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Infohabitar, Ano XVI, n.º 724
Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e
naturais (I) – Infohabitar # 724
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Notas prévias:
Muito estimados
leitores da Infohabitar, caros amigos,
continuamos
a “batalha” contra o inimigo invisível, julgo, agora um pouco mais habituados
ao teletrabalho e ao confinamento doméstico.
Temos de manter a força e
procurar ter um máximo de rigor e reforçar mesmo o cumprimento das indicações para
“estar em casa” e manter a distância social; só assim poderemos proteger-nos e proteger
os outros.
E não tenhamos dúvida de que
quem sai de casa sem ser por razões plenamente justificadas está, realmente, a colocar em risco o esforço de confinamento que
todos estamos a fazer e a contribuir para o prolongamento e mesmo para o agravamento desta
situação.
Realmente, nestes tempos tão
difíceis para todos e verdadeiramente inacreditáveis (até para velhos
amadores de ficção, como é o meu caso e, por favor, não considerem este último
comentário menos respeitoso, pois trata-se, apenas, de colocar, por escrito, um
pensamento que, provavelmente, tem ocorrido, a muitos de nós, nestas últimas
semanas), é fundamental,
por um lado, e tal como acima se referiu, atender e cumprir, fielmente, entre
outros aspetos, as indicações de confinamento doméstico – e não tenhamos quaisquer dúvidas de que
“ficar em casa” é a única forma de nos protegermos, de protegermos os outros e
de facilitarmos o heroico esforço dos profissionais de saúde e de tantos outros
que não podem estar em teletrabalho (e são muitos e
importantes os testemunhos que destacam a importância vital do isolamento
doméstico no combate ao vírus) – e, por outro lado, procurar
construir, gradual, mas seguramente, uma fundamental rotina de atividades,
entre as quais :
(i) os cuidados de higienização própria e do
espaço doméstico,
(ii) os cuidados de distância social no espaço de
uso público e mesmo, sempre que possível, no próprio espaço doméstico,
(iii)a
prática das mais variadas atividades complementares e de lazer adequadas ao
espaço doméstico e
(iv) o desenvolvimento de uma razoável e bem
saudável disciplina de teletrabalho doméstico.
E é com este sentido que iremos procurar assegurar
a continuidade das edições semanais da Infohabitar, tanto com novos artigos
sobre aspetos teórico práticos que se poderão, talvez, designar como mais “consistentes”
– por exemplo, o retomar da Série “Habitar e Viver Melhor” e o desenvolvimento
de uma nova Série editorial dedicada à “Habitação Colaborativa Intergeracional”
–, como através da reedição, eventualmente comentada, de artigos editados nos
primeiros anos da Infohabitar, e ainda através da continuidade de uma edição
comentada de esquissos/desenhos, seja numa perspectiva da própria prática do
desenho livre, seja considerando, especificamente, os aspectos de arquitectura
e de habitar que estejam, eventualmente, associados a cada tema desenhado.
Finalmente, faz-se um apelo sincero:
. a novos artigos que nos possam ser enviados
com o objetivo da respetiva edição, que poderão ser de variada índole, desde
que referidos ao grande tema do habitat humano - ex., desde temas estruturados e/ou
inovadores, a reflexões específicas sobre determinada matérias (e o
confinamento doméstico proporciona sem dúvida muita matéria de reflexão
teórico-prática sobre o que são e o que poderiam ser os nossos “mundos”
domésticos);
. a recensões sobre livros ou filmes, conjuntos
de imagens, pelo menos, minimamente apresentadas e/ou comentadas, como fotos e
esboços (cuidado com a autoria), etc.
. e a “simples” comentários relativos a
determinados artigos, comentários estes que deverão ser acompanhados pela
referência de autorização para divulgação editorial (caso assim o desejem).
E para já é tudo, mas na próxima semana
voltaremos.
Com saudações calorosas e desejos de muita
força e de boa saúde,
Lisboa, Encarnação, em 30 de
março de 2020
António Baptista Coelho
Editor da
Infohabitar (em teletrabalho doméstico)
Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais (I) – Infohabitar # 724
Por António Baptista Coelho (imagens e textos)
Introdução
explicativa
Como referência prática de apoio à leitura,
lembra-se que no artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma
primeira reflexão sobre velhos/novos espaços urbanos”, se procurou
desenvolver, esquematicamente, a ideia de que, nos tempos de hoje, quando se
pretende imprimir ao espaço urbano uma renovada marca pedonal e de meios
“suaves” de deslocação, facilitados, designadamente, pelas novas tecnologias de
informação e comunicação e pelo crescimento do uso dos veículos pouco
poluentes, será talvez altura de podermos reavaliar e reintroduzir soluções de
Arquitetura urbana, que integrem, e profundamente – portanto, no “pleno uso”
dos respetivos e muito amplos leques de tipologias de espaços e aspetos de
pormenor – morfologias de edifícios e de espaços públicos, sendo ambas, expressivamente,
marcadas pela escala humana, e pela diversidade e mutação de agradáveis e
atraentes sequências de imagens, verdadeiramente catalizadoras do movimento e
da permanência.
No referido artigo Infohabitar n.º 711, intitulado “Uma primeira reflexão sobre velhos/novos
espaços urbanos”, realizou-se, então, uma abordagem de enquadramento
da temática dos velhos/novos espaços urbanos, seguindo-se o apontamento de alguns desenvolvimentos recentes e de
referência, que apoiam estas ideias, desenvolvendo-se, sequencialmente a
matéria do que se considera poder ser uma estratégica variabilidade urbana, que
se julga poder ser até facilitada pelas novas e potentes ferramentas de projeto
e de visualização do mesmo.
E salienta-se, finalmente, que se julga que boa
parte destas reflexões ilustradas poderão ser úteis em termos de apoio à
prática, quer no contexto de novas intervenções, quer no âmbito de regeneração
urbana, respeitando-se, naturalmente, a essencial adequação e/ou adaptação a
cada situação específica e a estratégica caraterização de cada operação.
Alguns
desenhos comentados
Em seguida e tendo-se por
base a apresentação de alguns desenhos à mão livre (7 esboços coloridos a sépia),
comentam-se, neste caso com brevidade, as matérias da Arquitetura do habitar, associáveis às temáticas que acabaram
de ser referidas, mas não se descurando alguns também breves comentários
relativos ao desenvolvimento dos respetivos desenhos (a brevidade dos
comentários acabou por se aplicar mais às últimas figuras).
Fig. 01: pormenor do caminho que
serpenteia no agradável jardim urbano que rodeia a igreja de Santo Eugénio na
Encarnação, um espaço que se julga ter sido uma das primeiras obras do arq.º
paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (Jardim da Praça de Santo Eugénio,
Encarnação, Lisboa, 1951).
Este jardim encontra-se rodeado
por moradias e equipamentos, mas consegue, mesmo com um dimensionamento muito
equilibrado (relativamente pequeno) uma razoável simulação de um ambiente
natural, através de relvados, arbustos, árvores com diferentes tamanhos e
formas de copa e caminhos que vão “ondulando” e oferecendo assim percursos mais
estendidos e com sequências variadas de pontos de vista.
Tal como é refletido no título
do artigo o esquisso é colorido a sépia, neste caso usando-se tinta permanente
que é depois aguarelada e, finalmente, sublinhando-se alguns aspetos a traço
negro.
Fig. 02: vista de uma zona
pedonal em Olivais Norte, Lisboa, “centrada” em um dos edifícios que correspondem
ao Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1967, o primeiro (e julga-se que
o único) Prémio Valmor atribuído a um edifício de habitação de interesse
social, com projeto dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira, António Pinto de
Freitas e Nuno Portas.
Estamos numa “nova” zona urbana
lisboeta, Olivais Norte, que constitui o mais exemplar bairro modernista
português, rodeado pela grande malha de pequenas moradias do bairro da
Encarnação e hoje em dia facilmente visitável através da estação de Metro da
Encarnação.
A estrutura/ambiente urbano que
aqui foi muito bem desenvolvida tem uma imagem dupla que corresponde a uma “dupla
vida”: (i) seja mais urbana, através de uma razoável continuidade física de
edifícios e árvores de arruamento, acompanhando as rodovias estruturantes do
bairro; (ii) seja mais naturalizada, tal como é visível no esquisso, através de
uma conjugação entre veredas e outras zonas pedonais, organicamente
desenvolvidas, massas naturalizadas de zonas verdes horizontais (relvados e
prados), verticais (árvores com diferentes formas e dimensões) e de transição
horizontal/vertical (arbustos eles próprios com diferentes formas/funções) e
edifícios que, aqui, neste mundo/vida mais naturalizado surgem numa sua
presença mais solta e bem distinta dessa relativa continuada urbana.
O esquisso segue a mesma “técnica”
das aguadas sépia, seguidamente reforçadas a traço negro; neste caso
procurando-se desenvolver alguma distinção de tipo de “traçar”, entre a
ilustração dos elementos naturais (talvez menos “gráfica”) e a ilustração dos edifício,
mais sintética.
Fig. 03: outro pormenor do
caminho que percorre o jardim urbano que rodeia a igreja de Santo Eugénio na
Encarnação, referido no texto da Fig. 01, salientando-se que neste jardim se desenvolveu
uma grande extensão e continuidade dos espaços relvados o que proporciona
excelente funcionalidade dos respetivos cuidados de manutenção e jardinagem.
E embora constituindo um espaço
de jardim bastante formal são evidentes os pormenores “dramáticos” que reforçam
a expressão e o sentimento de estarmos num espaço de natureza (“construída”, é
claro), como neste enquadramento em que o caminho é praticamente coberto por duas
pequenas árvores, uma de cada lado e onde é possível ter a noção de
perspetiva/profundidade bem pontuada pelos troncos das árvores que vão “desaparecendo”,
gradualmente, ao longe.
Fig. 04: outra vista de uma zona
pedonal em Olivais Norte, Lisboa novamente “centrada” em um dos edifícios que correspondem
ao Prémio Valmor e Municipal de Arquitectura de 1967, ilustrando-se, neste
caso, a importância que esta exemplar malha urbana modernista soube dar ao
evidenciar da topografia original e a grandes oliveiras pré-existentes, e que
foram conjugadas com novas plantações de árvores altas, e assim articulando-se
com a altura dos edifícios.
O esquisso aplica, também, as
aguadas sépia, primeiro desenhadas com os traços sépia de caneta de tinta permanente,
depois “aguados”/aguarelados e, finalmente, sublinhando-se o desenho a traço
negro, neste caso, com texturas bastante acentuadas.
Fig. 05: novamente, uma zona
pedonal de Olivais Norte, neste caso marcada por edifícios relativamente baixos
e com expressiva continuidade horizontal, trata-se de uma tipologia de habitações
duplex sobrepostas, que, de certa forma, fazem aproximar a ideia de conjunto à
de habitações unifamiliares em banda em segundo plano de uma paisagem quase
rural.
E fica evidente o cuidado que
foi colocado na escolha das espécies, com destaque para as arbóreas, nesta caso
com um amplo espaço muito focado numa grande árvore de copa larga;
sublinhando-se, assim, o que foi, entre nós, a primeira grande e muito
qualificada intervenção da arquitectura paisagista no âmbito da promoção de
habitação de interesse social e à escala de um pequeno bairro.
Fig. 06: na imagem o grande e único
edifício Categoria IV do bairro de Olivais Norte projetado pelo Arq.º Abel Manta;
na altura (década de 1960) a habitação de interesse social portuguesa encontrava-se
estruturada em cinco categorias, caracterizadas essencialmente por distintos aspetos
de espaciosidade doméstica e também, em parte, a tipos de acabamentos - Categorias
I, II, III, IV e HR, sendo as habitações menos espaçosas as de Categoria HR e
I, e assinalando-se, a propósito, que a atual habitação de interesse social
corresponderá, em termos de espaciosidade doméstica, sensivelmente à “antiga” Categoria
II (talvez um pouco melhorada).
Em termos de desenho/esquisso
nunca é fácil fazer o “apontamento” de um grande edifício caraterizado por um
muito elevado número de elementos iguais (neste caso vãos exteriores e
varandas), correndo-se, frequentemente, o risco de um excesso de síntese, com
resultado na reduzida compreensão do “objeto” desenhado, ou, até mais
frequentemente, de um excesso de minúcia e de um excessivo “carregar” na
presença gráfica do grande número de elementos repetidos; isto para além da
intensa atenção/paciência necessária(s) para a tentativa da respetiva expressão
gráfica.
Fig. 07: finalmente e, aqui,
essencialmente para fazer destacar diferenças estruturantes ou básicas entre dois
tipos de espaço urbano – modernista e “tradicional” – temos uma vista esquissada
sobre a Colina do Castelo em Lisboa, deixando e haver espaço entre edifícios,
que passam a surgir como uma verdadeira colina edificada, sem edifícios
protagonistas a não ser, talvez o Castelo e um ou outro elemento urbano um
pouco distinto do conjunto.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada,
caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha
de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos
artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos
artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é,
igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão
referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido
na edição.
Infohabitar, Ano XVI, n.º 724
Desenhos a sépia de velhos/novos espaços urbanos e naturais
(I) – Infohabitar # 724
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para
a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na
Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).
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