Um artigo de Paulo
Machado
Infohabitar, Ano X, n.º 477
Nota editorial
É com
natural satisfação que voltamos a editar um dos primeiros colaboradores da
Infohabitar, o doutor Paulo Machado, que aqui aborda uma temática de grande
atualidade.
António
Baptista Coelho
Editor
da Infohabitar
Uma atratividade made in Portugal
Num contexto económico desfavorável, cuja
duração constitui ameaça significativa para vários setores produtivos, existem
dinâmicas em contra ciclo que importa sinalizar.
Referimo-nos à fixação de estrangeiros seniores a residirem permanentemente em
Portugal, e ao crescimento do número de estrangeiros seniores que nos visitam na qualidade de turistas. Uns e outros
produzem um efeito de procura de alojamento (habitacional ou hoteleiro), não
despiciendo.
De acordo com o último Censo (INE, 2011),
mais de 13 mil pessoas estrangeiras, maioritariamente
europeus, com pelo menos 65 anos de idade, residiam em Portugal. Neste universo
é de destacar o equilíbrio entre homens e mulheres (quase 50/50), o que indicia
tratarem-se de casais, e o ritmo de crescimento anual médio de 7,1% nos últimos
dez anos. Salienta-se também que os dados estatísticos desmentem a falsa noção
de que o Algarve é o único destino, uma vez que pouco mais de um terço (37%)
reside nessa Região. Os restantes distribuem-se pelas outras seis Regiões:
Lisboa (24%), Centro (15%), Norte (12%), Alentejo (6%), Madeira (3%) e Açores
(2%). Observa-se que estes valores estão filtrados de modo a não incluir
estrangeiros residentes nacionais de países que foram ex-colónias portuguesas
até 1974.
Não são menos expressivos os dados sobre o
número de turistas seniores. Dos
quase 8 milhões de hóspedes estrangeiros que nos visitaram no ano transato (os
dados referem-se apenas até final de novembro), cerca de 10% tinham mais de 65
anos de idade, o que aponta para aproximadamente 800 mil idosos de passagem
Fig. 01
A geração de riqueza decorrente destes
movimentos de estadia, permanente ou sazonal, é por de mais relevante num
contexto recessivo. Será ainda mais relevante quanto maior for o crescimento da
procura do destino Portugal por parte de um segmento de estrangeiros com uma
idade sénior.
Uma política orientada para fazer crescer
sustentadamente este mercado, com reflexos evidentes no aumento da procura de
habitação para residir e de hotelaria para fazer férias, não pode deixar de
equacionar o papel decisivo do desenvolvimento territorial sustentável. Como
resultado dos estudos de caracterização desta procura, sabe-se que quem nos
vista não o faz exclusivamente pela amenidade climatérica, pela oferta de
praias e serras, pelas condições de acessibilidade e pelo custo da estadia. São
também fatores de atratividade um património construído ao longo de milénios, a
beleza natural, a riqueza cultural, a segurança pública, a confiabilidade dos serviços
de saúde, e um edificado capaz de responder às necessidades dos idosos.
Os setores imobiliário e turístico têm um
papel central a desempenhar neste desafio que é de todos: é necessário
assegurar boas condições de acolhimento dos seniores (residentes e visitantes)
e isso implica dar atenção à qualificação do nosso território, em especial nos
aspetos da segurança, da provisão de serviços de saúde e da acessibilidade de
pessoas com mobilidade condicionada. Não menos necessário é a adequação da
habitação e das áreas residenciais às necessidades específicas de uma geração
mais velha, mas cuja esperança de vida é cada vez maior.
Paulo Machado
Investigador Auxiliar do LNEC
Departamento de Edifícios
Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
INFOHABITAR Ano X, nº 477
INFOHABITAR Ano X, nº 477
Uma atratividade made in Portugal
Um artigo de Paulo Machado
Grupo Habitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional e Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do LNEC
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
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