Ligação direta (clicar no link seguinte ou copiar para site de busca) para aceder à listagem interativa de 840 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):
Estudos e temas a
salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de
trabalho e base documental (II) – Infohabitar # 848
Artigo XXVI da
série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 848
Edição: quarta-feira,
15 de fevereiro de 2023
Caros leitores da Infohabitar,
Com o presente artigo continuamos
a edição de mais uma sequência de artigos relativos ao Programa de Habitação
Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado
(PHAI3C), prevendo-se que durante 2023 consigamos chegar ao remate desta fase
do estudo em que se pretende disponibilizar ua base de trabalho e bibliográfica
extensa sobre os amplos aspetos de enquadramento associados às necessidades,
aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre
os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, mas sempre
desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente urbanos e
dinamizados e convivializados por cooperativas de “habitação económica”.
Tal como tem sido divulgado este
estudo, o PHAI3C, integra a Estratégia de Investigação e Inovação (E2I)
2013-2020” do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC); e importa
salientar que as referidas cooperativas portuguesas de “habitação económica”,
associadas na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica
(FENACHE), apoiaram este estudo desde o seu início, na continuidade do seu
importante papel, desempenhado desde o 25 de Abril, na promoção de habitação de
interesse social, aliando a quantidade de habitações disponibilizadas a uma sua
expressiva qualidade
Lembra-se que a edição destes
artigos de conteúdo sobre o PHAI3C passou a uma estimada periodicidade
quinzenal, pois a respetiva elaboração assim o obriga; alternando com estes
artigos a Infohabitar irá procurar editar informações úteis sobre iniciativas,
entidades e estudos dedicados às temáticas do habitat humano.
Recorda-se, como sempre, que
serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui
editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).
Despeço-me, até à próxima semana,
enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os
caros leitores,
Lisboa, em 15 de fevereiro de
2023
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre
habitação e envelhecimento (parte II) –
versão de trabalho e base bibliográfica # 848 Infohabitar
António Baptista Coelho – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo do artigo
Resumo
Depois de um conjunto de notas
introdutórias e de apresentação ao estudo global intitulado Programa de
Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido num quadro Cooperativo e a
Custos Controlados (PHAI3C), abordam-se, no presente artigo, e a propósito de
um conjunto de estudos devidamente referenciados em notas bibliográficas, os
seguintes 10 subtemas:
(i) O envelhecimento e o habitat
humano: reflexões e casos de referência.
(ii) As mudanças no âmbito do
envelhecimento humano.
(iii) Notas sobre a gero-habitação.
(iv) Domesticidade e saúde nos
cuidados e residências para idosos.
(v) Habitação para todos: inovação na
conceção habitacional.
(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as
relações entre habitação e envelhecimento .
(vii) O envelhecimento humano e o
habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e
pormenorização.
(viii) Facilitar o quotidiano –
conceito de grande importância funcional e integradora .
(ix) Reabilitação/remodelação
residencial e design universal.
(x) Reabilitação/remodelação
residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos.
Notas
introdutórias ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional
O presente conjunto de artigos
inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória,
que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e
estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado
Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos
Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo
autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação
(P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são,
apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os
numerosos autores neles amplamente citados.
Neste sentido salienta-se o papel
visado para o presente conjunto de artigos, no sentido de se proporcionar uma
divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada
sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para
idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e
gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e
integrada.
Nesta perspetiva e tendo-se em conta a
fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma
e a extensão dos artigos agora listados reflete uma assumida apresentação
comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas
pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e
por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica
patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas
delas longas e quase todas incluídas na língua original.
Julga-se que não se poderia atuar de forma
diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados
teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma
reflexão pessoal sobre uma matéria tão sensível e complexa como é a habitação
intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados
e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.
Estudos
e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento
(partes I e II) – versão de trabalho e base bibliográfica
# 847 Infohabitar e # 848 Infohabitar
Índice geral
(entre parêntesis, n.º de página do item)
Breve introdução,
1. O envelhecimento e o habitat humano:
reflexões e casos de referência,
2. As mudanças no âmbito do envelhecimento
humano,
3. Notas sobre a gero-habitação,
4. Domesticidade e saúde nos cuidados e
residências para idosos,
5. Habitação para todos: inovação na conceção
habitacional,
6. Aprofundar, cuidadosamente, as relações
entre habitação e envelhecimento,
7. O envelhecimento humano e o habitat,
avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização,
8. Facilitar o quotidiano – conceito de
grande importância funcional e integradora
9. Reabilitação/remodelação residencial e
design universal,
10. Reabilitação/remodelação residencial em
habitações de interesse social arrendadas por idosos,
Bibliografia (referências práticas),
Notas bibliográficas,
Nota específica relativa às citações: tal como foi acima sublinhado nas “Notas introdutórias”, e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho do presente estudo, ele inclui numerosas citações, todas salientadas em texto a itálico, reentrante e em tipo de letra “Arial Narrow”, algumas delas longas e quase todas apresentadas na respetiva língua original; em termos formais e tendo-se em conta essa grande frequência de citações, optou-se, por regra, pela respetiva indicação da fonte documental, respetivo título e autoria, no corpo de texto e em nota de pé de página ou de final de artigo (conforme a edição), seguindo-se a(s) respetiva(s) citação(ões) com a indicação, posterior, do(s) respetivo(s) número(s) de página(s) entre parêntesis – ex: (pg. 26) –, e, em alguns casos, mas não por regra, repetindo-se a indicação específica ao documento que “está a ser referido” e/ou à sua respetiva autoria.
Specific note regarding
citations: as highlighted above in the
“Introductory Notes”, and taking into account the preliminary and working phase
of the present study, it includes numerous citations, all highlighted in
italicized text, reentrant and in font type. letter “Arial Narrow”, some of
them long and almost all presented in their original language; in formal terms
and taking into account this high frequency of citations, we opted, as a rule,
for the respective indication of the documentary source, respective title and
authorship, in the body of the text and in a footnote or at the end of the
article (according to the edition), followed by the respective citation(s) with
the subsequent indication of the respective page number(s) in parentheses – ex:
( page 26) – and, in some cases, but not as a rule, repeating the specific
indication of the document that “is being referred to” and/or its respective
authorship.
Breve
introdução
A propósito de um conjunto de estudos
e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento, no
presente capítulo/artigo e rematando-se, de certa forma, uma primeira fase, de
enquadramento e especialmente desenvolvida , do estudo referido ao
desenvolvimento de um “documento-base” – ou, melhor, de um “documento de
trabalho” – no quadro do presente Programa de Habitação Adaptável e
Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C), essencialmente, de
enquadramento e discussão mínima/possível desta matéria, abordam-se uma
sequência de 10 temas e de estudos específicos, devidamente referidos caso a
caso e em notas bibliográficas, que se salientam no âmbito da relação entre
habitação e envelhecimento.
De certa forma com esta sequência de
referências, muito comentadas, a este conjunto de estudos e respetivos autores
tenta-se fazer alguma justiça à sua respetiva e essencial importância para a
fundamentação do PHAI3C.
Naturalmente procurou-se em cada tema
abordado desenvolver uma reflexão ampla e desmultiplicadora de variadas ideias
que possam ser úteis no desenvolvimento do referido PHAI3C, pois este
capítulo/artigo antecede uma parte do estudo mais propositiva e ligada à
construção da ideia de uma inovadora solução residencial intergeracional,
participada e vitalizada.
São os seguintes os temas e estudos,
depois, sequencialmente, abordados:
(i) O envelhecimento e o habitat
humano: reflexões e casos de referência (2018)
(ii) As mudanças no âmbito do
envelhecimento humano
(iii) Notas sobre a gero-habitação
(iv) Domesticidade e saúde nos
cuidados e residências para idosos
(v) Habitação para todos: inovação na
conceção habitacional
(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as
relações entre habitação e envelhecimento
(vii) O envelhecimento humano e o
habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e
pormenorização
(viii) Facilitar o quotidiano –
conceito de grande importância funcional e integradora
(ix) Reabilitação/remodelação
residencial e design universal
(x) Reabilitação/remodelação
residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos
Tendo-se em conta a dimensão do artigo
ele foi subdividido em duas partes na sua edição na Infohabitar.
PARTE 2 DO ARTIGO
7.
O envelhecimento humano e o habitat, avançando-se numa essencial e muito
sensível tipificação e pormenorização
Avançando, agora, mais um pouco no
caminho do aprofundamento das relações entre habitação e envelhecimento humano,
voltando-se ao estudo
coordenado por Phuong Mai Huynh, intitulado Programme internationnal de
recherche Vieillissement de la population et habitat. Annuaire des Recherches, e apenas a título de exemplos, significativos, de matérias
constantes neste estudo, consideradas importantes no âmbito de uma natural e gradual
aproximação aos conteúdos específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos,
associados a alguns comentários: (negrito e sublinhado nossos).[1]
O autor evidencia uma situação de
grande importância numa pequena frase que resume a situação atual de muitos dos
aposentados no designado mundo ocidental: “Não já tão jovens, mas ainda não
muito velhos” (« Plus si jeunes, mais pas si vieux »); uma situação mais
importante do que pode parecer, pois liga-se a um “intervalo” temporal
significativo no qual tendemos a apreciar e mesmo a precisar de apoios diários
domésticos e pessoais específicos, mas mantendo, frequentemente, grande
autonomia de vida; uma situação que coabita com a existência de equipamentos de
apoio a idosos que foram previstos há algumas décadas para pessoas mais
dependentes podem ficar, um pouco, “dessincronizados” relativamente às novas
realidades e necessidades sociais.
Importa aqui, no entanto, sublinhar
dois aspetos da realidade portuguesa, um primeiro ligado ao nosso,
infelizmente, habitual atraso na estratégia e na cobertura dos equipamentos
coletivos em todo o país, atraso este que, neste caso, nos poderia e deveria
permitir uma rápida, embora muito cuidadosa, reformulação da natureza e da
família de equipamentos de apoio aos idosos e fragilizados, isto caso a bem
conhecida inércia burocrática não inviabilize tal procedimentos – havendo
evidentemente valências que poderão continuar e ser até melhoradas; e o segundo
aspeto, julgado também bastante importante, e que se refere à própria natureza
programática e vivencial destes equipamentos, que deverão respeitar, o mais
possível, as nossas tradições culturais, que são razoavelmente distintas das
que caraterizam muitos dos países do Norte da Europa, tradicionalmente na linha
da frente da proposta de equipamentos e estruturas de apoio e vivência para
idosos e fragilizados, tal como se aponta no estudo que está a ser referido:
Alors qu’il y a quelques
décennies, l’âge de la retraite était très proche de celui de la « vraie »
vieillesse, marquée par la dépendance, il n’en est plus ainsi : l’âge où débute
la dépendance se situe à présent plutôt autour de 85 ans. La tranche d’âge
60/85 ans, celle des « plus si jeunes, mais pas si vieux » selon le titre du
rapport de Muriel Boulmier, représente donc une véritable « génération du
vieillissement » qui doit, à des rythmes divers selon les individus, adapter
progressivement son environnement à ses évolutions physique et psychologique. (pg.
8)
Um excelente caminho nesta proposta
revisão das bases de conceção de espaços residenciais mais amigos dos idosos e
fragilizados é indicado pelo autor citado, no estudo que está a ser citado, quando
ele regista um exemplo de habitação senior (Résidences de Bellevue) que
visou dois objetivos: atingir uma elevada exigência ambiental/environmental
(condição esta que é, por si própria, excelente nos seus efeitos diretos e
indiretos no bem-estar e saúde dos residentes); e conseguir as melhores
condições de vida para residentes e pessoal; sendo que este processo de
conceção foi baseado numa participação ativa dos habitantes idosos na
estruturação e pormenorização do novo conjunto edificado e, provavelmente,
também de alguns aspetos do seu funcionamento. (pg. 9)
Après une phase librement
prospective, des arbitrages ont été nécessaires pour assurer la faisabilité du
projet. Mais au final, le confort, la qualité de vie et les possibilités
d’aménagement sont d’un niveau inédit.
Ainsi, les chambres ont une
superficie de 30 m2, et disposent d’un jardin privatif (initialement,
elles étaient prévues à 36 m2, mais la contrainte financière a imposé
cette réduction). La
surface du logement ouvre la possibilité pour des couples de poursuivre leur
vie commune.
Le bâtiment est conçu
comme un village, avec des circulations qui favorisent les relations, et
incitent au mouvement, tout en évitant l’image stigmatisante de l’univers
hospitalier : salle à manger, salons à thèmes sont également ouverts aux
visiteurs, tandis que le personnel est, sauf quand les soins l’exigent, habillé
en « civil ».
Um outro importante aspeto a
sublinhar, em termos metodológicos e processuais, igualmente referido a esta
experiência das Résidences de Bellevue, salientado pelo autor que está a
ser citado, refere-se ao vital interesse de se privilegiar uma investigação muito
próxima da prática e que, neste caso, evidenciou seja a importância de uma
adequada racionalidade e apertada gestão da construção, seja que projetos assim
bem investigados e baseados podem, mesmo, influenciar na alteração das
respetivas regras dimensionais.
Francis Pichet, directeur des
Résidences de Bellevue, également présent dans ce groupe de travail, insistait
sur le fait que le résultat obtenu illustre l’importance primordiale d’un
projet fort en maîtrise d’ouvrage, avant même l’entrée en jeu de l’architecte.
Avec un effet positif sur le projet, et au-delà : alors que précédemment la
norme de surface des chambres était de 18 m2, le conseil général demande
désormais que les nouveaux projets intègrent des espaces d’habitation de
24 m2. (pg. 9)
Este é um excelente exemplo de criação
de excelentes espaços de vida individualizada com quartos extremamente
espaçosos, integrando camas bem dimensionadas, proporcionando vistas a partir
das camas sobre o exterior- por exemplo, em alguns casos tripla vista com vãos
exteriores dos dois lados da unidade – e com vários subespaços (“microespaços”)
bem programados e conjugados, sendo um deles de entrada para privatizar a
unidade, dando-lhe “afastamento” espacial e visual relativamente à porta de
entrada.
8.
Facilitar o quotidiano – conceito de grande importância funcional e
integradora
Outro estudo que se recomenda, foi
também desenvolvido no âmbito do incontornável Plan Urbanisme Construction
Architecture (PUCA) do governo francês, coordenado por Patrick Jouin e intitula-se Accompagner
le vieillissement : dispositifs, équipements et produits - Simplifier la vie
des personnes âgées. Paris,
PUCA, Groupe de travail 3. [2]
Na prática este trabalho foca-se num
aspeto julgado essencial sempre que “está em jogo” um espaço habitacional
privado dimensionalmente limitado e até, por vezes, tendencialmente reduzido,
referindo-se à exigência de uma apurada funcionalidade e espacialidade, capaz
de garantir um amplo conjunto de microfunções habitacionais enquanto
facilitando, ao máximo, as designadas lides domésticas, assim como os aspetos
ligados à arrumação doméstica e à respetiva integração de diversos elementos de
mobiliário; o que menos se deseja numa habitação tendencialmente pequena e
visualmente bastante aberta é a dificuldade de limpeza, a falta de capacidade
de arrumação e de integração de mobiliário e a complexidade na realização das
correntes tarefas diárias, e prova disto é a "super-ergonomia” e a super
versatilidade de arrumação de espaços habitados muito resuzidos como é o caso
das caravanas e dos interiores de barcos de recreio.
De certo modo esta também é uma das
atrações que um conjunto intergeracional que agregue pequenas unidades
residenciais e espaços e serviços comuns, exercerá sobre todos aqueles que
consideram ter muito mais em que pensar e a que dedicar o seu tempo do que às
lides e à manutenção doméstica; e aqui julga-se que não existem barreiras
geracionais, embora até pareça que há muitos casos de pessoas que ao envelhecer
sentem vontade de se libertarem, ao máximo, desse peso corrente e repetitivo da
vida diária – condição esta que nada tem a ver, por exemplo, com uma prática
realmente amadora e estimulante da culinária, aspeto este que, devidamente
articulado com aspetos “gémeos”, como por exemplo condições para uma pequena
garrafeira e uma pequena despensa gourmet, deve ser, consequentemente, bem
acautelado na referida “racionalização” espacial e funcional.
Estas matérias muito devem a diversos
aspetos apontados no estudo, atrás referido, coordenado por Patrick Jouin, registando-se, por
isso, em seguida e apenas a título de exemplos, significativos, da excelente
abordagem assegurada nesse estudo, algumas citações consideradas importantes no âmbito de uma natural e
gradual aproximação aos conteúdos específicos desejáveis no PHAI3C: (negrito e sublinhado nossos)
« Peut-on simplifier la
vie des personnes âgées en mettant à leur disposition des objets, des
équipements, des dispositifs à la fois esthétiques et qui leur facilitent le
quotidien ? Oui ».
Si le progrès technologique peut
apporter des réponses à des enjeux parfois vitaux, une approche intelligente des objets de la vie courante peut, quant à elle, améliorer
le confort, comme le montrait ensuite Corinne Bodin, adjoint aux cadres
hospitaliers aux résidences de Bellevue à Bourges. Cet EHPAD à la conception
novatrice, …, a poussé l’approche de la qualité de vie jusqu’à travailler en
collaboration avec le porcelainier Pilivuyt, pour l’étude et la réalisation de
prototypes d’assiettes adaptées aux besoins des personnes âgées.
Cette vaisselle a fait l’objet
d’une recherche fonctionnelle et esthétique: ainsi le choix de la couleur bleue
s’est imposé car elle n’est partagée par aucun aliment ; les rebords, marqués,
facilitent la préhension de l’objet. Le matériau retenu assure également une
grande solidité, en même temps qu’une élégance de vaisselle « normale », non
stigmatisante…
La question essentielle,
rappelait Corinne Bodin, reste cependant de concilier la praticité, le plaisir
d’usage, et le double enjeu de la faisabilité industrielle et du maintien d’un
prix de revient abordable. … la
base du design est l’empathie du designer pour l’utilisateur. (pg.
10)
Visa-se, assim, uma estratégia de
pormenorização marcada por uma apurada ergonomia e amigabilidade no uso,
harmonizadas com uma essencial atratividade e mesmo domesticidade, isto no
sentido da conformação de ambientes íntimos, estimulantes, funcionais,
atraentes e apropriados/identificadores.
Objetivo este que é mesmo crítico
quando somos confrontados com inúmeros objetos e elementos com aspeto
hospitalar, que tendem a sobrepor-se e mesmo “vibrar” no quadro de um espaço
doméstico, tal como se aponta no estudo coordenado por Patrick Jouin, que está
a ser referido:
Cette empathie est d’autant plus
nécessaire dans le cas des personnes âgées, expliquait Gaétan Coulaud, designer, que
les objets dédiés à cette population sont majoritairement issus de l’hôpital,
et mal perçus par leur utilisateur. Pourtant, la recherche d’une véritable
praticité accompagnée d’un souci esthétique ne devrait pas être limitée à une
tranche d’âge. (pg. 10)
E daqui até à, já abordada,
defesa do « design universal » vai um espaço curto, tal como se
refere no estudo que está a ser citado:
C’est d’ailleurs le sens de
l’école dite de l’« universal design », dont le point de départ est que tout ce
qui est conçu et créé par des personnes pour être utilisé par des personnes
doit être accessible, utilisable par chaque membre de la société et doit tenir
compte de l’évolution de la diversité humaine. Si l’on pose les déficiences
comme la norme et non comme l’exception, le caractère stigmatisant de l’objet
peut disparaître, en même temps que son universalité peut le rendre
industriellement et économiquement viable. (pg.
10)
9.
Reabilitação/remodelação residencial e design universal
Avançando então, mais um pouco, nestas
matérias do “design universal” e da sua aplicabilidade no âmbito de iniciativas
ligadas ao PHAI3C, recomendamos, agora, o estudo de Leslie C. Young, intitulado Residential
Rehabilitation,Remodeling and Universal Design. [3]
Este estudo é também
especificamente recomendado quer devido à grande qualidade e interesse dos seus
exemplos de soluções habitacionais pormenorizadas, seguindo o referido “design
universal”, quer considerando o que se julga ser a grande qualidade e interesse
das suas ilustrações.
Apenas a título de exemplos,
significativos, de matérias constantes neste estudo de Leslie C. Young, consideradas importantes no âmbito de uma natural e
gradual aproximação aos conteúdos específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se e comentam-se, em
seguida, alguns aspetos de pormenorização, associados a intervenções de
reabilitação, remodelação e reconversão residencial que consideram a aplicação
de aspetos de design universa.
Sublinha-se, em primeiro lugar,
o conceito aqui apontado para “design universal”, ligado ao objetivo de
proporcionar a vida residencial diária e as tarefas domésticas possíveis e mais
seguras para todos, permitindo que as pessoas se mantenham independentes ao
longo do maior período de tempo possível (“for as long as possible”) .
(pg. 3)
Na continuidade natural destas
matérias de um “design universal” há que encarar as matérias da acessibilidade
muito a sério, seja no que toca à sua previsão bem estruturada, em termos de
percursos estimulantes, servida por uma adequada pormenorização sem falhas
pontuais, seja no que se refere à plena e sóbria integração destes aspetos de
acessibilidade, pelos habitantes mais sensíveis, na globalidade da
pormenorização arquitetónica aplicada em cada intervenção; sem quebras de “linguagem”,
sem qualquer tipo de evidência sempre estigmatizante dos seus utentes mais
fragilizados e, frequentemente, dissonante relativamente ao respetivo partido
de pormenorização arquitetónica e, sempre que possível, contribuindo
diretamente para a atratividade e a dinamização geral do uso da respetiva
intervenção.
Mais se refere que a
acessibilidade tem de ser pensada e aplicada de forma global, começando pelo
que pode e deve ou não deve acontecer na respetiva vizinhança de proximidade,
passando pelas “zonas-chave” das garagens, entradas e espaços e equipamentos
comuns dos respetivos edifícios, até às entradas nos espaços habitacionais
privados e respetivos desenvolvimentos domésticos; a acessibilidade tem de
ajudar a “construir”, ativa e atraentemente, estimulantes e seguras sequências
de circulação e de variados usos, uns
outros vitalizadores das respetivas intervenções; e a acessibilidade,
por regra, não pode ser encarada como algo que se “apõe” a uma dada solução já
concluída, mas sim tem de integrar intimamente tal solução.
Importa ter bem presente o muito
elevado número de pessoas com condicionalismos na movimentação: desde as
crianças muito pequenas e a começarem a andar, até idosos extremamente
condicionados em termos de movimentação, mas passando por adultos e jovens
válidos carregados, “conjuntos” de adultos e crianças com e sem carrinhos,
pessoas usando bicicletas e trotinetas ou outros tipos de meios de movimentação
que partilhem espaços pedonais, pessoas de várias idades e com variados condicionalismos
na movimentação e na orientação, pessoas doentes, idosos movimentando-se com
diversos graus de dificuldade física e de orientação, e pessoas de várias
idades com diversos tipos de deficiências de movimentação e/ou sensoriais.
Focando-nos, agora, um
pouco mais nos conteúdos do estudo de Leslie C. Young, intitulado Residential
Rehabilitation,Remodeling and Universal Design , que está a ser referido, importa
salientar que esses fundamentais aspetos de acessibilidade residencial, que
adquirem especial importância quando aplicados em espaços muito usado por
idosos e fragilizados - que, tal como se
tem referido, tendem a usar intensamente as suas habitações e respetivos
espaços contíguos – dependem muito de um leque de aspetos qualitativos entre os
quais se salientam: uma adequada estratégia de iluminação natural e artificial
(geral e focalizada); de cuidadosos cuidados em termos de apoio à comunicação e
à orientação e naturalmente de um ambiente amigável e bem apoiado para a
movimentação e a estadia, ambiente este especialmente apurado em termos de
ergonomia e segurança nos espaços com usos mais exigentes e/ou essenciais para
o bem-estar e potencialmente perigosos, seja em termos de risco de quedas, seja
no que se refere a usos associados, como acontece nas casas de banho, nas zonas
de cozinha e nos espaços para movimentações mais complexas (ex.,
deitar/levantar, vestir, usar mobiliário e elementos ligados às lides
domésticas, estar e circular no exterior e, naturalmente, usar escadas e
rampas).
Também no que se refere a estes
aspetos de acessibilidade residencial uma matéria de grande importância,
referida no estudo citado, tem a ver com o que podemos designar de uma
espaciosidade parcimoniosa, porque adequadamente dimensionada e disseminada,
com base na sensibilidade e no bom senso dos projetistas relativamente a
pessoas que se movimentem e usem os espaços e os elementos domésticos de forma
variadamente condicionada, mais lenta, menos rigorosa, menos eficaz,
potencialmente menos segura e no quadro de um risco permamente de queda, por
desequilíbrio e por ações mais “desastradas” e com variadas naturezas.
Evidentemente que se está, aqui, a equacionar um problema tão complexo, como
pouco definível, mas há aspetos que sem dúvida serão positivos e entre os quais
se salientam: uma espaciosidade que tenha em conta muito mais do que os
regulamentares diâmetros de uso de cadeiras de rodas, uma espaciosidade
ergonométrica e em três dimensões, e uma estruturação espacial que tenha em
conta, designadamente, o volume interior, a luz, as linhas de vista (interiores
e sobre o exterior), a ocupação por mobiliário e a essencial adaptabilidade a diversos
modos de usar a habitação e à própria evolução dos usos e das necessidades.
E que não se pense que este é um
problema sem solução pois múltiplos autores e entre os quais Leslie C. Young,
que tem estado aqui a ser referido, já listaram, extensa e pormenorizadamente
os principais espaços, elementos de apoio à movimentação bem colocados e muito
estáveis, relações espaciais e dimensionamentos a ter em conta, tratando-se,
frequentemente, não de muito espaço a mais, mas sim de espaço bem atribuído e
bem configurado.
Acima de tudo importa acompanhar
bem a movimentação interior, proporcionando-lhe funcionalidade e estratégicos
“pontos” e elementos de apoio, prevenindo, ao máximo, a ocorrência de quedas e
tornando o “ambiente” interior muito amigável, acolhedor e mesmo securizador, isto no sentido de até
poder anular ou suavizar variados riscos no uso normal dos espaços e elementos
domésticos; e sendo que importará erradicar tudo o que “funcione” ao contrário
deste tipo de objetivos (ex., guardas perigosas, pavimentos escorregadios,
grandes lances de escada, arrumações altas, vãos perigosos, dimensões exíguas,
etc.).
Tendo em conta o âmbito do
PHAI3C e, tal como se tem já apontado, mais do que prever um conjunto inicial
de elementos específicos de apoio à movimentação doméstica, importará prever os
espaços e as condições que proporcionem a sua instalação quando necessários e
sempre numa perspetiva que procure suavizar e integrar a sua presença no
respetivo quadro doméstico e, também desenvolver os aspetos de pormenorização
no sentido de serem adequados a todos os habitantes; por exemplo localizar os
controlos do duche ou banheira fora do respetivo espaço, proporcionando o seu
uso seguro, antes e depois do banho, tal como aponta Leslie C. Young, mas
existindo todo um conjunto de aspetos de pormenor tão úteis para pessoas
fragilizadas como para o adulto no pleno uso das suas faculdades de
movimentação, como é, por exemplo, o caso da ergonomia dos armários superiores
de cozinha e em roupeiros – e seria bem interessante realizar uma listagem, o
mais possível exaustiva, de tais aspetos.
Nesta matéria nunca é excessivo
sublinhar a importância da “configuração” da iluminação natural e artificial
dos espaços residenciais, designadamente, no que se refere a uma sua adequada
visualidade, “materialização” e consequências em termos de agradabilidade
global e específica quando da realização de determinadas atividades;
agradabilidade esta que tem, evidentemente, reflexos diretos num uso do espaço
residencial mais seguro e menos esforçado, o que é excelente para todos os
utentes e vital para os mais fragilizados.
Naturalmente que é também
importante a adequada pormenorização dos pavimentos, designadamente, em termos
das suas caraterísticas antiderrapantes, associadas a aspetos de facilidade de
manutenção, mas também no que se refere a adequados contrastes cromáticos e
texturais, sem brilhos incómodos e perigosos.
Outros aspetos de pormenor
apontados por Leslie C. Young no sentido de se favorecer a vivência residencial
dos habitantes mais fragilizados, referem-se, por exemplo, à localização dos
controlos das instalações, em termos de alturas, e à altura dos vºaos
exteriores, de modo a proporcionar boas vistas a partir de posições sentadas ou
até deitadas, matérias estas que terão de ser devidamente harmonizadas com a
segurança das crianças, e mesmo com a própria segurança dos idosos, quando se
desenvolvem ambientes intergeracionais.
De forma geral, no que se refere
aos espaços residenciais intergeracionais haverá que dedicar espacial atenção
às necessidades e caraterísticas comportamentais dos mais fragilizados e menos
eficientes residentes, mas de modo embebido/camuflado ou nada evidenciado. E
tal como foi já apontado e para lá da também já referida espaciosidade
“suplementar”, estratégica e base de adaptabilidade, haverá que cuidar com
especial atenção, (i) quer da ergonomia integrada dos espaços mais “complexos”
da habitação, porque integrando instalações, equipamentos e variados
“mecanismos”, como é o caso dos espaços de casa de banho, cozinha e arrumações,
(ii) quer da espaciosidade e versatilidade de espaços associados a
movimentações e usos potencialmente mais perigosos, designadamente, em termos
de quedas, como é o caso dos espaços contíguos a camas e zonas de vestir, ou no
que se refere a ações potencialmente perigosas para pessoas fragilizadas como
é, por exemplo, o caso da preparação e serviço de refeições e também o caso das
limpezas domésticas – devendo haver aqui uma estratégia de simplificação
maximizada de tais tipos de ações.
Tendo em conta tudo isto e
considerando zonas domésticas potencialmente mais perigosas para pessoas
fragilizadas e pouco “eficientes” no manusear de variados elementos e nas suas
movimentações, será, talvez de considerar a possibilidade de se preconfigurarem
determinados espaços, equipamentos e mobiliários integrados de modo a se
assegurar um seu funcionamento optimizado (ex., zona de preparação de
refeições, zona de refeições, casa de banho completamente equipada), condição
esta que será, também, adequada no caso de habitações mais pequenas, porque
garantindo a sua funcionalidade.
Um outro conjunto de aspetos
hoje em dia essencial refere-se a uma adequada integração residencial das
tecnologias de informação e comunicação (TIC), seja ao serviço mais direto de
idosos e fragilizados, seja no que se refere ao desenvolvimento de um espaço
habitacional mais “inteligente”, no sentido de se facilitarem os aspetos
associados à gestão e ás “lides” domésticas. Esta temática terá abordagens mais
pormenorizadas neste estudo, mas, desde já, se aponta que esta tendência deverá
ser colocada ao serviço da facilitação da vida diária e do aumento do seu
bem-estar, sendo devida e sobriamente integrada no ambiente residencial e
tirando-se partido de uma máxima integração de equipamentos, por exemplo, no
que se refere à centralização dos aspetos de conforto ambiental e no que se
liga à existência de um bom equipamento de TV, que possa servir também outras
funcionalidades, por exemplo, em termos de acesso à internet, vídeo-chamada e
encontros virtuais, contacto com a porta de entrada, etc. Esta estratégia
residencial e integradora das TICs parece ser adequada no respeito da
caraterização doméstica, privada e apropriada de espaços potencialmente
intergeracionais, parecendo ser especialmente adequada no caso de habitantes
mais idosos e/ou mais fragilizados.
10.
Reabilitação/remodelação residencial em habitações de interesse social
arrendadas por idosos
Vamos concluir, para já, esta
pequena viagem por um conjunto de estudos considerados especialmente
importantes na reflexão sobre a urgente problemática residencial dos idosos,
com a abordagem de uma matéria que se julga fulcral e muito sensível, quer em
termos do número de pessoas por ela afetada, quer da complexidade da sua
resolução: trata-se da temática da reabilitação e reconversão aplicada a
habitações de interesse social arrendadas por idosos com poucos recursos e,
habitualmente, integradas em conjuntos de habitação desse tipo, conjuntos esses
que também estão frequentemente associados a problemáticas especiais e que
afetam muito especialmente os idosos (ex., insegurança pública, manutenção
reduzida, etc.)
O estudo identificado nesta
matéria e cuja consulta, naturalmente, se recomenda foi elaborado por Christian Harzo e Virginie
Bonnal e intitula-se Le rôle du parc locatif social dans le logement des
personnes âgées modestes. [4]
Sendo o referido estudo francês
ele aponta um conjunto de aspetos que, é provável, só comecem a ser sentidos em
Portugal daqui a alguns anos; sendo, no entanto, interessantes pois talvez
possam corresponder a caminhos de evolução da nossa habitação de interesse
social, numa fase em que, por um lado se impõem significativas ações para a
requalificação, reabilitação e mesmo reconversão do parque existente, e em que,
por outro lado, se está a perceber que há urgência na nova promoção de um
conjunto muito significativo de novas habitações desse parque, direcionadas
para o arrendamento e o mais possível harmonizadas com as velhas e as novas
carências habitacionais, sendo que nestas novas carências toma importante lugar
a habitação para idosos e para grupos socioculturais atualmente em grande
crescimento, como é o caso das pessoas sozinhas e dos pequenos agregados
familiares.
Um aspeto que é muito salientado
no estudo de Christian Harzo e Virginie Bonnal é a importância de se
desenvolver uma verdadeira atratividade na caraterização do parque residencial
de interesse social dedicado ao arrendamento.
Podemos complementar esta noção
referindo que uma tal atratividade deve incidir, sistematicamente, sobre os
respetivos diversos níveis físicos residenciais, desde as vizinhanças à
pormenorização da habitação e poderá ser prevista, quer, de raiz, na nova
promoção habitacional e urbana, quer marcando as respetivas ações de
reabilitação e reconversão.
No estudo referido aponta-se a
tendência sentida, em França, de primeiros pedidos de habitação de interesse
social em pessoas com mais de 60 anos, pessoas que arrendavam, antes,
habitações do parque privado e que pretendem passar a sua velhice no parque
público. (pg. 40)
Os autores do estudo apontam
diversas razões entre as quais a ausência de filhos, a viuvez e os divórcios,
que, podemos considerar, tornam as anteriores habitações provavelmente
demasiado grandes e, provavelmente, também difíceis de suportar
financeiramente; assistindo-se, aqui, ao que os autores designam de “uma crise
da habitação financeiramente acessível”, crise esta que na região da grande
Lyon quase triplicou a solicitação de habitação de interesse social nos maiores
de 70 anos, em sete anos a partir de 1999. (pg. 40)
Esta é uma questão que levanta
outras questões complexas entre as quais talvez a mais importante seja, por um
lado, a origem desta vontade de mudar de habitação, radicada na inadequação das
habitações onde vivem e provavelmente das localizações onde residem ao seu
processo de envelhecimento, e, por outro lado, a necessidade de as habitações
“alvo”, para onde se deseja mudar, serem, elas, verdadeiramente adequadas a
pessoas idosas, tanto em termos de estruturação funcional e de pormenorização,
como em termos de localizações vitalizadas e minimamente “centrais”.
Condições estas que, agora nas
palavras dos autores referidos, deverão caraterizar “uma atratividade da
habitação de interesse social dirigida para os seniores”.
No estudo citado a principal
razão para a mudança residencial dos mais idosos é a inadequação da habitação
onde vivem, seguindo-se os respetivos custos e os aspetos ambientais, aqui
provavelmente referidos a situações de falta de manutenção e de arrajos
exteriores; e é interessante registar que a vontade de reaproximação familiar é
pouco significativa. (pg. 40)
A questão de uma maior
“centralidade” das novas localizações parece ser, sempre, muito importante,
pois, tal como apontam Christian Harzo e Virginie Bonnal, “em todos os casos a
capacidade para se afastarem da sua rua ou do seu bairro reduz-se com o
envelhecimento”.
Mas a questão financeira é
sempre de grande importância na vontade/necessidade de mudança habitacional dos
mais idosos; uma questão financeira que se conjuga com uma frequente vontade de
“trocar” espaço suplementar, por instalações mais adequadas (no edifício e na
habitação), mesmo que em espaços habitacionais mais reduzidos, tal como apontam
Christian Harzo e Virginie Bonnal no estudo que está a ser referido: (negrito nosso)
Pour des ménages du parc
privé, accéder à un logement social est lié au souhait d’atténuer la part du
budget alloué au loyer. Le passage à la retraite s’accompagne le plus souvent
d’une baisse conséquente des revenus qu’il s’agit d’anticiper ou de pallier.
Des résidents du parc social
décident aussi de bouger pour des raisons économiques acceptant alors un
appartement de moindre surface. Des raisons de santé, de handicap génèrent un
certain nombre de demandes avec le souhait d’emménager dans un immeuble avec
ascenseur, avoir une salle de bains aménagée.
Logement trop petit ou devenu
trop grand ? Trop exigu pour des familles nombreuses où les enfants sont encore
présents ou lorsqu’un des parents vit dans un foyer et ne peut y accueillir sa
famille. Ces situations ne sont pas si rares, et actent que des grands logements
peuvent correspondre à des besoins réels même pour des ménages âgés.
Trop grand parce que le loyer
est lourd pour des ménages ne comptant plus d’enfants, qu’il y a eu séparation,
veuvage, etc. Un
appartement trop grand est souvent devenu trop onéreux, trop vide, trop
silencieux, trop fatigant à entretenir. Des demandes de mutation de ce type émanent
principalement de personnes déjà locataires dans le parc social. (pg.
40)
Há, portanto, aqui, uma
tendência de redução e adequação dos espaços habitacionais às necessidades e às
capacidades múltiplas dos idosos (capacidades financeiras, físicas, etc.), mas
que encontrará, talvez, um significativo número de exceções, em grandes
habitações que servem famílias alargadas e cujas caraterísticas básicas de
adaptabilidade proporcionam a sua conversão parcial e pontual ao uso por
condicionados na mobilidade e na perceção. E daqui se pode retirar ser
fundamental, em toda esta problemática,
a diversificação cuidada e bem gerida de uma oferta de soluções residenciais
para idosos, mas sempre num quadro etariamente integrado.
O estudo referido também
salienta um aspeto crucial que é a dificuldade de uma mudança habitacional para
os idosos, e se mudar de habitação é um passo muito física e psicologicamente
complicado e cansativo mesmo quando estamos no pleno uso das nossas
capacidades: o que dizer do que custa uma mudança para habitantes idosos e
fragilizados.
E no entanto e tal como muito
bem referem Christian Harzo e Virginie Bonnal “organizar a nossa mobilidade residencial
permite assegurar a nossa imobilidade no futuro” e proporciona-nos a libertação
de uma habitação “vetusta” e de “um bairro considerado pouco agradável”. (pg.
40)
Daqui retira-se a importância
que tem a existência de apoios específicos e sensíveis à mudança residencial
dos idosos e mesmo de um aconselhamento que procure antecipar tal mudança para
idades onde ela é mais suportável e mesmo mais marcada pelas vontades e gostos
de quem muda. E não podemos deixar de registar a importância que pode ter um
tal capital de mudança e de adequação residencial no âmbito da atividade dos
grandes gestores diretos do parque de habitação de interesse social .
Finalmente e utilizando, ainda o
estudo que está a ser citado, salienta-se, novamente, a dimensão e a urgência
do problema do envelhecimento humano e respetiva inadequação residencial, com
cada vez mais idosos e grandes idosos que não têm vontade nem têm meios para
mudar para um equipamento residencial para idosos, sendo que a iniciativa
pública também não irá ter meios para lidar com a situação.
Uma situação cada vez mais
marcada por um grande número de idosos com poucos recursos, frequentemente
sozinhos, com reformas reduzidas e com necessidades crescentes em termos de
apoios vários, tal como apontam Christian Harzo e Virginie Bonnal no estudo que
está a ser referido:
Or, une part non négligeable
d’entre eux vivent avec de faibles ressources du fait d’une vie professionnelle
ayant alterné périodes d’emploi et de chômage, que les séparations sont plus
nombreuses et que le montant général des retraites s’amenuise !
A cette paupérisation, s’ajoute
au fur et à mesure de l’âge, des besoins de services à la personne.(pg. 48)
Talvez um dos melhores caminhos
será o do apoio sistemático a uma mudança residencial marcada pela adequação a
necessidades e desejos, conjugada com a previsão de novas intervenções
universalmente desenhadas e de pólos residenciais intergeracionais, e
articulada com intervenções “cirúrgicas” de adaptação das habitações existentes
a pessoas fragilizadas e a redes estrategicamente localizadas e ambulatórias de
serviços de prestação de cuidados de bem-estar e saúde.
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[1] Phuong Mai
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[2] Patrick JOUIN
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[3] Leslie C. Young - Residential
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College of Design, Produced by The Center for Universal Design College of
Design, NC State University for the NC
Department of Health and Human Services Division of Vocational Rehabilitation
Independent Living Services. 2006
[4] Christian
Harzo, Virginie Bonnal - Le rôle
du parc locatif social dans le logement des personnes âgées modestes. OSL
.
Notas
editoriais gerais:
(i) Embora a edição dos artigos
editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no
sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo
nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários
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desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos
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(ii) No mesmo sentido, de natural
responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos
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(iii) Para se tentar assegurar o
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Etiquetas/palavras
chave: habitação, habitação
intergeracional, habitação para idosos, intergeracionalidade, espaços
residenciais, PHAI3C, Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional
Cooperativa a Custos Controlados
Estudos e temas a
salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de
trabalho e base documental (II) – Infohabitar # 848
Artigo XXVI da
série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 848
Edição: quarta-feira,
15 de fevereiro de 2023
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho, Investigador
Principal do LNEC
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