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Hestnes Ferreira, Teotónio Pereira e Teixeira Trigo: sessão do Grupo Habitar com o Instituto Nacional de Habitação
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Notas breves sobre o “Encontro sobre prática profissional em projectos e reflexão para o futuro na promoção de habitação”,
com Raúl Hestnes Ferreira, Nuno Teotónio Pereira e José Teixeira Trigo
Artigo de António.Baptista.Coelho
O Instituto Nacional de Habitação (INH) e o Grupo Habitar (GH) – Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional promoveram em Lisboa, em 24 de Janeiro de 2006, no Auditório do Edifício Sede do INH, um “Encontro sobre prática profissional em projectos e reflexão para o futuro na promoção de habitação”, no qual os Arquitectos Nuno.Teotónio.Pereira e Raúl.Hestnes.Ferreira e o Engenheiro José.Teixeira.Trigo abordaram essa temática, sublinhando nela os temas que consideram com importância actual, naturalmente associados às suas longas e meritórias experiências como projectistas nas amplas áreas do habitar.
A ideia, concretizada neste encontro, moderado pelo Arquitecto Vasco.Folha e que constituiu também a 4ª Sessão Técnica do Grupo Habitar, foi proporcionar um tempo de reflexão sobre a prática profissional de três projectistas essenciais na intervenção no domínio da habitação de interesse social em Portugal ao longo de um período temporal significativo. Pensou-se proporcionar essa reflexão partindo de uma apresentação individual de cada um dos três projectistas convidados, em que cada um dissesse o que considera mais interessante e oportuno, no que se refere ao projecto e construção de habitação, e/ou ao projecto e construção de habitação de interesse social e e/ou ao projecto e construção do habitar em termos globais.
Em forma de notas articuladas, mas sem intenção de ser exaustivo relativamente a tanto do que foi dito na tarde do dia 24 de Janeiro apontam-se, em seguida, e seguindo a ordem das intervenções (escolhida devido a aspectos práticos ligados a meios de projecção de imagens), alguns dos aspectos então referidos, bem ligados ao título da sessão, e que, como muitos entenderão têm uma enorme riqueza no que se refere à reflexão sobre o projecto, a construção e a gestão do habitar.
Raúl.Hestnes.Ferreira falou-nos sobre os aspectos que podem ser identificados como fundamentais no habitar a casa, falou-nos sobre as raízes do habitar e sobre os essenciais espaços domésticos polarizadores da vida em comum e em família.
Iniciou a sua galeria de imagens com a planta de uma casa simples de Rio de Onor, retirada da “Arquitectura Popular Portuguesa” e falou sobre o projecto e a sua ponderação, sobre os espaços domésticos mais correntes e sobre outros recantos, que são os principais obreiros do habitar interior, como foi o caso da entrada desnivelada que criava um espaço de transição na entrada do escritório da casa que projectou para o seu pai.
Falou-nos com exemplos ilustrados sobre o estar junto ao fogo e à televisão que reúnem as pessoas à sua volta, mas antes disso falou-nos do viver simples junto ao chão e em torno do fogo, da mesa como espaço familiar e unificador de actividades, lembrando hábitos orientais de usar a mesa para um grande leque de actividades, num encadeamento natural de usos, utentes e horários, e também nos falou do grande quarto/sala com uma ampla mesa de Jorge Luís Borges, onde ele trabalhava, recebia, conversava, vivia.
Continuando a reflectir sobre estas matérias dos espaços domésticos essenciais e envolventes e a propósito da pequena casa de férias de Francisco Keil do Amaral, Hestnes Ferreira disse-nos que era uma casa muito amigável, uma casa pequena mas que reflectia e envolvia o modo muito informal/simples, humano e caloroso que caracterizava o modo diário de viver daquela família, dando-lhe um bom suporte, até naquela mesa estrategicamente situada sob a janela e sobre a vista exterior.
Passou depois para as sempre novas questões do dia/noite doméstico, uma forma interessante de colocar uma eventual distinção de duas zonas, que serão provavelmente tanto dia/noite como, por exemplo, comuns/privadas; e aqui defendeu opções de adaptabilidade, em que através de uma adequada concepção estrutural e de um cuidadoso dimensionamento, se possa alterar a disposição das zonas de dormir e de estar, entre outras.
Sobre o exterior urbano e relativamente ao Bairro das Fonsecas.Calçada, em Lisboa, referiu que os fogos tiveram uma relação directa com a génese da forma edificada, proporcionando flexibilidade na sua integração e que a tipologia de acessos foi influenciada, no esquerdo/direito predominante, por uma opção dos próprios habitantes, que foram convidados pelos projectistas a visitarem (nos Olivais, Lisboa) uma outra bem diversa forma de circulação comum através de galerias, e seguidamente a expressarem a sua tipologia preferida, que, como se deduz, foi o esquerdo/direito; que aliás é bem matizado por pequenas galerias/varandas de distribuição nos cantos interiores dos edifícios. Sobre este bairro Hestnes Ferreira chamou ainda a atenção para a sobriedade da sua envolvente, que contrasta com pequenos interiores de quarteirão mais diversificados. E, quanto aos fogos, salientou que se ouviram os moradores, projectando-se organizações habituais.
Sobre a diversificada experiência residencial em Beja – a Unidade João.Barbeiro e a Cooperativa Lar Para Todos – começou por salientar a importância da harmonização construtiva em sede de projecto e numa relação aberta com a obra, e com as potenciais e específicas qualidades de execução que aí muitas vezes se detectam e que têm a ver, por exemplo, com capacidades técnicas concretas de determinadas empresas e mesmo de determinados operários.
Depois falou da caracterização pública e também comum do grande pátio da Unidade João Barbeiro, do modo como, a partir dele, se pode aceder com naturalidade aos fogos, motivando-se o convívio, e da forma como o conjunto se integra solidamente na sua envolvente directa através de uma base de betão em que se integram galerias públicas comerciais, harmonizando-se, assim, um espaço de vizinhança assumido e eficaz com a tal sobriedade urbana, já acima apontada.
Relativamente à Cooperativa Lar Para Todos referiu, no exterior, os pátios alongados sempre que possível vitalizados pelos acessos directos a fogos térreos, e salientou o investimento ambiental e caracterizador que foi desenvolvido nos amplos espaços comuns de cada edifício (com distribuição esquerdo/direito), trespassados e matizados pela luz natural de cima abaixo e em cada entrada dos fogos. Nestes espaços procurou-se realizar uma agradável e muito graduada transição com a rua, estimular o convívio possível e proporcionar uma cuidadosa transparência da vida dos fogos (nesta caso através de um pano de tijolo de vidro no hall).
Finalmente, ao nível dos fogos, há uma clara e muito estimulante inovação na criação de um amplo espaço familiar de cozinha/refeições, mas também a rara possibilidade de toda a continuidade entre esse espaço, a entrada e a sala, poder ser vivido praticamente como um único grande espaço.
E fica aqui um desafio para quem não conheça estas obras habitacionais excelentes, se deslocar a Beja e as percorrer com vagar; uma óptima visita, não tenham dúvidas.
Depois de uma intervenção marcada, como se pode perceber, por alguns dos fundamentos da concepção habitacional, Nuno.Teotónio.Pereira privilegiou-nos com uma pequena história vivida do projecto e da promoção da habitação apoiada em Portugal, desde o princípio dos anos quarenta do século passado até à actualidade. E basta saber que um dos primeiros “Bairros Sociais”, o do Arco do Cego, em Lisboa, foi concluído no início dos anos trinta, embora com outros tenha sido iniciado em 1918, para entender a amplitude e o significado da história viva a que tivemos oportunidade de assistir.
No final dos anos quarenta Teotónio.Pereira e Costa.Martins fazem assessoria a Miguel.Jacobetty na construção das células sociais do bairro de Alvalade em Lisboa (em que se destacou o construtor António.Veiga), uma malha urbana e residencial, que constituiu um verdadeiro e um dos únicos planos integrados feitos entre nós e cujo plano urbano foi desenvolvido por Faria.da.Costa. Integrado desde o nível do planeamento da intervenção, ao seu conteúdo físico e ao seu conteúdo social; mas também integrado no que se refere à conjugação em obra de um máximo de inovações tecnológicas e construtivas no sentido de se aliar qualidade e rapidez de construção. Ficam para o presente e o futuro as fundamentais aprendizagens com os positivos segredos e avanços que em Alvalade se conquistaram para o grande objectivo de fazer cidade viva com habitação humanizada e através de uma obra multidisciplinarmente participada e que visava o futuro.
Falou depois dos seus vinte e dois anos de trabalho de projecto e promoção ligado aos conjuntos habitacionais e urbanos da Federação das Caixas de Previdência, salientando os aspectos de organização central e regional dos que então eram os poucos arquitectos portugueses ligados a esta importante tarefa, e de como foi conciliando o trabalho na Federação, com a actividade de projectista e com a participação em iniciativas internacionais que então despontaram sobre as temáticas do habitar – por exemplo a União Internacional dos Arquitectos (UIA) tinha uma comissão especial para o habitat.
Entre muitos outros aspectos referidos, destaca-se uma grande exposição do Inquilinato Cooperativo, organizada pela então pujante Associação dos Inquilinos Lisbonenses e associada a uma exposição na Sociedade Nacional de Belas Artes e naturalmente, chegados a 1960, o desenrolar de uma década que Teotónio considera ter sido fundamental para a habitação e para a habitação apoiada em Portugal.
E aqui se destaca, novamente, um bairro, neste caso Olivais Norte, em Lisboa, fundado num excelente plano urbano de Sommer.Ribeiro e Falcão.e.Cunha, com intervenção de J. Rafael.Botelho (ex., todos os edifícios foram implantados e projectados considerando a geometria da insolação, de forma a usar ao máximo a energia solar passiva), e onde se integraram tipologias edificadas/habitacionais muito variadas, realizadas por entidades muito diferentes, e destinadas a grupos sociais muito diversos, marcando-se em Olivais Norte uma grande diferença relativamente ao que até aí tinha sido a regra de fazer uma espécie de “aldeias na cidade”.
Podemos considerar que todos estes aspectos, para além da fundamental construção simultânea dos variados tipos de edifícios para os diversos grupos sociais, configuram uma promoção pioneira numa ampla perspectiva de sustentabilidade – e em Alvalade também se podem identificar muitos ensinamentos nesta matéria.
Na apresentação de Nuno.Teotónio sobre Olivais Norte teve de ficar, quem sabe, para uma outra sessão, um fundamental passeio comentado pelas torres habitacionais, cujo projecto foi por si desenvolvido com António.Pinto.de.Freitas e Nuno.Portas, ligadas a uma primeira atribuição de um Prémio Valmor a habitação multifamiliar e dita “social”, e em que se privilegiou a largueza, o conforto e a dignidade dos espaços comuns (marcados em cada piso por uma peça de arte); mas também nos edifícios mais baixos de Olivais Norte se inovou, sustentadamente, como hoje é possível ver, antecipando-se o átrio do edifício num espaço exterior convivial.
Nuno Teotónio salientou também que a experiência muito positivamente qualificada dos Olivais ficou a dever-se à acção, que considerou exemplar, do Gabinete Técnico de Habitação (GTH) da Câmara Municipal de Lisboa, numa actividade de contratação de projectistas com reconhecida competência, mas com a obrigação de associarem um jovem arquitecto em cada equipa. E a propósito foi também destacada a importância da estreita cooperação técnica sempre prosseguida com engenheiros altamente qualificados e sensíveis aos aspectos da arquitectura, e aqui houve a referência específica a Ruy Gomes, mas também poderia ter havido a outros nomes de engenheiros, tal como o próprio José.Teixeira.Trigo, que aliás colaborou com Teotónio e com Hestnes em variadas obras.
Chegou depois, naturalmente, ao pós 25 de Abril com as experiência do SAAL e de outras iniciativa de participação com a população no projecto do seu habitar mais urbano ou mais rural, que levou à noção, já antes sentida no contacto com aos primeiros avanços da ligação entre a arquitectura do habitar e a sociologia – onde se destacam os contactos com Paul Chombart de Lauwe – de que as pessoas tendem a desejar casas como “toda a gente tem”; talvez, digo eu, caiba ao arquitecto a função de advogado da inovação quando esta parece ser valiosa.
E sobre esta matéria ficou claro, aquilo que Teotónio considera ter sido uma evolução entre os projectos dos Olivais com galerias em que chegou a haver realmente convívio, tal como era o objectivo do projecto (ex., visível numa imagem de habitantes preparando refeições na galeria comum), e a transformação dessa galeria comum convivial, numa galeria que se queria rua, por exemplo, no bairro da EPUL no Restelo, Lisboa, voltando-se depois, novamente, ao esquerdo/direito (mais corrente), mas no entanto integrando pequenos edifícios multifamiliares bem agarrados à terra e com quintais privados nos mais recentes bairros em Oeiras, projectados por Nuno Teotónio e Pedro Botelho, um dos quais foi Prémio INH.
Das experiências mais próximas Teotónio destacou duas intervenções distintas, uma delas ligada a uma Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian que lhe permitiu estudar e publicar, em colaboração com a sua mulher Irene Buarque, um livro sobre os prédios e as vilas de Lisboa, hoje infelizmente esgotado; enquanto no projecto e entre outros destacam-se, tal como foi acima referido, dois bairros de habitação apoiada, construídos em Oeiras – Laveiras e Alto da Loba – e projectados em conjunto com Pedro Botelho, que foram sumariamente apontados na sessão, mas que merecem toda uma atenção específica, pelo seu interesse urbano, doméstico e humano e pelas suas positivas novidades, em termos de uso do solo, escala e misturas funcionais.
O desafio atrás feito para uma visita é aqui renovado, neste caso, designadamente, aos edifícios referidos em Olivais Norte (Lisboa); um tempo bem aproveitado por quem decida assim actuar.
Chegou a vez de José.Teixeira.Trigo, que concentrou a atenção da sua intervenção em três temas principais: as questões ligadas às anomalias da construção, os problemas associados às anomalias de uso, e o enunciar de recomendações para a respectiva correcção prática.
Teixeira.Trigo praticamente sublinhou, como ponto de partida das suas palavras, o muito que se aprende com a patologia construtiva e com a fiscalização de empreitadas, considerando que entre o que era o mundo da construção e o que é hoje, uma das mudanças mais significativas são os intervenientes no projecto e na obra: há cada vez mais projectos, os projectos são cada vez mais complexos, as apreciações e os intervenientes no processo de elaboração e aprovação dos projectos constituem uma sequência cada vez mais complicada, e do lado de quem constrói o empreiteiro geral quase desaparece, num enorme leque de subempreiteiros, remetendo-se essencialmente a uma função de controlo de custos.
E ironizou referindo as figuras de tantos “responsáveis”, afirmando, depois, que conhece as funções dos profissionais e que não entende bem o que será a “profissão” de “responsável.”
Salientou, em seguida, que tudo isto, em termos de complexidade, tem ainda de viver, seja com a cada vez mais significativa introdução da inovação arquitectónica e construtiva, seja com a crescente dinamização do próprio processo da obra. Trigo.concordou com Teotónio considerando “os Olivais (Lisboa) a época de ouro da nossa construção”, no edificado e nos espaços públicos, e demonstrou esta afirmação lembrando que grande parte dos betuminosos e pavimentos exteriores dos Olivais são ainda os originais.
Desenvolveu, em seguida, algumas considerações sintéticas sobre a matéria regulamentar, e sublinhou que considera haver falta de coerência e de compatibilidade na regulamentação; um problema que, defende, marca todo o processo que se inicia na elaboração dos diversos regulamentos até à própria regulamentação da construção.
Finalmente centrou-se na matéria da formação e especificamente na formação nas ciências da construção, salientando que hoje em dia há uma falta, cada vez maior, de pessoas que possam/saibam fazer sínteses de projecto e construção adequadas.
Usou como exemplos concretos quer a fundamental harmonização entre as estruturas de betão armado, que se deformam com o passar do tempo, e os panos de alvenaria (cada vez mais rígidos), quer a execução das coberturas em terraço, que exigem a união de esforços de um amplo leque de intervenções especializadas. E concluiu esta matéria reforçando a necessidade de se privilegiarem urgentemente as visões de conjunto nos processos construtivos.
Relativamente aos problemas levantados pelo uso sublinhou as graves situações que têm sido identificadas no que se refere à vital temática da ventilação doméstica, onde defende existir um grave problema de falta de coerência entre as diversas soluções mais usadas e as formas de uso da casas e dos seus elementos funcionais – desde as janelas quase estanques aos exaustores que, por vezes, levam a que o sistema de ventilação previsto funcione ao contrário.
Teixeira.Trigo rematou a sua intervenção com um pequeno conjunto de recomendações:
- Acabar com a regulamentação dispersa, mediante uma concentração regulamentar que seja o mais coerente possível com a nossa prática de construção.
- Introduzir e privilegiar na prática profissional sínteses construtivas, de segurança, económicas e processuais.
- Assegurar o aperfeiçoamento e o aprofundamento das ciências da construção.
- Valorizar o saber no sector da construção.
Seguiu-se um animado debate em que foram tratados variados assuntos aqui apenas telegraficamente apontados:
- As tipologias com galerias comuns de acesso são hoje pouco adequadas pois hoje “não é esse o espírito”, há um reforço do individualismo da casa, uma espécie de “enriquecimento” do papel da casa de cada um.
- Os ritmos e modos de vida mudam e talvez o uso das galerias seja ainda possível no que se refere às crianças, mas no que se refere aos adultos é difícil aí a convivialidade até porque são espaços socialmente muito controlados.
- Os fogos de hoje têm reduzida capacidade de aceitação de famílias sem serem as famílias “tipo” e isto prejudica, por exemplo, a capacidade de integração dos nossos idosos.
- Os projectos habitacionais têm de visar mais do que uma geração.
- A dúvida sobre se, hoje em dia, o grande público está a ter respostas adequadas a um desejável desígnio sobre a temática do habitar, tal como houve no passado – por exemplo para os dias de hoje seria bem oportuno um desígnio sobre a sustentabilidade/”durabilidade”.
- A importância de se fazer uma formação no projecto e na construção em vários níveis e com ritmo/continuidade.
- A importância que deveria ter a oferta de diversidade e de flexibilidade no habitar, estimulando-se a mudança de casa e diversas formas de “ter” casa.
O debate teve, de certa forma, o seu remate natural com duas curtas intervenções.
A primeira, de Hestnes.Ferreira, em que ele referiu ter havido uma época em que se acreditou que a arquitectura poderia mudar o mundo; hoje sabe-se que a arquitectura pode contribuir para tornar o mundo um pouco melhor, mas há que medir todas as circunstâncias neste processo e tentar, sempre, fazer um pouco melhor.
A segunda, de Teixeira.Monteiro, Presidente do INH, em que foi defendida a enorme importância que tem a aprendizagem com a experiência, e nesta aprendizagem o papel que têm sessões deste tipo, onde são identificados temas e linhas de aprofundamento a desenvolver, mas também a verdadeira escola que pode constituir um continuado processo de visitas técnicas realizadas em diálogo com os vários intervenientes na promoção de habitação, como é o caso do processo seguido anualmente no Prémio INH.
Conclui-se este artigo informal de registo das matérias tratadas na 4ª sessão do GH, realizada em estreita colaboração com o INH, com três citações e uma dedicatória, que foram lidas no início da sessão:
A primeira citação é de Le Corbusier que diz não acreditar “que todas as arquitecturas que falem à alma sejam sempre o produto de indivíduos. Um homem aqui, outro ali, percebe, compreende, toma uma decisão e procede para actuar, para criar. E como resultado uma solução emerge, proporcionando que outros homens encontrem os seus próprios caminhos.”
A segunda é de Robert Stern e nela ele sublinha que “a arquitectura não pode desenvolver-se enquanto os arquitectos acreditarem que se encontram diante de uma tábua rasa, enquanto acreditarem que o edifício individual é essencialmente o produto do talento individual e da personalidade individual. A arquitectura é uma síntese de valores tradicionais e de circunstâncias imediatas.”
A última é de Fernando.Távora e diz-nos que “projectar, planear e desenhar devem significar encontrar a forma justa, a forma correcta... projectar, planear, desenhar não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido” e que além da especialização o arquitecto deve aplicar na sua actividade “um profundo e indispensável humanismo.”
E falando de humanismo, termino com a dedicatória desta sessão e deste artigo a um querido companheiro e dirigente cooperativista, fundador da minha cooperativa a NHC – Nova Habitação Cooperativa, que sempre esteve presente e que hoje continua connosco em espírito e em obras, o Dr. José.Barreiros.Mateus.
Lisboa e Encarnação/Olivais.Norte, em 8 de Fevereiro de 2006
António Baptista Coelho
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