Nota explicativa e de introdução
O artigo que se segue, da autoria do Eng. José Coimbra, um nosso colaborador a quem o Infohabitar já deve alguns excelentes textos, corresponde ao conteúdo técnico de uma palestra que o Eng. José Coimbra desenvolveu, em 8 de Abril de 2008, no “Curso Construção Sustentável e Promoção Imobiliária, realizado no Instituto Superior Técnico em Lisboa.
Agradecemos ao colega José Coimbra mais esta contribuição num tema que é, actualmente, crucial e que corresponde já a uma muito rica ponderação, da sua parte, relativamente à obra residencial cooperativa que coordenou tecnicamente na Ponte da Pedra, e que está aí para ser visitada e apreciada em tudo aquilo que pode ajudar a trazer de novo para um habitar mais amigo dos habitantes, mais amigo da cidade e da cultura urbana e mais amigo do ambiente.
É, naturalmente, com reflexões como esta que podemos ir avançando e informando novas realizações, porque se trata de análises feitas pelos agentes fundamentais na execução das obras sobre as quais se faz essa reflexão e, simultaneamente, técnicos e investigadores esclarecidos relativamente ao que podem ser as novas tecnologias residenciais mais sustentáveis urbanística e ambientalmente.
De imediato se “passa a palavra” a José Coimbra, mas faz-se, naturalmente a referência para ter sido a Ponte da Pedra uma obra urbana e residencial promovida pela Cooperativa Norbiceta, uma união das Cooperativas Nortecoop, Sete Bicas e Ceta, com projecto global coordenado pelo Arq. Carlos Coelho, uma obra realzada no âmbito do Prgrama Europeu Sustainable Housing in Europe (SHE), referida a habitação realizada com controlo de custos, portanto habitação de interesse social apoiada pelo Estado, e uma promoção que mereceu, aliás, diversos prémios, com destaque para o Prémio INH-IHRU de 2007.
Refere-se, ainda, que o leitor poderá encontrar aqui no Infohabitar outros artigos de apresentação e de análise deste excelente conjunto da Ponte da Pedra, bastará para tal aceder ao catálogo interactivo disponível logo aqui na margem esquerda do Infohabitar.
Salienta-se, finalmente, que estas preocupações práticas de sustentabilidade urbana e ambiental no projecto, na promoção e na cosntrução de habitação de interesse soacial estão tambéma a ser levadas à prática, igualmente no sector cooperativo habitacional, mas na zona da Grande Lisboa, pela Nova Habitação Cooperativa (NHC) nos seus últimos conjuntos residenciais, actualmente, em projecto avançado e em desenvolvimento.
O editor do Infohabitar
António Baptista Coelho
Fig. 01: vista geral da Ponte da Pedra
O PRIMEIRO EMPREENDIMENTO COOPERATIVO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL EM PORTUGALJosé Paulo Tavares Coimbra
Coimbra@setebicas.com
Resumo
Pretende-se dar a conhecer, não apenas as características de construção sustentável do Empreendimento Cooperativo que constituiu um ponto de viragem na actividade das Cooperativas promotoras e da sociedade em geral, mas também explanar as possibilidades de inovação em cada uma das temáticas nas quais assenta a sustentabilidade do Empreendimento da Ponte da Pedra e dos que lhe sucederam, tendo em conta que a Sustentabilidade é sempre um modelo inacabado.
Esta abordagem do tema “Construção Sustentável” é desenvolvida de acordo com a experiência que as Cooperativas de Habitação Portuguesas têm vindo a adquirir na promoção de empreendimentos cooperativos e, portanto, deve ser lida tendo sempre por base este fio condutor.
Fig. 02: a introdução da arte urbana na Ponte da Pedra
1. Critérios de Construção Sustentável
1.1. Âmbitos de Intervenção
A sustentabilidade de um Edifício deriva do adequado desempenho da construção e do processo que a promove a vários níveis, resultante de uma abordagem integrada de todos eles. Propomo-nos, de seguida, abordar cada um dos temas da construção sustentável e analisar quais as medidas implementadas no Empreendimento da Ponte da Pedra e quais aquelas que, não tendo sido implementadas neste Edifício, podem vir a sê-lo, melhorando, ainda mais, o desempenho global do Edifício.
1.1.1. Processo de Participação
A vertente social da sustentabilidade não pode ser descurada, dada a importância que o envolvimento das pessoas e dos moradores do Edifício tem para optimizar o desempenho do próprio Edifício e maximizar as poupanças nas despesas mensais de água, electricidade e gás. As características da habitação podem ser efectivamente melhoradas com um adequado comportamento por parte dos utilizadores.
O facto de estarmos perante uma organização promotora cooperativa é já um grande avanço a este nível, dada a vocação social das Cooperativas de Habitação que pressupõe, por inerência, a participação dos Cooperadores ao longo do processo de promoção habitacional, sendo o seu nível de satisfação periodicamente aferido ao longo do mesmo.
Mas esta vertente social da construção sustentável abrange também a Empresa Construtora, o Gabinete de Projectos e o Município Local com o objectivo de sensibilizar e envolver todos os agentes que podem influenciar o desenvolvimento do Programa.
Cumprindo o objectivo de coesão social, através da participação activa de todos os intervenientes numa Estratégia Integrada de Desenvolvimento Sustentável, têm lugar:
. Reuniões semanais com representantes do Projecto, da empresa construtora e da Cooperativa de Habitação (a Cooperativa desenvolve, neste contexto, um trabalho imprescindível de coordenação de projectos para a concretização dos princípios de construção sustentável, adoptando sempre a postura de defesa e melhoria desses princípios quando eles não estão devidamente acautelados no projecto ou quando existem modificações no mercado);
. Sessões abertas de apresentação e discussão do Projecto do Empreendimento;
. Dossiers de Apoio aos principais momentos de disseminação e acompanhamento do Empreendimento;
. Manual do Cooperador Proprietário de Uso e Manutenção do Imóvel;
. Edição de um Boletim trimestral que actualiza os desenvolvimentos da actividade da Cooperativa promotora;
. Actualização periódica das informações constantes no site da Cooperativa.
No caso da Segunda Fase do Empreendimento da Ponte da Pedra, temos ainda de considerar a activa e intensa prática de divulgação e de disseminação do Projecto, impulsionada pelo vanguardismo das características do mesmo. Esta prática inclui a participação em Seminários, Workshops, Conferências, Entrevistas e Visitas de Estudo. Quase todas estas acções tiveram lugar por solicitação da sociedade, que reclamou a nossa participação no debate do tema da Construção Sustentável, vista como um todo ou a análise específica de um determinado capítulo.
A este nível, crê-se que a Cooperativa já dispõe de suficientes instrumentos e práticas promotoras do processo de participação.
Fig. 03: vista da fábrica, antes da intervenção cooperativa no local
1.1.2. Valorização do local de implantação
Tendo em conta que a implantação do Empreendimento deve considerar as características do local e da envolvente, deve ser feito um levantamento do clima local, identificação de infraestruturas existentes, identificação de fontes de poluição, possibilidade de inclusão de fontes de energia renovável, existência de campos electromagnéticos, condições de iluminação natural e condições acústicas.
Para que a integração seja feita de forma harmoniosa, valorizando o espaço, no caso da Ponte da Pedra, dispomos de importantes indicadores a este nível:
. O Conjunto Habitacional de Ponte da Pedra substitui uma área degradada ocupada por uma fábrica de curtumes insolvente;
. Foi considerada a optimização do potencial solar passivo, através de uma adequada orientação solar;
. A localização do Empreendimento tira partido da linha de água existente no local, armazenando-a e utilizando-a para abastecimento dos depósitos das sanitas das habitações e para a rega da totalidade dos jardins da urbanização;
.A proximidade do Edifício a transportes públicos desincentiva a utilização de transporte próprio, diminuindo assim, potencialmente, o impacte da mobilidade dos moradores.
Identificamos como oportunidade de melhoria o estudo, com mais pormenor, da orientação solar do Edifício, não ignorando as exigências regulamentares e o disposto nos PDM’s locais que, muitas vezes, condicionam a escolha de uma orientação do Edifício mais favorável do ponto de vista energético.
1.1.3. Selecção de Materiais
Este será, talvez, o capítulo em que a Ponte da Pedra e os Empreendimentos posteriores têm uma performance mais baixa.
Ditam as regras da sustentabilidade que a escolha dos materiais para a construção civil deve procurar maximizar a aplicação de materiais duráveis, recicláveis e / ou reciclados, com um baixo nível de energia incorporado, provenientes de fontes locais e / ou regionais e com análise de ciclo de vida e etiqueta ecológica.
No entanto, o nosso país ainda não tem estes conceitos implementados no mercado, pelo que a aposta feita na 2ª Fase da Ponte da Pedra foi a de tentar encontrar fornecedores quase locais, reduzindo, assim, o impacte ambiental do transporte da “fonte” até ao local da construção. Houve ainda alguma preocupação ao nível da escolha de materiais duráveis e com reduzidas necessidades de manutenção, como se comprova pelo material utilizado na fachada do Edifício.
Portanto, há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à escolha de materiais amigos do ambiente, mas o trilho desse caminho depende grandemente dos desenvolvimentos que o país conseguir registar a este nível.
Fig. 04: vista da cisterna
1.1.4. Gestão do Ciclo de Água
Uma gestão eficiente do Ciclo de Água deverá limitar, o mais possível, a interferência no ciclo natural de água, reduzindo o consumo em 25%. A introdução de novas tecnologias permitirá, por um lado, poupar o consumo de água potável e, por outro lado, armazenar água
A redução do consumo de água pode ser propiciada pela instalação de equipamentos no Edifício que permitam reduzir o consumo, optando por diferentes fluxos. Temos como exemplo a dupla descarga nos depósitos sanitários, permitindo ao utilizador escolher qual a opção mais adequada, em cada utilização.
Existem ainda as torneiras de válvulas termostáticas, instaladas em banheiras e bases de chuveiro, que permitem poupar a água que normalmente se desperdiça entre o momento de abertura da torneira e o aquecimento da água à temperatura desejada. A possibilidade de regular a temperatura e de a manter fixa para futuras utilizações faz com que a água saia, assim que a torneira for aberta, à temperatura que o utilizador pretende.
Para além destas duas medidas, não podemos ignorar a construção de uma cisterna subterrânea destinada a recolher água das chuvas, a água proveniente do veio freático e a água residual que se forma ao nível dos pisos das garagens da 1ª Fase da Urbanização. A água aqui recuperada destina-se ao abastecimento dos depósitos das sanitas das habitações da 2ª Fase e à rega da totalidade dos jardins da Urbanização.
Neste âmbito, identificamos como oportunidade de melhoria a instalação de mecanismos de fitodepuração que permitam reutilizar as águas cinzentas geradas pelo Edifício. Esta tecnologia está, no presente, condicionada pelo elevado custo de investimento.
Foi também instalado nos jardins um sensor de humidade que evitará a rega desnecessária dos jardins, especialmente quando estes se encontrem com adequados níveis de humidade.
No caso da existência de jardins, é necessário considerar uma escolha adequada de plantas com reduzidas ou quase nulas necessidades de rega.
Não obstante todas estas medidas, é imprescindível a colaboração dos moradores para um adequado desempenho do Edifício a este nível. Daí a importância do envolvimento dos moradores em todo o processo e da sensibilização directa dos utilizadores, através de conselhos práticos, de fácil implementação no dia-a-dia. Estas dicas, a par do fornecimento de alguns dados estatísticos integram o Manual de Uso e Manutenção do Imóvel distribuído a todos os moradores.
Fig. 05: recipientes de separação de resíduos dentro da habitação
1.1.5. Gestão de Resíduos
Podemos afirmar, a respeito deste Capítulo, que o desempenho do Edifício depende grandemente do comportamento de entidades externas à promoção habitacional, seja durante a construção, seja durante a fase de utilização do edifício.
Se, por um lado, foi propiciada, no Empreendimento da Ponte da Pedra 2ª Fase, uma adequada separação de resíduos da construção para posterior reciclagem, designadamente madeiras e óleos, temos consciência, por outro lado, que muito se pode ainda fazer, estendendo a separação a outros componentes da Construção.
Esta atitude depende, ainda assim, largamente, do apoio dado pelo Município na recolha e encaminhamento dos contentores de resíduos. Por esta e outras razões, se justifica o envolvimento do Município no tema e na promoção da sustentabilidade construtiva.
Por outro lado, na fase de operação, quando o Edifício já se encontra em funcionamento, o volume de resíduos que é encaminhado para a reciclagem depende da triagem que os moradores fazem, logo no interior das suas habitações (colocando as diferentes categorias de resíduos nos respectivos baldes de lixo diferenciado) e posterior depósito nos Ecopontos colocados no exterior das Urbanizações.
Portanto, as infraestruturas são instaladas no Edifício e cabe posteriormente aos utilizadores a rentabilização desses equipamentos. Sublinha-se aqui uma vez mais a importância da sensibilização dos utilizadores.
Fig. 06: painéis solares
Fig. 07: grelhas de ventilação
1.1.6. Gestão Energética
Este capítulo exige a adopção de várias medidas para atingir um elevado nível de desempenho energético, nomeadamente:
. Aumento na exigência dos ISOLAMENTOS TÉRMICOS (respeitando os recém aprovados Regulamentos sobre Eficiência Energética);
. Introdução de ENERGIAS RENOVÁVEIS;
. POUPANÇA ENERGÉTICA em iluminação artificial, aquecimento de águas sanitárias e aquecimento do ambiente.
Este é o capítulo onde a 2ª Fase da Ponte da Pedra atingiu um melhor desempenho, comprovado com a Classe A do Certificado Energético, classificação esta calculada pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (parceiro do Projecto SHE).
Concorreram para uma adequada eficiência energética:
. Reforço dos isolamentos térmicos e a eliminação de pontes térmicas, incluindo o isolamento das caixilharias e a aplicação de vidros duplos (o vidro duplo isola o ar frio exterior e reflecte o ar quente para o interior da habitação, para além de ser um bom isolante sonoro);
. Aproveitamento da energia solar para o aquecimento de águas sanitárias, através da instalação de colectores solares, eventualmente apoiados por equipamentos de queima individuais, como esquentadores solares que trabalham em consonância com os painéis, compensando a diferença de temperatura, se necessário;
. Adequada ventilação dos espaços interiores, através da instalação de grelhas de ventilação nas caixilharias de quartos e salas. Há aqui ainda a referir a importância da ventilação cruzada nas habitações, facto que pode ser conseguido por uma adequada disposição das plantas das tipologias no Edifício, de forma a assegurar que elas terão duas frentes;
. Soluções de arrefecimento passivo, com a existência de palas solares ou de sombreamento situadas acima das caixilharias dos apartamentos;
. Aplicação de soluções de iluminação de baixo consumo, tanto em zonas comuns, como no interior das próprias habitações. Em articulação com estas armaduras, temos os sensores de movimento que propiciam poupanças de energia significativas, eliminando os desperdícios.
Não obstante todas estas medidas, há que ter em conta a optimização da orientação solar do Edifício, dados os enormes ganhos passivos daí derivados. O envolvimento do projectista na promoção habitacional é, por isso, determinante, de forma a sensibilizá-lo para a escolha da melhor orientação solar do Edifício.
Para além destas medidas, existem ainda francas possibilidades de desenvolvimento e de optimização do desempenho energético. Exemplo: o aproveitamento da temperatura do ar através da Geotermia; a aplicação de painéis fotovoltaicos, a instalação de ventoinhas, para produção de energia eólica, no caso de Empreendimentos com um elevado número de fogos e a gestão técnica da iluminação e do aquecimento. Esta é especialmente praticável no caso de Edifícios com Equipamentos como por exemplo Lar de Terceira Idade.
Fig. 08: isolamento acústico
1.1.7. Conforto Acústico
Para além da introdução de adequados isolamentos nos elementos construtivos horizontais e verticais do Edifício, entre fogos e entre estes e zonas comuns, é importante apostar também nas medidas que podem ser tomadas no exterior dos Edifícios, criando barreiras acústicas à propagação do ruído.
A plantação de uma cortina arbórea suficientemente densa poderá servir perfeitamente este propósito.
Identificamos como oportunidade de melhoria a elaboração de um estudo paisagístico que privilegie a plantação de cortinas arbóreas que sirvam a função de barreiras à propagação do som.
1.1.8. Simulação e Monitorização
A importância o desenvolvimento de estudos adequados e transversais antes e após a construção é determinante para a verificação da eficácia das soluções de construção sustentável implementadas, podendo ser um forte instrumento de detecção de falhas, mas também de planeamento de medidas alternativas de melhoria contínua. No entanto, os promotores, só por si, não dispõem de conhecimentos, capacidades, software e equipamentos para levar a cabo esta tarefa. Daí a importância de formar parcerias estratégicas com o mundo universitário, estabelecendo uma imprescindível ponte entre o académico e o profissional, geradora de mútuo benefício.
Fig. 09: avaliação e monitorização
2. Custo Real e Valor Acrescido
O acréscimo de custo na construção resultante da incorporação de todas as características explanadas aproxima-se dos 9%.
No entanto, é expectável que o período de payback (período do retorno do investimento) não seja superior a 5 anos. A partir deste tempo de vida do Empreendimento, todos os ganhos resultantes da diminuição do valor das facturas de gás, electricidade e água serão ganhos líquidos, o que significa que o utilizador desfrutará do benefício total da construção sustentável.
No que toca à ponderação de custos da construção sustentável, há que considerar que contrapõem os 5% de acréscimo no custo do Edifício, a redução do custo de manutenção e de operação do edifício, mas também a melhor qualidade de vida que um Empreendimento com estas características proporciona aos seus moradores.
Ainda a respeito de custo, sublinhe-se que a valorização de uma construção sustentável ao longo do tempo será muito mais significativa do que a valorização de uma construção convencional.
Fig. 10: Certificado Ambiental do Empreendimento
3. O Empreendimento âncora de novos projectos sustentáveis
As vantagens deste tipo de construção são óbvias a vários níveis, de tal forma que os futuros empreendimentos cooperativos levados a cabo pelas Cooperativas Promotoras continuarão a respeitar e a considerar todos os princípios aprendidos com a nossa participação no Projecto SHE e os resultados do desempenho do Empreendimento da 2ª fase certamente que serão motivadores e encorajadores para adoptar a nova postura construtiva.
A saber, existem já 6 Programas de Habitação Cooperativa que respeitam os mesmos princípios de sustentabilidade construtiva do projecto SHE e que contemplam, na totalidade, 531 habitações sustentáveis:
Fig. 11
Na actividade da FENACHE, o Empreendimento da Ponte da Pedra desencadeou também uma activa política de disseminação, quer ao nível de publicações, quer ao nível da participação em seminários e congressos nacionais e internacionais sobre o tema, quer ainda no acolhimento e orientação de visitas de estudo ao local. De realçar ainda que esta experiência piloto de construção sustentável no ambiente cooperativo foi assumida como orientação estratégica no documento aprovado, em sede de Assembleia-geral da FENACHE, a 26 de Novembro de 2005 – a Carta da Qualidade da Habitação Cooperativa.
O impacto desta iniciativa foi além das fronteiras do mundo cooperativo. O Município de Matosinhos que acompanhou, de perto, a promoção do Empreendimento Sustentável, declarou publicamente, no Seminário “Por um Território Sustentável”, que teve lugar no dia 28 de Novembro de 2006 (o dia da Inauguração da 2ª Fase do Empreendimento), que o Município estimulará a prática de construções sustentáveis, através da redução de taxas e da prioridade de tratamento camarário dada a estes projectos. A Empresa Municipal de Habitação de Matosinhos deverá também seguir os passos da prática Cooperativa.
Do ponto de vista da legislação no sector da Habitação, tiveram lugar importantes mudanças no PROHABITA (Programa de Financiamento para acesso à Habitação), sendo claramente incentivada a incorporação de soluções de construção sustentável, quer no processo construtivo, quer no da reabilitação, com especial incidência na prossecução de objectivos de eficiência energética, de diminuição do consumo de água e de reciclagem dos resíduos.
Consideramos que este impacto transversal, sentido nos vários níveis da sociedade, é o melhor resultado que uma experiência piloto deste género pode trazer, sendo perfeitamente praticável e de fácil incorporação nas práticas quotidianas.
Conclusões
O facto de uma União de Cooperativas de Habitação ter conseguido promover um Empreendimento com todos os “inputs” construtivos respeitando as condicionantes do Estatuto Fiscal Cooperativo é, só por si, uma grande vitória.
O impacto que esta experiência teve ao nível dos promotores, da empresa construtora, da Federação Nacional que, desde sempre, apoiou esta arrojada iniciativa, do Município e a da própria legislação nacional que também sofreu ajustamentos é também um grande passo e uma grande prova do envolvimento conjunto de várias entidades com vista ao desenvolvimento sustentável.
Mas, de todos os resultados, destacamos aquele que demonstra um empenho profundo das Cooperativas de Habitação em assumir a mudança e a inovação como orientação estratégica permanente. Todos os Empreendimento promovidos passam agora a incorporar, não apenas os requisitos de sustentabilidade implementados na 2ª Fase da Ponte da Pedra, respeitando igualmente o Estatuto Fiscal Cooperativo, mas procuram, sobretudo, inová-los e ousar incorporar técnicas mais avançadas que potenciem a sustentabilidade do Empreendimento. Num momento em que o apoio à inovação das empresas é uma das principais matrizes da nova edição dos Fundos Comunitários, congratulamo-nos por esta política de inovação ser já parte integrante da gestão quotidiana da promoção habitacional cooperativa.
Manifestamos, ainda neste capítulo de encerramento, o nosso empenho em conciliar os métodos de trabalho já adquiridos nas Cooperativas de Habitação com os parâmetros de avaliação e o Know How da equipa do LiderA, numa estratégia de colaboração de mútua aprendizagem e certamente geradora de mútuo benefício.
Preparado para ediçãoi po António Baptista Coelho em 22 de Maio de 2008
Editado em 25 de Maio de 2008 por José Baptista Coelho
Infohabitar, Lisboa, Encarnação – Olivais Norte
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