domingo, abril 18, 2010

294 - Dois temas: um novo livro sobre "Desenho Universal Caminhos da Acessibilidade no Brasil"; e o fantástico "sítio" da Rua do Sembrano em Beja - Infohabitar 294

Infohabitar, Ano VI, n.º 294

Dois temas: Desenho Universal Caminhos da Acessibilidade no Brasil (novo livro); e uma reportagem sobre o fantástico "sítio" da Rua do Sembrano, em Beja, uma viagem na História, na Arte e na Técnica

A presente edição do Infohabitar divide-se em duas partes distintas:

. Uma primeira parte em que se faz a divulgação do próximo lançamento, dia 3 de Maio, em São Paulo, na Livraria da Vila-Lorena, de um novo livro sobre Desenho Universal e Acessibilidade, um lançamento que é duplamente importante, pois refere-se a uma temática cada vez mais pertinente e urgente numa sociedade cada vez mais urbana e envelhecida, e porque é realizado por um conjunto de colegas que muito estimamos, Maria Elisabete, Adriana de Almeida Prado e Sheila Ornstein, com um natural destaque, de amizade, para a Prof.ª Sheila Ornstein, que tem sido uma activa participante do nosso Infohabitar desde a sua primeira hora e que é um elemento-chave da intensa cooperação que, cada vez mais, se aprofunda entre o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).

. E uma segunda parte, com uma reportagem de António Baptista Coelho, sobre a extraordinária intervenção na Rua do Sembrano, em Beja, uma obra de Arquitectura, de Arte e de valorização e divulgação do nosso património histórico que justifica, plenamente, uma deslocação àquela excelente cidade alentejana e que é editada, hoje, no Infohabitar, marcando-se, assim, condignamente, também aqui na nossa revista, o dia 18 de Abril de 2010, que é o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, e que este ano é dedicado ao PATRIMÓNIO RURAL E PAISAGENS CULTURAIS; e a intervenção na Rua do Sembrano parece ser uma interessantíssima valorização de um "sítio" e de uma micro "paisagem cultural", micro na escala física, mas "macro" na viagem histórica que nos proporciona. Salienta-se que a reportagem feita é basicamente de imagens acompanhadas por alguns textos retirados dos excelentes elementos de divulgação que nos foram facultados no local e que são devidamente referidos no artigo.

Lançamento de um novo livro
sobre Desenho Universal e Acessibilidade
Annablume Editora e Livraria da Vila-Lorena
convidam para o lançamento do livro organizado por

Adriana R. de Almeida Prado
Maria Elisabete Lopes
Sheila Walbe Ornstein


Com o título:
"Desenho Universal
Caminhos da acessibilidade no Brasil"

O lançamento terá lugar dia 03 de Maio de 2010, segunda-feira, das 19h às 22h, na Alameda Lorena, nº. 1731 - Jardim Paulista - São Paulo - SP. (11) 3062.1063
Assessoria de imprensa - Nicolau Kietzmann -
nicolau@annablume.com.br
(11) 8273.6669 - (11) 3070.3336 - skype: nkp161



Fig. 01: Capa da nova obra "Desenho Universal Caminhos da acessibilidade no Brasil"
Formato: 16 x 23 cm, 306 páginas
ISBN: 978-85-391-0055-2



Fig. 02:

A nova obra reúne 22 textos de profissionais, pesquisadores e
professores de todo o Brasil
, abordando temas como o ensino e a

pesquisa do Desenho Universal nas escolas de arquitetura, engenharia,
design e a interação de todo e qualquer cidadão-usuário com o desenho
da cidade e sua arquitetura, tendo em vista possíveis limitações
físicas ou cognitivas.

O livro está organizado em quatro capítulos, que, em seguida, se apontam:

. Conceituação e Procedimentos Metodológicos;
. Ambientes para a Moradia e para a Educação;
. Políticas de Acessibilidade: edilícias, urbanísticas, de
transportes e de turismo;

. Gestão no Processo de Projeto.

Salienta-se, ainda, que o livro tem prefácio do Prof. Dr. Wolfgang F.E. Preiser, co-editor do Universal Design Handbook (Mc Graw Hill, 2001), que apresenta, numa perspectiva internacional, a literatura, os principais eventos científicos e aplicações do Desenho Universal em termos de produtos, ambientes urbanos construídos e em uso.

A edição do Infohabitar e o Grupo Habitar enviam às autoras os parabéns por mais esta obra que sem dúvida irá constituir-se em elemento de referência nas urgentes matérias do desenho universal e da acessibilidade no habitar.




Fig. 03: o "sítio" da Rua do Sembrano, em Beja: a não perder

O fantástico "sítio" da Rua do Sembrano, em Beja, uma viagem na História, na Arte e na Técnica: uma reportagem fotográfica.
O "Núcleo Museológico da Rua do Sembrano", em Beja, é uma surpresa extraordinária que se tem quando se passeia nesta cidade alentejana e pretende-se neste pequeno texto contribuir para despertar o interesse do leitor por uma visita totalmente merecida.

Referem-se, em seguida e desde já, os dois excelentes elementos bibliográficos disponibilizados no local, indicando-se as suas iniciais de forma a serem facilmente feitas as referências respectivas nos textos que acompanham algumas das imagens e que foram retirados desses elementos bibliográficos; anota-se ainda que algumas das imagens de expositores, mapas e reconstituições visíveis nas fotografias têm autorias referidas, também, nestes elementos bibliográficos.

"Núcleo Museológico Rua do Sembrano" (iniciais: NMRS): coordenação de Rui Aldegalega e Susana Correia, texto de Susana Correia (com adaptação de textos de Carolina Grilo, José d'Encarnação, Maria da Conceiçao Lopes, Pilar Reis e Santiago Macias) e desenho de Carolina Grilo e Florbela David. A edição é da Câmara Municipal de Beja com colaboração da Direcção Regional de Cultura do Alentejo.

"A Arqueologia na Rede de Água de Beja" (iniciais: ARAB): concepção de Miguel Serra, textos de Miguel Serra, Maria Teresa Ferreira, Joaquim Dias e Sara Almeida, desenhos/reconstituições de José Luís Madeira, mapas de Nuno Ramalho e da Câmara Municipal de Beja, consultores científicos Santiago Macias, Ana Maria Silva e Sofia Wasterlain, apoio museológico de Susana Correia e Rui Aldegalega.



Fig. 04

Desenvolvem-se, agora, alguns comentários sobre o "Núcleo Museológico da Rua do Sembrano", em Beja, a título de notas breves de visita, que acompanham as imagens e que integram pequenas citações dos referidos elementos bibliográficos.

Confessando a ignorância, prévia, sobre a existência deste "sítio" de excelente confluência entre uso da cidade, história, arte e arquitectura, deve referir-se que o objectivo que havia na ida à Rua do Sembrano era "apenas" poder ver um mural de Rogério Ribeiro; e confessa-se, ainda, que a ideia que havia seria a de um "pequeno" mural, mais ou menos integrado numa qualquer operação mais ou menos interessante.



Fig. 05

Afinal, o mural - painel de azulejos - do grande Rogério Ribeiro lá estava, mas bem grande e, naturalmente, de grande qualidade, mas integra-se, e "faz sítio" novo e patrimonial com uma operação que conjuga facetas de recuperação e divulgação patrimonial e histórica, de marcação por nova Arquitectura, e de construção de um espaço urbano renovado e atraente.
E salienta-se que o referido mural se integra, também plenamente e com expressiva dignidade, na temática global da intervenção, numa marcação forte e sensível do tema da água na cidade antiga, tema que marca as ruínas da Rua do Sembrano, pois aqui existiram termas romanas, recriando-se esta temática da água na cidade, matéria que bem sabemos ser essencial na história urbana, "no seu sentido mais amplo e intemporal" - palavras de Rogério Ribeiro citadas em um dos elementos bibliográficos que foram referidos (NMRS).



Fig. 06

Há que referir que a intervenção na Rua do Sembrano se embebe com atraente naturalidade na continuidade da referida rua, servindo, por um lado, a funcionalidade da protecção, estruturação museológica e divulgação dos achados arqueológicos aí encontrados - e aos quais voltaremos neste texto -, mas fazendo-o de uma forma que mantém o carácter, a escala e a continuidade que marcavam e marcam a respectiva rua, e que proporciona o desenvolvimento de uma continuidade de amplas zonas pedonais bem estruturadas e estruturantes da cidade.

Também é interessante sublinhar, desde já, a sobriedade da intervenção, uma sobriedade que não reduz a sua riqueza arquitectónica global e em termos de pormenorização, e que serve a referida integração urbana e o importante reforço do carácter do "sítio". Um sítio que é agora uma nova totalidade que associa: a rua preexistente; com os novos achados arqueológicos disponibilizados à sociedade e à cidade; com a nova intervenção arquitectónica plena de estratégica neutralidade; e com a nova intervenção artística, o grande mural de azulejos, ele também pleno de uma activa sobriedade, como não podia deixar de ser, por ser obra do grande artista que foi Rogério Ribeiro.



Fig. 07

Dá vontade de dizer que assim vale a pena fazer nova Arquitectura, daquela que marca o nosso tempo, que serve a nossa cultura também por abrigar e divulgar o nosso passado, que dá mais espaço urbano e acrescenta melhor imagem urbana à cidade preexistente, e que tudo isto faz com uma sobriedade cidadã, digna e atraente; o projecto de Arquitectura é do Arq.º Fernando Sequeira Mendes e foi concluído em 2004, julgando-se que a obra estará concluída há cerca um/dois ano(s).

Referindo, agora, alguns aspectos de conteúdo histórico relativos ao "Núcleo Museológico da Rua do Sembrano", em Beja, com referência às iniciais dos dois elementos bibliográficos que nos foram facultados no local e que apontámos no início do texto teremos que:
"A escavação da Rua do Sembrano pôs a descoberto vestígios que se estendem, cronologicamente, desde a Pré-História até à Época Contemporânea." (NMRS)
Os mais antigos remontam "à Idade do Cobre ou Período Calcolítico, no 3.º milénio a.C. ... Deste período foi identificado um troço de robusta muralha de construção em pedra ligada com argila, que delimitava o perímetro do povoado antigo e, no seu interior, dois compartimentos definidos por muros, com pavimento de argila e caliço moídos e com pequenas estruturas de sustentação associadas (buracos de postes), que corresponderão a parte da zona habitacional." (NMRS)



Fig. 08

"A escavação da Rua do Sembrano trouxe novos elementos para a reconstituição de mais um pouco da Beja Romana (Pax Iulia), num lapso de tempo que se terá estendido do século I a.C. ao século IV d.C.. Neste local, à época um dos quarteirões da cidade, foram construídas umas termas, possivelmente de uma habitação privada (domus) ... Esta funcionalidade ter-se-á mantido ao longo do período romano, tendo, porém, as termas passado por diversas fases de construção, reconstrução e reorganização, sendo possível identificar aí diversas fases construtivas, desde o último quartel do século I a.C até finais do século I d.C ou inícios do século II d.C." (NMRS)
E faz-se, aqui, uma pequena nota de reflexão sobre os 400 a 500 anos em que esta casa foi sendo habitada e re-habitada; trata-se de uma dimensão temporal muito interessante.

"Os materiais recolhidos na escavação são extremamente abundantes." (muitos elementos estão atraentemente expostos no próprio local) "Destaca-se o achado de uma lápide com inscrição, que aponta, também, para a existência, neste local ou nas proximidades, de um pequeno templo do século I d.C, dedicado à deusa da fertilidade por uma antiga escrava, de origem africana, Julia Saturnina."(NMRS)



Fig. 09

" Os muros romanos virão, pela sua robustez, a servir de alicerces a habitações que, na Época Moderna ou mesmo já Contemporânea, foram construídas neste local." (NMRS)

" A descoberta dos vestígios arqueológicos data de 1983, quando se iniciou o trabalho de execução de fundações para uma habitação particular... A Câmara Municipal de Beja prontificou-se, então, a adquirir o terreno em causa, efectuando uma permuta com o seu proprietário, para que se garantisse a salvaguarda dos vestígios ... A escavação, efectuada pelo Museu Regional de Beja e pelo Serviço Regional de Arqueologia da Zona Sul do Instituto Português do Património Cultural, decorreu entre 1987 e 1995, tendo sido dada por concluída até à decisão definitiva quanto à utilização daquele espaço, tomada no ano de 2000, quando Beja foi seleccionada como uma das cidades a incluir no Programa Polis." (NMRS)
E não é possível deixar, também aqui, de comentar estarmos em presença do que parece ter sido um processo exemplar, concluído com a oferta à cidade e à sociedade de uma nova "jóia" patrimonial. Ficámos todos mais ricos com o processo e, com certeza, Portugal e as paisagens portuguesas muito ganhariam com a dinamização e replicação de processos deste tipo.



Fig. 10

O Núcleo Museológico da Rua do Sembrano acolhe uma interessante exposição sobre "Arqueologia na Rede de Água de Beja", temática aliás bem evidenciada no referido painel de azulejos de Rogério Ribeiro, citando-se, em seguida, um parágrafo sobre este tema retirado de um dos elementos bibliográficos que nos foram facultados no local e que apontámos no início do texto:



Fig. 11

"Um elemento imprescindível ao bem-estar das populações refere-se à higiene, sendo necessário dotar as cidades de equipamentos que garantam a salubridade. O pragmatismo dos romanos pode ser apreciado nas grandes obras de engenharia que cumpriam essa tarefa, como é o caso da cloaca (sistema de saneamento) escavada na Rua Conde da Boavista (Beja). O seu achado é também crucial para a compreensão da malha urbana de Pax Iulia, uma vez que nas cidades romanas dotadas de esgotos, estes seguem pela orientação das ruas, sendo a sua descoberta nas cidades modernas crucial para revelar o eixo das antigas vias." (ARAB)



Fig. 12:

Faz-se, ainda, uma menção específica para a qualidade dos elementos de design gráfico que enriquecem o núcleo museológico contribuindo para a sua sóbria mas marcada atractividade e para a recriação de um verdadeiro "sítio" de cultura que integra História, Arte, Arquitectura e vivência da cidade de hoje.



Fig. 13: uma imagem do Museu Jorge Vieira

Mais uma vez se deixa o desafio para uma excelente visita, que naturalmente encontrará na excelente cidade de Beja outros motivos de interesse, não podendo deixar de se referir o também extraordinário "sítio" que é o Museu Jorge Vieira, bem perto da Rua do Sembrano e realmente uma "paragem obrigatória para aqueles que pretendem conhecer a obra de um dos mais importantes escultores portugueses do século XX, ponto de partida para uma viagem pelo mundo da arte contemporânea, na cidade de Beja" (texto retirado de um elemento de divulgação do Museu, situado na Rua do Touro n.º 33, horário 3.ª a 6ª das 10 às 12.30h e das 14 às 18.30h, Sábado 10 às 12.30h e das 14 às 18.30h, Domingo das 14 às 18.30h, encerra 2ªs Feiras e feriados, tel. 284311920, museujorgevieira@cm-beja.pt )

E deixa-se um pequeno mapa para ajudar a encontrar O Núcleo da Rua do Sembrano (a vermelho) e o Museu Jorge Vieira (a verde).



Fig. 14

A título de breve comentário final salienta-se o que se julga ser a pertinência das temáticas abordadas neste artigo duplo, considerando-se as múltiplas áreas de actuação do Grupo Habitar.

Infohabitar, Ano VI, n.º 294
Infohabitar a Revista do Grupo Habitar
Editor: António Baptista Coelho
Edição de José Baptista Coelho
Lisboa, Encarnação - Olivais Norte, 18 de Abril de 2010

1 comentário :

calandronio disse...

É sem qualquer sombra de dúvida importante para a cidade de Beja a divulgação do seu património cultural. Porém, a nossa estupefacção é enorme perante este a concretização deste projecto do museu de sítio. Ao contrário do que se julga, na nossa opinião, como conhecedor da história de Beja, o edificio afronta e desrespeita o sítio onde pretenderam integrá-lo. Nem faz justiça às ruínas, nem às caracteristicas urbanas da cidade e muito menos da rua do Sembrano. Houve aqui a tentativa, que a história há-de julgar, de nos quererem ensinar lógica matemática através das "leis" do absurdo. O sítio não funciona, nem se vêem bem as ruínas através da quadrícula envídraçada - o conjunto surpreende de facto, extraordinariamente, mas pela negativa. Só quem está em Beja sabe como são estes "elefantes brancos" estruturantes, sustentados, harmoniosos, integrados... e inestéticos. Felizmente podemos criticar uma obra sem destruir ninguém. As pessoa estão em primeiro lugar, mas também devem respeitar a opinião dos outros e também seria desejável que antes de partirem para projectos desta natureza os ouvissem, coisa que não aconteceu... porque há mundos que só pertencem a alguns "deuses" que até defendem a cidadania participativa, mas não a cumprem.