Ligação direta (clicar no link seguinte ou copiar para site de busca) para aceder à listagem interativa de 840 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):
Importância da
adaptabilidade na habitação para idosos – versão de trabalho e base documental
– Infohabitar # 852
Artigo XXIX da
série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 852
Edição: quarta-feira,
22 de março de 2023
Caros leitores da Infohabitar,
Com o presente artigo continuamos
a edição de mais um artigo integrado na série editorial dedicada ao Programa de
Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo
Controlado (PHAI3C), prevendo-se que no final de 2023 consigamos chegar ao
remate desta fase do estudo em que se pretende disponibilizar uma base de
trabalho e documental extensa sobre os amplos aspetos de enquadramento
associados às necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas
de uma reflexão prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas
idosas e fragilizadas, mas sempre desejavelmente integrados em quadros
intergeracionais, ativamente urbanos e dinamizados e convivializados por
cooperativas de “habitação económica”.
Tal como tem sido divulgado este
estudo, o PHAI3C, integra a Estratégia de Investigação e Inovação (E2I) do
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC); e importa salientar que as
referidas cooperativas portuguesas de “habitação económica”, associadas na
Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE), apoiaram
este estudo desde o seu início, na continuidade do seu importante papel,
desempenhado desde o 25 de Abril, na promoção de habitação de interesse social,
aliando a quantidade de habitações disponibilizadas a uma sua expressiva
qualidade
Lembra-se que a edição destes
artigos de conteúdo sobre o PHAI3C passou a uma estimada periodicidade
quinzenal, pois a respetiva elaboração assim o obriga; alternando com estes
artigos a Infohabitar irá procurar editar informações úteis sobre iniciativas,
entidades e estudos dedicados às temáticas do habitat humano.
Recorda-se, como sempre, que
serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui
editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).
Despeço-me, até à próxima semana,
enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os
caros leitores,
Lisboa, em 22 de março de 2023
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Importância da
adaptabilidade na habitação para idosos – versão de trabalho e base documental
– Infohabitar # 852
António Baptista Coelho – com base direta
nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que
integram a respetiva listagem bibliográfica.
Breve descrição do estudo
intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido
num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C)
Considerando-se
o atual quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao
crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e
com frequentes necessidades de apoio, a atual diversificação dos modos de vida
e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana
adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a oportunidade
do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação Adaptável
Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta
residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e
financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a
Custos Controlados (3C). O PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções
urbanas e residenciais vocacionadas para a convivência intergeracional,
adaptáveis a diversos modos de vida, adequadas para pessoas com eventuais
fragilidade físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma institucional e
de idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana estimulante.
O PHAI3C irá procurar identificar e caracterizar tipos de soluções adequadas e
sensíveis a uma integração habitacional e intergeracional dos mais frágeis num
quadro urbano claramente positivo e em soluções edificadas que possam dar
resposta, também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais (ex., jovens e pessoas sós),
num quadro residencial marcado por uma gestão participada e eficaz, pela
convivialidade espontânea e social e financeiramente sustentável.
Responsável – António
Baptista Coelho
Notas introdutórias ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional
O presente conjunto de artigos inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores neles amplamente citados.
Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente conjunto de artigos, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.
Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão dos artigos agora listados reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e quase todas incluídas na língua original.
Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria tão sensível e complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.
Importância da
adaptabilidade na habitação para idosos – versão de trabalho e base documental
– Infohabitar # 852
Artigo XXIX da
série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Resumo
Em mais um artigo dedicado à reflexão sobre a
habitação para as pessoas mais idosas numa perspetiva integrada e
intergeracional, abordamos, especificamente, a importância de uma adequada
caraterização residencial em termos de adaptabilidade passiva e ativa quando se
visa uma habitação intergeracional especificamente amigável para idosos e fragilizados
.
Numa primeira parte do artigo faz-se uma introdução
global à temática acima referida, passando-se, depois, para a abordagem do tema
do interesse que tem o desenvolvimento de habitações, positivamente, à prova do
futuro.
Em seguida desenvolve-se a temática da adaptabilidade
das habitações, realizada no sentido da facilitação da vivência dos idosos e
conclui-se o artigo com uma reflexão sobre o assunto específico da opção por se
viver em várias (e entre) habitações quando envelhecemos ou quando por isso
optamos.
Nota específica relativa às citações: tal como foi acima sublinhado nas “Notas introdutórias”, e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho do presente estudo, ele inclui numerosas citações, todas salientadas em texto a itálico, reentrante e em tipo de letra “Arial Narrow”, algumas delas longas e quase todas apresentadas na respetiva língua original; em termos formais e tendo-se em conta essa grande frequência de citações, optou-se, por regra, pela respetiva indicação da fonte documental, respetivo título e autoria, no corpo de texto e em nota de pé de página ou de final de artigo (conforme a edição), seguindo-se a(s) respetiva(s) citação(ões) com a indicação, posterior, do(s) respetivo(s) número(s) de página(s) entre parêntesis – ex: (pg. 26) –, e, em alguns casos, mas não por regra, repetindo-se a indicação específica ao documento que “está a ser referido” e/ou à sua respetiva autoria.
Specific note regarding citations: as highlighted above in the “Introductory Notes”, and taking into account the preliminary and working phase of the present study, it includes numerous citations, all highlighted in italicized text, reentrant and in font type. letter “Arial Narrow”, some of them long and almost all presented in their original language; in formal terms and taking into account this high frequency of citations, we opted, as a rule, for the respective indication of the documentary source, respective title and authorship, in the body of the text and in a footnote or at the end of the article (according to the edition), followed by the respective citation(s) with the subsequent indication of the respective page number(s) in parentheses – ex: ( pg. 26) – and, in some cases, but not as a rule, repeating the specific indication of the document that “is being referred to” and/or its respective authorship.
Introdução
à opção pela adaptabilidade residencial
A opção por caraterísticas afirmadas de
adaptabilidade habitacional assegura uma resposta integrada aos desafios da
habitação para pessoas fragilizadas e nela às questões diversas colocadas pela
revolução grisalha, aos desafios colocados pela necessidade de oferta de
renovadas formas de habitar para variadas necessidades e gostos residenciais e,
também, potencialmente aos desafios “de escala” colocados pela renovada crise
de falta de habitação.
Quando o objetivo de adaptabilidade
residencial transborda para o edifício ou conjunto de arquitetura urbana,
poderemos ter ainda maior potencial de diversificação de oferta numa base comum
racionalizada e maximizada em termos financeiros, para além de se abrirem
interessantes possibilidades de gestão e integração de espaços, equipamentos e
serviços comuns muito diversificados e um pouco “à la carte”, que deverão
abranger a respetiva vizinhança urbana com vantagens quer de integração social,
quer sustentabilidade financeira.
Quando o objetivo da adaptabilidade residencial
alastra à vizinhança poderemos, no limite, tender a harmonizar diversas
tipologias residenciais edificadas a partir de uma base urbana comum e
marcante, para além de podermos contar com elementos do espaço urbano exterior
ou de transição exterior/interior como ricos elementos de valorização funcional
e formal da solução geral (ex., pequenos pátios privados ajardinados, jardins
comuns com aspetos naturais densificados/intensificados, etc., etc.).
1. Habitações à prova de futuro
Uma habitação “à prova de futuro” é um espaço
residencial que se vai adaptando, o mais possível passivamente e portanto sem
obras significativas, à evolução das necessidades dos seus habitantes, sejam
elas consideradas como mais importantes (ex., em termos de mobilidade), sejam
as numerosas outras “pequenas necessidades” que, no seu conjunto, caraterizam
uma habitação como verdadeiramente acolhedora e mesmo dialogante (ex., mudanças
periódicas nas disposições da mobília).
Mas infelizmente há muitas habitações que não
aceitam qualquer futuro e, mais ainda, até pouco aceitam simples alternativas
de disposição de mobiliário.
Esta ideia de uma habitação “à prova de
futuro”, ou “para a vida” é algo muito adequado na sua aplicação a uma
habitação que “envelheça”, positivamente, consoante os seus próprios habitantes
vão também envelhecendo, e desejavelmente também de uma forma positiva; e neste
caso, como já bem sabemos, em termos de um envelhecimento ativo.
Daria vontade de, desde já, sumarizar que o
pretendido será, provavelmente, o desenvolvimento de novas ou renovadas habitações
que sejam globalmente adaptáveis de modo passivo, portanto, sem grandes custos,
e ao serviço do envelhecimento ativo dos seus habitantes. Esta possível
dinâmica residencial vai compatibilizar-se com as preconizadas soluções
residenciais intergeracionais, funcionalmente mistas e participadas (PHAI3C),
essencialmente, ao nível dos fogos.
No estudo
oficial intitulado What can I do to make my home future proof? - Home
Topics Housing for older people Question and answer [1] avançam-se algumas
respostas de pormenor para este desafio de uma habitação “à prova de futuro” ou
“para a vida”, que foram devidamente consideradas como base direta de
referência para se elaborar e salientar, em seguida, uma listagem de aspetos considerados estruturantes da solução ao nível da
habitação, tendo-se em conta a sua futura adequação a mudanças de necessidades
e mesmo de gostos habitacionais:
- Adequadas e
simplificadas condições de segurança no controlo de acessos e na envolvente
(ex. clareza e durabilidade na relação com o controlo de acessos comum em
termos sonoros e visuais, excelente visibilidade e segurança no controlo de
acesso ao espaço privado, adequadas proteções dos vãos exteriores, detetores de
movimento exteriores ligados a luzes).
- Vãos
exteriores bem configurados e dispostos tendo em consideração os diversos
aspetos de conforto ambiental e vistas agradáveis sobre o exterior, possíveis a
partir de posições sentadas diversas.
- Pavimentação
global da habitação, desejavelmente, com continuidade superficial (sem
ressaltos) e antiderrapante mesmo quando molhada.
- Controlos de
vãos exteriores fáceis de manobrar, pelo interior, e ergonomicamente dispostos.
- Torneiras
fáceis de usar com uma mão e, desejavelmente, com termostato.
- Arrumações
feitas preferencialmente em gavetas e não em prateleiras, evitando-se
arrumações baixas (posições do corpo dobradas) ou muito altas (exigindo recurso
a escadote).
- Ergonomia,
multifuncionalidade (ex., poder estar sentado a usar o plano de trabalho) e
excelente iluminação natural e artificial nos planos de trabalho da cozinha e
na zona potencialmente destinada a uma mesa de jantar.
- Contiguidade
na relação entre um quarto de dormir e uma casa de banho.
- Escadas
privadas seguras e ergonómicas, proporcionando instalação (que pode ser
posterior) de corrimãos bilaterais.
As questões de
dimensionamento regulamentar estão atualmente bem definidas, apontando-se,
aqui, apenas, que uma habitação concebida para um futuro, sempre desconhecido,
deveerá optar por um dimensionamento desafogado no que se refere a dimensões
mínimas de circulações, larguras de compartimentos e vãos e “espaços livres”
entre equipamentos fixos, sendo que eventuais futuros aproveitamentos
desafogados para proporcionar a boa manobra de pessoas condicionadas na
mobilidade, poderão ser, entretanto, aproveitados para uma mais diversificada e
elaborada capacidade e adaptabilidade na integração de mobiliário (ex.,
corredor largo mobilável que, se necessário, futuramente poderá ser libertado
desse mobiliário para facilitar a movimentação).
Continuando
nesta matéria de uma qualificação residencial globalmente aplicável e que
suporte, no futuro, adaptações o mais possível simplificadas e económicas dos
espaços residenciais edificados e de vizinhança no sentido de que os seus
habitantes, querendo, possam aí
envelhecer (aging in place), agradavelmente, em segurança e com toda a
autonomia, vamos, em seguida, tentar aproveitar e comentar, minimamente, um
conjunto de interessantes reflexões arquitetónicas de Judith Torrington sobre o
assunto. [2]
Em termos de
vizinhança Judith Torrington aponta um conjunto de aspetos que se refletem no
próprio edificado e que se resumem em “identidade, bem-estar e sentido de
pertença” (pg. 10) e que, em seguida, se referem de modo mais pormenorizado:
(negrito nosso)
The home and neighbourhood are seen as having a
crucial role in the well-being of older people. Peace et al. (2006), in their
book Environment and Identity in Later Life, argue that the home and place in
which people live are an essential element of their quality of life; the
home cannot simply be viewed as a ‘setting’.
The
sense of belonging to a place is connected with identity; deterioration in a
neighbourhood and fear of crime have a strong negative influence on well-being
by limiting activity and engagement with the outside world. The book discusses
the value people place on their relationship with the natural environment,
although maintaining gardens can become a source of stress for some.
The emotional attachment to place is an aspect
of identity… People who have lived in one place for many years and brought
up their families there see their homes as an aspect of themselves, which
makes them reluctant to move, and those who do move away from their homes
experience a loss of autonomy and control. (pg. 10)
No entanto, uma
nova promoção ativamente participada pode ser também uma forma de incentivar
esta relação emocional com o nosso (novo) habitar, de certa forma
“concentrando-a”; e se a nova localização estiver ligada vantagens em termos de
centralidade e de relação com vida urbana, então a mudança talvez possa ser bem
aceite.
Não perdendo
esta eventual mudança para uma zona estrategicamente melhor colocada em termos
urbanos, as questões ligadas a um natural aumento da solidão, quando
envelhecemos, podem encontrar uma importante e bem direcionada suavização,
pois, eventualmente, alguém que até se vai sentindo mais solitário no seu uso
do tempo, poderá encontrar em tais situações urbanas, mais centrais e/ou melhor
servidas de transportes para pólos urbanos, uma forma de lidar, positivamente,
com parte dessa solidão, que acaba por ser vivida no meio da cidade mais
animada (“sozinho” entre muitos) ou sozinho, mas em união com a natireza, por
exemplo, ao passear por uma ampla zona verde e natural.
E tais
possibilidades de experienciar uma solidão razoavelmente agradável, porque até
eventualmente desejada, ligam-se à simultânea existência de adequadas
possibilidades de um convívio verdadeiramente qualificado, que pode ser
familiar ou entre amigos e colegas, mas que para bem ser desenvolvido tem de
ter adequadas condições espaciais, funcionais e ambientais, tal como refere Judith
Torrington:
… older people become lonelier with time, and
that the loss of a partner and ill health were associated with a greater
increase in loneliness … Jong-Gierveld (1998) draws attention to the
importance of the quality of relationships to the experience of loneliness.
(pg. 10)
De certa forma
e sumarizando os bons espaços de habitar adequados a idosos têm de propiciar
condições específicas de privacidade e de convívio, nos espaços privados, nos espaços
comuns e nos espaços públicos vizinhos.
Passando-se,
agora ao espaço interior e doméstico, aponta-se que a questão de uma habitual
subocupação das habitações de idosos é uma matéria que se julga dever ser um
pouco reconsiderada – Judith Torrington refere-se a uma habitação onde exista
mais do que um quarto do que os que são necessários –, porque, de certa forma,
a habitação também acaba por ser uma pele e um repositório de vida e porque com
o aumento da idade passamos a precisar de mais espaço para as diversas
atividades domésticas – ex., desde mais quartos considerando a opção de um
casal dormir em quartos separados, que pode ser adequada por diversas razões;
até mais espaço para uma grande variedade de atividades e comportamentos
domésticos, pois quando envelhecemos tendemos a ser mais “trapalhões” ou menos
eficazes em muitas movimentações e, porque, no limite, podemos precisar de
apoios específicos na movimentação (ex., canadianas e cadeiras de rodas) e
mesmo de apoio de outras pessoas para diversas atividades; e cita-se, assim, Judith
Torrington, a propósito desta temática específica:
… Bathrooms and toilets should be capable of
being converted to disabled standards and large enough to allow for carers to
provide assistance by helping people to get onto the toilet and for bathing or
showering. Converting bathrooms to wet rooms is one way of achieving this. (pg. 9)
Podemos
generalizar este tipo de condições, salientando que todos os espaços domésticos
e, muito especialmente, aqueles que integram instalações (ex., de água) e
equipamentos (ex., mobiliário fixo) devem poder ser convertidos, com
facilidade, ao seu uso por condicionados na mobilidade e na perceção, sendo
que, complementarmente: há que prever uma capacidade de arrumação
“acrescida”(pg. 9, d estudo que está a ser referido) e bem disseminada
(arrumação específica e de mobiliário), para que possa “absorver” boa parte da
nossa “história de vida”, sem obrigar a racionalizações sempre desagradáveis ou
mesmo críticas para pessoas eventualmente fragilizadas; e é vital a existência
de um espaço exterior privado (pg. 9), pelo menos, minimamente capaz de acolher
muito positivamente uma pequena zona de estar/convívio.
Finalmente e
utilizando, ainda, como base de reflexão, o referido estudo de Judith
Torrington, salienta-se nos espaços de habitar muito dedicados a idosos há que
dar importância acrescida aos aspetos: (i) de conforto ambiental e segurança no
uso normal, na sua relação direta com o bem-estar e a saúde, isto porque a luz
natural é vital no bem-estardoméstico e porque os idosos são extremamente
sensíveis a negativas condições higrotérmicas e de ventilação; (ii) sensoriais,
designadamente, em termos de visão e audição, porque os idosos tendem a ver e
ouvir pior; e (iii) de relação com o frequente desenvolvimento de demências,
tendo-se em conta o pouco que ainda se sabe e a necessária e urgente
investigação sobre como os ambientes residenciais e urbanos de vizinhança e os
ambientes domésticos podem ajudar a mitigar os problemas de vida diária
levantados por essas demências.
Em seguida
registam-se alguns aspetos de pormenor ligados a estas temáticas que conjugam problemas
de saúde e deficientes condições habitacionais, que se influenciam e mutuamente
e se agravam com o envelhecimento dos habitantes; aspetos estes citados do
estudo de Judith Torrington que tem estado a ser referido: (negrito nosso)
Poor-quality housing has been linked to poor
health for at least 200 years.
Lack of insulation, damp penetration, poor heating systems, unsafe stairs and
low levels of daylight are associated with poor health. The greatest risk to
health results from cold damp houses; there are 40,000 excessive winter deaths
in England. Falls are the other major health risk, with falls from heights
(i.e. falling down stairs) responsible for most serious injuries. The costs of
these injuries to the NHS are estimated to be £600 million a year. (pg. 15)
[sobre a importância de um adequado apoio
sensorial] Sensory support: vision and hearing …
Sight loss is a common condition in older
people, and increasing longevity means that there are substantial numbers in
the population living with some degree of sight loss.
Symptoms of sight loss vary according to the
condition, but they include: sensitivity to glare, slower adaptation to
changes from light to dark, reduced sensitivity to contrast, colour saturation
and retinal illuminance, inability to focus and reduced ability to see blue
light (Littlefair, 2010). Older people who do not have a serious visual
impairment are still likely to have some degree of sight loss. (pg. 14)
on design for dementia is largely concerned
with specialist accommodation and there is very little on normal housing, and
that further research in this area is needed …
… people with dementia do go out but restrict
themselves to familiar areas. The research identified six principles of a
dementia-friendly environment: familiarity, legibility, distinctiveness,
accessibility, safety and comfort. A checklist of recommendations for
neighbourhood design based on this research is available (Mitchell et al.,
2004). (pg. 14)
Salienta-se que
há, assim, aqui já um conjunto de aspetos extremamente importantes a considerar
em intervenções intergeracionais, que irão ser marcadas por condições muito
adequadas aos seus habitantes mais fragilizados, mas, note-se, também
extremamente interessantes para os restantes vizinhos.
Para além disto
um conjunto significativo de intervenções intergeracionais que influenciem,
desta forma, muito positivamente a saúde dos seus habitantes mais fragilizados,
estará também a prestar um excelente serviço à sociedade e ao país.
2. Adaptar habitações para
facilitarem a vivência dos idosos
Globalmente a adaptação de habitações
visando-se facilitar a vivência dos idosos e mesmo a prestação de cuidados
pessoais ao domicílio – atividade esta que provavelmente irá ter crescimento
exponencial – depende: (i) quer de condições domésticas de adaptabilidade e
multifuncionalidade passivas, isto é “embebidas” em dimensionamentos e soluções
de pormenor capazes de aceitar facilmente variadas conversões funcionais e
formais; (ii) quer de condições domésticas de integração fixa ou temporária de
tecnologias de adaptação (adaptativas) a essas necessidades ligadas à vivência
diária dos idosos e à prestação de cuidados pessoais ao domicílio.
Estas tecnologias adaptativas podem ser fixas
ou portáteis e incluem as designadas “tecnologias assistivas” ou de “ajuda
técnica”, referidas a todo um amplo leque de recursos, instrumentos, práticas e
serviços destinados a proporcionar mais autonomia, independência e qualidade de
vida aos seus utentes.
Já se salientou, anteriormente, que importa identificar
e melhorar soluções-tipo eficazes e económicas de adaptação habitacional
facilitadoras da vivência de pessoas fragilizadas, contribuindo-se, assim, seja
para a sua integração, de raiz, em novos conjuntos residenciais, seja para a
sua adoção em ações de adaptação de habitações preexistentes.
Nesta perspetiva cita-se e comenta-se, em
seguida, o estudo de vários autores, intitulado Adapting the homes of older
people: a case study of costs and savings [3], onde é possível consultar
uma proposta de critérios de avaliação aplicáveis à importante e muito sensível
decisão sobre manter ou não manter na sua habitação uma pessoa fragilizada:
The scope for an individual older person to
remain in their own home depends on many issues, but the most relevant are
concerned with the following:
- extent of their capacities, their needs and
their view of those needs.
- how far these needs can be met through
adapting the home and providing AT [Adaptive Technology] and other specialist
equipment, and the cost.
- availability of formal and informal care.
- costs of formal care.
- acceptability of these solutions to older
people.
- resulting quality of life for the individual.
(pg. 469)
Importa comentar que, em primeiro lugar, não
se contempla aqui referida capacidade
passiva de uma dada habitação no sentido de acolher novas necessidades dos seus
habitantes e que, em segundo lugar, poderá existir um nível residencial
“intermédio” e de uso tendencialmente comum, onde várias necessidades pessoais
específicas poderão ser bem acolhidas e até e desejavelmente com um sentido
expressivamente residencial e nada “hospitalar” (ex., gabinetes de apoio médico
e de enfermagem, banho assistido, spa, sauna, pequena piscima hidrodinâmica,
pequeno ginásio equipado, etc.); sentido residencial esse que é fundamental
respeitar integralmente numa intervenção residencial intergeracional,
conseguindo-se, assim, provavelmente, integrar e embeber variados cuidados “de
saúde” numa solução global basicamente residencial, anulando-se estigmas e
obtendo-se uma excelente integração social.
3. Viver em várias (e entre)
habitações quando envelhecemos ou quando por isso optamos
Passamos, agora, a algumas rápidas reflexões
sobre situações residenciais que são cada vez mais frequentes e que estão,
realmente, a mudar de sentido e a ganhar importância na atual sociedade
europeia, proporcionando, por vezes, outras mudanças residenciais direta e
indiretamente associadas à questão da habitação dos mais idosos; isto porque
realmente alguém que tenha uma excelente habitação fora da cidade poderá estar
disponível para optar por uma habitação citadina mais contida em termos de
espaciosidade, embora bem localizada e eventualmente associada a aspetos
específicos de serviços de apoio, que, por exemplo, simplifiquem a manutenção
doméstica.
Por outro lado e nestas matérias o
teletrabalho revolucionou e revolucionará as opções residenciais; afinal há
tanto tempo anunciado, porque associado à revolução informática pessoal, foi
esquecido e só, recentemente e devido à pandemia foi adotado, criando rotinas
que irão ficar, sem margem para dúvidas, num grande leque de profissões e atividades
realizadas “à distância” e com autonomia, e que irão também marcar outras
atividades menos autónomas, mas que também são possíveis à distância.
E assim temos/teremos desde “segundas
habitações” que se tornaram e tornarão “primeiras habitações”, assim como temos
e teremos postos de trabalho móveis entre variadas localizações mais
profissionais, ou mais comuns, ou mais domésticas e também temos e teremos
grupos socioculturais e etários que, muito mais cedo do que o habitual, optam
pelo afastamento da cidade, de forma habitual, mas continuando a usar a cidade
de forma periódica; e tudo isto tem e terá reflexo nas soluções habitacionais
urbanas.
Abordam-se, aqui, matérias relativamente
inovadoras ou recentes e que têm, sempre, influência nas novas ofertas
habitacionais, designadamente intergeracionais, designadamente, referidas seja
a uma duplicação do espaço doméstico, seja a uma diversificação dos níveis
etários aposentados ou com atividades à distância e, portanto, podendo fundir
atividades domésticas e profissionais.
Vários estudos e diversos autores abordam esta
temática, que pede desenvolvimento específico, sublinhando-se, em seguida, e
apenas de forma geral, alguns aspetos identificados a partir de um estudo
desenvolvido por Francine Benguigui e um conjunto de outros autores, no âmbito
do PUCA em 2009 e onde é feita referência a um anterior estudo de Philippe
Bonnin e Roselyne de Villanova (1999). [4]
Tudo se refere a uma possível e provável
mudança de estatuto (o termo é meu) de algumas residências secundárias, que
deixaram de ser consideradas como habitação de turismo de final de semana e de
férias, para se assumirem como “segundo lugar de vida, equiparado ao da anteriormente designada “residência
principal”; situação esta que, aquando da aposentação, talvez possa evoluir
mesmo para uma mudança nessa hierarquia residencial, passando a anterior
habitação secundária para “habitação principal”.
Julga-se que tais possibilidades decorrerão,
também, da localização e acessibilidades entre os dois sítios de habitar,
perdendo potencial quando a distância e/ou as acessibilidades são mais
complicadas; sendo que esta possibilidade muito ganhou com a recente pandemia e
o consequente regime de teletrabalho quase universal, sempre que possível; e
isto poderá mesmo levar a uma reversão da casa mais urbana e anteriormente
principal para uma habitação mais “manejável”, desde que especialmente cêntrica
e vitalizadora, o que é muito harmonizável com a noção desenvolvida no âmbito
do PHAI3C.
Bibliografia
BENGUIGUI, Francine (2009)
- Infelizmente não nos foi possível
identificar, objetivamente, o estudo de Francine Benguigui e de um conjunto de
outros autores, realizado, cerca de 2009, no âmbito do excelente Plan Urbanisme
Construction et Architecture (PUCA), que tinha sido anteriormente consultado;
mas, no entanto, preferiu-se realizar esta indicação genérica, pois fica
evidente numa consulta ao nome da referida autora o grande leque de trabalhos
realizados nesta e em outras temáticas habitacionais.
Government of the
Netherlands - What can I do to make my home future proof? - Home Topics
Housing for older people question and answer.
LANSLEY, Peter; MCCREADIE,
Claudine; TINKER, Anthea; FLANAGAN, Susan; GOODACRE, Kate; TURNER-SMITH, Alan,
(2004) Adapting the homes of older people: a case study of costs and savings,
Building Research & Information, 32:6, 468-483, DOI
TORRINGTON, Judith - What developments in the built
environment will support the adaptation and ‘future proofing’ of homes and
local neighbourhoods so that people can age well in place over the life course,
stay safe and maintain independent lives? December 2014.
Notas bibliográficas:
[1] Government
of the Netherlands - What can I do to make my home future proof? - Home
Topics Housing for older people question and answer.
[2] Judith
Torrington - What developments in the built environment will support the
adaptation and ‘future proofing’ of homes and local neighbourhoods so that
people can age well in place over the life course, stay safe and maintain
independent lives? December 2014.
[3] Peter
Lansley , Claudine McCreadie , Anthea Tinker , Susan Flanagan , Kate Goodacre
& Alan Turner-Smith (2004) - Adapting the homes of older people: a case
study of costs and savings, Building Research & Information, 32:6,
468-483, DOI
[4] Infelizmente não nos foi
possível identificar, objetivamente, o estudo de Francine Benguigui e de
um conjunto de outros autores, realizado, cerca de 2009, no âmbito do excelente
Plan Urbanisme Construction et Architecture (PUCA), que tinha sido
anteriormente consultado; mas, no entanto, preferiu-se realizar esta indicação
genérica, pois fica evidente numa consulta ao nome da referida autora o grande
leque de trabalhos realizados nesta e em outras temáticas habitacionais.
Notas
editoriais gerais:
(i) Embora a edição dos artigos
editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no
sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo
nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários
apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores
desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos
mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural
responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos
de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos,
gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos
autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias
autorizações.
(iii) Para se tentar assegurar o
referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta
a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários
"automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos
conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição
da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos
editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à
verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da
revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de
eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.
Etiquetas/palavras
chave: habitação, habitação
intergeracional, habitação para idosos, intergeracionalidade, espaços residenciais,
PHAI3C, Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional Cooperativa a Custos
Controlados
Importância da
adaptabilidade na habitação para idosos – versão de trabalho e base documental
– Infohabitar # 852
Artigo XXIX da
série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 852
Edição: quarta-feira,
22 de março de 2023
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho, Investigador
Principal do LNEC
abc.infohabitar@gmail.com, abc@lnec.pt
A
Infohabitar é uma Revista do GHabitar Associação Portuguesa para a Promoção da
Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação atualmente com sede na
Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e
anteriormente com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do LNEC.
Apoio à
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.
Sem comentários :
Enviar um comentário