quarta-feira, fevereiro 08, 2023

Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847

Ligação direta (clicar no link seguinte ou copiar para site de busca) para aceder à listagem interativa de 840 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true


Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847

Artigo XXV da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado

Infohabitar, Ano XIX, n.º 847

Edição: quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

 

Caros leitores da Infohabitar,

Com o presente artigo continuamos a edição de mais uma sequência de artigos relativos ao Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado (PHAI3C), prevendo-se que durante 2023 consigamos chegar ao remate desta fase do estudo em que se pretende disponibilizar ua base de trabalho e bibliográfica extensa sobre os amplos aspetos de enquadramento associados às necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e fragilizadas, mas sempre desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente urbanos e dinamizados e convivializados por cooperativas de “habitação económica”.

Tal como tem sido divulgado este estudo, o PHAI3C, integra a Estratégia de Investigação e Inovação (E2I) 2013-2020” do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC); e importa salientar que as referidas cooperativas portuguesas de “habitação económica”, associadas na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE), apoiaram este estudo desde o seu início, na continuidade do seu importante papel, desempenhado desde o 25 de Abril, na promoção de habitação de interesse social, aliando a quantidade de habitações disponibilizadas a uma sua expressiva qualidade

Lembra-se que a edição destes artigos de conteúdo sobre o PHAI3C passou a uma estimada periodicidade quinzenal, pois a respetiva elaboração assim o obriga; alternando com estes artigos a Infohabitar irá procurar editar informações úteis sobre iniciativas, entidades e estudos dedicados às temáticas do habitat humano.

Recorda-se, como sempre, que serão sempre muito bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).

Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de força e de boa saúde para todos os caros leitores,     

Lisboa, em 8 de fevereiro de 2023

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar

 

Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847

António Baptista Coelho  – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.

Nota: o conteúdo específico do artigo desenvolve-se após um conjunto de notas introdutórias e de apresentação ao estudo global intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C)

 

Resumo

Depois de um conjunto de notas introdutórias e de apresentação ao estudo global intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C), abordam-se, no presente artigo, e a propósito de um conjunto de estudos devidamente referenciados em notas bibliográficas, os seguintes subtemas:

(i) O envelhecimento e o habitat humano: reflexões e casos de referência (2018)

(ii) As mudanças no âmbito do envelhecimento humano

(iii) Notas sobre a gero-habitação

(iv) Domesticidade e saúde nos cuidados e residências para idosos

(v) Habitação para todos: inovação na conceção habitacional

(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as relações entre habitação e envelhecimento

(vii) O envelhecimento humano e o habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização

(viii) Facilitar o quotidiano – conceito de grande importância funcional e integradora 

(ix) Reabilitação/remodelação residencial e design universal

(x) Reabilitação/remodelação residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos

Tendo-se em conta a dimensão do artigo ele foi subdividido em duas partes cujos conteúdos são evidenciados a negrito na lista anterior.

 

Notas prévias  ao Programa de Habitação Intergeracional Adaptável desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C)

A quase totalidade dos artigos já editados na Infohabitar, relativos ao Programa de Habitação Adaptável Intergeracional desenvolvido num quadro Cooperativo e a Custos Controlados (PHAI3C), abordam a caraterização ampla da sensível temática associada ao PHAI3C, naturalmente, numa fase de trabalho e essencialmente marcada pela busca documental e respetivo e sistemático comentário, em seis grandes temas e capítulos, que integram o que designámos de Parte I do estudo e que, a seguir se apontam.

Parte 1 do estudo – aspetos gerais de enquadramento e base bibliográfica (título provisório):

. Aspetos de enquadramento do PHAI3C

. Qualidade de vida e qualidade residencial dos idosos

. Habitat, bem-estar e saúde

. Qualidades residenciais mais específicas para idosos

. Necessidades e satisfação residencial dos mais fragilizados

. Habitat, velhice, solidão e convívio, demência e final de vida

Aponta-se, em seguida, o que prevemos possa constituir a sequência imediata do estudo, atualmente já em boa parte desenvolvido em termos de pesquisas bibliográficas, que será estruturado em dois grande blocos temáticos, relativos às duas últimas partes do estudo do PHAI3C; salienta-se que os últimos três artigos da listagem interativa (de 18 artigos) aqui apresentada já integram a Parte 2 do estudo.  

Parte 2 do estudo (títulos provisórios):

. Idosos, cidade e sociedade

. Os idosos e a vizinhança residencial

. Os idosos e os variados modos de habitar

. Os idosos e a opção entre mudança ou permanência na habitação

. Tipologias habitacionais adequadas a seniores

. Intergeracionalidade residencial e usos mistos

. Aspetos gerais de pormenorizção na habitação para idosos

. Aspetos específicos na conceção residencial para idosos

Parte 3 e final do estudo (títulos provisórios):

. Casos de referência ibéricos e sul-americanos correntes

. Casos de referência ibéricos e sul-americanos intergeracionais

.  Casos de referência internacionais correntes

.  Casos de referência internacionais intergeracionais

.  Casos de referência internacionais específicos para demências

.  Casos de referência internacionais no quadro do envelhecimento doméstico

Como último comentário prático e editorial ao desenvolvimento do estudo e lembrando que as referidas Partes 2 e 3 do mesmo se encontram já estabilizadas numa sua “forma/versão” provisória, “esquemática” e muito carregada de elementos de apoio bibliográficos, prevê-se que, tendo em conta o que se julga ter sido um extenso desenvolvimento da Parte 1 - sempre muito “de trabalho”, de enquadramento global, de estruturação da matéria e de estabilização e apresentação  de uma sua ampla base bibliográfica - as referidas Partes 2 e 3 serão, sequencialmente, um pouco mais “aligeiradas” em termos da respetiva extensão e correspondentes notas que constituem a designada “base bibliográfica” e, naturalmente, mais propositivas em termos de recomendações para a concretização de conjuntos residenciais intergeracionais, participados e integradores.

 

Notas introdutórias ao presente conjunto de artigos sobre habitação intergeracional

O presente conjunto de artigos inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores neles amplamente citados.

Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente conjunto de artigos, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm numa sociedade ativa e integrada.

Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão dos artigos agora listados reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e quase todas incluídas na língua original.

Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria tão sensível e complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.


Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento (partes I e II) – versão de trabalho e base bibliográfica # 847 Infohabitar e # 848 Infohabitar

Índice geral 

Breve introdução,

1. O envelhecimento e o habitat humano: reflexões e casos de referência,

2. As mudanças no âmbito do envelhecimento humano,

3.  Notas sobre a gero-habitação,

4. Domesticidade e saúde nos cuidados e residências para idosos,

5. Habitação para todos: inovação na conceção habitacional,

6. Aprofundar, cuidadosamente, as relações entre habitação e envelhecimento,

7. O envelhecimento humano e o habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização,

8. Facilitar o quotidiano – conceito de grande importância funcional e integradora

9. Reabilitação/remodelação residencial e design universal,

10. Reabilitação/remodelação residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos,

Bibliografia (referências práticas),

Notas bibliográficas,

 

Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento (partes I e II) – versão de trabalho e base bibliográfica # 847 Infohabitar e # 848 Infohabitar

Nota específica relativa às citações: tal como foi acima sublinhado nas “Notas introdutórias”, e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho do presente estudo, ele inclui numerosas citações, todas salientadas em texto a itálico, reentrante e em tipo de letra “Arial Narrow”, algumas delas longas e quase todas apresentadas na respetiva língua original; em termos formais e tendo-se em conta essa grande frequência de citações, optou-se, por regra, pela respetiva indicação da fonte documental, respetivo título e autoria, no corpo de texto e em nota de pé de página ou de final de artigo (conforme a edição), seguindo-se a(s) respetiva(s) citação(ões) com a indicação, posterior, do(s) respetivo(s) número(s) de página(s) entre parêntesis – ex: (pg. 26) –, e, em alguns casos, mas não por regra, repetindo-se a indicação específica ao documento que “está a ser referido” e/ou à sua respetiva autoria.

 

Specific note regarding citations: as highlighted above in the “Introductory Notes”, and taking into account the preliminary and working phase of the present study, it includes numerous citations, all highlighted in italicized text, reentrant and in font type. letter “Arial Narrow”, some of them long and almost all presented in their original language; in formal terms and taking into account this high frequency of citations, we opted, as a rule, for the respective indication of the documentary source, respective title and authorship, in the body of the text and in a footnote or at the end of the article (according to the edition), followed by the respective citation(s) with the subsequent indication of the respective page number(s) in parentheses – ex: ( page 26) – and, in some cases, but not as a rule, repeating the specific indication of the document that “is being referred to” and/or its respective authorship.

Breve introdução

A propósito de um conjunto de estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento, no presente capítulo/artigo e rematando-se, de certa forma, uma primeira fase, de enquadramento e especialmente desenvolvida [1], do estudo referido ao desenvolvimento de um “documento-base” – ou, melhor, de um “documento de trabalho” – no quadro do presente Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C), essencialmente, de enquadramento e discussão mínima/possível desta matéria, abordam-se uma sequência de 10 temas e de estudos específicos, devidamente referidos caso a caso e em notas bibliográficas, que se salientam no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento.

De certa forma com esta sequência de referências, muito comentadas, a este conjunto de estudos e respetivos autores tenta-se fazer alguma justiça à sua respetiva e essencial importância para a fundamentação do PHAI3C.

Naturalmente procurou-se em cada tema abordado desenvolver uma reflexão ampla e desmultiplicadora de variadas ideias que possam ser úteis no desenvolvimento do referido PHAI3C, pois este capítulo/artigo antecede uma parte do estudo mais propositiva e ligada à construção da ideia de uma inovadora solução residencial intergeracional, participada e vitalizada.

São os seguintes os temas e estudos, depois, sequencialmente, abordados:

(i) O envelhecimento e o habitat humano: reflexões e casos de referência (2018)

(ii) As mudanças no âmbito do envelhecimento humano

(iii) Notas sobre a gero-habitação

(iv) Domesticidade e saúde nos cuidados e residências para idosos

(v) Habitação para todos: inovação na conceção habitacional

(vi) Aprofundar, cuidadosamente, as relações entre habitação e envelhecimento

(vii) O envelhecimento humano e o habitat, avançando-se numa essencial e muito sensível tipificação e pormenorização

(viii) Facilitar o quotidiano – conceito de grande importância funcional e integradora 

(ix) Reabilitação/remodelação residencial e design universal

(x) Reabilitação/remodelação residencial em habitações de interesse social arrendadas por idosos

Tendo-se em conta a dimensão do artigo ele foi subdividido em duas partes na sua edição na Infohabitar.

1. O envelhecimento e o habitat humano: reflexões e casos de referência

Recomenda-se a consulta do estudo intitulado EnvejezANDO, coordenado por Paz Martín Rodríguez, seja pelo seu grande interesse e extensão, em termos de uma abordagem residencial e urbana do envelhecimento, seja pela recente e inovadora perpetiva que o carateriza, seja pela sua natureza visualmente estimulante e conteúdo especificamente arquitetónico, seja pela sua metodologia que agrega investigação “clássica” e multidisciplinar com a realização de uma rica exposição itinerante, seja pela aliança marcante que apresenta entre aspetos mais teóricos do envelhecimento humano e muitos aspetos e exemplos práticos, integrando, aqui, uma preciosa apresentação comentada de diversas tipologias de respostas habitacionais ao envelhecimento e concretizadas em diversas regiões espanholas. [2]

Do estudo atrás referido, coordenado por Paz Martín Rodríguez e apenas a título de exemplos, que pretendem suscitar o merecido interesse pela respetiva consulta, mas que são, desde já, úteis ao desenvolvimento do presente estudo, apresentam-se, em seguida, alguns aspetos/temas selecionados:

En concreto, en el ámbito específico de vivienda se fija los siguientes objetivos: (negrito nosso)

Facilitar el mantenimiento/permanencia de las personas mayores en un entorno seguro, accesible, con servicios de proximidad adecuados.

Propiciar el acceso a una vivienda adecuada, accesible y segura a todas las personas mayores.

Impulsar una oferta de alternativas residenciales que se adapte a la heteregoneidad del colectivo de manera que las viviendas, su diseño y el modelo de servicios se adapte a la necesidad de ayuda.

Las personas que envejecen desean vivir de forma independiente, y permanecer en el propio hogar y en su entorno habitual el mayor tiempo posible, aún en caso de necesitar ayuda. De esta manera, la adecuación de la vivienda y el acceso a los servicios comunitarios y sociales de cuidado y apoyo son esenciales para responder a este deseo y permitir así envejecer de forma cómoda y segura en la comunidad y entorno social al que se pertenece. Pero, en ocasiones, las barreras y dificultades que presenta la casa, la aparición de situaciones de fragilidad o dependencia, o la necesidad de determinados cuidados hacen que estas personas se vean obligadas a abandonar su hogar.

La esperanza de vida sigue avanzando y el nº de personas mayores es cada vez mayor. El envejecimiento del envejecimiento se ha triplicado durante la última década …; los mayores de 80, que ya han superado la esperanza de vida media de su generación, son tres de cada diez personas mayores.

La edad no es hoy un elemento de homogeneización, no tenemos los mismos intereses ni nos encontramos en la misma situación por tener la misma edad. Debemos considerar esta diversidad y promover modalidades diferentes, siempre en entornos comunitarios y desde una planificación de servicios y atenciones ajustada a las necesidades y a la realidad de la zona.

Comienza a desarrollarse en nuestro entorno iniciativas promovidas desde el tejido social de viviendas colaborativas que promueven la convivencia y quieren evitar la soledad. ¿Que tipo de políticas hay que desarrollar para que estas iniciativas puedan llegar a buen término?.

En el centro y norte de Europa se desarrollan desde hace décadas políticas de viviendas para toda la vida, tanto independientes como en el marco de centros gerontológicos en la modalidad de unidades de convivencia. El modelo “vivienda”, ofrece una alternativa “doméstica” que preserva la intimidad de las personas cualquiera que sea su situación de dependencia.

¿Podemos promover alternativas de “vivienda para toda la vida” basadas en el diseño para todos o diseño universal, que afronten las situaciones de dependencia si esta aparece, y así la construcción se adapte mejor a las necesidades futuras?

2. As mudanças no âmbito do envelhecimento humano

Recomenda-se a consulta do estudo intitulado Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects, desenvolvido pelo UK Branch da Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Centre for Ageing Better em 2017/18 e seguidamente apontado em pormenor:

Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »

Do referido estudo e apenas a título de exemplos, que pretendem suscitar o merecido interesse pela respetiva consulta, mas que são, desde já, úteis ao desenvolvimento do presente estudo do PHAI3C, apresentam-se, em seguida, alguns aspetos/temas selecionados:

Em termos gerais, mas julgados com extremo interesse, designadamente, no “focar” de muitas das preocupações que estão presentes na formatação global (programática e de conceção arquitetónica e funcional/ambiental/espacial do PHAI3C e citado a partir de um folheto de divulgação sobre este estudo que está disponível na site da fundação teremos: [3]

We are encouraged to plan for our material needs in retirement but not for our psychological and emotional wellbeing. For some, later life can feel like a time of loss, of career, health and mobility, of home, friends and loved ones. While some cope well with these transitions, many struggle to adjust. Too often this leads to loneliness, ill health and depression. Some support is available to help older people deal with transitions but it tends to be patchy and is often only arranged in a crisis. There is a real need to shift from firefighting to prevention and from disjointed to holistic, person-centred approaches. (Transitions in later life, 24 junho 2018)

Entre outros aspetos decorrentes desta reflexão fiquemos, “apenas”, com a tentativa de servir arquitetonicamente as nossas diversas necessidades e variados desejos em termos de bem-estar físico, psicológico, social e emocional quando atravessamos a barreira da aposentação.

E os mais de 65 anos vão ser praticamente um terço da população da UE cerca de 2070, tal como se aponta no estudo atrás referido:

This transition can be accompanied by a sense of loss - of career, health and mobility, independence and identity, friends and loved ones. While some cope well with these transitions, many struggle to adjust. Too often, this leads to loneliness, ill health and depression.

This social isolation and loneliness among older people can greatly affect their physical and mental health. As policymakers often point out, these effects can translate into increased use of health and social care services. (pg. 24)

Um aspeto a sublinhar é que a intervenção em termos de soluções residenciais socialmente bem integradas parece ser, atualmente, o melhor caminho de atuação, no que se refere a uma resposta integrada aos desejos e necessidades dos habitantes seniores, até porque os idosos acabam, sempre, por passar muito tempo nos seus espaços residenciais e talvez porque uma tal resposta possa ser aquela configurável de modos/formas mais diversos e adequados, um aspeto que é salientado no estudo que está a ser referido:

In comparison with the other types of programme, housing solutions and community centres seem to be the most successful at achieving their objectives and generating positive public impact. While not uniquely targeted at people in the transition phase, these physical spaces have proved to be effective measures connecting people in later life with each other, their community, and other generations. (pg. 26)

A partir das 15 iniciativas meritórias consideradas, no estudo que está a ser referido, apuraram-se algumas conclusões:

.  Em termos de razões para a mudança nas soluções residenciais para idosos apontam-se quatro aspetos: incrementar a participação do mercado; desenvolver capacidades e conhecimentos; construir redes e comunidades mais fortes; e promover o bem-estar físico e emocional.

.  E o estudo sublinha ao longo destes quatro aspetos a importância que têm as entidades do 3.º sector, e , portanto ligadas aos setores cooperativo e solidário e, sempre, com o sentido de um máximo de autonomização e de socialização voluntária no coração dos respetivos processos.

Continua, aqui, a recomendar-se a consulta do estudo intitulado Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects, desenvolvido pelo UK Branch da Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Centre for Ageing Better,  em 2017/18 e seguidamente apontado em pormenor, abordando-se, agora, alguns aspetos mais ligados a parte do corpo principal de conteúdo do estudo:[4]

This report was commissioned by the Centre for Ageing Better. It was researched and written by Professor Thomas Scharf and Dr Caroline Shaw from the Newcastle University Institute for Ageing and the Institute of Health and Society, with Sally-Marie Bamford, Dr Brian Beach and Dean Hochlaf from the International Longevity Centre UK (ILC-UK).

Apenas a título de exemplos, embora considerados muito significativos, de matérias constantes do estudo que está a ser citado e consideradas determinantes de um processo integrado no âmbito do PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos específicos:

.  No que se refere ao designado “bem-estar subjetivo” há provas deintervenções bem desenhadas e direcionadas para grupos de habitantes potencialmente marginalizados que procuram amenizar diversas situações de saúde e que têm consequências positivas em termos de bem-estar. (pg. 3); uma matéria que, evidentemente, salienta a fulcral importância de excelentes soluções de arquitectura, bem desenhadas e bem ligadas à ampla satisfação dos respetivos habitantes (comentário nosso).

.  No que se refere à designada saúde física e mental dos idosos importa ter presente que ela depende de fatores socioeconómicos, salientando-se que a esperança de vida geral e com saúde é menor nos grupos menos favorecidos, que tendem a viver menos, com menos saúde e com mais problemas funcionais. (pg. 4)

.  Considerando-se as relações de interação social, estas tendem a reduzir-se com o envelhecimento, o que aumenta o risco da solidão, também acentuado por problemas de saúde e pelo nível socioeconómico; em equipamentos residenciais a fragilidade de saúde e de movimentação inibe o convívio. (pg. 5)

Em termos específicos do ambiente residencial importa ter em conta que os problemas de saúde e designadamente situações de depressão e de dificuldade na realização das atividades domésticas correntes são aspetos que influenciam uma apreciação negativa da habitação e sua vizinhança; e os problemas de visão acentuam estas apreciações negativas, tal como se regista no estudo que está a ser referido:

There has been growing interest, at national and local policy level, on the importance of housing and communities, however housing still remains largely at the periphery of health and social care policy. More research is needed into how our living environment, and local community, can be designed to mitigate the impact of inequalities and improve the quality of housing in later life. (pg. 98)

O estudo que está a ser citado também sublinha a importância da mistura socioeconómica residencial como fator associado a um menor risco de depressão (pg. 101): condição esta que, indiretamente, favorece soluções residenciais intergeracionais com significativas misturas tipológicas (ex., do T0/estúdio ao T2/3).

E, finalmente, nesta pequena coleção de exemplos significativos constantes do estudo que está a ser referido, foca-se a importância do que podemos designar de uma razoável vida urbana marcando o conjunto residencial que acolhe idosos, sendo aconselhável que mesmo pessoas com demências moderadas possam passear em espaços urbanos vivos e bem distintos de ambientes marginalizados e “mortos”, estes, sim, habitualmente geradores de stress e depressão.

Mas parece evidente que tais condições de razoável vitalidade e mesmo alguma centralidade terão de ser bem harmonizadas com aspetos de segurança física e regulamentar no tráfegos de veículos e de acalmia ambiental e designadamente sonora, muito apurada, designadamente, nos espaços residenciais dedicados ao repouso e ao sono.

3. Notas sobre a gero-habitação

Recomenda-se, agora, a consulta de muitos dos textos editados no blog intitulado Gero-habitação com autorias de Isadora Campos e Lorena Cristina, com o apoio de Alejandro Pérez-Duarte, salientando-se, ainda, que este blog/site está relacionado com o trabalho de Txatxo Sabater Andreu.[5]

Apenas a título de exemplos, significativos, de matérias constantes desses textos, consideradas importantes no âmbito de uma natural e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos específicos e diretamente citados do blog/site referido, intercalados por alguns comentários: (negrito nosso)

As pessoas mais velhas têm um sentido sofisticado da ideia de lugar, e mantêm um conhecimento corporal e ambiental objetivado que os permite detectar perfeitamente aqueles espaços de apropriação mais atrativos.

E a propósito do conjunto De Drie Hoven, de Herman Hertzberger:

No De Drie Hoven, o traçado dos espaços dos corredores faz deles algo mais que um corredor. Em vez de serem retilíneos, o espaço vai se ampliando e retraindo em sua largura.

Sua eficácia, como espaço de apropriação, se observa na enorme quantidade de fotografias da época que mostram como os habitantes deste conjunto colonizam estes interstícios. Aparecem aqui floreiras, tapetes e quadros colocados pelos próprios usuários; todos indicadores de uma intensa apropriação.Mas há mais, pois se pode observar claramente, o que Beckley chamou de “âncora” – elementos que promovem a permanência em um lugar – e “ímãs” – que geram atração. Se trata do surgimento de ambientes confortáveis equipados com pequenas mesas de conversação, pares de cadeiras, ou mesas para um almoço.

Na teoria dos espaços de apropriação, Beckley pontua que o aspecto social é muitas vezes uma âncora e o ambiental um imã, ideia que poderia explicar o êxito destas configurações utilizadas por Hertzberger.

Trata-se de matéria considerada de grande importância numa natural e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” (ambiente usado aqui de forma genérica e englobante) específicos desejáveis no PHAI3C.

É interessante esclarecer que se está, aqui, a referir a enorme intervenção residencial apoiada para idosos designada por De Drie Hoven e concebida, em Amsterdão, em 1971, pelo grande Arquitecto e teórico Herman Hertzberger, destinada a idosos boa parte deles com condicionalismos variados e exigindo cuidados e especificamente atenção; o o bjetivo foi proporcionar a cada habitante um máximo de interação social num quadro físico que simula uma grande aldeia densificada (multifamiliar).

O conjunto/complexo, que se considera ter, ainda hoje, grande interesse em termos gerais e de pormenorização, integra 55 fogos independentes para casais, estúdios e pequenos apartamentos individuais para 190 residentes e uma residência assistida (“nursing home”) com 250 camas; num total de 550 residentes mais o pessoal de apoio e dos equipamentos e serviços diversos integrados.

Considerando-se o objetivo de um máximo relacionamento entre os residentes, de modo a que fosse possível um mínimo de mudanças internas devido a eventuais alterações do respetivo estado de saúde, o conjunto foi concebido com forte continuidade construída e amplos e diversificados espaços comuns, parte deles ritmados por acessos a habitações bem marcados e apropriáveis; e a propósito desta estratégia de apropriação e mesmo de “domesticação” de um tão grande complexo residencial, citam-se alguns aspetos editados no blog/site de Isadora Campos e Lorena Cristina atrás referido: 

Podem apontar-se outras estratégias, como a abertura de janelas, algumas vezes sobre o espaço de kitchnet para manter o contato visual com o exterior, um apoio para procurar as chaves, bem iluminado. Mas, entre estes, são dignos de atenção o uso de portas holandesas, importantes para, em palavras do próprio Hertzberger, manter o espaço suficientemente fechado para que, aqueles que vierem do exterior, não se sintam explicitamente convidados a entrar, mas esta porta aparenta estar o suficientemente aberta para que possam estabelecer uma conversação quando alguém passa frente a ela.

Numa verdadeira antítese ao referido enorme complexo residencial do De Drie Hoven, onde, provavelmente, conviveriam diariamente cerca de 1000 pessoas entre residentes e trabalhadores locais, temos o conceito do “habitat canguru”, que não é mais do que a velha e sempre boa ideia de uma habitação que se pode organizar em dois espaços autónomos, sendo um deles de pequena dimensão e adequado a variadas utilizações, desde a habitação do filho mais velho ou dos pais, até o espaço para uma prática profissional, tal como seregista no blog/site atrás referido:

A partir das expressões hábitat kangourou (Bélgica), casa dela nonna (Italia) y granny flat (Australia) é revestido por uma prática social recorrente, orientada a resolver estruturas especiais adaptadas para a terceira idade, que pode ser enquadradas dentro da noção de habitação satélite.

Em termos de organização construtiva, consiste de duas unidades separadas, sendo uma destas semiautônoma, dependente parcialmente da outra. Na habitação satélite existe uma hierarquia: há uma entidade principal, com todos os serviços e equipamentos completos, a qual apoia e ampara a entidade secundária, de menor tamanho. Serviços como lavador de roupas, limpeza, cozinha completa, ou tudo que implique manutenção e higiene, são alojados na entidade principal.

A solidão, entendida está como parte inevitável no processo de envelhecimento, é mitigada na habitação satélite; o ancião se sente amparado, podendo contar com uma ajuda informal, a mão, que pode auxiliar em caso de uma emergência. Se trata de uma fórmula alternativa que preserva valores importantes, próprios da terceira idade, podendo envelhecer no lugar, sem necessidade de se mudar, e com companhia.

Entre estas duas hipóteses relativamente extremas, uma delas marcada sempre por uma tendencial e negativa concentração de idosos, que pode sempre resvalar para um verdadeiro gueto de idosose uma outra que corresponde a um apoio natural à (con)vivência de uma família alargada, esta última ressalta evidentemente como mais desejável; sendo a primeira hipótese sempre obrigatoriamente dirigida para uma comunidade intergeracional, para uma intensa mistura funcional, para uma estimulante centralidade urbana e, mesmo assim, para uma adequada limitação do respetivo número de residentes e para uma estratégica gestão participada.

4. Domesticidade e saúde nos cuidados e residências para idosos

Aqui chegados, e depois de um contraponto entre uma solução residencial massiva e concentrada para idosos fragilizados e uma solução disseminada e muito adaptável, avançamos, agora, para a recomendação de um estudo de diversos autores, em seguida registado, intitulado Trajectories of At-Homeness and Health in Usual Care and Small House Nursing Homes, [6] onde se aponta como muito desejável o objetivo de uma expressiva domesticidade na escala e na pormenorização formal e funcional das soluções residenciais para idosos.

Podemos salientar ser esta matéria de uma expressiva domesticidade, bem conjugada com uma essencial capacidade de apropriação e identificação espacial/ambiental, matéria já bastante tratada e investigada no que se refere a ambientes ligados ao envelhecimento e aos apoios de saúde e bem-estar, mas julga-se que, frequentemente, aplicada de uma forma pouco adequada, porque “funcionalizada” ou estereotipada, aplicando-se, por exemplo, gravuras/quadros de paisagens naturais, sofás com encostos de orelhas, iluminação baixa, janelas sobre a natureza e cortinas espessas, como quem “povoa” um dado espaço com elementos deste “tipo doméstico”, mas sem se cuidar da qualidade arquitetónica dos mesmos e de uma sua estimulante conjugação em termos de arquitetura de interiores e até de uma simples previsão de adequados ângulos de vista sobre a natureza exterior, a partir das frequentes posições sentadas e deitadas; e um pouco do mesmo se pode dizer do que deveria ser uma bem escolhida e bem integrada aplicação de mobiliário familiar e outros elementos de apropriação.

Esta matéria do aprofundamento do ambiente/sentido doméstico (confortável, envolvente, protector, atraente, etc.) nos espaços residenciais especialmente concebidos para serem “amigos” de pessoas fragilizadas, é tão complexa, como sensível e mutante (no que se refere a diversos desejos, hábitos e necessidades de vida diária), e implica, por isso, sempre bons conselhos profissionais em termos de arquitetura de interiores, evidentemente aplicados sobre uma boa arquitetura “de base”; pois afinal o objetivo geral é concretizar, habitualmente em espaços relativamente reduzidos, ou globalmente condicionados se quisermos trabalhar para um máximo número de habitantes, um excelente e apropriado ambiente doméstico, “jogando” positivamente com os gostos de cada um, e mesmo aproveitando, frequentemente, para proporcionar condições de conforto e envolvência globais que antes tinham sido pouco vividas nas respetivas habitações familiares – condição esta que se julga ter muito interesse e aplicabilidade no âmbito da habitação de interesse social.

Evidentemente que não se está a pensar em concretizar projetos específicos para cada caso, mas sim jogar, positivamente, com condições básicas arquitetónicas bem desenvolvidas e marcadas por uma muito afirmada capacidade de adaptabilidade a variados modos, desejos, hábitos e necessidades de vida diária e por uma adequada oferta de “opções tipo” de arquitectura de interiores bem cuidadas e diversificadas; sendo que mesmo assim poderá/deverá haver sempre lugar a um serviço de aconselhamento específico.

Apenas a título de exemplos, significativos, de matérias constantes neste estudo, intitulado Trajectories of At-Homeness and Health in Usual Care and Small House Nursing Homes , que foi acima referido,  sobre o aprofundamento de um sentido agradavelmente “doméstico”, consideradas importantes no âmbito de uma natural e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos específicos, seguidos por alguns comentários: (negrito nosso)

The … attempts to restore home using a mul­tifaceted approach that includes architecture that reflects a family home (living room, dining room, den, kitchen and private room, and bath for each resident); operations and staffing structures that incorporate core values of home (maximization of holistic wellness, resident autonomy, choice, digni­fied treatment, function, and self-care); and main­taining individual and sociocultural continuity (Rabig, 2009).

Even the most “homey” looking accessible building can feel like an institution, a prison, or at best, a hotel.

Older adults who moved from ucNHs to a Green House reported better quality of life in multiple domains (privacy, autonomy, dignity, food enjoyment, meaningful activity, and relation­ships) than a matched cohort who remained in usual care homes. Green House dwellers also had higher levels of residential satisfaction and emo­tional well-being, lower levels of depression, and less functional (activity of daily living [ADL]) decline than ucNH dwellers.

Aborda-se, aqui, por um lado, o objetivo de expressiva “domesticação” dos espaços, ambientes e mesmo processos de soluções residenciais especialmente adequadas para idosos, numa perspetiva que até os ambientes especificamente hospitalares já acolheram, e que marca desde há bastante tempo as melhores intervenções residenciais para seniores, mas também e especificamente a tipologia/solução residencial para idosos e fragilizados especificamente designada por “Green House” (conceito este que se julga estar mesmo registado como “marca”), que será devidamente apresentado mais à frente neste estudo, mas que, basicamente, tende a recriar, para um conjunto bastante limitado de residentes, o espaço/ambiente e mesmo o funcionamento de um grande unifamilitar, com os seus pólos de atenção como é o caso, por exemplo, da cozinha e do espaço de lareira.

E em tudo isto e pensando no caso português há sempre que cuidar de uma possível e negativa aproximação a “moradias” mal adaptadas a residências de idosos, onde estes acabam por vegetar, por vezes, em péssimas condições; havendo, portanto, que ter muito cuidado nestas reflexões e propostas.

5. Habitação para todos: inovação na conceção habitacional

Avançamos, agora, para a recomendação de um estudo coordenado por Virginie Thomas e Christophe Perrocheau, realizado no âmbito do exemplar e incontornável Plan Urbanisme Construction Architecture (PUCA) do governo francês e especificamente no programa de investigação intitulado Logement Design pour tous. Vers une conception renouvelee des logements; um título muito significativo pois, como se entende, associa a urgente renovada conceção global dos espaços residenciais à já defendida ideia de uma habitação feita para todos os seus habitantes e, portanto, amiga daqueles mais fragilizados. [7]

Apenas a título de exemplos, significativos, de matérias constantes neste programa de investigação, consideradas importantes no âmbito de uma natural e gradual aproximação aos conteúdos “ambientais” específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos específicos, associados a alguns comentários: (negrito nosso)

Les notions d'adaptabilité et de diversité deviennent centrales dans la recherche de conceptions innovantes afin de tenir compte de la diversité des profils culturels, des mobilités, des durées d'études et des nouveaux besoins (prévoir des conditions de gestion permettant un turn-over important, un habitat pouvant accueillir des publics diversifiés allant du jeune cherchant un habitat temporaire le moins contraignant possible à l’étudiant expatrié en formation longue demandeur d’un habitat facilitant son intégration dans l’environnement social et urbain). (pg. 13 e 14)

Embora esta reflexão seja direcionada para o habitar dos jovens adultos, matéria esta também fundamental quando se desenvolvem espaços e ambientes intergeracionais, parece ficar evidente, por um lado a natural aplicabilidade da “adaptabilidade” a outros grupos etários, também marcados pela referida “diversidade de perfis culturais, mobilidades, … estudos/formação e novas necessidades”, e por outro lado a enorme importância da aplicação de soluções residenciais e habitacionais extremamente adaptáveis e acolhedoras dessa diversidade.

No mesmo estudo aponta-se a importância que tem o adequado desenvolvimento de um espaço habitacional de qualidade “na interseção da conceção arquitetónica e da conceção técnica”, identificando-se “soluções inovadoras que respondam positivamente às necessidades futuras”; sublinhando, ainda, a ideia de uma “habitação otimizada”. (pg. 15)

E certa forma estará aqui presente a noção de que uma parte da adaptabilidade/adequação residencial a uma grande diversidade de gostos e necessidades de diversos níveis etários, poderá ser em parte garantida pela inovação construtiva e tecnológica, opção esta que se julga terá, sempre, de ser acompanhada por aquilo que podemos designar de adaptabilidade “passiva”, que decorre de um bom projeto arquitetónico residencial, marcado, entre outros aspetos, por uma sensível diversidade, neutralidade e multifuncionalidade espacial e ambiental.

E neste sentido lembra-se que foi, há anos (2003), realizado e editado no LNEC um estudo específico sobre esta importante matéria: intitulado “Habitação evolutiva e adaptável”, na Coleção ITA n.º 9, com autorias de António Baptista Coelho e António Reis Cabrita.

6. Aprofundar, cuidadosamente, as relações entre habitação e envelhecimento

Ainda no âmbito da atividade do Plan Urbanisme Construction Architecture (PUCA) do governo francês, recomendamos, agora, um estudo coordenado por Phuong Mai Huynh  e intitulado Programme internationnal de recherche Vieillissement de la population et habitat. Annuaire des Recherches. [8]

Apenas a título de exemplos, significativos, de matérias constantes neste estudo, consideradas importantes no âmbito de uma natural e gradual aproximação aos conteúdos específicos desejáveis no PHAI3C, destacam-se os seguintes assuntos, associados a alguns comentários: (negrito e sublinhado nossos)

Lancé en 2006 et 2007 ce programme comprend au total 18 recherches sur 4 axes : les comportements résidentiels des retraités, les comportements patrimoniaux des ménages âgés et de leur famille, l’habitat des retraités modestes et pauvres, l’habitat des personnes vieillissantes : nouvelles formes d’action publiques . (pg. 8)

Consideram-se estas quatro temáticas com grande interesse, mas sublinhando-se a relativa novidade e a importância de se terem em conta, especificamente, as questões ligadas à habitação dos reformados modestos e pobres – que nunca poderão pagar as já habituais (em Portugal) mensalidades acima de 1500 euros em instalações correntes – , e a questão sensível e ainda pouco considerada, de forma específica, da relação entre as condições habitacionais (incluindo habitação, edifício multifamiliar e vizinhança) e o próprio e gradual processo de envelhecimento (“as pessoas que envelhecem”), tanto numa perspetiva de apoio às novas necessidades e objetivos de vida, como mesmo de ajuda a auma sensível redução/atenuação desse processo de envelhecimento e salientando-se o papel que pode e deve ter a iniciativa pública nessa equação – e eu juntaria aqui os papéis que podem ter os diversos sectores económicos nessa equação: o público; o cooperativo e social; e o privado.

Ainda outro aspeto, bem importante, a sublinhar no referido estudo é a sua própria natureza de investigação prática sobre como diversos grupos socioeconómicos e culturais se comportam, mais frequentemente, quando envelhecem e, portanto, quais serão os respetivos perfis de apoios mais oportunos e adequados.

E depois o referido estudo coloca o que se julga ser uma questão chave em todaesta problemática da habitação dos mais fragilizados, e, já agora, lembrando-se a “enormidade” da escala do problema que temos entre mãos e que será avolumar, criticamente, em poucos anos:

Comment concilier les besoins en matière d’habitat des personnes âgées avec ceux des autres habitants ? (pg. 8)

Fica então a questão de como conciliar, em Portugal, as críticas necessidades residenciais dos idosos com as também críticas necessidades habitacionais globais. Uma questão que é considerada muito pertinente e urgente, até tendo-se em conta que, tal como se refere no estudo que está a ser referido, os aposentados têm um papel crescente no mercado habitacional; e sendo que existe a referida crítica necessidade de diversas soluções relativamente a um grande leque de condições socioeconómicas – pois não são só os idosos muito carenciados que não podem pagar mensalidades acima de 1500 euros –, parece evidente que tais soluções terão de integrar a estratégia oficial de apoio à habitação de “interesse social ou económica”, nas diversas perspetivas, já avançadas, que vão desde o apoio à manutenção dos idosos nas suas “casas de família”, até à promoção de unidades com múltiplos apoios pessoais e de saúde, mas passando por uma importante “fatia” de promoção habitacional nova e reabilitada, desenvolvida de modo muito adequado aos mais fragilizados e integrando vários tipos de soluções residenciais intergeracionais.

Outros aspetos são evidenciados no estudo que está a ser salientado e designadamente uma interessante abordagem, coordenada por Alain Thalineau e Laurent Nowik, do Citeres/Université de Tours, onde se investigam as designadas mobilidades residenciais e a permanência domiciliar das pessoas idosas entre 75 e 85 anos, numa perspetiva que salienta a ideia do “mudar de casa para ficar mais perto de …”, um conceito que pode ser estratégico na dinamização da mudança de habitação dos idosos, e que é articulado com uma interessante tipificação destes idosos nas categorias de “despreocupados” e os “previdentes”:

Ceux qui déménagent le plus tôt se classent parmi les insouciants, hédonistes, autonomes, allant vers le soleil ou les régions les plus agréables sans trop anticiper leur vieillesse et réfléchir à la fonctionnalité des lieux. Cette catégorie concerne prioritairement des couples à l’aise financièrement, sans attaches locales fortes et assurés de trouver dans leur nouvelle vie des relations de voisinage valorisantes et des activités plaisantes.

Ceux qui déménagent en milieu de retraite sont des personnes plus conscientes d’un avenir moins facile, en quête de services et soucieuses des qualités ergonomiques du logement dans lequel elles vont s’installer. (pg. 14)

Sendo que, tal como se aponta no estudo, a mudança de residência é motivada, essencialmente, pela aproximação familiar e para locais e situações considerados especialmente seguros.

Mantendo-nos nesta importante matéria da escolha de uma nova residência quando entramos na aposentação, o estudo, que está a ser citado, refere uma investigação de Jim Ogg, da The Young Foundation, Sylvie Renaut, do CNAV e Jesus Leal da Universidad de Madrid, dirigida para o apuramento das escolhas residenciais dos aposentados europeus (com exemplos franceses, ingleses e espanhóis), e onde se identificam cinco importantes objetivos habitacionais para uma população que envelhece:

… promouvoir l’information pour faciliter la diversité et le choix ; s’assurer que l’information et les conseils soient accessibles à tous ; aider les départements et les fournisseurs de services à adapter leurs prestations aux demandes spécifiques des personnes âgées ; s’assurer que les logements soient chauffés et sécurisés ; décloisonner les politiques en facilitant le partenariat entre les services de logement, de santé et sociaux. (pg. 22)

O estudo, que está a ser referido passa, depois, para uma fronteira que podemos designar como oposta àqueles com capacidade diversificada de mudança residencial, muito qualificada, quando chegados à reforma, e referida, então, àqueles reformados com pouca capacidade económica e frequentemente também com pouca informação, e que tendem, frequentemente, a permanecer nas suas habitações, que, também frequentemente, não serão de grande qualidade; salientando-se, nesta problemática, uma investigação de Hervé Leservoisier, do Groupe Logement Français e de Régis Herbin e Pierre Lucot do CRIDEV, em que se avança no conhecimento de um exemplo de apoio à manutenção domiciliar, mas num quadro qualitativo  cuidadoso e melhorado, de aposentados que habitam em conjuntos de habitação de interesse social.

Nesta problemática, no estudo que está a ser referido, é avançada a aplicação nessas habitações de intervenções de melhoria enquadradas pelo conceito de “Elevada qualidade funcional” (tradução nossa a partir de Haute Qualité d’Usage), que se considera capaz de reduzir/pausar a perda de autonomia dos idosos, designadamente, nas suas habitações e vizinhanças e que se considera deverá integrar ações espácio-funcionais e sociais:

Comment lier ce qui est contraint par les caractéristiques spatiales et ce qui résulte de l’accompagnement social et médical ? Pour les chercheurs, il est possible de définir un niveau de qualité d’usage commun pour la majorité des personnes vieillissantes et oeuvrer pour que les aménagements réalisés dans les logements soient, dorénavant, pensés à partir des usages. (pg. 48)

Salienta-se nesta perspetiva que as modificações previstas neste tipo de intervenções de apoio à manutenção domiciliar dos idosos se aplicam nas habitações nas quais não está prevista uma renovação significativa. (pg. 49)

E em toda esta matéria e valendo-nos, ainda, do estudo coordenado por Phuong Mai Huynh , que tem estado a ser referido, podemos considerar que é de vital importância termos em conta  patamares de semiautonomia e de dependência; matérias estas profundamente sensíveis e que têm bases científicas específicas: (negrito nosso)

Ces concepts ont été confrontés par les auteurs, à ceux de la grille AGGIR qui estime la dépendance de la personne âgée de plus de 60 ans sur six niveaux (dépendance totale ; grande dépendance ; dépendance corporelle ; dépendance corporelle partielle ; dépendance légère et pas de dépendance notable). (pg. 49)

E finalmente e a partir do importante estudo intitulado L’habitat et la gérontologie, deux cultures en voie de rapprochement ?, de Dominique Argoud, da Université Paris12, aponta-se um possível leque tipológico para as diversas formas de habitat para pessoas idosas que têm surgido nos últimos trinta anos: “o habitat adaptado, o habitat com serviços, o habitat intergeracional, o habitat partilhado e o habitat autogerido”. (pg. 56)

Dá, a propósito, vontade de sublinhar que não haja qualquer dúvida de que é urgente aproximar as matérias do habitat humano e as da gerontologia, em novelos de objetivos marcados por uma Arquitectura caraterizada, equillibradamente, pelo bom desenho e pela grande adequação aos habitantes e à cidade.

(final da parte I do artigo, na próxima semana será editada a parte II)


Notas Bibliográficas

[1] Tal como se tem apontado, mas nunca será excessivo repetir, ainda que em nota de rodapé, o referido amplo desenvolvimento desta fase de enquadramento do PHAI3C, justifica-se devido, quer à complexidade e sensibilidade do tema e estudo, quer à caraterização do responsável por este estudo como um não especialista nestas matérias, embora com bastante trabalho no campo global do habitat humano e especificamente do habitar de interesse social.  

[2] Paz Martín Rodríguez (investigadora, comisaria /diseño expositivo) - envejezANDO (e elementos complementares . https://issuu.com/envejezando https://www.envejezando.com/ - este estudo disponibiliza 5 publicações com introduções e casos de referência muito importantes no ISSU.

[3] Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. » The Centre for Public Impact is a not-for-profit foundation, founded by The Boston Consulting Group, dedicated to improving the positive impact of governments.(UK e USA)

[4] Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report. 2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.

« This report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to Kate Jopling and Dr Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message that later life transitions can be a trigger for loneliness. »

[5] Isadora Campos, Lorena Cristina, com o apoio de Alejandro Pérez-Duarte F.- Gero-habitação . Universidade Fumec (Belo Horizonte, Brasil), Belo Horizonte, 2017 - https://gerohabitacao.wixsite.com/blog/sobre-1

[6] Sheila L. Molony, Lois K. Evans, Sangchoon Jeon, Judith Rabig, Leslie A. Straka - Trajectories of At-Homeness and Health in Usual Care and Small House Nursing Homes. The Gerontologist Vol. 51, No. 4, 504–515 doi:10.1093/geront/gnr022

[7] Virginie THOMAS / virginie-d.thomas@developpement-durable.gouv.fr; Christophe PERROCHEAU / christophe.perrocheau@i-carre.net - Lancement du programme Logement Design pour tous. Vers une conception renouvelee des logements . Atelier « Modes de vie et logements des jeunes », PUCA, 2009. Site Internet PUCA : http://rp.urbanisme.equipement.gouv.fr/puca/

[8] Phuong Mai Huynh (coord. do programa) - Programme internationnal de de recherche Vieillissement la population et habitat - Annuaire des recherches. Paris. Plan urbanisme construction architecture PUCA, 2010. - mai.huynh@ developpement-durable.gouv.fr


Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações. 

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

 

Etiquetas/palavras chave: habitação, habitação intergeracional, habitação para idosos, intergeracionalidade, espaços residenciais, PHAI3C, Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados

Estudos e temas a salientar no âmbito da relação entre habitação e envelhecimento – versão de trabalho e base documental (I) – Infohabitar # 847

Artigo XXV da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma Cooperativa a Custo Controlado

Infohabitar, Ano XIX, n.º 847

Edição: quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Infohabitar

Editor: António Baptista Coelho, Investigador Principal do LNEC

abc.infohabitar@gmail.com, abc@lnec.pt

A Infohabitar é uma Revista do GHabitar Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação atualmente com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) e anteriormente com sede no Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do LNEC.

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

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