Ligação direta (clicar no link seguinte) para aceder à listagem interativa de 800 Artigos editados na Infohabitar – edição de janeiro de 2022 com links revistos em junho de 2022 (38 temas e mais de 100 autores):
https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true
Os idosos e os seus espaços residenciais I – versão
de trabalho e base documental – Infohabitar # 839
Infohabitar, Ano XVIII, n.º 839
Edição: quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Artigo XXI da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de uma
Cooperativa a Custo Controlado”
Caros leitores da Infohabitar,
Com o presente artigo damos continuidade à série
editorial da Infohabitar especificamente dedicada a uma abordagem global e
bibliográfica dos amplos, sensíveis e urgentes aspetos associados às
necessidades, aos gostos e às potencialidades sociais e urbanas de uma reflexão
prática sobre os espaços residenciais dedicados a pessoas idosas e
fragilizadas, desejavelmente integrados em quadros intergeracionais, ativamente
urbanos e dinamizados e convivializados pelas cooperativas que estão, desde há
dezenas de anos, dedicadas à promoção de habitação de interesse social com
expressiva qualidade e frequentemente associada a um amplo leque de variadas e
vitais atividades vicinais e urbanas – as Cooperativas associadas à Federação
Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).
Lembra-se, como sempre, que serão sempre muito
bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e
propostas de artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com).
Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações
calorosas para todos os caros leitores,
Lisboa, em 16 de novembro de 2022
António Baptista Coelho
Editor da Infohabitar
Nota introdutória à temática do Programa de Habitação Adaptável
Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)
Considerando-se o atual quadro demográfico e habitacional muito
crítico, no que se refere ao crescimento do número das pessoas idosas e muito
idosas, a viverem sozinhas e com frequentes necessidades de apoio, a atual
diversificação dos modos de vida e dos desejos habitacionais, e a
quase-ausência de oferta habitacional e urbana adequada a tais necessidades e
desejos, foi ponderada o que se julga ser a oportunidade do estudo e da
caracterização de um Programa de Habitação Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado
a tais necessidades e a uma proposta residencial naturalmente convivial,
eficazmente gerida e participada e financeiramente sustentável, resultando
daqui a proposta de uma Cooperativa a Custos Controlados (3C).
O PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções urbanas e
residenciais vocacionadas para a convivência intergeracional, adaptáveis a
diversos modos de vida, adequadas para pessoas com eventuais fragilidade
físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma institucional e de
idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana estimulante. O PHAI3C irá
procurar identificar e caracterizar tipos de soluções adequadas e sensíveis a
uma integração habitacional e intergeracional dos mais frágeis num quadro
urbano claramente positivo e em soluções edificadas que possam dar resposta,
também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais (ex., jovens e
pessoas sós), num quadro residencial marcado por uma gestão participada e
eficaz, pela convivialidade espontânea e social e financeiramente sustentável.
Trata-se, tal como se aponta no título do artigo, de uma “versão de
trabalho e base bibliográfica” e, portanto, de um artigo cujos conteúdos serão,
ainda, substancialmente revistos até se atingir uma versão estabilizada da
temática referida no título; no entanto, em virtude da metodologia usada, que
se considera bastante sólida, marcada pelo recurso a abundantes referências de
fontes, devidamente apontadas e sistematicamente comentadas no sentido da
respetiva aplicação ao PHAI3C, e tendo-se em conta a utilidade de se poder
colocar à discussão os muitos aspetos registados no sentido da sua possível
aplicação prática no PHAI3C, considerou-se ser interessante a divulgação desta
temática/problemática nesta fase de “versão de trabalho”, que, no entanto, foi
já razoavelmente clarificada – como exemplo do posterior tratamento para
passagem a uma versão mais estável teremos, provavelmente, referências
bibliográficas mais reduzidas e boa parte delas em português, assim como
comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este desenvolvimento irá sendo
influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s) pelos diversos temas e
artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para o designado
documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação razoavelmente
sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.
Ainda um outro aspeto que se sublinha marcar, desde o início, o
teor do referido documento-base do PHAI3C (a partir do qual serão gerados
vários documentos específicos: mais de enquadramento e mais práticos) é o
sentido teórico-prático que privilegia uma abordagem mais integrada e
exemplificada da temática global da habitação intergeracional adaptável e
cooperativa, apontando-se exemplos e ideias concretas logo desde as partes mais
de enquadramento da abordagem da temática como as que se desenvolvem neste
artigo.
Notas introdutórias ao novo e presente conjunto de
artigos sobre habitação intergeracional
O presente artigo inclui-se numa série editorial dedicada a uma
reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”,
dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação
teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Adaptável Intergeracional
Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser
desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de
Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas
nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor
do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.
Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente artigo e
para aqueles que o precederam e os que lhe darão continuidade, no sentido de se
proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva
discussão alargada sobre as muito urgentes e exigentes matérias da habitação
mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas, visando-se, não apenas as
suas necessidades e gostos específicos, mas também o papel e a valia que têm
numa sociedade ativa e integrada.
Nesta perspectiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de
trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão do
texto que é apresentado no artigo reflete uma assumida apresentação comentada,
minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de
muitos autores, escolhidos pela sua perspectiva temática focada e por
corresponderem a estudos razoavelmente recentes;
forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas
em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua original.
Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se
pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos
funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre
uma matéria bem complexa como é a habitação intergeracional adaptável
desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a
pessoas fragilizadas.
Solicita-se a compreensão dos leitores para lapsos e problemas de
edição que, sem dúvida, acontecem nos textos que integram o presente artigo,
assim como todos os 16 artigos da presente série editorial, que correspondem à
estruturação de um documento-base que se pretende seja essencialmente prático e
dinamizador da discussão sobre a matéria; havendo tempo, depois, espera-se,
para documentos com reflexões mais elaboradas e sintéticas.
Devido à sua extensão o presente artigo foi dividido em três partes
editadas na Infohabitar em semanas consecutivas.
Os idosos e os seus espaços residenciais I – versão
de trabalho e base documental – Infohabitar # 839
António Baptista Coelho – com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.
(nota: a negrito,
no resumo, a parte do artigo que integra a presente edição da Infohabitar)
Resumo
Em primeiro lugar aborda-se a
matéria da relação entre o habitar e o envelhecimento num conjunto de aspetos
específicos entre os quais se salientam: a aliança entre um melhor habitar e um
melhor envelhecer; a disponibilização de um habitar realmente atraente para a
população mais envelhecida; aspetos a sublinhar nas estratégias de oferta
habitacional para os idosos; relação entre as dinâmicas do envelhecimento e a
escolha do habitar; aspetos científicos do envelhecimento humano a ter em conta
no que se refere às escolhas habitacionais; a transição para a aposentação;
novos perfis dos novos idosos; e consideração dos aspetos de potencial
transição habitacional nos idosos.
Numa segunda parte do artigo
desenvolvem-se considerações sobre os mais significativos aspetos ligados à transição habitacional dos
idosos.
E na última parte do artigo abordam-se
aspetos vivenciais e residenciais que contribuem para um máximo de qualidade de
vida no âmbito do envelhecimento.
Breve introdução
As presentes notas de leitura e de
reflexão sobre a problemática global da relação entre os idosos e os seus
espaços residenciais iniciam-se com a exploração da relação entre habitar e
envelhecer, passando-se, depois, para a importante temática da autonomia
habitacional na velhice, com um enfoque específico nos mais significativos aspetos ligados à transição habitacional dos
idosos.
Finalmente abordam-se aspetos
vivenciais e residenciais que contribuem para um máximo de qualidade de vida no
âmbito do envelhecimento.
1. Habitar e envelhecer
Matérias abordadas no presente artigo:
.
Melhor
habitar e melhor envelhecer numa
mistura de idades: uma aliança “inesperada” mas urgente e oportuna
. Um habitar realmente atraente para a
população mais envelhecida
. Estratégias na oferta habitacional
para os idosos
. Sobre as dinâmicas do envelhecimento
. Sobre alguns aspectos científicos do
envelhecimento humano
. Sobre a transição para a aposentação
. Perfis dos novos idosos
. Consideração dos aspetos de potencial
transição habitacional dos idosos
(i) Melhor
habitar e melhor envelhecer numa mistura de idades: uma aliança
“inesperada” mas urgente e oportuna
Diversas facetas de abordagem têm sido aqui desenvolvidas
sobre um objetivo de habitar melhor como elemento crucial para um melhor
envelhecimento, importa agora, de certa forma, salientar a importância desta
aliança, tanto como caminho de solução para os críticos problemas de adequação
habitacional e de apoio diversificado e vital aos idosos, tendo bem presente o
exponencial acréscimo do seu número e do número dos “grandes idosos”, como
caminho indireto de solução para os problemas habitacionais mais gerais pois a
disponibilização de habitação adequada para idosos irá proporcionar a chegada
ao mercado de muitas habitações “libertadas” por esses idosos, quando mudam de
habitação num processo habitualmente associado a uma redução do respetivo
espaço privado, embora desejavelmente associado a um significativo aumento dos
espaços e serviços comuns disponíveis nesses novos conjuntos residenciais.
Julga-se ser também muito interessante e oportuno salientar
que uma tal disponibilização de conjuntos residenciais com habitações
tendencialmente mais pequenas e associadas a espaços e serviços comuns
diversificados e desejavelmente “à la carte”, constitui uma oferta
residencial igualmente estratégica para um outro amplo grupo populacional
integrado por pessoas isoladas e por casais, atualmente também criticamente
crescente nos centros urbanos, e que assim e com uma essencial naturalidade
poderão contribuir para o desenvolvimento de peqeuenas comunidades
intergeracionais e urbanamente vitalizadas e vitalizadoras.
Focando-nos na faceta do apoio aos mais idosos e
aproveitando o excelente estudo de Dominique Argoud, muito significativamente
intitulado L’habitat et la gérontologie, deux cultures en voie de
rapprochement ? (1),
há que ter atenção aos frequentes problemas que aqui se colocam e,
designadamente, à existência de políticas e medidas que mutuamente se ignoram e
de um grande leque de serviços que, por vezes, desenvolvem ações locais pouco
concertadas, e isto numa altura em que os perfis humanos e sociais dos idosos
mudaram muito e os seus desejos de habitar também.
É isto que sublinha Dominique Argoud, tal como se cita em seguida: (negrito nosso)
Les représentations de la vieillesse ont évolué et les
principaux concernés souhaitent, le plus longtemps possible, conserver leur
autonomie et décider de leur destin, y compris par le choix de leurs lieux et
modes de vie…
A partir des années 80 se sont développés, hors de toute
politique publique des appartements groupés, médicalisés, reliés à des systèmes
domotiques, surveillés. Des logements adaptés au vieillissement, innovants
dans le sens où ils étaient implantées sur un espace situé à l’intersection des
deux champs sectoriels, celui du logement et celui du social et médico-social.
Une vingtaine d’années plus tard, d’autres expériences
d’habitats regroupés émergent sous la forme de produits immobiliers spécifiques
comme les résidences avec services ou de logements intergénérationnels
(embryonnaires), évolutifs, partagés… dont l’innovation tient moins aux
technologies « embarqués » qu’aux montages et à la place que souhaitent
retrouver les personnes âgées dans la société et dans la ville. (pg. 53)
Em seguida Dominique Argoud aponta caminhos de inovação
percorridos e a percorrer, que têm variado e misturado soluções: entre “o imaginar
formas intermediárias de habitar para idosos que se podem localizar entre a
manutenção no respetivo domicílio e a mudança para soluções de habitação
coletiva”; variadas ações de adaptação das habitações, incluindo mudança para
andares térreos e unidades habitacionais mais pequenas mas mais
modernas/funcionais (negrito nosso); e ainda o desenvolvimento de soluções de
habitar específicas e muito adequadas para pessoas com condicionamentos
vivenciais.
E a autora sublinha, depois, que o desenvolvimento de
soluções específicas para idosos acabou por ser, por vezes, aproveitada em
termos excessivamente “imobiliários” e talvez excessivamente dirigidas para
pessoas com diversos condicionamentos, criando-se quadros residenciais, por
vezes, financeiramente pouco suportáveis e complexos, por exemplo, em termos da
respetiva revenda.
Caminhos estes que se consideram distintos dos propostos em
termos de soluções residenciais e urbanas intergeracionais, adaptáveis e
funcionalmente mistas/flexíveis.
E Dominique Argoud aponta o interesse deste último
tipo de soluções, que se reflete em casos de aplicação recentes e inovadores, em seguida citados:
(negrito nosso)
Troisième solution, des personnes âgées souhaitent
elles-mêmes, et de plus en plus, prendre en main leur destin. Plusieurs
initiatives sont nées d’associations strictement privées. Les Babayagas à
Montreuil en région parisienne ont ainsi choisi l’habitat coopératif
bénéficiant de financements de logements sociaux.
D’autres pistes méritent d’être étudiées. La
colocation entre personnes du même âge ou intergénérationnelle organisée
par l’association Cocon 3S, l’habitat autogéré par ses propriétaires… Sous
des formes collectives, ces maîtres d’ouvrage individuels et « amateurs »
tentent d’inventer un mode alternatif d’accompagnement de la vieillesse.
Ils comptent sur la solidarité et l’entraide plutôt que
sur le recours aux partenaires gérontologiques pour préserver leur autonomie
malgré leur avancée en âge. (pg. 54)
Fica aqui bem evidenciada a importância da iniciativa
participada e cooperativa e designadamente a ideia, considerada muito atual, da
solidariedade e da entreajuda como “substitutos”, pelo menos parciais, dos
serviços de apoio aos idosos.
Em termos práticos Dominique Argoud aborda a importância da
adaptabilidade residencial e do uso da domótica dinamizando comunicações e a
vigilância dirigida ao risco de acidentes e problemas de saúde, isto nos
espaços privados e a eventual existência de serviços específicos que assegurem
a presença continuada de um “vigilante/acompanhante” (termos meus).
E em seguida a autora avança na matéria que aqui nos
interessa especificamente; e citamos: (negrito nosso)
Sont parfois proposés des services comme la présence
d’une personne référente 24 heures sur 24, des espaces mutualisés ou
partagés afin de favoriser les rencontres, et de diminuer l’isolement. Depuis
quelques années, est nettement mis en avant le mélange intergénérationnel.
Cette dernière idée est facilitée par des formes architecturales : appartements
communicants ou séparés par une terrasse, logements réservés aux membres d’une
même famille, dans une même maison, familles d’accueil à l’étage, personnes
âgées au rez-de-chaussée… (pg. 54)
Une proximité qui autorise l’indépendance tout en
rendant possible et aisée la solidarité, lorsqu’elle devient nécessaire…
Il semble que les nouveaux acteurs
développent même explicitement des stratégies pour éviter et contourner le
secteur social ou médico-social vu surtout sous l’angle des contraintes
administratives, réglementaires, tarifaires..
En outre, ces lourdeurs qui allongent les délais et
renchérissent les coûts (de portage foncier notamment) finissent par dissuader
les opérateurs, mais aussi les élus de tenter d’insérer leur projet
dans ce champ. (pg. 55)
E Dominique Argoud salienta, depois, a importância que tem, para o êxito,
destas ações a existência de “uma longa prática de colaboração, o respeito
pelos domínios de competência e uma gestão rigorosa do partenariado, através de
uma convenção que fixe as obrigações de cada um”. (pg. 55)
(ii) Um
habitar realmente atraente para a população mais envelhecida
Um aspeto que não pode ser esquecido é a necessidade de as
novas soluções residenciais e urbanas globalmente dirigidas parauma população
mais idosa serem realmente atraentes para um amplo grupo de potenciais
habitantes idosos, diversificados em termos de exigências e gostos específicos,
mas unificados em termos de potenciais necessidades gradualmente críticas, como
são as ligadas a aspetos de acessibilidade, acompanhamento em termos de
bem-estar e saúde e apoios específicos também em termos de bem-estar e saúde.
Este é um aspeto fundamental: que as novas soluções, que
deverão ser “estruturalmente” intergeracionais e adaptáveis a um amplo leque de
necessidades e gostos de habitar, sejam, especificamente bem adequadas às
necessidades e exigências dos mais idosos, sem que por isso deixem de ser
apetecíveis para um amplo leque etário e sem que por isso afetem minimamente o
bem-estar global e a máxima harmonia dos espaços comuns dos respetivos
condomínios, espaços estes que, aliás, deverão ser especialmente desenvolvidos
e protagonistas das respetivas soluções arquitetónicas globais.
Deveremos ter, assim, uma solução residencial global capaz
de harmonizar, plenamente, um máximo de condições de privacidade e de adequação
funcional específica dos espaços privados com um máximo de potencial de
interação e convívio nos respetivos espaços comuns e ainda com um constante e
efetivo “suplemento de alma” de privacidade e autonomia de uso nos mesmos
respetivos espaços comuns; um quadro global que será, assim, atraente quer para
pessoas idosas com necessidades de bem-estar específicas, adequadamente
exercidas nos respetivos espaços privados, quer, por exemplo, para adultos
jovens que queiram ter uma habitação maximizadamente apoiada por um amplo leque
de serviços de apoio, quer para habitantes idosos e jovens que procurem
soluções de vizinhança próxima convivial, quer ainda para aqueles que prezando,
ao máximo, a sua privacidade e autonomia, apreciem também uma vivência contígua
a polos de animação e convívio efetivos.
Se uma tal pesquisa por este tipos
de soluções residenciais não fizesse sentido, então as grandes empresas ligadas
às soluções residenciais ditas “luxuosas” para a “terceira idade” não teriam
desenvolvido as soluções que conhecemos; sendo que, hoje em dia, até grandes
empresas de promoção imobiliária dirigidas para um amplo leque socioeconómico de potenciais clientes também estão a avançar ativamente nesse sentido, tal como acontece, por
exemplo, no Reino Unido com a empresa Savills, através do Savills
World Research UK Residential. (2)
Trata-se de um “filão” que as
empresas imobiliárias mais conhecedoras e integradas em mercados habitacionais
mais marcados pelos novos gostos, exigências e desejos residenciais e urbanos
da geração do milénio estão a a explorar com dinamismo desde já há algumas
dezenas de anos, mas ultimamente de forma mais expressiva, designadamente
através da promoção muito direcionada de uma habitação para a reforma, ou de
uma habitação para mais de “x anos” (ex., mais de 55 anos), ou outras fórmulas
que, afinal, se dirigem para um grupo sociocultural com meios financeiros e que
pretende viver uma importante fase da vida com um máximo de qualidade e apoios.
E trata-se de uma “fórmula” baseada
também num assumir da qualidade arquitetónica residencial como algo capaz de
distinguir, claramente, as novas soluções residenciais propostas de um
desenvolvimento habitacional, mais ou menos, massivo e funcionalista, e na
oferta de empreendimentos “ditos premium”, especificamente caraterizados, quer
pelo sítio, quer pelo respetivo “partido” arquitetónico e que que visam,
especificamente, o alvo aspiracional dos idosos que até nem se importam de
reduzir a dimensão das suas habitações e vizinhanças desde que as novas sejam
claramente mais estimulantes, em termos funcionais, formais/de caraterização e vivenciais.
E é isto o que o PHAI 3C visa, o
desenvolvimento de soluções residenciais e urbanas correspondam a verdadeiros
enfoques aspiracionais, que até podem passar por uma estratégica redução do
espaço doméstico privado, mas com outras múltiplas contrapartidas; pessoas que
querem diminuir as suas casas, viver em habitações mais pequenas, mas em
quadros residenciais que respondam aos seus desejos atuais, adequados às suas
necessidades e aspirações atuais e até a desejos de quadros e estilos de vida
específicos.
Tudo isto nos leva a pensar no custo
de um tal caminho qualitativo e quantitativo – pois a eventual redução dos
espaços domésticos será sempre um pouco equilibrada pelo maior desenvolvimento
dos espaços comuns: mas aqui importará equacionar os custos específicos
conseguidos, designadamente, em soluções participadas e cooperativas dirigidas
para os idosos; sabemos que, pelo menos entre nós, estas soluções se limitam
muito a respostas para-institucionais, mas mesmo assim é muito significativo o
nível relativamente reduzido de custo conseguido nestas soluções de alojamento
para idosos de cariz cooperativo; num caminho que talvez possa ter idêntico
desenvolvimento no âmbito do PHAI3C.
(iii) Sobre
a necessidade de estratégias na oferta habitacional para os habitantes idosos
Não é aqui que iremos avançar na
indicação do que poderão ser as estratégias habitacionais globais para os habitantes idosos, mas apenas apontar a necessidade de se desenvolverem tais estratégias
pois a realidade das necessidades e dos desejos é muito diversificada, bem como
as situações concretas e as potencialidades locais existentes.
Neste sentido e a título de exemplo
considerado muito significativo apontam-se, em seguida, e comentam-se, com
grande brevidade, os aspetos práticos que integram a estratégia para a
habitação de idosos que foi desenvolvida pela empresa Peabody, que é um
importante promotor e gestor habitacional do Reino Unido. (3) .
Em primeiro lugar sintetizam-se os grandes objetivos qualitativos da Peabody, que, depois, são um pouco desenvolvidos caso a caso em termos das respetivas medidas concretas a aplicar, através de citações aos respetivos temas:
i.
Ajudar
as pessoas a viverem de forma [razoavelmente] independente (autónoma) nas suas habitações até
quando isto seja possível.
ii.
Promover
o envolvimento dos idosos na comunidade e incentivar o seu relacionamento com
familiares e amigos.
iii.
Promover
o bem-estar e o habitar saudável dos idosos.
iv.
Aumentar
a disponibilidade e melhorar a qualidade de habitações especializadas para os
idosos.
As referências que acabaram de ser feitas foram mantidas na
ordem da sua elaboração pela Peabody, o que em si se julga significativo dado o
relevo dado à autonomia e ao envolvimento social dos idosos; em seguida elas são novamente citadas, caso a caso, no
texto original e respetivamente desenvolvidas através de citações ao referido documento da Peabody: (negrito e sublinhado nossos)
Help older residents to live
independently for as long as possible in their homes …
• Expand our Handyperson Service, including
incorporating a fast response for aids and adaptations work, ...
• Review the provision of aids and adaptations,
focusing on removing blockages in the process, and utilising the Handyperson
Service as a fast response for smaller jobs. (pg. 4) …
• Introduce a new approach towards allocations of
ground floor dwellings, integrating support, lettings voids and
neighbourhoods team to run a supported move pilot.
• Review the lettable standard for older and
vulnerable people’s homes, including sheltered housing and internal transfers.
(pg. 5)
Promote older people’s involvement
in the community and increase their engagement with family and friends …
• Develop and deliver a new neighbourhood-level
model of volunteering for older people, increasing befriending, volunteering
and employment opportunities.
This locally based model will allow residents
through co-design and co-production to develop community-based and
community-led programmes. (pg. 6 e 7)
Promote well-being and healthy
living for older people …
• Develop a community based social prescribing
model using our experience …, and integrate this into our overall service
offer.
. Internet access is considerably
less common among our over 65s, and Peabody is committed to helping residents
to get online. All our sheltered schemes have wi-fi access, and
training is available both to sheltered residents and to people in the
community ... (pg. 7 e 8)
. Increase the availability and
improve the quality and diversity of specialist housing for older people …
“ I’d like somewhere that was safe
and quiet. Lots of trees and greenery. There would be a good doctors and good
mobile phone signal.” Gallions resident, aged 75 …
• Review sheltered housing provision, with a view
to enhancing and improving existing sites.
• Include the potential for specialist and older
people’s housing provision housing in our offer to local authorities in all
major developments.
• Ensure new builds and redevelopments for older
people are built to HAPPI standards. (pg.
11)
Lembra-se que estes HAPPI standards, que acabaram de ser referidos neste documento da Peabody, correspondem ao importante "painel" Housing our Ageing Population Panel for
Innovation (HAPPI) , onde se registam 10 critérios-chave de conceção
arquitetónica pormenorizada, ligados todos eles a aspetos de boa conceção
arquitetónica (bom “design”) – exemplo, conforto ambiental, espaciosidade,
capacidade de arrumação, etc. - , mas que têm especial relevância no que se
refere ao habitar por pessoas idosas, que exige “uma capacidade dupla de
oferecer uma alternativa atraente à habitação familiar e ser capaz de se
adaptar ao longo do tempo à mutação das necessidades dos residentes.” (4)
E há que comentar, aqui e sublinhar
que seria bem importante uma “transposição” destes HAPPI standards para a
realidade portuguesa, onde se julga que eles se manteriam praticamente na sua totalidade.
(iv) Mais
algumas notas importantes e sensíveis sobre as dinâmicas de um positivo
envelhecimento
Embora esta matéria das dinâmicas do envelhecimento tenha
vindo a ser tratada já em diversos dos capítulos anteriores a sua importância
na reflexão sobre um habitar mais adequado aos idosos, obriga a fazerem-se
referências recorrentes como as que são citadas, em seguida, a partir do
artigo de Andrew Steptoe, Panayotes Demakakos e Cesar de Oliveira, intitulado The
Psychological Well-Being, Health and Functioning of Older People in England: (5) (negrito nosso)
Psychological well-being in 2004–05
predicted the onset of disability, slower walking speed, impaired self-rated
health and the incidence of coronary heart disease in 2010–11. …
Survival over an average of more
than nine years was associated with greater enjoyment of life in 2002–03. Effects were large,
with the risk of dying being around three times greater among individuals in
the lowest compared with the highest third of enjoyment of life, and were
independent of age, sex, ethnicity, wealth, education, baseline health … (pg. 98)
Tratata-se, evidentemente, de matéria extremamente sensível,
especializada e que deveria ser muito mais contextualizada, no entanto as
conclusões parecem tão claras e são tão importantes que não se resistiu à sua
referência “pontual” e criticável neste trabalho.
E afinal até parece que todas as condições que proporcionem
um envelhecimento mais saudável em termos físicos,
mais activo, mais acompanhado e voluntariamente convivial e, sinteticamente,
mais feliz/adequado em termos de condições de vida/habitar (que são as
essenciais numa fase da vida em que a parcela do tempo de trabalho/emprego pode
até nem existir) são factores essenciais para a desejada extensão de uma
esperança de vida com saúde e é bem interessante aqui a referência a um “prazer
de viver” (enjoyment of life) que parece ser independente de uma extensa série de
variáveis socioculturais e até de saúde de base, mas que, naturalmente, terá de
ser favorecido de diversos modos consoante essas variáveis; matéria esta que
nos levará longe em soluções intergeracionais, participadas e naturalmente
conviviais.
(v) Algumas
breves notas práticas sobre alguns aspectos científicos da relação entre o
habitar e o envelhecimento humano
Novamente se avança em terreno tão
importante, como sensível e especializado e embora escudados com a referência a
serem “breves notas”, justifica-se a sua introdução neste ponto específico do
trabalho, onde nos tentamos aproximar de uma “configuração” geral de uma
solução habitacional intergeracional e participada, devido às importantes
considerações que aqui são feitas sobre a temática cruzada do envelhecimento e
do habitar humanos, lembrando-se o que acabou de ser registado sobre a
importância determinante do prazer de viver na qualidade e extensão da nossa
vida, tendo presente a importância do habitar nesse prazer de viver e
utilizando-se, neste caso específico, uma breve citação do importante
relatório do Science and Technology Committee da House of Lords, intitulado Ageing:
Scientific Aspects: (6)
(negrito
nosso)
The average age of those using
housing in this country is continuing to increase. Much could be done to
improve the quality of life of older people if buildings were from the outset
designed in the knowledge that they would probably one day be lived in by older
people. (pg. 56)
Julga-se que esta importante consideração, relativa ao conceito designado “habitações para toda a vida” (lifetime homes) poderia ou mesmo deveria levar a uma profunda revisão dos critérios de projeto das novas habitações e das ações de reabilitação habitacional; e atenção que não se está a pensar diretamente em alterações que obriguem a subidas de custos significativas das respetivas obras, pois tem-se a perfeita noção que se assim for o resultado será muito negativo para muitas pessoas; tal como também se cita do referido relatório do Science and Technology Committee da House of Lords: (negrito nosso)
We believe the evidence clearly
shows how older people enter into a negative spiral towards dependency through
social isolation and inactivity, often founded on lack of access to
suitable transport, amenities and opportunities for exercise. (pg. 60)
We believe that some of the most
exciting opportunities for scientific advance to benefit older people arise
through use of information technology. Industry self-regulation has
notably failed to address these needs and opportunities. (pg. 61)
The Government’s target should be
that every home, including those in rural areas where social isolation of older
people is often severe, should receive access to affordable high bandwidth IT
connection within 3 years… Local authorities should offer older
people training packages in the use of IT. (pg. 62)
E depois e naturalmente para além de
se defenderem as tais habitações (adaptáveis) para toda a vida, defende-se que
elas sejam urbanisticamente bem integradas e que TIC sejam usadas a sério no
seu potencial de apoio e integração dos idosos.
(vi) Sobre a transição para a aposentação
Em toda esta matéria da relação
entre o envelhecimento humano e o habitar existe um “momento” de passagem
extremamente sensível e importante e que se julga ter sido, muitas vezes,
injustamente desconsiderado: trata-se da altura da aposentação, quando “de
repente” tendemos a ficar todo o dia “em casa”, porque não temos de obrigatoriamente
sair para trabalhar.
E então, “de repente” a habitação
que usávamos quase só ao final do dia aos finais de semana passa a ser o nosso
mundo em continuidade, e temos recentemente um exemplo de tal situação que nos
foi imposto pelo confinamento no âmbito da última pandemia; e como bem sabemos
algumas ou muitas das nossas habitações não aguentaram essa nova “carga”, assim
como muitas delas não irão “aguentar” uma sua vivência continuada quando da
nossa aposentação – e isto no sentido de connosco “dialogarem” positivamente
apoiando-nos e incentivando diversas atividades e adaptando-se ao nosso
envelhecimento.
Mais uma vez estamos, apenas, a
aflorar uma extensa, complexa e sensível matéria sendo, aqui, o nosso objetivo
apenas alertar para esta situação e, eventualmente, apresentar a noção de que
uma mudança para um novo, mais adequado e estimulante quadro residencial poderá
ser uma opção a considerar, quando passamos a ter “todo o tempo do mundo” para
usar e o podemos usar de formas muito positivas e bem distintas da opção de,
por exemplo, ficar “mumificado” numa sala pequena e sem varanda, a ver uma
televisão repetitiva, numa ponta de uma habitação com uma série de pequenos
quartos vazios.
A título de exemplo muito
significativo sobre a importância desta linha de investigação citam-se, em
seguida, alguns aspetos do artigo de Martin Hyde, Maria
Cheshire-Allen, Marleen Damman, Kene Henkens , Loretta Platts, Katrina
Pritchard e Cara Reed , intitulado The experience of the transition to
retirement: Rapid evidence review: (7) (negrito nosso)
As the research from the DWP showed,
where people have specific goals, these are mostly related to maintaining
the same standard of living as when they were working or, more generally, to
‘live comfortably’ (Kotecha, Maplethorpe et al. 2011). (pg. 63)
This suggests that people see
retirement as a continuation of their pre-retirement lives rather than as a
radical break or a new phase in which they will take on new things. This
fits with Robert Atchley’s (1989:183) continuity theory which holds that, in
making adaptive choices, middle-aged and older adults attempt to preserve and
maintain existing internal and external structures; and they prefer to
accomplish this objective by using strategies tied to their past experiences of
themselves and their social world. (pg. 64)
We have identified three key areas
in which more work needs to be done:
(i)
understanding and conceptualising
retirement expectations and adjustment,
(ii)
understanding of the factors that
impact on retirement expectations and adjustment,
(iii)
and research design.
Tal como foi referido esta matéria
da influência da aposentação na manutenção ou alteração dos modos de vida e de
uso dos espaços rresidenciais privados, comuns, de vizinhança e citadinos, é
assunto que merece uma análise e um desenvolvimento muito cuidadosos e
socioculturalmente fundamentados; e tem-se a noção de que esta matéria poderá
ser importante ou mesmo determinante pela opção de mudança para uma nova
solução residencial intergeracional, adaptável, participada e, eventualmente,
marcada por diversas temáticas específicas – no limite os designados “habitats
temáticos” (tal como existem por exemplo nos USA), mas considerando-se que, até
mesmo bem longe de tal tipo de limite, o “afeiçoar” de uma dada solução
residencial a um certo tipo de atividades e/ou de gostos específicos, muito
mais efetivos com todo o tempo disponível na aposentação, poderá ser uma opção
muito enriquecedora e positivamente caraterizadora dessa intervenção
residencial e urbana.
(vii) Perfil/perfis
dos “novos idosos” e não só (visam-se os cuidadores)
A questão que está cada vez mais
evidente é que o perfil dos idosos e dos
aposentados mudou e parece estar a mudar significativamente e cada vez mais
rápida e estruturalmente nos últimos anos.
Depois das dúvidas e das hesitações
da silent generation , quando não integrando os poucos privilegiados
capazes de pagarem retiros de idosos, por regra, apenas aparentemente luxuosos
(frequentemente “luxuosos” apenas por ausência de termos de comparação
adequados; a opção seria sempre um “lar” das IPSS ou privado), mas integrando
pessoas já bem diversificadas em termos de gostos e “exigências”, embora ainda
tendencialmente “silenciosos”; nascidos entre 1945 e 1965, os integrantes da
geração dita dos baby boomers, criados com a TV, protagonistas das revoluções informática, da
WWW e das restantes TIC, e hoje em dia chegados à aposentação, não se revêem,
de todo, em soluções pseudo-funcionais de “alojamento” mais ou menos
apoiado/medicalizado e direcionado em resposta ao “problema da sua terceira
idade”.
E não só os desejos e as
necessidades dos “novos idosos” serão cada vez mais diversificados,
caraterizados e exigentes, como há e haverá, cada vez mais, uma vontade explícita
de participação ativa nas suas respetivas e eventuais novas soluções
residenciais e urbanas.
E para além de tudo isto, associado
ao perfil qualitativo dos novos idosos, também haverá que lidar com uma
quantidade crítica de pessoas nessas condições etárias e muitas delas com
exigências de saúde e bem-estar específicas.
Temos assim atualmente já bem
presente e cada vez mais numeroso um conjunto quantitativamente muito
significativo de “novos idosos” e de novos “grandes idosos” (ex., com mais de
90 anos e razoáveis condições de autonomia), caraterizados por uma importante
diversidade de desejos de habitar e de usar todo o tempo de que dispõem e
também, frequentemente, com vontade e capacidade para participarem ativa e até
financeiramente nas suas novas soluções residenciais e urbanas.
O paradigma e o perfil típico do
idoso mudou radicalmente e continuará a mudar, tornando-se, sempre, mais
exigente, mais diversificado e mais ativo/participativo; assim surjam soluções
de reposta a tais desejos e é aqui que, naturalmente, se insere o PHAI3C.
E neste paradigma do novo idoso e
grande idoso é também extremamente importante ter em conta e responder ao
número extremamente significativo de pessoas condicionadas em termos físicos e
psíquicos; havendo assim que avançar por um lado na autonomização das soluções
residenciais, mas também por outro na previsão de condições de apoio e cuidado
específicos, gerando-se soluções equilibradas que evidentemente não serão
fáceis.
Na perspectiva de uma tentativa de “fotografia” do
problema, na sua grande amplitude e complexidade, e apenas a título de exemplo, julgado embora significativo, são em seguida citados alguns aspetos constantes do
estudo de 2018 da Administration for Community Living intitulado Profile
of Older Americans: (8) (negrito nosso)
Over the past 10 years, the population age 65 and
over increased from 37.2 million in 2006 to 49.2 million in 2016 (a 33%
increase) and is projected to almost double to 98 million in 2060. (pg.
1)
According to the U.S. Census Bureau’s American
Community Survey, some type of disability (i.e., difficulty in hearing,
vision, cognition, ambulation, self-care, or independent living) was
reported by 35% of people age 65 and over in 2016. The percentages for
individual disabilities ranged from almost one quarter (23%) having an
ambulatory disability to 7% having a vision difficulty … (pg. 13)
A partir do mesmo estudo (pg. 13 e
14) regista-se um importante leque de “dificuldades” a ter em conta no
desenvolvimento de soluções residenciais e urbanas aadequadas a idosos, e
teremos, assim, dificuldades em termos de: vida independente; cuidados próprios
(self-care); movimentação/acessibilidade (ambulatory); perceção;
visão; audição; e condicionamentos de saúde específicos.
Importa, também, dirigir toda a
atenção à vital questão da prestação de cuidados diversificados às pessoas
idosas, tal como é salientado no estudo que está a ser referido:
The need for caregiving increases with age. In
January-June 2017, the percentage of older adults age 85 and over needing
help with personal care (22%) was more than twice the percentage for adults
ages 75–84 (9%) and more than six times the percentage for adults ages 65–74
(3%). (pg. 14)
Cuidados estes que são prestados
pelos designados “cuidadores”, que sempre existiram, evidentemente, numa
perspetiva de auto-ajuda na família alargada, mas que hoje em dia correspondem a
uma “nova” categoria de habitantes prestadores de serviços pessoais e
residenciais mais “profissionalizados”, e cujas necessidades funcionais e de
bem-estar mais amplo raramente são, ainda, consideradas de forma específica;
embora cada vez mais integrando objetivamente o referido perfil residencial do
idoso – e estão já bem presentes nas ruas acompanhando e mesmo apoiando idosos.
E isto embora eles próprios,
cuidadores, sejam, frequentemente, idosos, como se indica no estudo que está a ser referido: (negrito nosso)
Older adults not only need care, but often also provide
care to younger family members.
… in 2015, among the 3.6 million people with
Intellectual and Developmental Disabilities (I/DD)6 living with a family
caregiver, 24% had caregivers who were age 60 and over (872,042) ... (pg. 14)
Salienta-se o interesse e a clareza
que caraterizam o estudo que acabou de ser citado e conclui-se mais esta
importante e bastante equecida subtemática dos perfis dos “novos idosos” e seus
cuidadores, apontando-se que soluções residenciais inergeracionais,
funcionalmente mistas e urbanisticamente bem integradas poderão proporcionar
uma estratégica concentração da referida prestação de cuidados pessoais
e domésticos, assim como poderão facilitar a rentabilidade dessa
prestação de cuidados que poderá e deverá ser alargada às respetivas
vizinhanças urbanas e, ainda, proporcionar que tais cuidados sejam, de
certa forma, positivamente camuflados e bem integrados.
Notas bibliográficas
(1) Dominique Argoud - L’habitat et la gérontologie,
deux cultures en voie de rapprochement ?. PUCA. Université Paris12 -
Coordination du programme Phuong Mai Huynh - mai.huynh@
developpement-durable.gouv.fr - Les bilans de consultations sont en ligne sur
le site du PUCA www.urbanisme.equipement.gouv.fr/puca .
(2) Savills World Research UK Residential - Housing
an ageing population – Savills I 2015
(3) Peabody - Older People’s Strategy 2015-2020 -
Overview. Peabody.
Londres, 2015
(4) Textos de síntese retirados do site
da Housing LIN, em https://www.housinglin.org.uk/Topics/browse/Design-building/HAPPI/
(5) James Banks, James Nazroo and Andrew Steptoe (eds)
- EVIDENCE FROM THE ENGLISH LONGITUDINAL STUDY OF AGEING 2002–10, (WAVE 5), The
Institute for Fiscal Studies, London, October 2012 - Andrew Steptoe, Panayotes
Demakakos, Cesar de Oliveira - The
Psychological Well-Being, Health and Functioning of Older People in England -
University College London
(6) HOUSE OF LORDS -
Science and Technology Committee - Ageing: Scientific Aspects,
1st Report of Session 2005-06, Volume I: Report, Ordered to be printed 5 July
2005 and published 21 July 2005
(7) Martin Hyde (Swansea University, SU) ;
Maria Cheshire-Allen (SU) ; Marleen Damman (Netherlands Interdisciplinary
Demographic Institute, NDI) ; Kene Henkens (NDI) ; Loretta Platts
(Stress Research Institute) ; Katrina Pritchard (SU); Cara Reed (SU) - The
experience of the transition to retirement: Rapid evidence review. Report, Centre
for Ageing Better, 2018 (dezembro).
(8) Administration for Community Living - Profile
of Older Americans, Administration for Community Living , Administration on
Aging, U.S. Department of Health and Human Services. 2018.
(9)
Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation
of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report.
2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This
report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on
Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to
Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message
that later life transitions can be a trigger for loneliness. »
(10)
Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation
of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report.
2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This
report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on
Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to
Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message
that later life transitions can be a trigger for loneliness. »
(11)
Calouste Gulbenkian Foundation, UK Branch ; Centre for Ageing Better - Evaluation
of Transitions in Later Life Pilot Projects: Executive Summary and Full Report.
2017. www.gulbenkian.pt/uk-branch , www.ageing-better.org.uk.
« This
report by Guy Robertson is the foundation stone of our current work on
Transitions in Later Life. We decided to republish it as a companion piece to
Kate Jopling and Dr. Isaac Sserwanja’s report because it reinforces the message
that later life transitions can be a trigger for loneliness. »
(12) F. D. ValéryL. H. C. de
Gois; L. V. Nunes - Idosos e famílias - idosos e mais idosos na convivência
familiar contemporânea. Congresso Nacional de Envelhecimento Humano, Natal
– RN 23 a 25 novembro 2016.
Notas
editoriais gerais:
(i)
Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a
caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de
edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii)
No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a
utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por
exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva
responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas
fontes e obter as necessárias autorizações.
(iii)
Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da
Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa
de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a
tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Os idosos e os seus espaços residenciais I – versão de trabalho e
base documental – Infohabitar # 839
Infohabitar, Ano XVIII, n.º 839
Edição: quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Artigo XXI da série editorial da Infohabitar “PHAI3C – Programa de Habitação Adaptável e Intergeracional através de
uma Cooperativa a Custo Controlado”
Infohabitar – a revista
da GHabitar
Editor:
António Baptista Coelho
Arquitecto/ESBAL –
Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP –
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal
com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa
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