Ligação direta (clicar no link seguinte ou copiar para site de busca) para aceder à listagem interativa de 840 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):
Estudos e temas a
salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de
trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847
Artigo XXV da série
editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de
Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo
Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 847
Edição: quarta-feira,
8 de fevereiro de 2023
Caros leitores da Infohabitar,
Com o presente artigo continuamos
a edição de mais uma sequência de artigos relativos ao Programa de Habitação
Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado
(PHAI3C), prevendo-se que durante 2023 consigamos chegar ao remate desta fase
do estudo em que se pretende disponibilizar ua base de trabalho e bibliográfica
extensa sobre os amplos aspetos de enquadramento associados às necessidades,
aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre
os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, mas sempre
desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente urbanos e
dinamizados e convivializados por cooperativas de “habitação económica”.
Tal como tem sido divulgado este
estudo, o PHAI3C, integra a Estratégia de Investigação e Inovação (E2I)
2013-2020” do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC); e importa
salientar que as referidas cooperativas portuguesas de “habitação económica”,
associadas na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica
(FENACHE), apoiaram este estudo desde o seu início, na continuidade do seu
importante papel, desempenhado desde o 25 de Abril, na promoção de habitação de
interesse social, aliando a quantidade de habitações disponibilizadas a uma sua
expressiva qualidade
Lembra-se que a edição destes
artigos de conteúdo sobre o PHAI3C passou a uma estimada periodicidade
quinzenal, pois a respetiva elaboração assim o obriga; alternando com estes
artigos a Infohabitar irá procurar editar informações úteis sobre iniciativas,
entidades e estudos dedicados às temáticas do habitat humano.
Recorda-se, como sempre, que
serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui
editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).
Despeço-me, até à próxima semana,
enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os
caros leitores,
Lisboa, em 8 de fevereiro de 2023
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Estudos e temas a
salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de
trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847
António Baptista Coelho – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.
Nota: o conteúdo específico do artigo desenvolve-se
após um conjunto de notas introdutórias e de apresentação ao estudo global
intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido
num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C)
Resumo
Depois de um conjunto de notas introdutórias e de
apresentação ao estudo global intitulado Programa de Habitação Adaptável
Intergeracional desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados
(PHAI3C), abordam-se, no presente artigo, e a propósito de um conjunto de
estudos devidamente referenciados em notas bibliográficas, os seguintes
subtemas:
(i) O envelhecimento e o habitat humano:
reflexões e casos de referência (2018)
(ii) As mudanças no âmbito do envelhecimento
humano
(iii) Notas sobre a gero-habitação
(iv) Domesticidade e saúde nos cuidados e
residências para idosos
(v) Habitação para todos: inovação na conceção
habitacional
(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as relações
entre habitação e envelhecimento
(vii) O envelhecimento humano e o habitat,
avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização
(viii) Facilitar o quotidiano – conceito de
grande importância funcional e integradora
(ix) Reabilitação/remodelação residencial e
design universal
(x)
Reabilitação/remodelação residencial em habitações de interesse social
arrendadas por idosos
Tendo-se em conta a dimensão do artigo ele foi
subdividido em duas partes cujos conteúdos são evidenciados a negrito na
lista anterior.
A quase totalidade dos artigos já editados na
Infohabitar, relativos ao Programa de Habitação Adaptável Intergeracional
desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C), abordam a
caraterização ampla da sensível temática associada ao PHAI3C, naturalmente,
numa fase de trabalho e essencialmente marcada pela busca documental e
respetivo e sistemático comentário, em seis grandes temas e capítulos, que
integram o que designámos de Parte I do estudo e que, a seguir se apontam.
Parte 1 do estudo – aspetos gerais de
enquadramento e base bibliográfica (título provisório):
. Aspetos de enquadramento do PHAI3C
. Qualidade de vida e qualidade residencial dos
idosos
. Habitat, bem-estar e saúde
. Qualidades residenciais mais específicas para idosos
. Necessidades e satisfação residencial dos mais
fragilizados
. Habitat, velhice, solidão e convívio, demência
e final de vida
Aponta-se, em seguida, o que prevemos possa constituir
a sequência imediata do estudo, atualmente já em boa parte desenvolvido em
termos de pesquisas bibliográficas, que será estruturado em dois grande blocos
temáticos, relativos às duas últimas partes do estudo do PHAI3C; salienta-se
que os últimos três artigos da listagem interativa (de 18 artigos) aqui
apresentada já integram a Parte 2 do estudo.
Parte 2 do estudo (títulos provisórios):
. Idosos, cidade e sociedade
. Os idosos e a vizinhança residencial
. Os idosos e os variados modos de habitar
. Os idosos e a opção entre mudança ou
permanência na habitação
. Tipologias habitacionais adequadas a seniores
. Intergeracionalidade residencial e usos mistos
. Aspetos gerais de pormenorizção na habitação
para idosos
. Aspetos específicos na conceção residencial
para idosos
Parte 3 e final do estudo (títulos provisórios):
. Casos de referência ibéricos e sul-americanos
correntes
. Casos de referência ibéricos e sul-americanos
intergeracionais
. Casos de referência internacionais
correntes
. Casos de referência internacionais
intergeracionais
. Casos de referência internacionais
específicos para demências
. Casos de referência internacionais no
quadro do envelhecimento doméstico
Notas introdutórias ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional
O presente conjunto de artigos inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores neles amplamente citados.
Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente conjunto de artigos, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.
Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão dos artigos agora listados reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e quase todas incluídas na língua original.
Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria tão sensível e complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.
Estudos
e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento
(partes I e II) – versão de trabalho e base bibliográfica
# 847 Infohabitar e # 848 Infohabitar
Índice geral
Breve introdução,
1. O envelhecimento e o habitat humano:
reflexões e casos de referência,
2. As mudanças no âmbito do envelhecimento
humano,
3. Notas sobre a gero-habitação,
4. Domesticidade e saúde nos cuidados e
residências para idosos,
5. Habitação para todos: inovação na conceção
habitacional,
6. Aprofundar, cuidadosamente, as relações
entre habitação e envelhecimento,
7. O envelhecimento humano e o habitat,
avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização,
8. Facilitar o quotidiano – conceito de
grande importância funcional e integradora
9. Reabilitação/remodelação residencial e
design universal,
10. Reabilitação/remodelação residencial em
habitações de interesse social arrendadas por idosos,
Bibliografia (referências práticas),
Notas bibliográficas,
Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação
e envelhecimento (partes I e II) – versão de trabalho
e base bibliográfica # 847 Infohabitar e # 848
Infohabitar
Nota específica relativa às
citações: tal como foi acima sublinhado nas
“Notas introdutórias”, e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho do
presente estudo, ele inclui numerosas citações, todas salientadas em texto a
itálico, reentrante e em tipo de letra “Arial Narrow”, algumas delas longas e
quase todas apresentadas na respetiva língua original; em termos formais e
tendo-se em conta essa grande frequência de citações, optou-se, por regra, pela
respetiva indicação da fonte documental, respetivo título e autoria, no corpo
de texto e em nota de pé de página ou de final de artigo (conforme a edição),
seguindo-se a(s) respetiva(s) citação(ões) com a indicação, posterior, do(s)
respetivo(s) número(s) de página(s) entre parêntesis – ex: (pg. 26) –, e, em alguns
casos, mas não por regra, repetindo-se a indicação específica ao documento que
“está a ser referido” e/ou à sua respetiva autoria.
Specific note regarding
citations: as highlighted above in the
“Introductory Notes”, and taking into account the preliminary and working phase
of the present study, it includes numerous citations, all highlighted in
italicized text, reentrant and in font type. letter “Arial Narrow”, some of
them long and almost all presented in their original language; in formal terms
and taking into account this high frequency of citations, we opted, as a rule,
for the respective indication of the documentary source, respective title and
authorship, in the body of the text and in a footnote or at the end of the
article (according to the edition), followed by the respective citation(s) with
the subsequent indication of the respective page number(s) in parentheses – ex:
( page 26) – and, in some cases, but not as a rule, repeating the specific
indication of the document that “is being referred to” and/or its respective
authorship.
Breve
introdução
A propósito de um conjunto de estudos
e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento, no
presente capítulo/artigo e rematando-se, de certa forma, uma primeira fase, de
enquadramento e especialmente desenvolvida [1], do estudo referido ao
desenvolvimento de um “documento-base” – ou, melhor, de um “documento de
trabalho” – no quadro do presente Programa de Habitação Adaptável e
Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C), essencialmente, de
enquadramento e discussão mínima/possível desta matéria, abordam-se uma
sequência de 10 temas e de estudos específicos, devidamente referidos caso a
caso e em notas bibliográficas, que se salientam no âmbito da relação entre
habitação e envelhecimento.
De certa forma com esta sequência de
referências, muito comentadas, a este conjunto de estudos e respetivos autores
tenta-se fazer alguma justiça à sua respetiva e essencial importância para a
fundamentação do PHAI3C.
Naturalmente procurou-se em cada tema
abordado desenvolver uma reflexão ampla e desmultiplicadora de variadas ideias
que possam ser úteis no desenvolvimento do referido PHAI3C, pois este
capítulo/artigo antecede uma parte do estudo mais propositiva e ligada à
construção da ideia de uma inovadora solução residencial intergeracional,
participada e vitalizada.
São os seguintes os temas e estudos,
depois, sequencialmente, abordados:
(i) O envelhecimento e o habitat
humano: reflexões e casos de referência (2018)
(ii) As mudanças no âmbito do
envelhecimento humano
(iii) Notas sobre a gero-habitação
(iv) Domesticidade e saúde nos
cuidados e residências para idosos
(v) Habitação para todos: inovação na
conceção habitacional
(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as
relações entre habitação e envelhecimento
(vii) O envelhecimento humano e o
habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e
pormenorização
(viii) Facilitar o quotidiano –
conceito de grande importância funcional e integradora
(ix) Reabilitação/remodelação
residencial e design universal
(x) Reabilitação/remodelação
residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos
Tendo-se em conta a dimensão do artigo
ele foi subdividido em duas partes na sua edição na Infohabitar.
1.
O envelhecimento e o habitat humano: reflexões e casos de referência
Recomenda-se a consulta do
estudo intitulado EnvejezANDO, coordenado por Paz Martín
Rodríguez, seja pelo
seu grande interesse e extensão, em termos de uma abordagem residencial e
urbana do envelhecimento, seja pela recente e inovadora perpetiva que o
carateriza, seja pela sua natureza visualmente estimulante e conteúdo especificamente
arquitetónico, seja pela sua metodologia que agrega investigação “clássica” e
multidisciplinar com a realização de uma rica exposição itinerante, seja pela
aliança marcante que apresenta entre aspetos mais teóricos do envelhecimento
humano e muitos aspetos e exemplos práticos, integrando, aqui, uma preciosa
apresentação comentada de diversas tipologias de respostas habitacionais ao
envelhecimento e concretizadas em diversas regiões espanholas. [2]
Do estudo atrás referido, coordenado por
Paz Martín
Rodríguez e apenas a
título de exemplos, que pretendem suscitar o merecido interesse pela respetiva
consulta, mas que são, desde já, úteis ao desenvolvimento do presente estudo,
apresentam-se, em seguida, alguns aspetos/temas selecionados:
En concreto, en el ámbito
específico de vivienda se fija los siguientes objetivos: (negrito nosso)
Facilitar el
mantenimiento/permanencia de las personas mayores en un entorno seguro, accesible, con servicios
de proximidad adecuados.
Propiciar el acceso
a una vivienda adecuada,
accesible y segura a todas las personas mayores.
Impulsar una oferta
de alternativas residenciales que se adapte a la heteregoneidad del colectivo de
manera que las viviendas, su diseño y el modelo de servicios se adapte a la
necesidad de ayuda.
Las personas que
envejecen desean vivir de forma independiente, y permanecer en el propio hogar
y en su entorno habitual el mayor tiempo posible, aún en caso de necesitar ayuda. De esta manera, la
adecuación de la vivienda y el acceso a los servicios comunitarios y sociales
de cuidado y apoyo son esenciales para responder a este deseo y permitir así
envejecer de forma cómoda y segura en la comunidad y entorno social al que se
pertenece. Pero, en ocasiones, las barreras y dificultades que presenta la
casa, la aparición de situaciones de fragilidad o dependencia, o la necesidad
de determinados cuidados hacen que estas personas se vean obligadas a abandonar
su hogar.
La esperanza de vida sigue
avanzando y el nº de personas mayores es cada vez mayor. El envejecimiento
del envejecimiento se ha triplicado durante la última década …; los mayores de 80, que
ya han superado la esperanza de vida media de su generación, son tres de
cada diez personas mayores.
La edad no es hoy un
elemento de homogeneización, no tenemos los mismos intereses ni nos encontramos
en la misma situación por tener la misma edad. Debemos considerar esta diversidad y promover modalidades
diferentes, siempre en entornos comunitarios y desde una planificación de
servicios y atenciones ajustada a las necesidades y a la realidad de la zona.
Comienza a desarrollarse
en nuestro entorno iniciativas promovidas desde el tejido social de viviendas colaborativas
que promueven la convivencia y quieren evitar la soledad. ¿Que tipo de políticas hay que
desarrollar para que estas iniciativas puedan llegar a buen término?.
En el centro y norte de
Europa se desarrollan desde hace décadas políticas de viviendas para toda la
vida, tanto independientes como en el marco de centros gerontológicos en la
modalidad de unidades de convivencia. El modelo “vivienda”, ofrece una alternativa “doméstica”
que preserva la intimidad de las personas cualquiera que sea su situación de
dependencia.
¿Podemos promover alternativas
de “vivienda para toda la vida” basadas en el diseño para todos o diseño
universal, que afronten las situaciones de dependencia si esta aparece, y así
la construcción se adapte mejor a las necesidades futuras?
2.
As mudanças no âmbito do envelhecimento humano
Recomenda-se a consulta do estudo intitulado Evaluation
of Transitions in Later Life Pilot Projects, desenvolvido pelo UK
Branch da Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Centre for Ageing Better,
em 2017/18 e seguidamente apontado em pormenor:
Calouste
Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation
of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report.
2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This
report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on
Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to
Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message
that later life transitions can be a trigger for loneliness. »
Do referido estudo e apenas a título
de exemplos, que pretendem suscitar o merecido interesse pela respetiva
consulta, mas que são, desde já, úteis ao desenvolvimento do presente estudo do
PHAI3C, apresentam-se, em seguida, alguns aspetos/temas selecionados:
Em termos gerais, mas julgados com
extremo interesse, designadamente, no “focar” de muitas das preocupações que
estão presentes na formatação global (programática e de conceção arquitetónica
e funcional/ambiental/espacial do PHAI3C e citado a partir de um folheto de
divulgação sobre este estudo que está disponível na site da fundação teremos: [3]
We
are encouraged to plan for our material needs in retirement but not for our psychological
and emotional wellbeing. For some, later life can
feel like a time of loss, of career, health and mobility, of home, friends and
loved ones. While some cope well with these transitions, many struggle to
adjust. Too
often this leads to loneliness, ill health and depression. Some support is
available to help older people deal with transitions but it tends to be patchy
and is often only arranged in a crisis. There is a real need to shift from firefighting to
prevention and from disjointed to holistic, person-centred approaches. (Transitions in later life, 24 junho 2018)
Entre outros aspetos decorrentes desta
reflexão fiquemos, “apenas”, com a tentativa de servir arquitetonicamente as
nossas diversas necessidades e variados desejos em termos de bem-estar físico,
psicológico, social e emocional quando atravessamos a barreira da aposentação.
E os mais de 65 anos vão ser
praticamente um terço da população da UE cerca de 2070, tal como se aponta no
estudo atrás referido:
This
transition can be accompanied by a sense of loss - of career, health and
mobility, independence and identity, friends and loved ones. While some cope
well with these transitions, many struggle to adjust. Too often, this leads to
loneliness, ill health and depression.
This
social isolation and loneliness among older people can greatly affect their
physical and mental health. As policymakers often point out, these effects can
translate into increased use of health and social care services. (pg.
24)
Um aspeto a sublinhar é que a
intervenção em termos de soluções residenciais socialmente bem integradas
parece ser, atualmente, o melhor caminho de atuação, no que se refere a uma
resposta integrada aos desejos e necessidades dos habitantes seniores, até
porque os idosos acabam, sempre, por passar muito tempo nos seus espaços
residenciais e talvez porque uma tal resposta possa ser aquela configurável de
modos/formas mais diversos e adequados, um aspeto que é salientado no estudo
que está a ser referido:
In
comparison with the other types of programme, housing solutions and community
centres seem to be the most successful at achieving their objectives and
generating positive public impact. While not uniquely targeted at people in the
transition phase, these physical spaces have proved to be effective measures
connecting people in later life with each other, their community, and other
generations. (pg. 26)
A partir das 15 iniciativas
meritórias consideradas, no estudo que está a ser referido, apuraram-se algumas conclusões:
. Em termos de razões para a
mudança nas soluções residenciais para idosos apontam-se quatro aspetos:
incrementar a participação do mercado; desenvolver capacidades e conhecimentos;
construir redes e comunidades mais fortes; e promover o bem-estar físico e
emocional.
. E o estudo sublinha ao longo
destes quatro aspetos a importância que têm as entidades do 3.º sector, e ,
portanto ligadas aos setores cooperativo e solidário e, sempre, com o sentido
de um máximo de autonomização e de socialização voluntária no coração dos
respetivos processos.
Continua, aqui, a recomendar-se a
consulta do estudo intitulado Evaluation of Transitions in Later Life Pilot
Projects, desenvolvido pelo UK Branch da Fundação Calouste Gulbenkian
e pelo Centre for Ageing Better, em
2017/18 e seguidamente apontado em pormenor, abordando-se, agora, alguns
aspetos mais ligados a parte do corpo principal de conteúdo do estudo:[4]
This
report was commissioned by the Centre for Ageing Better. It was researched and
written by Professor Thomas Scharf and Dr Caroline Shaw from the Newcastle
University Institute for Ageing and the Institute of Health and Society, with
Sally-Marie Bamford, Dr Brian Beach and Dean Hochlaf from the International
Longevity Centre UK (ILC-UK).
Apenas a título de exemplos, embora
considerados muito significativos, de matérias constantes do estudo que está a ser
citado e consideradas determinantes de
um processo integrado no âmbito do PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos
específicos:
.
No que se refere ao designado “bem-estar subjetivo” há provas deintervenções bem
desenhadas e direcionadas para grupos de habitantes potencialmente
marginalizados que procuram amenizar diversas situações de saúde e que têm
consequências positivas em termos de bem-estar. (pg. 3); uma matéria que, evidentemente,
salienta a fulcral importância de excelentes soluções de arquitectura, bem
desenhadas e bem ligadas à ampla satisfação dos respetivos habitantes
(comentário nosso).
.
No que se refere à designada saúde física e mental dos idosos importa ter presente que
ela depende de fatores socioeconómicos, salientando-se que a esperança de vida
geral e com saúde é menor nos grupos menos favorecidos, que tendem a viver
menos, com menos saúde e com mais problemas funcionais. (pg. 4)
.
Considerando-se as relações de interação social, estas tendem a reduzir-se com o
envelhecimento, o que aumenta o risco da solidão, também acentuado por
problemas de saúde e pelo nível socioeconómico; em equipamentos residenciais a
fragilidade de saúde e de movimentação inibe o convívio. (pg. 5)
Em termos específicos do ambiente
residencial importa ter em conta que os problemas de saúde e designadamente
situações de depressão e de dificuldade na realização das atividades domésticas
correntes são aspetos que influenciam uma apreciação negativa da habitação e
sua vizinhança; e os problemas de visão acentuam estas apreciações negativas,
tal como se regista no estudo que está a ser referido:
There
has been growing interest, at national and local policy level, on the
importance of housing and communities, however housing still remains largely at
the periphery of health and social care policy. More research is needed into how our living
environment, and local community, can be designed to mitigate the impact of
inequalities and improve the quality of housing in later life. (pg.
98)
O estudo que está a ser citado também
sublinha a importância da mistura socioeconómica residencial como fator
associado a um menor risco de depressão (pg. 101): condição esta que,
indiretamente, favorece soluções residenciais intergeracionais com
significativas misturas tipológicas (ex., do T0/estúdio ao T2/3).
E, finalmente, nesta pequena coleção
de exemplos significativos constantes do estudo que está a ser referido,
foca-se a importância do que podemos designar de uma razoável vida urbana
marcando o conjunto residencial que acolhe idosos, sendo aconselhável que mesmo
pessoas com demências moderadas possam passear em espaços urbanos vivos e bem
distintos de ambientes marginalizados e “mortos”, estes, sim, habitualmente
geradores de stress e depressão.
Mas parece evidente que tais condições
de razoável vitalidade e mesmo alguma centralidade terão de ser bem
harmonizadas com aspetos de segurança física e regulamentar no tráfegos de
veículos e de acalmia ambiental e designadamente sonora, muito apurada,
designadamente, nos espaços residenciais dedicados ao repouso e ao sono.
3.
Notas sobre a gero-habitação
Recomenda-se, agora, a consulta de
muitos dos textos
editados no blog intitulado Gero-habitação com autorias de Isadora Campos e
Lorena Cristina, com o apoio de Alejandro Pérez-Duarte,
salientando-se, ainda, que este blog/site está relacionado com o trabalho
de Txatxo Sabater Andreu.[5]
Apenas a título de exemplos,
significativos, de matérias constantes desses textos, consideradas importantes no âmbito de uma natural e
gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos
específicos e diretamente citados do blog/site referido, intercalados por
alguns comentários: (negrito nosso)
As pessoas mais velhas têm um sentido sofisticado da ideia de lugar, e
mantêm um conhecimento corporal e ambiental objetivado que os permite detectar perfeitamente aqueles espaços de
apropriação mais atrativos.
E a propósito do conjunto De Drie
Hoven, de Herman Hertzberger:
No De Drie Hoven, o
traçado dos espaços dos corredores faz deles algo mais que um corredor. Em
vez de serem retilíneos, o espaço vai se ampliando e retraindo em sua largura.
Sua eficácia, como espaço de
apropriação, se observa na enorme quantidade de fotografias da época
que mostram como os habitantes deste conjunto colonizam estes
interstícios. Aparecem aqui floreiras, tapetes e quadros colocados
pelos próprios usuários; todos indicadores de uma intensa apropriação.Mas há
mais, pois se pode observar claramente, o que Beckley chamou de “âncora” – elementos que promovem a permanência em um lugar – e “ímãs” –
que geram atração. Se trata do surgimento de ambientes confortáveis
equipados com pequenas mesas de conversação, pares de cadeiras, ou mesas para
um almoço.
Na teoria dos espaços de apropriação, Beckley pontua que o aspecto social é muitas vezes uma âncora e o ambiental um imã,
ideia que poderia explicar o êxito destas configurações
utilizadas por Hertzberger.
Trata-se de matéria considerada de
grande importância numa natural
e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” (ambiente usado aqui de forma
genérica e englobante) específicos desejáveis no PHAI3C.
É interessante esclarecer que se está,
aqui, a referir a enorme intervenção residencial apoiada para idosos designada
por De Drie Hoven e concebida, em Amsterdão, em 1971, pelo grande Arquitecto e
teórico Herman Hertzberger, destinada a idosos boa parte deles com
condicionalismos variados e exigindo cuidados e especificamente atenção; o o
bjetivo foi proporcionar a cada habitante um máximo de interação social num
quadro físico que simula uma grande aldeia densificada (multifamiliar).
O conjunto/complexo, que se considera
ter, ainda hoje, grande interesse em termos gerais e de pormenorização, integra
55 fogos independentes para casais, estúdios e pequenos apartamentos
individuais para 190 residentes e uma residência assistida (“nursing home”)
com 250 camas; num total de 550 residentes mais o pessoal de apoio e dos
equipamentos e serviços diversos integrados.
Considerando-se o objetivo de um
máximo relacionamento entre os residentes, de modo a que fosse possível um
mínimo de mudanças internas devido a eventuais alterações do respetivo estado
de saúde, o conjunto foi concebido com forte continuidade construída e amplos e
diversificados espaços comuns, parte deles ritmados por acessos a habitações
bem marcados e apropriáveis; e a propósito desta estratégia de apropriação e
mesmo de “domesticação” de um tão grande complexo residencial, citam-se alguns
aspetos editados no blog/site de Isadora Campos e Lorena Cristina atrás referido:
Podem apontar-se outras estratégias, como a abertura de
janelas, algumas vezes sobre o espaço de kitchnet para manter o contato visual
com o exterior, um apoio para procurar as chaves, bem iluminado. Mas,
entre estes, são dignos de atenção o uso de portas holandesas, importantes
para, em palavras do próprio Hertzberger, “manter
o espaço suficientemente fechado para que, aqueles que vierem do exterior, não
se sintam explicitamente convidados a entrar, mas esta porta aparenta estar o
suficientemente aberta para que possam estabelecer uma conversação quando
alguém passa frente a ela.
Numa verdadeira antítese ao referido
enorme complexo residencial do De Drie Hoven, onde, provavelmente, conviveriam
diariamente cerca de 1000 pessoas entre residentes e trabalhadores locais,
temos o conceito do “habitat canguru”, que não é mais do que a velha e sempre
boa ideia de uma habitação que se pode organizar em dois espaços autónomos,
sendo um deles de pequena dimensão e adequado a variadas utilizações, desde a habitação
do filho mais velho ou dos pais, até o espaço para uma prática profissional,
tal como seregista no blog/site atrás referido:
A partir das expressões hábitat kangourou (Bélgica),
casa dela nonna (Italia) y granny flat (Australia) é revestido por uma prática
social recorrente, orientada a resolver estruturas especiais adaptadas para a
terceira idade, que pode ser enquadradas dentro da noção de habitação satélite.
Em termos de organização construtiva, consiste de
duas unidades separadas, sendo uma destas semiautônoma, dependente parcialmente
da outra. Na habitação satélite existe uma hierarquia: há uma
entidade principal, com todos os serviços e equipamentos completos, a qual
apoia e ampara a entidade secundária, de menor tamanho. Serviços como lavador de
roupas, limpeza, cozinha completa, ou tudo que implique manutenção e higiene,
são alojados na entidade principal.
A solidão, entendida está como parte inevitável no
processo de envelhecimento, é mitigada na habitação satélite; o
ancião se sente amparado, podendo contar com uma ajuda informal, a mão, que
pode auxiliar em caso de uma emergência. Se trata de uma fórmula alternativa
que preserva valores importantes, próprios da terceira idade, podendo
envelhecer no lugar, sem necessidade de se mudar, e com companhia.
Entre estas duas hipóteses
relativamente extremas, uma delas marcada sempre por uma tendencial e negativa
concentração de idosos, que pode sempre resvalar para um verdadeiro gueto de
idosose uma outra que corresponde a um apoio natural à (con)vivência de uma
família alargada, esta última ressalta evidentemente como mais desejável; sendo
a primeira hipótese sempre obrigatoriamente dirigida para uma comunidade
intergeracional, para uma intensa mistura funcional, para uma estimulante
centralidade urbana e, mesmo assim, para uma adequada limitação do respetivo
número de residentes e para uma estratégica gestão participada.
4.
Domesticidade e saúde nos cuidados e residências para idosos
Aqui chegados, e depois de um
contraponto entre uma solução residencial massiva e concentrada para idosos
fragilizados e uma solução disseminada e muito adaptável, avançamos, agora,
para a recomendação de um estudo de diversos autores, em seguida registado,
intitulado Trajectories
of At-Homeness and Health in Usual Care and Small House Nursing Homes, [6] onde se aponta como muito desejável o
objetivo de uma expressiva domesticidade na escala e na pormenorização formal e
funcional das soluções residenciais para idosos.
Podemos salientar ser esta matéria de
uma expressiva domesticidade, bem conjugada com uma essencial capacidade de
apropriação e identificação espacial/ambiental, matéria já bastante tratada e
investigada no que se refere a ambientes ligados ao envelhecimento e aos apoios
de saúde e bem-estar, mas julga-se que, frequentemente, aplicada de uma forma
pouco adequada, porque “funcionalizada” ou estereotipada, aplicando-se, por
exemplo, gravuras/quadros de paisagens naturais, sofás com encostos de orelhas,
iluminação baixa, janelas sobre a natureza e cortinas espessas, como quem
“povoa” um dado espaço com elementos deste “tipo doméstico”, mas sem se cuidar
da qualidade arquitetónica dos mesmos e de uma sua estimulante conjugação em
termos de arquitetura de interiores e até de uma simples previsão de adequados
ângulos de vista sobre a natureza exterior, a partir das frequentes posições
sentadas e deitadas; e um pouco do mesmo se pode dizer do que deveria ser uma
bem escolhida e bem integrada aplicação de mobiliário familiar e outros
elementos de apropriação.
Esta matéria do aprofundamento do
ambiente/sentido doméstico (confortável, envolvente, protector, atraente, etc.)
nos espaços residenciais especialmente concebidos para serem “amigos” de
pessoas fragilizadas, é tão complexa, como sensível e mutante (no que se refere
a diversos desejos, hábitos e necessidades de vida diária), e implica, por
isso, sempre bons conselhos profissionais em termos de arquitetura de
interiores, evidentemente aplicados sobre uma boa arquitetura “de base”; pois
afinal o objetivo geral é concretizar, habitualmente em espaços relativamente
reduzidos, ou globalmente condicionados se quisermos trabalhar para um máximo
número de habitantes, um excelente e apropriado ambiente doméstico, “jogando”
positivamente com os gostos de cada um, e mesmo aproveitando, frequentemente,
para proporcionar condições de conforto e envolvência globais que antes tinham
sido pouco vividas nas respetivas habitações familiares – condição esta que se
julga ter muito interesse e aplicabilidade no âmbito da habitação de interesse
social.
Evidentemente que não se está a pensar
em concretizar projetos específicos para cada caso, mas sim jogar,
positivamente, com condições básicas arquitetónicas bem desenvolvidas e marcadas
por uma muito afirmada capacidade de adaptabilidade a variados modos, desejos,
hábitos e necessidades de vida diária e por uma adequada oferta de “opções
tipo” de arquitectura de interiores bem cuidadas e diversificadas; sendo que
mesmo assim poderá/deverá haver sempre lugar a um serviço de aconselhamento
específico.
Apenas a título de exemplos,
significativos, de matérias constantes neste estudo, intitulado Trajectories of At-Homeness and
Health in Usual Care and Small House Nursing Homes , que foi acima referido, sobre o aprofundamento de um sentido
agradavelmente “doméstico”, consideradas importantes no âmbito de uma natural e
gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos
específicos, seguidos por alguns comentários: (negrito nosso)
The … attempts to restore home
using a multifaceted approach that includes architecture that reflects a
family home (living
room, dining room, den, kitchen and private room, and bath for each resident);
operations and staffing structures that incorporate core values of home
(maximization of holistic wellness, resident autonomy, choice, dignified
treatment, function, and self-care); and maintaining individual and
sociocultural continuity (Rabig, 2009).
Even
the most “homey” looking accessible building can feel like an institution, a
prison, or at best, a hotel.
Older
adults who moved from ucNHs to a Green House reported better quality of life in
multiple domains
(privacy, autonomy, dignity, food enjoyment, meaningful activity, and relationships)
than a matched cohort who remained in usual care homes. Green House dwellers
also had higher levels of residential satisfaction and emotional well-being,
lower levels of depression, and less functional (activity of daily living
[ADL]) decline than ucNH dwellers.
Aborda-se, aqui, por um lado, o
objetivo de expressiva “domesticação” dos espaços, ambientes e mesmo processos
de soluções residenciais especialmente adequadas para idosos, numa perspetiva
que até os ambientes especificamente hospitalares já acolheram, e que marca
desde há bastante tempo as melhores intervenções residenciais para seniores,
mas também e especificamente a tipologia/solução residencial para idosos e
fragilizados especificamente designada por “Green House” (conceito este que se
julga estar mesmo registado como “marca”), que será devidamente apresentado
mais à frente neste estudo, mas que, basicamente, tende a recriar, para um
conjunto bastante limitado de residentes, o espaço/ambiente e mesmo o
funcionamento de um grande unifamilitar, com os seus pólos de atenção como é o
caso, por exemplo, da cozinha e do espaço de lareira.
E em tudo isto e pensando no caso
português há sempre que cuidar de uma possível e negativa aproximação a
“moradias” mal adaptadas a residências de idosos, onde estes acabam por
vegetar, por vezes, em péssimas condições; havendo, portanto, que ter muito
cuidado nestas reflexões e propostas.
5.
Habitação para todos: inovação na conceção habitacional
Avançamos, agora, para a recomendação
de um estudo coordenado por Virginie
Thomas e Christophe Perrocheau, realizado no âmbito do exemplar e incontornável
Plan Urbanisme Construction Architecture (PUCA) do governo francês e especificamente no programa de investigação
intitulado Logement Design pour tous. Vers une conception renouvelee des
logements; um título
muito significativo pois, como se entende, associa a urgente renovada conceção
global dos espaços residenciais à já defendida ideia de uma habitação feita
para todos os seus habitantes e, portanto, amiga daqueles mais fragilizados. [7]
Apenas a título de exemplos,
significativos, de matérias constantes neste programa de investigação,
consideradas importantes no
âmbito de uma natural e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais”
específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos específicos, associados
a alguns comentários: (negrito nosso)
Les notions d'adaptabilité
et de diversité deviennent centrales dans la recherche de conceptions
innovantes afin de tenir compte de la diversité des profils culturels, des
mobilités, des durées d'études et des nouveaux besoins (prévoir des conditions de
gestion permettant un turn-over important, un habitat pouvant accueillir des
publics diversifiés allant du jeune cherchant un habitat temporaire le moins
contraignant possible à l’étudiant expatrié en formation longue demandeur d’un
habitat facilitant son intégration dans l’environnement social et urbain). (pg.
13 e 14)
Embora esta reflexão seja direcionada
para o habitar dos jovens adultos, matéria esta também fundamental quando se
desenvolvem espaços e ambientes intergeracionais, parece ficar evidente, por
um lado a natural aplicabilidade da “adaptabilidade” a outros grupos etários,
também marcados pela referida “diversidade de perfis culturais, mobilidades, …
estudos/formação e novas necessidades”, e por outro lado a enorme importância
da aplicação de soluções residenciais e habitacionais extremamente adaptáveis e
acolhedoras dessa diversidade.
No mesmo estudo aponta-se a
importância que tem o adequado desenvolvimento de um espaço habitacional de
qualidade “na interseção da conceção arquitetónica e da conceção técnica”,
identificando-se “soluções inovadoras que respondam positivamente às
necessidades futuras”; sublinhando, ainda, a ideia de uma “habitação otimizada”.
(pg. 15)
E certa forma estará aqui presente a
noção de que uma parte da adaptabilidade/adequação residencial a uma grande
diversidade de gostos e necessidades de diversos níveis etários, poderá ser em
parte garantida pela inovação construtiva e tecnológica, opção esta que se
julga terá, sempre, de ser acompanhada por aquilo que podemos designar de
adaptabilidade “passiva”, que decorre de um bom projeto arquitetónico
residencial, marcado, entre outros aspetos, por uma sensível diversidade,
neutralidade e multifuncionalidade espacial e ambiental.
E neste sentido lembra-se que foi, há
anos (2003), realizado e editado no LNEC um estudo específico sobre esta
importante matéria: intitulado “Habitação evolutiva e adaptável”, na Coleção
ITA n.º 9, com autorias de António Baptista Coelho e António Reis Cabrita.
6.
Aprofundar, cuidadosamente, as relações entre habitação e envelhecimento
Ainda no âmbito da atividade do Plan
Urbanisme Construction Architecture (PUCA) do governo francês, recomendamos,
agora, um estudo coordenado por Phuong Mai Huynh e intitulado Programme internationnal de
recherche Vieillissement de la population et habitat. Annuaire des Recherches. [8]
Apenas a título de exemplos,
significativos, de matérias constantes neste estudo, consideradas importantes no âmbito de uma natural e
gradual aproximação aos conteúdos específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos,
associados a alguns comentários: (negrito e sublinhado nossos)
Lancé en 2006 et 2007 ce
programme comprend au total 18 recherches sur 4 axes : les comportements
résidentiels des retraités, les comportements patrimoniaux des ménages âgés et
de leur famille, l’habitat des retraités modestes et pauvres, l’habitat des
personnes vieillissantes : nouvelles formes d’action publiques . (pg.
8)
Consideram-se estas quatro temáticas
com grande interesse, mas sublinhando-se a relativa novidade e a importância de
se terem em conta, especificamente, as questões ligadas à habitação dos
reformados modestos e pobres – que nunca poderão pagar as já habituais (em
Portugal) mensalidades acima de 1500 euros em instalações correntes – , e a
questão sensível e ainda pouco considerada, de forma específica, da relação
entre as condições habitacionais (incluindo habitação, edifício multifamiliar e
vizinhança) e o próprio e gradual processo de envelhecimento (“as pessoas que
envelhecem”), tanto numa perspetiva de apoio às novas necessidades e objetivos
de vida, como mesmo de ajuda a auma sensível redução/atenuação desse processo
de envelhecimento e salientando-se o papel que pode e deve ter a iniciativa
pública nessa equação – e eu juntaria aqui os papéis que podem ter os diversos
sectores económicos nessa equação: o público; o cooperativo e social; e o
privado.
Ainda outro aspeto, bem importante, a
sublinhar no referido estudo é a sua própria natureza de investigação prática
sobre como diversos grupos socioeconómicos e culturais se comportam, mais
frequentemente, quando envelhecem e, portanto, quais serão os respetivos perfis
de apoios mais oportunos e adequados.
E depois o referido estudo coloca o
que se julga ser uma questão chave em todaesta problemática da habitação dos
mais fragilizados, e, já agora, lembrando-se a “enormidade” da escala do
problema que temos entre mãos e que será avolumar, criticamente, em poucos
anos:
Comment concilier les besoins en
matière d’habitat des personnes âgées avec ceux des autres habitants ? (pg.
8)
Fica então a questão de como
conciliar, em Portugal, as críticas necessidades residenciais dos idosos com as
também críticas necessidades habitacionais globais. Uma questão que é
considerada muito pertinente e urgente, até tendo-se em conta que, tal como se
refere no estudo que está a ser referido, os aposentados têm um papel crescente
no mercado habitacional; e sendo que existe a referida crítica necessidade de
diversas soluções relativamente a um grande leque de condições socioeconómicas
– pois não são só os idosos muito carenciados que não podem pagar mensalidades
acima de 1500 euros –, parece evidente que tais soluções terão de integrar a
estratégia oficial de apoio à habitação de “interesse social ou económica”, nas
diversas perspetivas, já avançadas, que vão desde o apoio à manutenção dos
idosos nas suas “casas de família”, até à promoção de unidades com múltiplos
apoios pessoais e de saúde, mas passando por uma importante “fatia” de promoção
habitacional nova e reabilitada, desenvolvida de modo muito adequado aos mais
fragilizados e integrando vários tipos de soluções residenciais
intergeracionais.
Outros aspetos são evidenciados no
estudo que está a ser salientado e designadamente uma interessante abordagem, coordenada
por Alain Thalineau e Laurent Nowik, do Citeres/Université de Tours, onde se
investigam as designadas mobilidades residenciais e a permanência domiciliar
das pessoas idosas entre 75 e 85 anos, numa perspetiva que salienta a ideia do
“mudar de casa para ficar mais perto de …”, um conceito que pode ser
estratégico na dinamização da mudança de habitação dos idosos, e que é
articulado com uma interessante tipificação destes idosos nas categorias de
“despreocupados” e os “previdentes”:
… Ceux qui déménagent le plus
tôt se classent parmi les insouciants, hédonistes, autonomes, allant vers le
soleil ou les régions les plus agréables sans trop anticiper leur vieillesse et
réfléchir à la fonctionnalité des lieux. Cette catégorie concerne
prioritairement des couples à l’aise financièrement, sans attaches locales
fortes et assurés de trouver dans leur nouvelle vie des relations de voisinage
valorisantes et des activités plaisantes.
Ceux qui déménagent en milieu de
retraite sont des personnes plus conscientes d’un avenir moins facile, en quête
de services et soucieuses des qualités ergonomiques du logement dans lequel
elles vont s’installer. (pg. 14)
Sendo que, tal como se aponta no
estudo, a mudança de residência é motivada, essencialmente, pela aproximação
familiar e para locais e situações considerados especialmente seguros.
Mantendo-nos nesta importante matéria
da escolha de uma nova residência quando entramos na aposentação, o estudo, que
está a ser citado, refere uma investigação de Jim Ogg, da The Young Foundation,
Sylvie Renaut, do CNAV e Jesus Leal da Universidad de Madrid, dirigida para o
apuramento das escolhas residenciais dos aposentados europeus (com exemplos
franceses, ingleses e espanhóis), e onde se identificam cinco importantes
objetivos habitacionais para uma população que envelhece:
… promouvoir l’information pour
faciliter la diversité et le choix ; s’assurer que l’information et les
conseils soient accessibles à tous ; aider les départements et les fournisseurs
de services à adapter leurs prestations aux demandes spécifiques des personnes
âgées ; s’assurer que les logements soient chauffés et sécurisés ; décloisonner
les politiques en facilitant le partenariat entre les services de logement, de
santé et sociaux. (pg. 22)
O estudo, que está a ser referido
passa, depois, para uma fronteira que podemos designar como oposta àqueles com
capacidade diversificada de mudança residencial, muito qualificada, quando
chegados à reforma, e referida, então, àqueles reformados com pouca capacidade
económica e frequentemente também com pouca informação, e que tendem,
frequentemente, a permanecer nas suas habitações, que, também frequentemente,
não serão de grande qualidade; salientando-se, nesta problemática, uma
investigação de Hervé Leservoisier, do Groupe Logement Français e de Régis
Herbin e Pierre Lucot do CRIDEV, em que se avança no conhecimento de um exemplo
de apoio à manutenção domiciliar, mas num quadro qualitativo cuidadoso e melhorado, de aposentados que
habitam em conjuntos de habitação de interesse social.
Nesta problemática, no estudo que está
a ser referido, é avançada a aplicação nessas habitações de intervenções de
melhoria enquadradas pelo conceito de “Elevada qualidade funcional” (tradução
nossa a partir de Haute Qualité d’Usage), que se considera capaz de reduzir/pausar
a perda de autonomia dos idosos, designadamente, nas suas habitações e
vizinhanças e que se considera deverá integrar ações espácio-funcionais e
sociais:
Comment lier ce qui est
contraint par les caractéristiques spatiales et ce qui résulte de
l’accompagnement social et médical ? Pour les chercheurs, il est possible de
définir un niveau de qualité d’usage commun pour la majorité des personnes
vieillissantes et oeuvrer pour que les aménagements réalisés dans les logements
soient, dorénavant, pensés à partir des usages. (pg.
48)
Salienta-se nesta perspetiva que as
modificações previstas neste tipo de intervenções de apoio à manutenção
domiciliar dos idosos se aplicam nas habitações nas quais não está prevista uma
renovação significativa. (pg. 49)
E em toda esta matéria e valendo-nos,
ainda, do estudo coordenado por Phuong Mai Huynh , que tem estado a ser
referido, podemos considerar que é de vital importância termos em conta patamares de semiautonomia e de dependência;
matérias estas profundamente sensíveis e que têm bases científicas específicas:
(negrito nosso)
Ces concepts ont été confrontés
par les auteurs, à ceux de la grille AGGIR qui estime la dépendance de la
personne âgée de plus de 60 ans sur six niveaux (dépendance totale ; grande dépendance ; dépendance
corporelle ; dépendance corporelle partielle ; dépendance légère et pas de
dépendance notable). (pg.
49)
E finalmente e a partir do importante
estudo intitulado L’habitat
et la gérontologie, deux cultures en voie de rapprochement ?, de Dominique
Argoud, da Université Paris12,
aponta-se um possível leque tipológico para as diversas formas de habitat para
pessoas idosas que têm surgido nos últimos trinta anos: “o habitat adaptado, o
habitat com serviços, o habitat intergeracional, o habitat partilhado e o
habitat autogerido”. (pg. 56)
Dá, a propósito, vontade de sublinhar
que não haja qualquer dúvida de que é urgente aproximar as matérias do habitat
humano e as da gerontologia, em novelos de objetivos marcados por uma
Arquitectura caraterizada, equillibradamente, pelo bom desenho e pela grande
adequação aos habitantes e à cidade.
(final da parte I do artigo, na próxima semana será editada a parte II)
[1] Tal como se tem apontado, mas nunca será excessivo repetir, ainda que em nota de rodapé, o referido amplo desenvolvimento desta fase de enquadramento do PHAI3C, justifica-se devido, quer à complexidade e sensibilidade do tema e estudo, quer à caraterização do responsável por este estudo como um não especialista nestas matérias, embora com bastante trabalho no campo global do habitat humano e especificamente do habitar de interesse social.
[2] Paz Martín Rodríguez (investigadora, comisaria /diseño expositivo) - envejezANDO (e elementos complementares . https://issuu.com/envejezando https://www.envejezando.com/ - este estudo disponibiliza 5 publicações com introduções e casos de referência muito importantes no ISSU.
[3] Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing
Better - Evaluation of
Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. » The Centre for Public Impact is a not-for-profit foundation, founded by The Boston Consulting Group, dedicated to improving the positive impact of governments.(UK e USA)
[4] Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing
Better - Evaluation of
Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »
[5]
Isadora Campos, Lorena Cristina, com o
apoio de Alejandro Pérez-Duarte F.- Gero-habitação .
Universidade Fumec (Belo Horizonte, Brasil), Belo Horizonte, 2017 - https://gerohabitacao.wixsite.com/blog/sobre-1
[6] Sheila L. Molony, Lois K. Evans, Sangchoon Jeon, Judith Rabig, Leslie A. Straka - Trajectories of At-Homeness and Health in Usual Care and Small House Nursing Homes. The Gerontologist Vol. 51, No. 4, 504–515 doi:10.1093/geront/gnr022
[7] Virginie THOMAS
/ virginie-d.thomas@developpement-durable.gouv.fr; Christophe PERROCHEAU / christophe.perrocheau@i-carre.net - Lancement du programme Logement Design pour tous.
Vers une conception renouvelee des logements . Atelier « Modes de vie et logements des jeunes », PUCA,
2009. Site Internet PUCA : http://rp.urbanisme.equipement.gouv.fr/puca/
[8] Phuong Mai
Huynh (coord. do programa) - Programme
internationnal de de recherche Vieillissement la population et habitat -
Annuaire des recherches. Paris. Plan
urbanisme construction architecture PUCA, 2010. - mai.huynh@
developpement-durable.gouv.fr
Notas
editoriais gerais:
(i) Embora a edição dos artigos
editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no
sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo
nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários
apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores
desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos
mesmos autores.
(ii) No mesmo sentido, de natural
responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos
de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos,
gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos
autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias
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(iii) Para se tentar assegurar o
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Etiquetas/palavras
chave: habitação, habitação
intergeracional, habitação para idosos, intergeracionalidade, espaços
residenciais, PHAI3C, Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional
Cooperativa a Custos Controlados
Estudos e temas a
salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de
trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847
Artigo XXV da série
editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de
Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo
Controlado”
Infohabitar, Ano XIX,
n.º 847
Edição: quarta-feira,
8 de fevereiro de 2023
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho, Investigador
Principal do LNEC
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