Em memória viva de Duarte Nuno Simões – infohabitar # 791
Infohabitar,
Ano XVII, n.º 791
Edição: quarta-feira, 15 de setembro de 2021
Estimados leitores,
Chegou a altura de escrever, com tristeza, mais algumas daquelas palavras que ninguém tem vontade de escrever; e quem vai acompanhando os nossos artigos semanais, que têm sido divulgados já há mais de 17 anos, na nossa Infohabitar, aqui encontra uma secção temática intitulada de “registo e memória”, onde vão surgindo pequenas e informais memórias sobre amigos e colegas que já partiram; e quando, por variadas razões, revejo esses pequenos textos, confesso que o faço, sempre, com uma dupla emoção de natural tristeza e profunda saudade, mas também de uma quase “alegria” por poder estar a sentir, naqueles momentos, intensamente, a memória bem viva daqueles amigos.
E as palavras tristes que aqui se
escrevem registam o falecimento de um dos fundadores da GHabitar APPQH –
“antigo” Grupo Habitar – associação que baseia o nosso blog/revista:
o Arquitecto Duarte Nuno Simões
(1930-2021) faleceu;
o nosso companheiro estará
na Igreja do Campo Grande , Lisboa, amanhã dia 16
de setembro a partir das 9h30, seguindo-se missa às 14h, e depois o
funeral para o Alto de São João,
À família enlutada a GHabitar, os
seus corpos sociais, os seus associados e a Infohabitar enviam os sinceros
sentimentos; mas o Duarte Nuno estará, sempre, connosco e quem com ele teve o
privilégio de conviver sabe que o Grupo Habitar e a Infohabitar sem ele teriam
tido muito menos sentido.
O Duarte Nuno Simões é/foi um meu
velho amigo, no sentido de ter tido a honra de o conhecer talvez há quase um quarto
de século, havendo uma significativa diferença de idades entre nós os dois; mas
isso não prejudicou, de nenhuma forma, a nossa amizade.
Devo também referir que devo ao
Duarte Nuno Simões importantes aprendizagens, pois ele é/era alguém de grande
humanidade, amplos conhecimentos e um muito agradável sentido de conversação,
de bom-senso e de convívio; e foi com ele que comecei a interiorizar a real,
profunda e diversificada importância da habitação no fazer de uma cidade
verdadeiramente culta e civilizada.
Quanto à sua afirmada qualidade
como Arquitecto Projectista, os diversos e numerosos prémios obtidos pelo seu
atelier – desde há alguns anos
coordenado pelo seu filho Nuno Simões – e, mais do que isso a “simples” visita
às suas obras falam por si: pela qualidade apurada do desenho, pela
sensibilidade das propostas, pela sua amigável e ampla escala humana e pelo seu
sóbrio e digno protagonismo urbano.
Para concluir este registo tomo a
liberdade de citar algumas palavras de um grande poeta, que fala das cidades, e
quando ia tentar encontrar uma dado poema outro encontrei que, não sei porquê,
me fez lembrar, agradavelmente, o Duarte Nuno, e que junto em seguida, numa
citação parcial,
António Baptista Coelho
faz votos para que seja longo o
caminho,
cheio de aventuras, cheio de
conhecimentos.
...
Faz votos para que seja longo o
caminho.
Para que sejam muitas as manhãs de
verão
nas quais com que contentamento,
com que alegria
entrarás em portos vistos pela
primeira vez;
para que pares em feitorias
fenícias,
...
para que vás a muitas cidades
egípcias,
para que aprendas e aprendas com os
letrados.
Deves ter sempre Ítaca na tua
mente.
A chegada ali é o teu destino.
Mas não apresses em nada a tua
viagem.
É melhor durar muitos anos;
e já velho fundeares na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperares que te dê Ítaca
riquezas.
Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído ao
caminho.
...”
Ítaca
de Constantino Kavafis (1863-1933)
O
Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.
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