domingo, março 23, 2014

477 - Uma atratividade made in Portugal - Infohabitar 477



Um artigo de Paulo Machado

Infohabitar, Ano X, n.º 477

Nota editorial

É com natural satisfação que voltamos a editar um dos primeiros colaboradores da Infohabitar, o doutor Paulo Machado, que aqui aborda uma temática de grande atualidade.

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

Uma atratividade made in Portugal


Num contexto económico desfavorável, cuja duração constitui ameaça significativa para vários setores produtivos, existem dinâmicas em contra ciclo que importa sinalizar.

Referimo-nos à fixação de estrangeiros seniores a residirem permanentemente em Portugal, e ao crescimento do número de estrangeiros seniores que nos visitam na qualidade de turistas. Uns e outros produzem um efeito de procura de alojamento (habitacional ou hoteleiro), não despiciendo.

De acordo com o último Censo (INE, 2011), mais de 13 mil pessoas estrangeiras, maioritariamente europeus, com pelo menos 65 anos de idade, residiam em Portugal. Neste universo é de destacar o equilíbrio entre homens e mulheres (quase 50/50), o que indicia tratarem-se de casais, e o ritmo de crescimento anual médio de 7,1% nos últimos dez anos. Salienta-se também que os dados estatísticos desmentem a falsa noção de que o Algarve é o único destino, uma vez que pouco mais de um terço (37%) reside nessa Região. Os restantes distribuem-se pelas outras seis Regiões: Lisboa (24%), Centro (15%), Norte (12%), Alentejo (6%), Madeira (3%) e Açores (2%). Observa-se que estes valores estão filtrados de modo a não incluir estrangeiros residentes nacionais de países que foram ex-colónias portuguesas até 1974.

Não são menos expressivos os dados sobre o número de turistas seniores. Dos quase 8 milhões de hóspedes estrangeiros que nos visitaram no ano transato (os dados referem-se apenas até final de novembro), cerca de 10% tinham mais de 65 anos de idade, o que aponta para aproximadamente 800 mil idosos de passagem

Fig. 01

A geração de riqueza decorrente destes movimentos de estadia, permanente ou sazonal, é por de mais relevante num contexto recessivo. Será ainda mais relevante quanto maior for o crescimento da procura do destino Portugal por parte de um segmento de estrangeiros com uma idade sénior.

Uma política orientada para fazer crescer sustentadamente este mercado, com reflexos evidentes no aumento da procura de habitação para residir e de hotelaria para fazer férias, não pode deixar de equacionar o papel decisivo do desenvolvimento territorial sustentável. Como resultado dos estudos de caracterização desta procura, sabe-se que quem nos vista não o faz exclusivamente pela amenidade climatérica, pela oferta de praias e serras, pelas condições de acessibilidade e pelo custo da estadia. São também fatores de atratividade um património construído ao longo de milénios, a beleza natural, a riqueza cultural, a segurança pública, a confiabilidade dos serviços de saúde, e um edificado capaz de responder às necessidades dos idosos.

Os setores imobiliário e turístico têm um papel central a desempenhar neste desafio que é de todos: é necessário assegurar boas condições de acolhimento dos seniores (residentes e visitantes) e isso implica dar atenção à qualificação do nosso território, em especial nos aspetos da segurança, da provisão de serviços de saúde e da acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada. Não menos necessário é a adequação da habitação e das áreas residenciais às necessidades específicas de uma geração mais velha, mas cuja esperança de vida é cada vez maior.


Paulo Machado

Investigador Auxiliar do LNEC

Departamento de Edifícios

Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.

Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
INFOHABITAR Ano X, nº 477


Uma atratividade made in Portugal


Um artigo de Paulo Machado


Grupo Habitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional e Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do LNEC

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

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