; no entanto, em virtude da
metodologia usada, que se considera bastante sólida, marcada pelo recurso a
abundantes referências de fontes, devidamente apontadas e sistematicamente
comentadas no sentido da respetiva aplicação ao PHAI3C, e tendo-se em conta a
utilidade de se poder colocar à discussão os muitos aspetos registados no
sentido da sua possível aplicação prática no PHAI3C, considerou-se ser
interessante a divulgação desta temática/problemática nesta fase de “versão de
trabalho”, que, no entanto, foi já razoavelmente clarificada – como exemplo do
posterior tratamento para passagem a uma versão mais estável teremos,
provavelmente, referências bibliográficas mais reduzidas e boa parte delas em
português, assim como comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este
desenvolvimento irá sendo influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s)
pelos diversos temas e artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para
o designado documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação
razoavelmente sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.
Ainda um outro aspeto que se
sublinha marcar, desde o início, o teor do referido documento-base do PHAI3C (a
partir do qual serão gerados vários documentos específicos: mais de
enquadramento e mais práticos) é o sentido teórico-prático que privilegia uma
abordagem mais integrada e exemplificada da temática global da habitação
intergeracional adaptável e cooperativa, apontando-se exemplos e ideias
concretas logo desde as partes mais de enquadramento da abordagem da temática
como as que se desenvolvem neste artigo.
Finalmente, solicita-se a
compreensão dos leitores para lapsos e problemas de edição que, sem dúvida,
acontecem no texto que se segue, mas a opção era prolongar, excessivamente, o
período de elaboração de um texto que, afinal, se pretende seja essencialmente
prático; as próximas edições serão complementarmente revistas e melhoradas.
Regista-se, também, que foram, pontualmente, retiradas, em alguns dos textos citados as numerações relativas a notas bibliográficas específicas desses textos.
Sobre as necessidades habitacionais mais específicas dos idosos “II” - versão de trabalho e base bibliográfica - Infohabitar # 811
Considerando-se a extensão do tema este é
apresentado, aqui na Infohabitar, em dois artigos a editar em semanas consecutivas,
sendo as matérias de cada semana realçadas a negrito na listagem que se segue;
os itens (i) e (ii) foram, portanto, editados na semana que passou.
Subtemáticas do presente item :
(i) Sobre as necessidades
habitacionais mais específicas dos idosos: reflexão geral
(ii) Capacidade de escolha e de
participação na habitação adequada aos idosos
(iii) Possibilidade de uma revolução na qualidade de vida dos idosos
(iv) Habitação com prestação de cuidados
(v) Sustentabilidade ambiental e novas soluções
habitacionais
Avança-se, em seguida, para uma reflexão global sobre as necessidades
habitacionais mais específicas dos idosos, tentando-se tratá-las numa
perspetiva que nunca esquece o que as condições habitacionais especialmente
habilitadoras de uma vida diária funcional, agradável e segura para os
habitantes idosos são, também, globalmente, condições que aprofundam os mesmos
aspetos de qualidade residencial aplicados a todos os habitantes.
Estas matérias ligam-se muito aos aspetos associados ao conceito designado
por « habitação para a vida », que deverão influenciar tanto a nova
promoção, como aspetos específicos da reabilitação habitacional; podendo, neste
caso, apurarem-se « pacotes » de intervenções hierarquizados em termos
de condições e qualidades consideradas como mais importantes e mais urgentes.
Tal como se constata na listagem acima apresentada, onde se incluem as
subtemáticas abordadas neste item, iremos em primeiro lugar avançar para uma
reflexão global, mas sintética, sobre esta matéria, passando, depois, para uma
prospetiva do que poderá ser, ou deverá ser, a nossa vida residencial e urbana
quando idosos, avançando-se, depois, primeiro, para a consideração de aspetos
importantes associados à previsão de uma habitação que possa integrar e
facilitar cuidados de bem-estar e de saúde aos seus habitantes e, por fim, para
a referência à importância de se respeitarem os aspetos associados à
sustentabilidade nas referidas intervenções.
(iii) Possibilidade muito real de uma verdadeira
revolução na qualidade de vida dos idosos e respetiva influência nas suas
soluções habitacionais
Relativamente à mudança que está a acontecer no perfil sociocultural dos
idosos e com influência direta nas respetivas soluções habitacionais recorre-se
ao estudo do Senior Housing News Resource Center, intitulado The
Wellness Revolution Shaping Senior Living , onde se faz uma muito oportuna
relação entre bem-estar e habitação para seniores. (3)
Neste estudo é dado um relevo estratégico ao atual forte aprofundamento e
aproveitamento, em termos de mercado, do bem-estar residencial e de lazer,
aplicando-o aos seniores e aos seus desejos habitacionais e urbano ; no
sentido específico de uma adequada « formatação » formal e funcional
do PHAI3C é oportuno considerar este aspeto de um novo, amplo e expressivo bem-estar
“oferecido” numa parte tardia da vida, sendo este aspeto, muito provavelmente,
determinante no êxito deste Programa.
A título de comentários gerais julgados importantes para a estruturação do
PHAI3C citam-se e comentam-se, em seguida, excertos do documento acima registado e referidos a
esta temática: (pg. 2 e 3)
With big spending on a
multitude of areas including nutrition, fitness and health care, wellness is a
$3.7 trillion industry. What people are trying to buy with their money
is personal fulfillment in five main areas: physical, emotional, mental, social
and spiritual.
Senior living residents
are increasingly attuned to these wellness desires. Studies show that today’s
residents want personalized wellness delivered to them in every facet of their
day, and that it improves their quality of life.
The impending wave of baby boomers will only increase these demands. These young seniors are more discerning than their Greatest Generation counterparts and more accustomed to a lifestyle of wellness, an attitude senior living providers are seeing play out.
E na perspetiva dos autores do estudo que acabou de ser referido estamos mesmo no arranque do que pode e deve ser uma « revolução » no bem-estar dos idosos, que está para durar e se intensificar, que deve abranger todas as facetas da vivência dos idosos, que tem de ter um expressivo suporte físico e que tem muito a ganhar e aprender com diversas disciplinas e entre elas com o amplo leque de conhecimentos ligados a uma hotelaria de qualidade, tal como se aponta no referido documento: (pg. 28) (negrito nosso)
No matter the business sector, wellness is a hot topic. In technology and health care, in restaurants and hospitals, the concept is everywhere. It’s in senior living too. That’s because the areas of a resident’s life that senior living aims to address are all wellness-based...
• Seniors need
whole-person wellness — a focus on multiple,
interrelated areas of a person’s life
...
• Senior living environments are being
re-defined as spaces to promote
wellness, impacting site selection, building design and technological
infrastructure
• Big-name hotels are setting the pace for
wellness, and senior living can and must
learn from hospitality’s innovative
practices
• Person-centered offerings in dining, fitness
and health care must be the norm
…
Nesta mesma perspetiva enquadra-se uma conversa entre a American Society
on Ageing (ASA) e o Arquiteto e
consagrado especialista nestas áreas Victor Regnier, conversa esta significativamente
intitulada Life the Way We Want It: A Conversation with GeroArchitect Victor
Regnier, da qual foram selecionadas e citadas, mais abaixo, algumas ideias-chave. (4)
Desde já se salienta que este documento é considerado de grande importância
para consultas eventuais e por isso integra o designado Arquivo de Consulta,
que está em preparação no âmbito do processo de estudo do PHAI3C.
O tema global abordado é o da « habitação para a vida » e a ideia
fundamental e estratégica é a da (co)responsabilização autonomizada do idoso, no
apoio à definição e ao funcionamento de uma sua nova « habitação para a
vida », funcional e ambientalmente flexível e integrada por serviços
também flexíveis e versáteis ; e no sentido específico da utilidade deste
conceito para o PHAI3C julga-se que a relação é direta.
A título de elementos gerais com importância para a estruturação do PHAI3C juntam-se e comentam-se, brevemente, em seguida, excertos da referida entrevista com Victor Regnier, iniciada com o questionamento sobre os aspetos específicos de como harmonizar independência residencial, bem-estar pessoal integrando a provável evolução dos cuidados necessários, convívio, integração urbana e envelhecimento, tudo isto numa perspetiva que, no limite, poderá permitir aos casais (como bem refere Regnier) envelhecer juntos e até falecer no seu apartamento sem terem de mudar para um equipamento específico ; aspetos estes que acabam por poder/dever caraterizar uma renovada forma de habitar com clara aplicabilidade no âmbito do PHAI3C; tal como resulta dos aspetos citados, em seguida, da referida entrevista: (negrito e sublinhado nossos)
Victor Regnier: This building type is centered on
the European idea that you move into a purposebuilt independent apartment with
say, 60 to 90 units. Each unit is probably 600 to 900 square feet [55 a 84
m2]— either a one or two bedroom. You have a full kitchen, an
accessible bathroom and balcony. It
is like any conventional apartment, but built to adapt to your needs as you
age.
Forty to 50 percent of residents in Apartments for
Life buildings in the Netherlands (where these are most common) are couples. In this arrangement one can have beginning
dementia, and the other could be in a wheelchair because of a physical problem
or the beginning of Parkinson’s. They rent or buy this type of unit with the
expectation that if not now, then in the future their spouse or they themselves
will need care.
They might move when they’re 75 and this
building type allows them to live together, and age together and die in the
apartment without having to move to assisted living or a nursing home.
There are usually partnerships that put these
projects together—one partner is often a housing developer and the other is a
care provision organization. Care provision involves a geriatric care manager
who is continually assessing residents and arranging for services that are
required for independence.
Embora se considere que a principal solução habitacional associada ao PHAI3C não deva ser especialmente dedicada a situações de idade muito avançada e prestes a precisarem de diversos apoios de bem-estar e saúde, julga-se muito interessante esta relação com serviços específicos para se poder continuar a ser, « sempre », o mais possível independente na sua habitação (talvez um conceito estratégico a reter no âmbito do PHAI3C) – e aqui já se avança com uma, julgada, muito positiva diversificação das soluções concretas integradas no PHAI3C, que importará desenvolver em termos de conjuntos habitacionais funcional e ambientalmente flexíveis e que terá, sempre, de lidar com esta « convivência » com situações mais carentes de apoios, mas sem se afetar negativamente o ambiente global da intervenção; tal como também se refere na citada entrevista:
The problem in the United States is that we have a
onesizefitsall ‘licensed option’ in assisted living or skilled nursing
facilities. The whole system is professionalized and many decisions are taken
away from the family and the older person.
In Northern Europe, you are still making lots of decisions about how you will live. If you want someone to come in every three days to give you a shower, cool, if your daughter wants to help you, that’s okay, too.
Julga-se que a flexibilidade no formato assistencial aos idosos também não
existe em Portugal e aliás também terá os seus riscos, pensando-se, aqui, nos
inúmeros « lares » ilegais que vão sendo fechados todos os anos entre
nós.
No entanto importa, desde já, aproveitar destas considerações que, no
âmbito do PHAI3C este não será um novo « equipamento coletivo », mas
sim uma nova solução habitacional, condição esta que tem muito a ver com a
liberdade de cada um e com a diversidade de soluções que aí serão
possíveis ; mas sem dúvida há que ter muito cuidado para se bloquearem
quaisquer aproveitamentos menos adequados de uma tal flexibilidade.
Na prática tudo isto não deixa de ter muito a ver com uma aplicação, talvez
mais « fina » e cuidada, do conceito de « Habitações para a
Vida » - tradução livre do conceito e programa intitulado « Apartments
for Life » aplicado há algum tempo no Norte da Europa e cujas
caraterísticas, em seguida sintetizadas através de citações de Victor Regnier,
serão sem dúvida úteis no desenvolvimento do PHAI3C: (negrito e sublinhado
nossos)
ASA: If the Apartments for Life concept originated
in the mid ’90s, what’s preventing it from largescale adoption here?
VR: The Apartments for Life concept became
popular 15 years ago and it has taken some time to incubate. It will happen
here eventually, it will just take time. Our state laws are not structured to
make this type of homecare housing hybrid easy to develop and regulate. Today,
there are a few CCRCs [Continuing Care Retirement Communities] that have the
flexibility (and regulatory flexibility) to produce it.
The model is centered on creating continuity, how
to give people control, and how to be able to buy what you need— not what’s
prepackaged. It gives people more independence, more opportunity to do things
for themselves and to help others. There
is a homecare agency on the lower floor of the building.
The units are set up to be adaptable; there is 24/7
power, larger bathrooms with European rollin showers, and ways to accommodate
oxygen and other equipment.
You can design a building that is adaptable —
that’s easy, but how to figure out assessment, how to vary the service package,
how to do oversight, how to avoid violating the regulations, all of that … is
complicated.
Most people would like to stay at home. But, say
your mother is no longer ambulatory, needs assistance with toileting, needs
help showering or maybe to dress every day. Most homecare agencies will insist
on 24/7 care—someone that stays in her apartment. You end up paying that person
$25 an hour for three shifts. So for $18,000 per month, we can fix the problem.
Using homecare that way is just not sustainable. In Northern Europe, the
Apartment for Life concept is cheaper and better. It pushes overall responsibility to the older person and there are
many older people helping one another in these buildings.
Considera-se que uma (co) responsabilização autonomizada dos próprios
idosos e futuros co-habitantes no desenvolvimento de iniciativas específicas do
PHAI3C e designadamente no que se refere aos respetivos « pacotes »
específicos de apoios domiciliares e pessoais é estratégica e deverá ser
especificamente considerada, extremamente cuidadosa e bem concebida, quando
incluir apoios de saúde.
Fig. 02 : uma imagem do programa
intitulado « Vila dos Idosos », em São Paulo, Brasil ; uma
intervenção do programa Morar no Centro da Companhia Metropolitana de Habitação
de São Paulo (COHAB), que integra 145 unidades para pessoas idosas, realizado
em 2003-2007, com projeto de Arquitetura de VIGLIECCA&ASSOC – Arq.º Hector
Vigliecca e Associados. Mais imagens deste conjunto acompanharão os próximos
artigos desta série, tendo sido recolhidas no âmbito do 3.º Congresso
Internacional da Habitação no Espaço Lusófono (3.º CIHEL) promovido pelas FAU-
Mack, FAU-USP e IAU-USP.
(iv) Habitação com prestação de cuidados
Numa sequência temática natural do item anterior, onde se abordou a possibilidade
de acontecer, brevemente, uma verdadeira revolução na qualidade de vida dos
idosos com diretas influências nas suas soluções habitacionais mais desejadas,
avança-se, agora, especificamente, nos aspetos « organizadores » de
intervenções habitacionais bem integradas com serviços diversos e eventuais
prestações de cuidados de bem-estar e saúde – aos residentes e, desejavelmente,
também a outros habitantes vizinhos.
Para tal vamos usar como fonte de elementos estruturadores o que se julga ser o último livro
de Victor Regnier, intitulado Design
for Assisted Living: Guidelines for Housing the Physically and Mentally Frail, utilizando
leituras críticas e de apresentação desta obra : em primeiro lugar um
texto de síntese de Edward Steinfeld que faz a síntese e apresentação do livro,
sublinhando os respetivos principais conteúdos ; e em segundo lugar uma
outra apresentação do mesmo livro, mais pormenorizada. (5)
A propósito do livro de Regnier, Edward Steinfeld foca o futuro da habitação com prestação de cuidados, salientando que deverão ser lugares de prestação de serviços de saúde, mas também de criação de ambientes que integrem programas de recuperação e bem-estar para os idosos e quem os visita ; e se colocarmos um caráter residencial afirmado em primeiro lugar teremos o perfil do nosso PHAI3C ; e junta ainda referência estratégica ao papel protagonista da natureza neste processo.
Refere Edward Steinfeld:
As people get older, hospitals and health care facilities that care for the elderly are pressed to transform to be places that deal with today’s challenges and tomorrow’s future trends. The design of these buildings becomes even more important now than ever to not only be places of providing health services but to be environments which integrate programs for healing and well-being for seniors and the families that visit their loved ones. Of particular interest to me is the rise of the inclusion of therapeutic gardens as a part of health care building design.
E o mesmo Edward Steinfeld aponta a excelente
metodologia usada por Victor Regnier no desenvolvimento do seu último livro:
In the early 1990s the author did a study tour
of assisted living facilities in five European countries, visiting more than
100 facilities.
In 1999 he completed a second study tour, this
time visiting 95 new projects in the same five countries. In between he became
very familiar with the assisted living movement in the United States through
his consulting work on more than 100 projects and a series of one-day ‘‘post occupancy evaluations’’…
Edward Steinfeld usa os conteúdos da última obra de Regnier para esquissar
apontar nove critérios - em seguida citados - considerados essenciais numa habitação com prestação de cuidados que continue a
ser, basicamente, « habitação » ; condição que muito nos
interessa para o PHAI3C: (pg. 593)
… to create an environment that has certain qualities, not merely a limited set of physical and service characteristics. Assisted living, Regnier writes, can be
defined by projects that meet these criteria (p. 4):
-
Appear
residential in character
-
Are
perceived as small in size
-
Provide
residential privacy and completeness
-
Recognize
the uniqueness of each resident
-
Foster independence, interdependence, and individuality
-
Focus on
health maintenance, physical movement and mental stimulation
-
Support
family involvement
-
Maintain
connections with the surrounding community
-
Serve the
frail
Edward Steinfeld salienta a defesa que Regnier faz da máxima aplicação do
conceito do « envelhecimento em casa », « até à altura em que as
pessoas não possam mais tomar conta de si próprias … uma habitação associada a
prestação de cuidados é uma solução melhor do que uma casa de saúde. »
(pg. 593)
E sublinha ainda que o estudo de Regnier desenvolve excelentes
aprofundamentos práticos à resolução de problemas de projeto, apontando, po
exemplo, um conjunto de soluções que Regnier avança para corredores muito
longos (sensivelmente mais de 12m), que acabam por ser maçadores e
desmotivadores para pessoas idosas e frágeis.
Depois Edward Steinfeld avança num conjunto de matérias,
« retiradas » do último livro de Victor Regnier, que podemos designar
de « filosofia para uma nova habitação cuidadora », que citamos, em
seguida, de forma extensa, por se considerar de grande importância para o
« formatar » de intervenções do PHAI3C habilitadas para a prestação
de alguns cuidados específicos de bem-estar e saúde: (pg. 594)
Regnier discovered in northern Europe that
successful assisted living models include service-supported housing, long-term
care facilities, and everything in between.
He argues that the definition of assisted living
should not be focused on a building type, but rather on the philosophy that
underlies the program, the way
that philosophy is carried out in the design of the building and services, and
the experience of the residents, taken as a whole.
Whether
this happens in a context that emphasizes more independent apartment living or
a licensed long-term care facility or something in between is immaterial.
The key to his vision is the emphasis on the
word ‘‘living.’’ Assisted living provides assistance for living. It helps residents continue their lifelong development as individuals
as part of a social network rather than treating them as if they have no future
as people and no connection to the community.
He argues that assisted living is a philosophy
that has a growing body of adherents and will continue to expand due to a mix
of consumer demand, economic realities, technological advances, regulatory
adaptation, and competition in the larger framework of aging services.
The growth of adult day care and improved health
care and wellness programs geared toward longevity, he believes, will allow
people to remain in independent housing longer with a spouse or other family
members, delaying the move to assisted living.
Thus, the population entering assisted living
facilities will be less healthy and more dependent than it is will be attracted
to assisted living facilities, and governments will develop policies that allow
people to stay in such facilities longer.
As for the nursing home industry, it will address
consumer demand and the economic disparities by moving toward a more
residential model to accommodate people with higher service needs...
Regnier predicts that skilled nursing homes will
move more and more to a single-room occupancy model, which is now almost
universal in northern Europe and is a key feature of assisted living.
Thus, the two ‘‘building types’’ [habitação com
prestação de cuidados e “casas de saúde”] will move closer together.
Regnier also believes that family participation
is central to the success of assisted living. It is much more family
friendly than the skilled nursing care model and thus families feel more
welcome in the former.
He also
believes that residents move to assisted living facilities based on their
environments. He reports that building design is one of the most important
attributes consumers cite when describing why they moved to a particular
assisted living building.
Poderemos ter, assim, intervenções intergeracionais adaptáveis a diversas
necessidades e desejos de vida e de habitar, profundamente marcadas, por
exemplo até em termos « simbólicos », pelo sentido residencial e
pelas respetivas caraterísticas de cada localização, muito atraentes para os
próprios habitantes e seus visitantes e onde seja possível habitar num prazo
temporal muito alargado, pois as respetivas condições « de hardware e
software » apoiam intensa e extensamente os habitantes mais idosos e/ou
mais frágeis, mas nunca colocando em causa o caráter digno, residencial,
atraente e estimulante do conjunto de cada intervenção.
E finalmente Edward Steinfeld salienta duas recomendações estratégicas de Regnier para a habitação com prestação de cuidados: que ela tenha, cada vez mais, um sentido radicado na vizinhança e de polarização de serviços de vizinhança e de apoio à família (pg. 594) ; e que ela promova, o mais possível, um estilo de vida ativo, baseado em terapias de movimentação e na promoção do bem-estar. Matérias estas que, há que sublinhar, se consideram essenciais no desenvolvimento das operações do PHAI3C. (pg. 594)
(v) Sustentabilidade social e pessoal das
novas soluções habitacionais
O subtema que se aborda, neste item visa a aliança
entre as novas soluções habitacionais, como as que são sugeridas no âmbito do
PHAI3C, e os respetivos aspetos de sustentabilidade – social, pessoal, económica,
etc.
E neste sentido cita-se e comenta-se, em seguida, um estudo de Ed
Harding, intitulado Sustainable planning for housing in an ageing
population: A guide for regional-level strategies. (6)
No estudo apontam-se alguns dados verdadeiramente críticos, referidos ao Reino Unido, e que importaria replicar urgentemente em Portugal referidos à « revolução grisalha » que já aí está e à qual parece que continuamos a não querer ligar, mas que temos de ter urgentemente em conta porque considerando-se « as pressões demográficas o bem-estar dos idosos é essencial para o desenvolvimento económico e para a coesão social ».:(pg. 6)
Some 1 in 3 households are already headed by somebody over 60.
Older people will represent 48% of all of growth in households from 2004 to 2026.
The over 65s will grow from 8.3m in 2008 to 11.4m by 2025.
The 80+ will grow by 1 million from 2008 and 2025, an increase of almost 50%.
Given demographic pressures, the wellbeing
of older people is essential to economic development and social cohesion.
Depois Ed Harding salienta, primeiro, que « más condições
habitacionais intensificam os problemas ligados à saúde e a deficiências »
e que as pessoas mais frágeis tendem a passar muito tempo em casa, com as
consequências daí decorrentes, por exemplo, quando as casas não são adequadas
(ex., acidentes), e avançando, a seguir, para a consideração desta problemática
aplicada aos idosos, aos muitos idosos que vivem sós e (podemos até acrescentar)
aos « muito idosos » que vivem sozinhos. E conclui salientando que
« habitação adequada resulta em poupanças em serviços públicos e promove a
independência e o bem-estar dos idosos », tal como se cita em seguida: (pg. 8)
Poor housing exacerbates the burden of ill-health
and disability
. Older people spend between 70-90% of
their time in their homes, much more than any other age group.
. Mainstream housing often presents a
challenging environment in which to age, exacerbating otherwise manageable
illnesses and disability. For example, older people may be at increased risk
of home accidents where homes have poor lighting.
. Unsuitable housing has direct and proven
linkages with ill health, including pneumonia, asthma, mental health, and falls
and hip fractures.
. There is good evidence that cost-effective
housing-based interventions can reduce accidents, falls, hospital admissions
and promote independence
. Loneliness
and social isolation in later life are linked to depression and poor health.
Approximately 1 in 10 older people report loneliness, although levels are much
worse in communities with high multiple deprivation. Living alone may
exacerbate the likelihood of social isolation.
Appropriate housing offers the potential
to reduce expenditure on public services and promote older people’s
independence and wellbeing.
Em seguida Ed Harding sublinha: a inadequação da habitação corrente para
milhõs de idosos ; a falta de escolhas dos idosos relativamente a soluções
adequadas de habitação; e a falta de soluções habitacionais adequadas a idosos
que queiram mudar para habitações mais compactas (em termos de « downsizing ») e mais adequadas.
(pg. 9)
Sequencialmente Ed Harding alia as recomendações feitas até aqui com a defesa de um avanço simultâneo em soluções residenciais especializadas em termos de cuidados especiais, sublinhando que, por um lado, esta estratégia proporciona a entrada no mercado habitacional de muitas « habitações correntes », como se considera provado que as referidas soluções habitacionais especializadas propiciam aos seus habitantes/utentes uma vivência muito melhor dos seus problemas de condicionamentos físicos e de perceção, reduzindo acidentes e problemas de saúde. (pg. 11)
Depois Ed Harding sublinha « ser essencial um planeamento integrado para se atingirem objetivos conjuntos em termos de saúde, assistência social, habitação e socialização comunitária ». (pg. 12) Numa referência considerada muito importante para a programação da nova Habitação de Interesse Social em Portugal, onde se deverão integrar, naturalmente, soluções de PHAI3C.
Finalmente Ed Harding conclui que « a habitação e soluções de cuidados
com base comunitária podem proporcionar ganhos significativos e economicamente
sustentados em termos da independência e do bem-estar dos idosos », sendo
muito significativos os resultados obtidos, em termos de melhoria de qualidade
de vida e de redução de acidentes domésticos, na sequência de ações de
reabilitação e adequação habitacional e havendo recuperação dos investimentos
em tecnologias adaptativas e assistenciais por redução dos custos posteriores
dos cuidados de bem-estar e saúde e um grande potencial de poupança pública
mediante o significativo adiamento da entrada em equipamentos residenciais com
cuidados específicos; tal como se cita em seguida: (pg. 19)
Housing and community-based care solutions
can offer significant and cost-effective gains in older people’s independence
and wellbeing:
. Cold, damp housing is linked to
rheumatism and arthritis.42
.
Following a major adaptation, one study found that 89% of people reported a
‘major impact’ on quality of life, and 65% reported a ‘major impact’ on
independence.
.
Other evidence suggests home improvements are clearly linked to improved mental
health, as well as reductions in symptoms and the
useof health services.
.
Repairs, such as lighting and removal of trip hazards, and improvements such as
grab rails and grip mats in showers are linked to fewer falls.
. Adaptive equipment in the home can
reduce reported falls by as much as 58 to 60%.
. In most cases, initial investment in adaptive
and assistive technology for older people is recouped through subsequently
lower care costs.
. Postponing entry into residential care
by 1 year could reduce costs by around £26,000 per person. Housing based
adaptations and domiciliary care can therefore realise substantial savings.
E Ed Harding vai ainda às matérias mais amplas do apoio à sustentabilidade global do sistema de saúde, salientando que pequenos e agilizados « pacotes » de adaptação e adequação « essencial » de habitações ao uso por habitantes idosos e/ou fragilizados podem reduzir expressivamente a ocupação de camas nos hospitais, que terapias específicas podem reduzir significativamente o risco e a gravidade das quedas domésticas e que as caraterísticas de pedonalidade, densidade e urbanidade das soluções residenciais dinamizam a atividade física dos idosos com influências positivas na sua saúde, no seu bem-estar e na sua independência. (pag. 20)
Notas :
(3) - Senior Housing News Resource
Center – The Wellness Revolution Shaping Senior Living. Chicago: Senior Housing News
Resource Center, 2018
(4) - American Society on Ageing (ASA) – Life the Way We Want It: A Conversation with GeroArchitect Victor Regnier. Aging Today, Bimonthly Newspaper of ASA, fevereiro, 2013.*
(6) - Harding, Ed – Sustainable
planning for housing in an ageing population: A guide for regional-level
strategies. Londres:
International Longevity Centre UK 2008.**
Notas editoriais gerais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar
seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar
uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as
opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as
posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários,
sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos
autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos
mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão
referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado
nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma
quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou
que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na
Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição
dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se
circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é
pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser
de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado
tal e qual foi recebido na edição.
Sobre as necessidades habitacionais mais específicas dos idosos “II” - versão de trabalho e base bibliográfica - Infohabitar # 811
Infohabitar, Ano XVIII, n.º 811
Edição: quarta-feira, 06 de abril de
2022
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC),
em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a
Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na
Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).
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