domingo, maio 15, 2011

346 - A casa e a habitação - artigo de José Forjaz - Infohabitar 346

por José Forjaz

Infohabitar, Ano VII, n.º 346

Nota do editor:


É com uma muito especial satisfação que se edita, esta semana, um artigo do arquitecto José Forjaz, uma pessoa que não precisa de apresentações e que nos deu a oportunidade óptima de podermos editar um conjunto precioso de reflexões sobre a natureza e a importância do tema "a casa e a habitação"; e é sempre muito importante podermos ter palavras escritas de projectistas de Arquitectura, palavras que, por exemplo, podem ser lidas e comentadas em escolas de Arquitectura e em outras escolas que se dediquem ao Habitar.


É uma honra para o Infohabitar poder contar com o arquitecto José Forjaz na sua galeria de colaboradores, desejando-se que esta seja a primeira de muitas participações e aproveita-se para fazer, aqui mesmo, uma ligação para um artigo não há muito tempo editado no Infohabitar sobre a última e excelente exposição deste projectista, sempre cívica e socialmente empenhado, que tem uma arquitectura do habitar que para além de um desenho, desde sempre, muito apurado, está sempre plena de referências humanas calorosas e de relações com "modos de fazer" tão ligados aos habitantes, quanto ao clima, quanto a quem pode fazer as obras localmente, contribuindo-se, assim, para a vitalização do meio social e económico de cada sítio - a ligação é a seguinte:

http://infohabitar.blogspot.com/2011/01/ideias-e-projectos-de-jose-forjaz.html

Em anexo a este artigo continua a divulgar-se a próxima sessão técnica no LNEC, dedicada à temática do conforto higrotérmico e visual habitacional: dia 23 de Maio no LNEC, o WORKSHOP - Conforto, Satisfação, Energia e Sustentabilidade.

António Baptista Coelho



A casa e a habitação

A habitação é, para o arquitecto, o que anatomia é para o medico ou o desenho da figura humana era para o pintor o escultor e… o arquitecto.


A habitação é arquétipo do espaço habitável


É o espaço que contem todas as dimensões da arquitectura que é, por definição, a dimensão construída do habitat humano.


O espaço da habitação é o referencial essencial de todos os espaços: do sacro ao áulico, do lúdico ao didáctico, do cénico ao comercial, do sensual ao ascético.


Disse-se que a casa é uma dimensão comprimida ou simplificada da cidade e, vice versa que a cidade é a dimensão expandida e complexa da casa.


Duas verdades por antinomia ou, talvez apenas, por simetria cujo significado dá a dimensão universal do espaço domestico.


A casa é o refúgio primordial.


A habitação deve ser o factor de contrabalanço dos desequilíbrios que a erosão da paciência impõe ao homem moderno.


Nesse sentido a casa é o útero consciencializado e revisitado.


Mas a casa é também a expressão da cota social da pessoa e da família, onde perde o seu sentido intimista a se torna num meio de promoção, voire o estatuto económico e cultural dos seus moradores.


De todas as espécies animais superiores a espécie humana é a que maior diferenciação apresenta quanto às formas do seu habitat e da sua habitação.


As diferenças são em primeiro lugar quanto á sua posição na escala da riqueza pessoal; quanto ao seu estatuto na escala da importância politica; quanto à iluminação da cultura que reflecte; quanto às tradições do habitar, quanto às características do meio ambiente e, certamente, quanto às idiossincrasias pessoais de quem a encomenda e a realiza.


Estes condicionamentos afectam e definem igualmente clientes e arquitectos, o meio sócio - cultural e o meio ambiente.


Não é, portanto, estranho que as formas de habitar sejam tão diversas quanto o são as possíveis combinações daqueles factores e que se vejam formas tão diversas de habitar em climas idênticos e tão semelhantes em diferentes climas.


Com a evolução dos meios de comunicação e informação e com a generalização das ferramentas tecnológicas; com a diluição do valor das tradições espaciais e formais; com a criação de novas classes oligárquicas e a explosão da correspondente miséria urbana a uma escala nunca vista no planeta, acontece, agora, uma generalização única e sem precedentes de novas formas desumanas de habitar, ao mesmo tempo que se realizam, por todo o lado, habitações que banalizam dimensões de desperdício e luxo nem sonhadas sequer no império romano ou na India dos maharajahs.



De um extremo ao outro vai a dimensão da nossa consciência.


Qual será então a posição do arquitecto?


Quais os termos, a justa medida, o referencial correcto, o contributo válido?



Na evolução da função social do arquitecto a competência técnica e a criatividade artística são parâmetros insuficientes para uma tabela de valores a considerar.


A validade social do projecto, tão difícil de medir, deve ser, cada vez mais, um dos valores essenciais na avaliação da sua qualidade.


O debate sobre se tudo é válido, sendo tudo possível, deverá ou não ser refrescado?


A potência mobilizadora se uma literatura cada vez mais insidiosa, alimentada de heroicidades expressivas baseadas no efeito hipnotizador do diferente, consegue, hoje, vender, a um público snob e cinicamente manipulado, as propostas mais irracionais, quer em aspectos ambientais quer em aspectos primários de conforto, quer em aspectos de habitabilidade básica, quer, simplesmente, em termos da sua integração no ambiente natural ou urbano.


A arquitectura não é o “jogo sábio dos volumes...etc ”, da afirmação corbusiana ... ou não é só isso.


É, de facto, muito mais que isso.


É a arte de criar espaços habitáveis, entenda-se: física e psicologicamente saudáveis e equilibrados, indutores da sensação de protecção ( no sentido do “shelter” ), tectonicamente racionais, ambientalmente sustentáveis e, consequentemente, económicos no sentido mais amplo do conceito.


A arquitectura vale pelo espaço que encerra e pela sua inserção contextual no espaço natural ou urbano.


Nesta base, e só nesta base, toda a criatividade mobilizada para a concepção da casa é não só possível mas necessária e obrigatória.


Só assim o habitat se torna casa.



José Forjaz

Maputo, Moçambique
28 de Abril de 2011

O editor do Infohabitar junta, em seguida, a ligação para o site do atelier do arquitecto José Forjaz
Site do Atelier de José Forjaz: "José Forjaz Arquitectos"


http://www.joseforjazarquitectos.com/



Anexo: divulgação de uma próxima sessão técnica no LNEC , dedicada à temática do conforto higrotérmico e visual habitacional

23 de Maio no LNEC: WORKSHOP - Conforto, Satisfação, Energia e Sustentabilidade, integrado no Projecto “Desenvolvimento de modelos de conforto térmico evisual sustentáveis” (PTDC/ECM/71914/2006) co-financiado pelaFundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).


Participantes

Eng.º C. Pina Santos (LNEC)

Dr.ª Margarida Rebelo (LNEC)

Dr. Luís Matias (LNEC)

Dr. António Santos (LNEC)

Dr.ª Sílvia Almeida (FCT)

Doutor Hélder Gonçalves (LNEG)

Eng.º Ehsan Asadi (FCTUC/DEM)

Eng.º António Costa Brás (Philips Iluminação)

ENTRADA LIVRE


Inscrições para email: cursos@lnec.pt


fax: 21 844 30 14

Lisboa. LNEC

23 de Maio de 2011

Notas editoriais:


(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte


Infohabitar, Ano VII, n.º 346, 15 de Maio de 2011

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