quarta-feira, março 16, 2022

Qualidade na habitação para idosos e intergeracional “II” - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 808

Ligação direta (clicar) para:  listagem interactiva de 800 Artigos, edição revista em janeiro de 2022- 38 temas e mais de 100 autores

https://docs.google.com/document/d/1WzJ3LfAmy4a7FRWMw5jFYJ9tjsuR4ll8/edit?usp=sharing&ouid=105588198309185023560&rtpof=true&sd=true

Qualidade de vida e qualidade pormenorizada na habitação para idosos e intergeracional II” - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 808

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 808

Edição: quarta-feira, 16 de março de 2022

Revisão em 6 de Julho de 2022

Nova série editorial sobre Habitação Intergeracional Adaptável – iii 

 

Caros leitores da Infohabitar,

 A Infohabitar continua uma nova série de artigos, que avançam, exploratoriamente, na matéria da Habitação Intergeracional Adaptável e Cooperativa, na sequência de alguns artigos introdutórios à temática de investigação intitulada Habitação Adaptável Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C), já aqui editados há algum tempo; mas agora tratando de avançar no tema, numa perspetiva de trabalho de investigação em desenvolvimento – e daí o título do artigo “versão de trabalho e base bibliográfica ” – , mas que dará, espera-s,e para poder divulgar e discutir matérias tão interessantes como urgentes.

Lembra-se, agora especialmente a propósito, que serão muito bem-vindos os comentários e novas sobre os artigos aqui editados e propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com , ao meu cuidado).

Despeço-me, até à próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de muita força e saúde para todos os caros leitores e seus familiares,    

 

Lisboa, em 16 de março de 2022

António Baptista Coelho

Editor da Infohabitar


Qualidade de vida e qualidade pormenorizada na habitação para idosos e intergeracional II” - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 808

António Baptista Coelho

Com base direta nos textos, ideias e opiniões dos autores referidos ao longo dos documentos que integram a listagem bibliográfica registada no final do artigo.

 

Notas introdutórias ao novo conjunto de artigos sobre habitação integeracional

O presente artigo inclui-se numa série editorial dedicada a uma reflexão temática exploratória, que integra a fase preliminar e “de trabalho”, dedicada à preparação e estruturação de um amplo processo de investigação teórico-prático, intitulado Programa de Habitação Aadaptável Intergeracional Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C); programa/estudo este que está a ser desenvolvido, pelo autor destes artigos, no Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), e que integra o Programa de Investigação e Inovação (P2I) do LNEC, sublinhando-se que as opiniões expressas nestes artigos são, apenas, dos seus autores – o autor dos artigos e promotor do PHAI3C e os numerosos autores citados no texto.

Neste sentido salienta-se o papel visado para o presente artigo e para os que lhe darão continuidade, no sentido de se proporcionar uma divulgação que possa resultar numa desejável e construtiva discussão alargada sobre estas muito urgentes e exigentes matérias da habitação mais adequada para idosos e pessoas fragilizadas.

Nesta perspetiva e tendo-se em conta a fase preliminar e de trabalho da referida investigação, salienta-se que a forma e a extensão do texto que é apresentado no artigo reflete uma assumida apresentação comentada, minimamente estruturada, de opiniões e resultados de múltiplas pesquisas, de muitos autores, escolhidos pela sua perspetiva temática focada e por corresponderem a estudos razoavelmente recentes; forma esta que fica patente no significativo número de citações – salientadas em itálico –, algumas delas longas e incluídas na língua original.

Julga-se que não se poderia atuar de forma diversa quando se pretende, como é o caso, chegar, cuidadosamente, a resultados teórico-práticos funcionais e aplicáveis na prática, e não apenas a uma reflexão pessoal sobre uma matéria bem complexa como é a habitação intergeracional adaptável desenvolvida por uma cooperativa a custos controlados e em parte dedicada a pessoas fragilizadas.

 

Nota introdutória à temática do Programa de Habitação Adaptável Intergeracional – Cooperativa a Custos Controlados (PHAI3C)

Considerando-se o atual quadro demográfico e habitacional muito crítico, no que se refere ao crescimento do número das pessoas idosas e muito idosas, a viverem sozinhas e com frequentes necessidades de apoio, a actual diversificação dos modos de vida e dos desejos habitacionais, e a quase-ausência de oferta habitacional e urbana adequada a tais necessidades e desejos, foi ponderada o que se julga ser a oportunidade do estudo e da caracterização de um Programa de Habitação Adaptável Intergeracional (PHAI), adequado a tais necessidades e a uma proposta residencial naturalmente convivial, eficazmente gerida e participada e financeiramente sustentável, resultando daqui a proposta de uma Cooperativa a Custos Controlados (3C).

O PHAI3C visa o estudo e a proposta de soluções urbanas e residenciais vocacionadas para a convivência intergeracional, adaptáveis a diversos modos de vida, adequadas para pessoas com eventuais fragilidade físicas e mentais, mas sem qualquer tipo de estigma institucional e de idadismo, funcionalmente mistas e com presença urbana estimulante. O PHAI3C irá procurar identificar e caracterizar tipos de soluções adequadas e sensíveis a uma integração habitacional e intergeracional dos mais frágeis num quadro urbano claramente positivo e em soluções edificadas que possam dar resposta, também, a outras novas e urgentes necessidades habitacionais (ex., jovens e pessoas sós), num quadro residencial marcado por uma gestão participada e eficaz, pela convivialidade espontânea e social e financeiramente sustentável.

Trata-se, tal como se aponta no título do artigo, de uma “versão de trabalho e base bibliográfica ” e, portanto, de um artigo cujos conteúdos serão, ainda,  substancialmente revistos até se atingir uma versão estabilizada da temática referida no título; no entanto, em virtude da metodologia usada, que se considera bastante sólida, marcada pelo recurso a abundantes referências de fontes, devidamente apontadas e sistematicamente comentadas no sentido da respetiva aplicação ao PHAI3C, e tendo-se em conta a utilidade de se poder colocar à discussão os muitos aspetos registados no sentido da sua possível aplicação prática no PHAI3C, considerou-se ser interessante a divulgação desta temática/problemática nesta fase de “versão de trabalho”, que, no entanto, foi já razoavelmente clarificada – como exemplo do posterior tratamento para passagem a uma versão mais estável teremos, provavelmente, referências bibliográficas mais reduzidas e boa parte delas em português, assim como comentários mais desenvolvidos; mas mesmo este desenvolvimento irá sendo influenciado pelo(s) caminho(s) concreto(s) tomado(s) pelos diversos temas e artigos que integram, desde já, a estrutura pensada para o designado documento-base do PHAI3C, que surgirá, em boa parte, da ligação razoavelmente sequencial entre os diversos temas abordados em variados artigos.

Ainda um outro aspeto que se sublinha marcar, desde o início, o teor do referido documento-base do PHAI3C (a partir do qual serão gerados vários documentos específicos: mais de enquadramento e mais práticos) é o sentido teórico-prático que privilegia uma abordagem mais integrada e exemplificada da temática global da habitação intergeracional adaptável e cooperativa, apontando-se exemplos e ideias concretas logo desde as partes mais de enquadramento da abordagem da temática como as que se desenvolvem neste artigo.

Finalmente, solicita-se a compreensão dos leitores para lapsos e problemas de edição que, sem dúvida, acontecem no texto que se segue, mas a opção era prolongar, excessivamente, o período de elaboração de um texto que, afinal, se pretende seja essencialmente prático; as próximas edições serão complementarmente revistas e melhoradas.

Regista-se, também, que foram, pontualmente, retiradas, em alguns dos textos citados as numerações relativas a notas bibliográficas específicas desses textos.

 

Qualidade de vida e qualidade pormenorizada na habitação para idosos e intergeracional “II” - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 808

 

Considerando a significativa extensão do artigo, ele foi editado em duas partes, regista-se, em seguida, o seu índice temático total e com os itens editados esta semana salientados a negrito:

 

Estrutura do tema/artigo

Introdução (onde se apresenta e comenta, brevemente, a estrutura e conteúdo do artigo)

1. Reflexão sobre a importância de uma afirmada habitabilidade e domesticidade em soluções habitacionais estrategicamente adequadas a pessoas fragilizadas

2. Notas sobre o desenvolvimento de um desenho de arquitetura que influencie positivamente na satisfação e na qualidade de vida diária e pessoal

(i) Aspetos que caraterizam o influenciar do comportamento através do design/projeto

(ii) O exemplo do recente desenvolvimento de ambientes « hospitalares » humanizados e amigáveis

3 . Sobre a importância da conceção de ambientes residenciais com qualidade arquitetónica,  positivamente simplificados e mesmo naturalmente terapêuticos e humanizados

(i) Simples e melhor: bases de pormenorização adequadas e com qualidade arquitetónica

(ii) Sobre a urgente e clara humanização de ambientes que integrem a vertente do apoio à saúde

4 Aspetos globais e sistemáticos de afetivividade caraterizando uma  habitação adequada para idosos

(i) Sobre a importância da afetividade no projeto de habitação adequada a idosos e algumas definições recomendáveis

(ii) Notas sobre as características físicas e de saúde do idoso e sobre a sua necessidade de afetividade

(iii) Qualidade de vida, afetividade, identidade e apropriação residencia

(iv) Considerações sobre espaços habitacionais adequados e afetivos para os idosos

(v) Aspetos de afetividade espacial e de suporte de memórias numa habitação adequada para idosos

(vi) Síntese relativa a espaços e pormenores habitacionais considerados adequados para idosos

(na semana passada foram editados os itens acima referidos, esta semana editam-se os itens seguintes marcados a negrito)

5. Notas sobre a sequência que deve ir do projeto à pós-ocupação de ambientes para pessoas fragilizadas

(i) Sobre a aplicação de técnicas de abordagem qualitativa nos processos de projeto de Arquitetura mais complexos

(ii) Notas sobre processos de apoio a projetos de Arquitetura mais complexos

6. Aproximação a alguns aspetos particularizados mas estruturantes na conceção de ambientes residenciais para pessoas fragilizadas

(i) Notas a propósito da aplicação de uma estratégia psicológica no design hospitalar

(ii) Notas a propósito de uma reflexão sobre a importância dos espaços intermediários na conceção residencial

(iii) Notas a propósito da importância de soluções residenciais e urbanas que promovam ativamente as atividades físicas dos habitantes

(iv) Notas a propósito de um guia de desenho para residências com cuidados

(v) Reflexão a propósito de uma conceção “doméstica” pormenorizada de “equipamentos de saúde”, (tipo de espaço a tipo de espaço)

Breves notas de remate

 

5. Notas sobre a sequência que deve ir do projeto à pós-ocupação de ambientes para pessoas fragilizadas

Subtemáticas do presente item :

 (i) Sobre a aplicação de técnicas de abordagem qualitativa nos processos de projeto de Arquitetura mais complexos.

(ii) Notas sobre processos de apoio a projetos de Arquitetura mais complexos.

Nesta parte do artigo apontam-se algumas notas sobre a sequência que deve ir do projeto à pós-ocupação de ambientes para pessoas fragilizadas, uma preocupação que, se deve existir em qualquer tipo de promoção habitacional e, designadamente, que mereça apoios oficiais, então o que dizer dos casos referidos a soluções residenciais e mistas mais complexas, como se julga será o caso das intervenções residenciais intergeracionais e participadas que integrarão o PHAI3C. E por isto no artigo e em seguida aborda-se a aplicação de técnicas de enquadramento qualitativo dos processos de projeto de Arquitetura mais complexos e sobre os respetivos processos de apoio.

(i) Sobre a aplicação de técnicas de abordagem qualitativa nos processos de projeto de Arquitetura mais complexos.

No sentido específico do PHAI3C considera-se especialmente importante o desenvolvimento e aplicação de uma abordagem qualitativa e marcada por uma especial sensibilidade, tendo-se em conta quer a complexidade dos respetivos processos de projeto, quer a anteriormente salientada perspetiva afetiva que se julga dever marcar os respetivos espaços arquitetónicos.

Sendo, assim, importantes e sendo relativamente raras as reflexões sobre a importância real da análise qualitativa quando se pretende aprofundar a qualidade arquitetónica, matéria julgada essencial no desenvolvimento do PHAI3C, citam-se, em seguida, alguns aspetos associados a tais análises, referidos no estudo realizado por um amplo conjunto de autores, sendo primeira autora Zuleica Maria Patrício Karnopp, e o estudo intitulado « A pesquisa qualitativa e o ente da arquitetura e urbanismo »: (8)

O exercício sistemático de aplicação de técnicas de abordagem qualitativa no cotidiano dos processos de projeto aperfeiçoa a sabedoria do arquiteto, ampliando seus conceitos de "ambiência dos espaços", sejam estes do habitar humano individual ou coletivo. Posto que, segundo Malard (35), “ambiência” nada tem de esotérico ou impalpável, trata-se de uma dimensão bastante concreta da arquitetura. Considerada como um conjunto de qualidades que fazem de um lugar um espaço “sagrado”, ambiência representa um constante processo de apropriação, exigindo atitudes de cuidar, seja para preservar, arrumar ou para embelezar o lugar.

Toda essa apropriação de espaços é nada mais nada menos, que ação de humanizar ambientes, o que significa torná-los adequados ao uso humano ... (pp. 8-9)

No que se refere aos espaços privados e comuns do PHAI3C e sublinhando-se, designadamente, os primeiros, é essencial que o arquitecto disponibilize ao morador todo um conjunto de ferramentas e “truques” de recriação, « ambientação » e vias de apropriação espacial e caracterizadora, capazes de tornar o(s) “seu(s)” espaços num sítio realmente único, memorável, desejado, confortável e envolvente, qualificações estas também aplicáveis, mas de forma mais atenuada e/ou neutral, nos espaços comuns, de forma a nos aproximarmos de uma satisfação comum de todos os residentes.

E não tenhamos dúvida que, havendo uma verdadeira consultoria bem qualificada e informada, a intervenção da arquitectura de interiores aplicada, naturalmente, sobre condições básicas de arquitectura bem adequadas a pessoas fragilizadas, será capaz de recriar os espaços e ambientes disponíveis, compensando, em boa parte, eventuais perdas de espaciosidade e de alguma autonomia.

(ii) Notas sobre processos de apoio a projetos de Arquitetura mais complexos: dos guias de apoio sistematizados às avaliações pós-ocupação

No sentido específico do PHAI3C sublinha-se que o desenvolvimento de guias de apoio sistematizados e de avaliações pós-ocupação (APO) pode ser essencial em intervenções deste Progtama que tenham apoios públicos e, eventualmente, em intervenções pioneiras no âmbito do Programa; será, no entanto, difícil encontrar técnicos e investigadores verdadeiramente imparciais e especializados, designadamente, no âmbito das APO, o que talvez recomende o recurso a técnicos fora do país (ex., Brasil/FAUUSP).

Nestas matérias o documento do Design Council, intitulado Design Review Principles and Practice (9)  é considerado de grande importância para consultas eventuais, que se recomendam, consistindo numa excelente sistematização de aspetos técnicos que faria pouco sentido abordar aqui de uma forma extensa.

Também em termos do apoio ao processo de projeto de edifícios relativamente complexos e com conteúdos específicos de apoio ao bem-estar e à saúde considera-se que o desenvolvimento de ações de avaliação pós-ocupação (APO) é fundamental para apoiar e dar perspetivas teórico-práticas consolidadas às novas intervenções.

Neste sentido e a título de exemplo julgado significativo citam-se e comentam-se alguns aspetos contidos numa avaliação pós-ocupação de um edifício de apoio a doentes com doenças oncológicas, desennvolvida por Fionn Stevenson e intitulada A post occupancy evaluation of the Dundee Maggie Centre. Final Report: (10)

O referido estudo aborda a capacidade do design arquitetónico de um dado edifício poder influenciar a satisfação de utentes expressivamente fragilizados, tentando, de certa forma, proporcionar-lhes uma vivência com valor efetivo no tempo que essas pessoas aí passam – talvez mais do que uma distração trata-se de proporcionar uma vivência muito positiva, intensa e duradoura dos ambientes, espaços, relações e pormenores aí proporcionados.

Naturalmente que a idade não é uma doença, mas muitos idosos estão fragilizados e muito habituados, no âmbito dos seus espaços habitacionais, a estigmas e comportamentos negativos, tantas vezes quase embebidos em espaços e funções em que aquela que deveria ser a componente principal desses espaços, a residencialidade, é deturpada ou dominada por outras componentes, como por exemplo as de enfermagem, que em vez de serem complementares e agradavelmente camufladas, se tornam predominantes e dissonantes dessa desejável e estimulante residencialidade.

No sentido específico do PHAI3C poderemos usar este tipo de referências, em seguida apontadas e comentadas, e que visam um agradável e estimulante ambiente residencial, como elementos “chave” no desenvolvimento de edifícios residenciais intergeracionais para pessoas fragilizadas e até, eventualmente, sofrendo do “sindroma da mudança” da sua habitação.

A título de comentários avaliativos com importância para a estruturação do PHAI3C junta-se, então, um conjunto de importantes elementos técnicos qualitativos, extraídos do referido documento de Fionn Stevenson:  

. The evaluation aimed to establish: the effectiveness of the design concept in terms of the original brief and care model the overall user satisfaction with the building the extent to which people perceive the building as contributing to their sense of comfort, wellbeing and health… The results of the small pilot survey indicate that the building has successfully achieved the following objectives of the brief:

- a highly effective design concept in relation to the Maggie Centre’s care model. [modelo este onde se integra esta intervenção]

- very high user satisfaction overall, with facilities providing a calm and friendly space and an appropriate degree of privacy.

- high level of overall comfort.

- users perception of increased health and wellbeing due to visiting the building.

- particular appreciation of the views out of the building.

- low level of maintenance required.

. Underlying a sustainable design strategy for small scale healthcare environments are two prerequisites:

- The recognition that environmental design is an intrinsic part of healthcare design and provides multiple benefits including: economic, psychological and social.

- The understanding of design within an ecological framework, recognising that the design of buildings is fundamentally a process rather than just a product. (pg. 4)

. A primary way of improving the design of small scale healthcare buildings is by focusing on how users experience them, both in terms of orientation and their senses.

. Seminal POE work by Professor Lawson and colleagues in Sheffield University has proven the link between good design and improved bed-patient recovery times, demonstrating the importance of patients being able to view nature, good daylighting, ventilation and patient’s ability to control their environmental conditions.

. The findings have informed a revised version of AEDET, the NHS tool for auditing design quality in hospitals. At the same time, Charles Jencks, an architect and critic with international stature, has pioneered a new healing typology, The Maggie Centre, which aims to empower cancer day-care patients and their carers. (pg. 6)

O PHAI3C também é/será uma nova tipologia residencial, urbana e de apoio individual e estímulo social, desejavelmente com pequena escala e que pode retirar deste tipo de estudos um leque muito grande e vital de aspetos concretos (ex., as indicações do Prof. Lawson que acabaram de ser apontadas sobre os quartos são de grande importância para edifícios onde muitas pessoas permanecem longo tempo no quarto/pequeno fogo e até eventualmente acamadas);

Por outro lado aqui fica novamente evidenciada a importância da qualidade da arquitetura em tudo isto, uma arquitetura cuja concecção fica assim colocada na “primeira linha” de importância para o desenvolvimento de um edifício com significantes facetas assistenciais e de apoio ao bem-estar e à saúde, mas também residenciais, e também conviviais e de amplo apoio pessoal e vicinal; numa problemática de harmonização de tais facetas com predomínio natural do respetivo caráter residencial e urbano, que carateriza um objetivo projetual tão exigente como sensível.

Mas voltando  ao documento que está a ser citado e comentado e aos úteis objetivos específicos dos Maggie’s Centres no sentido da melhor vivência possível dos doentes e seus cuidadores, objetivos estes muito aplicáveis no Ambito do PHAI3C :

. The Maggie’s Centres organization has four main goals:

- To lower the stress level of a patient

- To provide psychological support

- To help patients navigate the information-explosion on cancer

- To provide peaceful and striking environments with an important place for art and gardens

. As bespoke and distinctive healing environments, they represent an alternative approach to the traditional cost-driven design of healthcare buildings by deliberately fore-grounding design as a key factor in promoting wellbeing. (pg. 7)

. The use of the open plan space demonstrated a relaxed and sensitive interaction between staff and visitors, with the entrance area. (pg. 8)

. Visitors, both first timers and regulars, congregated in the kitchen area, with subtle levels of interaction that saw some sitting quietly away from the table conversation, while others engaged more directly with each other.(pg. 9)

. The overall design of the building is very much appreciated. Visitors would appear to positively “trade off” certain design qualities of the building such as the exploitation of external views and its overall impression against certain functional aspects such as layout, use of space and people’s needs.

This leads to the building having a high “forgiveness” factor, whereby people are willing to “forgive” functional issues because of their appreciation of other design qualities. (pg. 10)

Considera-se muito importante este relevo dado a um novelo de importantes qualidades projetuais, ligadas a uma estruturação espacial talvez mais « doméstica » do que funcional, talvez mais « familiar » do que « estranha » e tecnológica, talvez mais calorosa e atraente do que fria e « neutral » ; e é realmente interessante esse « fator de perdão », referido acima, que têm tais ambientes envolventes, confortáveis e agradavelmente estimulantes, relativamente a alguns eventuais problemas de funcionalidade e espacialidade. Matéria esta que tem evidentemente grande aplicação na reflexão sobre o PHAI3C; tal como podemos concluir a partir das seguintes citações do documento que está a ser referido:

. Recommendations for future briefing and design of Maggie’s Centres arising from the interview findings include:

- the requirement for discreet and flexible storage facilities related to the office. These could be designed to look domestic, e.g. built in shelving and filing systems with doors to close off views of paperwork. (pg. 25)

- separating the office area off from the entrance, while still maintaining adequate sight lines. Sight lines need to be carefully checked at design stage. providing a sound- proof but moveable partition between the smaller retreat room and therapy room to allow these to be opened up for more flexible use.(pg. 26)

Fazendo mais uma, possível, « transposição » destes aspetos para a conceção arquitetónica do PHAI3C a questão dos espaços de serviço mais “doméstico” e dos espaços ligados aos serviços comuns e suplementares também é matéria de grande sensibilidade e importância, devendo os primeiros serem extremamente inconspícuos e os segundos, em parte totalmente separados do espaço residencial e provavelmente com acessos próprios à rua – porque  servindo também a vizinhança – e em parte « domesticados » nas suas interfaces com os espaços comuns mais usados pelos residentes.

6. Aproximação a alguns aspetos particularizados, mas estruturantes, na conceção de ambientes residenciais para pessoas fragilizadas

Subtemáticas do presente item :

 (i) Notas a propósito da aplicação de uma estratégia psicológica no design do tipo hospitalar

(ii) Notas a propósito de uma reflexão sobre a importância dos espaços intermediários na conceção residencial

(iii) Notas a propósito da importância de soluções residenciais e urbanas que promovam ativamente a movimentação e as atividades físicas dos habitantes

(iv) Notas a propósito de um guia de desenho para residências com cuidados (exemplo promovido por um município).

(v) Reflexão a propósito de uma conceção “doméstica” pormenorizada de “equipamentos de apoio à saúde”, (tipo de espaço a tipo de espaço).

Em seguida e constituindo-se como abertura temática à última parte deste artigo, uma parte que aborda aspetos mais específicos, desenvolve-se uma cuidadosa aproximação a alguns aspetos particularizados, mas que se julgam estruturantes na conceção de ambientes residenciais para pessoas fragilizadas.

Com este objetivo introduzem-se, primeiro, algumas notas a propósito da aplicação de uma estratégia psicológica na conceção e design do tipo hospitalar, passando-se em seguida para uma reflexão sobre o que se considera ser a importância dos espaços intermediários na conceção dos espaços bem habitados – de certa maneira aprofundando-se uma preocupação espacial mais qualitativa do que funcionalista – e, finalmente, acrescentam-se algumas notas a propósito da importância de soluções residenciais e urbanas que promovam ativamente as atividades físicas dos habitantes e que na prática poderão ser quase determinantes nas respetivas escolhas tipológicas (ex., edifícios baixos, acessos que estimulem a deslocação, etc.).

Avançando-se, depois, naturalmente, numa aproximação a casos e apontamentos mais concretos, o presente item e o artigo são concluídos com uma reflexão sobre os caminhos mais correntes e mais atuais da conceção de ambientes residenciais para pessoas fragilizadas, utilizando-se, para apoiar esta reflexão,  algumas notas a propósito de um guia de desenho para residências associadas a cuidados pessoais específicos e, depois, um conjunto de notas referidas a uma conceção caraterizadamente “doméstica” e pormenorizada de “equipamentos de apoio à saúde”.

(i) Notas a propósito da aplicação de uma estratégia psicológica no design do tipo hospitalar

Já aqui se apontou que se os ambientes hospitalares têm sido gradualmente humanizados, tornados menos frios e funcionais e potencialmente apropriáveis desde há várias décadas, não parece fazer qualquer sentido que ambientes dominantemente residenciais potencialmente habitados por um número significativo de idosos sejam, ainda, frequentemente, marcados por ambientes que poderemos designar « de enfermaria », evidenciando máquinas, funcionalidades, facilidade de limpeza e frieza institucional.

Acrescenta-se, ainda, que esta reflexão assumirá, ainda, um relevo e uma importância muito especiais quando se pretende, como é o caso no âmbito do PHAI3C, que tais ambientes residenciais onde irão habitar muitos idosos, sejam igualmente habitados por adultos e adultos jovens, recriando-se uma unidade de habitação coletiva multigeracional e multifuncional, pois também desejavelmente incluindo espaços comuns multifuncionais e outras funções de apoio residencial e urbano ; é evidente que então nestas circunstâncias não pode mesmo haver nem indícios desses apoios especializados à saúde – isto embora os espaços devam poder integrar tais apoios.

Foi neste sentido que se julgou oportuno integrar aqui algumas notas selecionadas a propósito da aplicação de uma estratégia psicológica no design hospitalar ao serviço dessa referida humanização e mesmo residencialização de espaços, estes sim muito diretamente ligados à prestação de cuidados de saúde e daí as citações comentadas ao estudo de G. Fischl e A. Gärling, intitulado Patients’ and architects’ perspective of psychosocial supportiveness in a health care facility,  que se seguem. (11)

São, assim, em seguida citados, do referido estudo, alguns aspetos dedicados, especificamente, ao desenvolvimento de ambientes sem stress, ambientes psicosocialmente apoiantes e mesmo ambientes terapêuticos; tudo numa perspetiva ligada à respetiva pormenorização de arquitetura e tendo sempre presente a sua potencial e parcial aplicação no sentido específico do PHAI3C:

. Spearman’s correlation was calculated to determine associations between architects and patients mood to perceptions of the environmental variables. Among architects, the analysis showed that ceiling pattern (0.47, p<.05) was positively associated to mood while chair color (-0.46, p<.05) was negatively associated. Among patients, it was found that wall color (-0.50, p<.05), windows location (-0.60, p<.05) and meaning of photographs (-0.66, p<.01) were negatively correlated to mood.

. Patients above the age of 50 years perceived environmental variables such as floor pattern, furniture pattern as well as color of photographies as significantly more positive than patients below 50 years of age. The noise and safety levels were perceived by patients above 50 years as more acceptable, while the flower material was perceived as more negative in comparison with patients below 50 years of age.

. By calculating frequencies of significant differences for architect and patient subject groups’ rankings of the environmental details was possible: 1. window (18), 2. floor (9) and wall (9), 3. ceiling (7) and furniture (7), 4. handicraft (2), photography (2), chair (2) and curtain (2), 5. noise level (1), safety (1), space for moving (1). (pg. 3)

… With regards to the outstanding importance of windows, further research may focus on how the restorative potential of the built environment can be influenced by means of architectural details. (pg. 6)

Lembra-se, desde já, que, quando trabalhamos especificamente para uma afirmada satisfação de várias gerações, o desenho das janelas pode e deve considerar, entre outros aspetos, a possibilidade de elas serem bem úteis não só para vista de pé, mas também para vistas a partir de posições sentadas e mesmo a partir de posições deitadas.

E fica a questão : será que este tipo de cuidados de projeto têm sido, pelo menos, minimamente considerado nos últimos tempos na conceção de edifícios usados em boa parte por pessoas fragilizadas?

(ii) Notas a propósito de uma reflexão sobre a importância dos espaços intermediários na conceção residencial

Não se estranhe este item, pois se estamos a avançar, neste estudo, do geral para o particular, e tendo em conta que os espaços residenciais do PHAI3C poderão ser razoavelmente “concentrados” ou “compactados” (usando-se este termo apenas numa perspetiva objetivamente formal e funcional), então, para além de funções habitacionais terão de existir microfunções e para além de espaços domésticos “maiores” ou “uniformes”, deverão existir “microespaços” muito inter-relacionados e adaptáveis e, neste sentido, fica evidente a importância de uma reflexão sobre a importância dos espaços intermediários na conceção residencial; que importará, naturalmente, apurar e desenvolver posteriormente.

No sentido específico do PHAI3C esta matéria dos espaços intermediários será também muito importante no desenvolvimento de espaços comuns de transição entre as zonas privativas e as mais socializadoras e mesmo de espaços de uso público condicionado que cativem residentes do edifício e da vizinhança ; e aliás são vários os grandes arquitetos que defendem que boa parte da arquitetura se desenvolve em espaços « entre », de transição, passagem e relação.

E se estamos a trabalhar numa expressiva humanização, não institucionalização e equilibrada desfuncionalização das intervenções do PHAI3C então nada melhor do que trabalhar nos « entre-espaços » e nas relações entre ambientes, para lá da estafada « métrica » funcionalista.

Nesta perpsetiva e tendo em conta a sua provável importância numa adequada estruturação arquitetónica do PHAI3C juntam-se, em seguida, citações do documento de Ana Luz, intitulado Places In-Between: The Transit(ional) Locations of Nomadic Narratives: (12)

. The guiding principle of urbanism was always division. Framing, fencing, dividing and limiting define enclosure and contrast, and generally the term limits stands for the boundaries that demarcate the spaces on either side. Following both Elizabeth Grosz and bell hooks’ thoughts, this text will discuss the possibility and openness of a third space between the two sides of the margin, i.e., the margin itself as a liminal space...

. Spatially speaking, the position of the in-between implies a middle location between two events and opposed spaces, for instance: between in and out, here and there, this and that (sides).

. The concept of in-betweeness will be considered as a natural process of place-making, ... (pg. 143)

. One can almost say that the cliché of the in-between is everywhere, and every author has a different name or text to explain it. … However, I would like to suggest that the concept of inbetweeness implicates instead an inter- form, a prefix that means juxtapositions, overlapping, concurrence, layers, a dialectic interaction between things (objects, subjects and spaces). (pg. 143-144)

(iii) Notas a propósito da importância de soluções residenciais e urbanas que promovam ativamente a movimentação e as atividades físicas dos habitantes.

Como estamos a abordar variados aspetos que, sendo talvez mais particulares, poderão, no entanto, mesmo influenciar a estruturação de intervenções específicas do PHAI3C, não poderia faltar uma referência clara a um desenho residencial e misto que promova a movimentação confortável e segura essencialmente horizontal, através de percursos e zonas comuns atraentes e bem estruturadas, mas também, pontualmente, e com alternativas, através de pequenas escadas muito bem desenhadas em termos ergonómicos e de segurança no uso.

Naturalmente que uma tal preocupação deverá conviver com a maximização das acessibilidades em termos de ascensores e meios específicos de apoio à circulação de pessoas muito condicionadas em termos de movimentação, mas atenção para que tais preocupações não desvirtuem um ambiente geral agradavelmente digno e residencial, sem estigmas evidenciados referidos a esses apoios.

Esta é uma perspetiva que terá influências diretas tanto na escala global e num expressivo desenvolvimento horizontal das intervenções do PHAI3C, como nos seus muito desejáveis “prolongamentos” exteriores em zonas exteriores com diversos usos – por exemplo, pátios de estar e pequenas hortas – e em pequenos percursos pedonais protegidos, onde os habitantes possam “deambular” confortavelmente.

Este enfoque específico na dinamização da movimentação segura dos residentes deverá ter desenvolvimento em termos de um acentuado favorecimento das mais diversas atividades físicas; desde as simples estadias em espaços exteriores privados, ao cuidar das plantas em canteiros e pequenos talhões hortícolas, até às essenciais atividades de preparação física específica, que deverá ser devidamente adequada às diversas capacidades físicas, e que deverá sempre ser prevista com um sentido de expressiva dignidade e atratividade dos respetivos espaços e equipamentos.

Apenas a título de exemplo da importância da atividade física no bem-estar dos mais idosos refere-se e cita-se o estudo de Gretchen Reynolds intitulado Why lifting weights can be so potent for aging well: (13)

O treino orientado de resistência aplicada a todo o corpo, com base em levantamento de pesos, desenvolvido durante 3 meses, leva a ganho de força e melhorias de saúde, e a um hábito de prática dessa atividade com autonomia (não supervisionado) pelo menos uma vez por semana.

No sentido do PHAI3C parece ser possível associar este tipo de exercício com o do passear com pesos nas mãos, favorecendo-se a qualidade deste excelente exercício; no entanto há que ter em conta, tal como foi acima apontado, a necessidade de se contemplar a existência de um espaço específico e digno para apoiar esta atividade, provavelmente, com boa luz natural e relação com o exterior natural, podendo ser multifuncional, mas não se harmonizando com conversões profundas (ex., de zona de estar).

Outras atividades físicas mais elaboradas e exigentes em termos de instalações e equipamentos de apoio poderão ser previstas, pelo menos, em termos de reserva de espaço para futura instalação ; e nestas evidentemente as ligadas a instalações e equipamentos aquáticos serão especialmente bem-vindas, mas aqui entra-se em níveis de previsão muoto elaborados e daí a ideia da reserva de espaço.

(iv) Notas a propósito de um guia de desenho para residências com cuidados (exemplo promovido por um município)

A perspetiva de abordagem destas temáticas de uma forma técnica e sistemática encontra já, felizmente, um muito amplo campo documental muito amplo, diversificado e especializado, designadamente, em termos de « guias de desenho » que embora na grande maioria não dedicados especificamente a intervenções intergeracionais, podem e devem ser diretamente muito úteis no âmbito da aplicação prática pormenorizada do PHAI3C ; e daí a inclusão deste item, elaborado a propósito de um guia de desenho para residências com cuidados ou « apoiadas ».

No sentido específico do PHAI3C os conteúdos de muitos guias de desenho para residências apoiadas e para habitação adequada a idosos tratam, assim, de matéria diretamente aplicável, mas que é, aqui, considerada, essencialmente nos seus aspetos estruturadores do desenvolvimento arquitetónico global do Programa, embora chegando, naturalmente, a apontamentos práticos muito interessantes, que se procuraram, desde já salientar.

Nesta perspetiva é, em seguida, amplamente citado e comentado o estudo de Anne Prentice e da Housing LIN, intitulado Developing a Design Guide for Accommodation with Support / Care at Sunderland City Council: (14)

. This case study explores design solutions for models of accommodation including extra care and similar provision of housing with care and support for adults of all ages, with examples provided from other schemes and contributions from other commissioners and providers. (pg. 5)

A título informativo regista-se que o documento que acabou de ser citado e que nos acompanhará, em seguida,  é considerado de grande importância para consultas eventuais, consistindo numa sistematização de aspetos técnicos que faria pouco sentido abordar aqui de forma muito extensa.

Retomando a temática importa sublinhar, aqui, a definição que se propõe de “residências apoiadas”, para não se confundir com o conceito, mais lato e essencialmente económico, de “habitação apoiada” e no plural, para se atenuar o sentido institucional; importa ainda salientar a ideia aqui existente de residências apoiadas dedicadas a pessoas de qualquer idade.

Continuando esta reflexão no âmbito do PHAI3C poderemos passar para um conceito/definição de “residências intergeracionais” (ou Residências Intergeracionais Urbanas ou Residências Intergeracionais com Serviços), apenas, não se referindo “apoios” ou “serviços”, também para se evitarem estigmas e mal-entendidos e deixando-se os espaços comuns como característica específica de tal (nova) forma de habitar e os respectivos serviços que existirão (ou até não), como algo que pode acontecer nesses espaços.

Esta ideia de poder designar/identificar melhor uma intervenção que se enquadra no PHAI3C parece ser importante no sentido de se pugnar pela dinamização deste tipo de intervenções.

É muito interessante a dualidade de uma nova intervenção (i) útil e aberta à comunidade local e, simultaneamente, (ii) que apoie ao máximo o uso do espaço público e dos equipamentos locais por pessoas com eventuais fragilidades; de certa forma é dar e receber e sempre num crescendo de urbanidade local, que pode ser mais um factor dinamizador de intervenções PHAI3C, designadamente, no seu apoio municipal e público.

A defendida coordenação do design e desenvolvimento da solução com aspetos de gestão a longo prazo e manutenção consiste, verdadeiramente, numa aproximação a algo que se pode definir como uma gestão por um lado « para-hoteleira » e, por outro lado multifuncional e multisensível, pelo que é extremamente exigente ; e tendo tudo isto em conta, muito provavelmente, só uma adequada sensibilidade cooperativa poderá harmonizar tais condições dentro de limites de custos aceitáveis para o objetivo em vista : que é, também, o de atribuir ao PHAI3C estatuto como uma verdadeira nova categoria de Habitação de Interesse Social Portuguesa (HISP).

No referido estudo de Anne Prentice e da Housing LIN defendem-se alguns aspetos verdadeira e potencialmente estruturadores da solução global de arquitetura urbana de intervenções « for Accommodation with Support / Care » , que são em seguida citados globalmente e que aqui iremos , por vezes, associar às intervenções do PHAI3C:

. Defende-se uma maximização do uso do espaço exterior (no Reino Unido salienta-se este objetivo de projeto) e também uma maximização, associada, do ambiente natural; condições estas não dispendiosas e extremamente eficazes em termos de satisfação residencial de todos os níveis etários e em particular dos seniores.

. Defende-se o conciliar dos novos modos de habitar com uma inovação construtiva sustentada em termos ambientais e económicos; e, assim, realmente visa-seo futuro das necessidades.

. Considera-se que é realmente vital considerar para além das exigências e desejos dos residentes, as necessidades e as próprias perspetivas dos visitantes e de quem aí trabalha diariamente.

. Há que conceber para um habitar potencialmente muito apoiado, mas fazê-lo de forma expressivamente “camuflada”, no que se refere às exigências de um tal habitar, e fazê-lo sem beliscar o essencial bloco de exigências de atractividade, domesticidade e integração, que devem caraterizar a habitação corrente. E este objetivo é essencial se quisermos integrar, como é desejável, várias “categorias” de habitantes numa mesma intervenção; evidentemente que haverá limites ao “nível” de apoios e cuidados possíveis numa habitação integrada num PHAI3C, mas serão sempre limites mais elevados do que os possíveis numa habitação corrente e não previamente preparada para a integração dos referidos apoios e cuidados, bem como para o seu uso por pessoas condicionadas na movimentação e na perceção.

E continuando com referências específicas e comentadas ao conteúdo do importante estudo de Anne Prentice e da Housing LIN, intitulado Developing a Design Guide for Accommodation with Support / Care at Sunderland City Council, (14) avançamos em seguida para outros três aspetos particularizados mas estruturadores do desenvolvimento de habitações « apoiadas » e também dos pequenos fogos do PHAI3C : desenvolver uma habitação espacialmente concentrada e pouco extensa, mas muito envolvente, agradável e bem apropriável ; considerar o uso por habitantes com diversas fragilidades de movimentação e perceção ; e ter mesmo em conta alguns aspetos que favorecem o uso da habitação por pessoas com demências.

a) Desenvolver uma « pequena » habitação, mas muito envolvente, agradável e bem apropriável

É muito importante esta perspectiva ampla e cosy, de um habitar inovador porque vai buscar o melhor da melhor habitação permanente, embora em “doses” razoavelmente minimalistas (ex.º microespaços), assim como o melhor da “habitação” hoteleira e, ainda, o melhor de uma estrutura cooperativa em termos de gestão, participação e convivialidade. De certa forma é juntar ao habitar funcional o habitar por prazer e por lazer e ainda toda uma outra série de atividades compatíveis - viver, jogar, trabalhar, estudar, etc.; não se trata aqui, realmente, de uma qualquer “máquina de habitar”, nunca se trata, hoje em dia de uma tal máquina « contra-natura » e ainda mais quando estamos a visar habitantes fragilizados .

Sobre esta matéria importa lançar, aqui, uma reflexão cujo desenvolvimento terá de ser posterior a este artigo, mas que desde já se refere a uma capacidade, que é naturalmente rara, de se desenvolverem espaços residenciais cuja « compactação » não prejudica e até estimula a mútua relação entre espaços e funções e entre « microespaços » e « microfunções » ; tem de se tratar realmente de fazer « boa arquitetura » e não serão todos capazes de lá chegar, mas haverá, naturalmente, lugar à divulgação de boas práticas e de soluções exemplares, posterioremente reinterpretadas e sempre, desejavelmente, melhoradas.

Fig. 01 – A imagem é ótima no sentido de uma ampla cozinha funcional e convivial, porque bem aberta ao estar; proporciona-se muita coisa, designadamente, o uso da zona de cozinha como espaço de lazer e passatempo culinário (imagem tratada com o programa Prisma). 

Não se resiste a comentar que o microzonamento de pequenos apartamentos não é fácil nem se confunde com a simples e tantas vezes simplista disposição de pequenos conjuntos de mobiliário, talvez imaginando que as pessoas vão seguir essa sugestão mal fundamentada; há que conhecer muitos usos e hábitos de ocupação doméstica, há que imaginar realmente que somos nós os habitantes e até diversos habitantes, com diversos gostos e hábitos e tal não é nada fácil ; mas só assim chegaremos a algum lado.

E por outro lado deveríamos tentar defender o uso dos apartamentos numa perspetiva verdadeiramente adequada, tantos em termos de funcionalidade, como de apropriação, como e dignidade residencial ; isto porque muito poucos habitantes têm a sensibilidade e o conhecimento para assim procederem e, tendencialmente, com poucos espaços e com eventuais espaços relativamente complexos para apropriar os resultados podem ser desastrosos em termos do desejado máximo bem-estar privado – e talvez por isso há casos de intervenções dedicadas a idosos onde existe aconselhamento específico ao nível da arquitetura interior das unidades habitacionais.

b) Projetar para habitantes com problemas de visão e outras fragilidades
Visar um projeto habitacional muito dirigido para o apoio a pessoas sensorial e fisicamente fragilizadas, tal como se cita em seguida, do documento que está a ser referido, e neste caso numa exemplificação muito dirigida para a fundamental matéria da iluminação natural:

Consideration must be given within scheme design to the natural light provision; colour schemes and tonal contrast. Shadows must be reduced so as not to cause confusion as this could be considered as a barrier or a step. Shiny surfaces should be avoided and nonreflective materials used. Patterns should be minimised and natural materials maximised to support way finding. The requirements of guide dogs within the accommodation and within public space must also be considered.

We acknowledge that this is an area that requires additional information as good practice emerges, although some information has been outlined relating to learning disabilities; hearing impairment; mobility; long term illnesses / conditions. (pg. 7)

O que foi aqui referido relativamente a uma especial habilitação dos espaços residenciais para pessoas fragilizadas no que se refere à respetiva iluminação natural deverá ser tomado em conta, pelo menos, em três facetas qualitativas específicas :

. a primeira naturalmente ligada à extrema importância que tem esta qualificação da iluminação natural e também da iluminação artificial na satisfação, na agradabilidade nos usos interiores e na segurança das pessoas fragilizadas ;

. a segunda correspondendo à já apontada grande importância que tem a conceção geral e pormenorizada da fenestração exterior em idênticos aspetos de agradabilidade e estímulo do uso da habitação, por pessoas que tendencialmente permanecerão bastante tempo nesse interior, visando-se, aqui, especificamente a comunicabilidade entre interior e exterior e a vital importância do « espetáculo » e da « cenografia » que pode e deve ser preparada com esses vãos e com as adequadas integração local e pormenorização da vizinhança ;

. e a terceira porque esta condição faz destacar a grande importância que tem o conforto, a sanidade e a sustentabilidade ambiental na sua globalidade no que se refere ao bem-estar, à saúde e à satisfação de habitantes fragilizados – lembrando-se aqui a importância de um interior: higrotermicamente equilibrado sem necessidade de muitas despesas;  recebendo insolação regrada ; sem humidades ; naturalmente bem ventilado ; bem isolado em termos sonoros ;  facilmente mantido e limpo ; e isento de materiais que afetem a qualidade do ar interior.

c) Projetar para habitantes com demências

Embora o objetivo do PHAI3C não seja o apoio específico a habitantes com demências, que obrigam a condições muito específicas, sabemos que as demências começam a surgir, mais frequentemente, em idades avançadas, e considerando-se, assim, que esta matéria é essencial, para que uma intervenção do PHAI3C seja adequada a um amplo leque de capacidades físicas e mentais.

E afinal as condições que favorecem o uso das habitações por pessoas com demências também favorecem o seu uso por todos os outros habitantes como fica evidente nos seguintes aspetos : a habitação deve ser especialmente clara em termos de leitura dos espaços interiores, bem estruturada, bem iluminada, bem isolada e acusticamente adequada, cromaticamente agradável e legível, e muito adequada em termos de design de comunicação e, já agora, de equipamentos (ex., sentido de conforto, etc.); e tudo isto faz também muito sentido porque os idosos tendem a ver pior, ouvir pior e a terem problemas de memória e de senilidade, sendo que o objetivo é que eles possam habitar aí, eventualmente, até morrerem. 

 (v) Reflexão a propósito de uma conceção “doméstica” pormenorizada de “equipamentos de saúde” (tipo de espaço a tipo de espaço)

Tal como já aqui se sublinhou, se até em equipamentos diretamente ligados à prestação de cuidados de saúde se está a implementar, dsde há já alguns anos, uma dinâmica de « humanização » ou mesmo « residencialização » dos ambientes – e haverá aqui interesse em sugerir que a « residencialização » se poderá referir a um grau mais íntimo e « cenográfico » de uma talvez mais simples « humanização » de espaços anteriormente frios, funcionais e institucionais –, então o que devemos defender para intervenções prioritariamente residenciais e apenas suplementar e pontualmente assistenciais como serão as ligadas ao PHAI3C ? E a resposta será muito provavelmente esse grau mais elevado de ambientes calorosos, íntimos, protetores/envolventes, e bem caraterizados e apropriáveis.

Para algum avanço nesta áreas regista-se aqui o atual e muito generalizado objetivo de alterar a conceção global do aspeto e da pormenorização dos “equipamentos de saúde” designadamente, num sentido da sua maior humanização e até alguma “residencialização”, usando-se para isto referências específicas a um estudo de David Nolan e dos Chi Partners intitulado Changing the Physical Environment of Nursing Homes  (15);  estudo este que contém aspetos recomendativos baseados numa análise de vários casos concretos e designadamente de tipologias de equipamentos de apoio à saúde, física e funcionalmente aproximados a soluções habitacionais (ex., as designadas intervenções no âmbito do processo designado por Green House®).

Na perspetiva do aprofundamento das caraterísticas funcionais e formais do PHAI3C importa considerar que ter-se aqui em conta a conceção de Nursing Homes, que poderemos traduzir por “casas de saúde”, embora não se aplicando diretamente ao PHAI3C, acaba por poder ajudar ao enquadramento deste Programa, visando-se um teto de condições potencialmente mais exigentes do que as correntes, que são essencialmente residenciais com apoios de serviços diversificados, mas tendo-se em conta que parte dessas condições, mais exigentes e direcionadas para o apoio específico aos cuidados de saúde, no Programa, deverão estar sempre espacial e funcionalmente previstas ou mesmo já “embebidas” de modo estrategicamente camuflado nos conjuntos residenciais do PHAI3C, e portanto sem qualquer visibilidade, a não ser quando tal seja devidamente aconselhado ou mesmo necessário e neste caso circunscritas aos respetivos espaços privados.

Neste sentido de uma procura de aspetos que caraterizem uma conceção “doméstica” pormenorizada de “casas de saúde”, e que possam ter aplicabilidade no PHAI3C, citam-se e comentam-se, em seguida, ao longo de diversas páginas (itens a), b), c) e d) ), alguns aspetos constantes do importante estudo de David Nolan e dos Chi Partners, que foi acima referido, onde se abordam sequencialmente as seguintes matérias : 

. potencialidades da criação de um ambiente doméstico e harmonização entre residencialização e cuidados de saúde;
. aspetos a salientar na tipologia de nursing home designada por Green House®/Small House ;
. aspetos a salientar na tipologia de nursing home que segue uma solução doméstica (Household Model) ;
. Apontamentos breves sobre aspetos que caraterizam os principais espaços destas tipologias de nursing homes muito residencializadas.

 

a) A propósito das potencialidades da criação de um ambiente doméstico e da harmonização entre residencialização e cuidados de saúde

The creation of a more home-like physical environment is one of the hallmarks of culture change in nursing homes, and facilities that have implemented culture change practices have shown an increased quality of care... (pg. 1)

No sentido específico do PHAI3C considera-se ser de extremo interesse haver esta partilha de objetivos entre uma verdadeira intervenção residencial intergeracional com espaços comuns suplementares e um menu de serviços de apoio – que se deseja ser o caso do PHAI3C – e o desenvolvimento de uma “casa de saúde” com um ambiente mais “doméstico”; consideram-se, assim, caminhos em dois sentidos opostos : previsão de um espaço residencial onde possam ser instalados equipamentos e serviços específicos de apoio pessoal a determinadas condições de saúde ; e previsão de um equipamento de saúde profundamente « residencializado ».

Desta forma pensa-se estar a avançar bem em dois caminhos distintos mas naturalmente associados, ficando, apenas, por considerar até que ponto será de aceitar a eventual e gradual conversão de um conjunto PHAI3C numa intervenção expressivamente ocupada por idosos a necessitarem de muitos apoios.

Julga-se, desde já, que tal evolução poderá eventualmente acontecer e que não será legítimo colocarmos qualquer tipo de entraves à manutenção das pessoas nos seus “estúdios” e pequenos apartamentos, à medida que envelhecem e vão exigindo, gradualmente, cuidados de apoio mais específicos, sendo o limite a funcionalidade e disponibilidade de apoios especializados e havendo que ter muito cuidado, quer com os cuidados prévios de conforto ambiental e designadamente em termos de isolamento sonoro e de ventilação de cada unidade residencial e dos espaços comuns, quer com a própria estruturação espacio-funcional da intervenção (ex., possibilitando excelentes condições de estada prolongada nos espaços privados interiores e exteriores).  

Nestas perspetivas não tenhamos dúvidas de que a força e a oportunidade do PHAI3C passará, em boa parte, por este poder ser um Programa muito versátil e específico em cada uma das suas aplicações locais, mantendo um núcleo essencial de aspetos comuns, mas variando as suas duas facetas residenciais e de apoio à saúde, consoante cada situação específica; isto porque tal como se cita do documento que está a ser referido:

Today, culture change proponents suggest that nursing homes should be first and foremost a residence and, within that residence, quality health care is delivered and quality of life is supported. Additionally, care practice over that time has changed dramatically. Long-term care does not have to be delivered in an institutional setting in order to be high quality and many frail, nursing home-eligible individuals are receiving high quality care in their own homes.

Today, quality of life is now acknowledged to be as important as quality of care. (pg. 2)

No sentido específico do PHAI3C e tendo presente a importância da pessoa eventualmente fragilizada, que deve ser « central » nas respetivas preocupações em termos de habitação, bem-estar e saúde, consideram-se de grande importância as ideias acima registadas, que sublinham que « hoje em dia considera-se que a qualidade de vida é tão importante  como a qualidade na prestação de cuidados  de apoio ao bem-estar e à saúde ».

E por maioria de razão qualquer intervenção de apoio a idosos, mas basicamente residencial, deve ser expressiva e claramente “doméstica” na sua caraterização geral e pormenorizada; conclusão que põe em causa, claramente, parte da « linguagem » ainda vigente em termos de equipamentos de apoio aos seniores.

b) Aspetos a salientar na tipologia de nursing home designada por Green House®/Small House 

Licensed as a skilled nursing facility, the Green House® small home model goes beyond “home-like” to what truly feels like “home” through fundamental changes to architecture, organizational structure and philosophy of care... (pg. 3)

Muitos aspetos poderão ser aqui identificados como elementos úteis para o PHAI3C e, já agora, também no sentido dos equipamentos residenciais para idosos, salientando-se, desde já,  a interessante repartição em subgrupos de cerca de 12 pessoas, eventualmente, ao nível de um dado piso do edifício; o que levará, por exemplo, a soluções com cerca de 6 estúdios e apartamentos por piso com uma pequena zona de estar comum ; o que talvez se aproxime, estrategicamente, do desenvolvimento em planta de um edifício multifamiliar corrente – matéria esta que exigirá maior desenvolvimento.

c) Aspetos a salientar na tipologia de nursing home que segue uma solução doméstica (Household Model) 

A household is a place where a small group of residents live that is their home. It includes a kitchen (with a wide variety of food accessible to residents 24/7 including breakfast-to-order and upon request), a dining room and a living room.It encompasses renovations to an existing building, new construction of households within a building or single households in the form of cottages, houses and similar structures... (pg. 4)

Neste sentido salienta-se que esta « domesticação » e autonomização dos cuidados dos idosos e o respetivo centrar da atenção no indivíduo estreita a relação com a filosofia do PHAI3C.

Partindo-se de uma tradução de « household » por  uma conjugação entre habitação e família/grupo que a habita, lembrando-se, aqui, o que parece ser a natural e positiva emergência na terceira idade de novos tipos de agregados, e considerando-se a estruturação por « households », que é aqui apontada a propósito de uma tipologia de habitação apoiada para idosos que segue especificamente o Household Model, poderemos avançar que um tal modelo se aproxima muito de uma solução de Cohousing com uma componente de comunidade muito afirmada, o que corresponde a mais uma ponte entre estas matérias e o PHAI3C.

Evidentemente que próprio PHAI3C também deverá ter natural capacidade de opção básica por uma estrutura de cohabitação marcada por uma muito expressiva comunidade (ex., pequenas comunidades com evidenciados espaços comuns, vizinhos cozinhando uma vez por semana para todos, limpeza geral rotativa, etc.).

d) Apontamentos breves sobre aspetos que caraterizam os principais espaços destas tipologias de nursing homes muito residencializadas

Citam-se e comentam-se, em seguida e brevemente, e ainda a partir do importante estudo de David Nolan e dos Chi Partners, que foi acima referido, aspetos que caraterizam os ambientes interiores de « casas de saúde » muito residencializadas, salientando-se a importância da adequada previsão : das cozinhas privadas e comuns ; dos postos ou gabinetes de apoio à saúde (ex., enfermagem) e ligados a serviços de apoio ; do acesso aos quartos/espaços privados dos residentes ; e do espaço central de estar à lareira, ou principal espaço de estar e convívio:

Cozinhas privadas e comuns

No sentido específico das unidades privadas do PHAI3C julga-se que será de se optar por cozinhas e zonas de cozinha com segurança muito reforçada; e quanto à dimensão e protagonismo dos espaços parece não haver dúvida da sua importância, designadamente, quando muitos dos habitantes irão ter muito mais tempo disponível para preparar refeições e tomá-las enquanto convivendo.

No que se refere à eventual inclusão de uma cozinha comum, ou de um espaço de apoio à preparação de refeições comuns tal dependerá do perfil específico de cada intervenção, que pode ser mais ou menos comunitário. No entanto a reserva de um espaço equipado para apoio à preparação de refeições comuns pode ser sempre uma qualidade suplementar e em reserva que muito enriquecerá a caraterização funcional dos espaços comuns do PHAI3C sem significativos acréscimos de custos.

No entanto o que se considera ser muito favorável em termos da integração e vitalização urbanas de cada intervenção do PHAI3C e, simultaneamente, um elemento muito rico da sua vivência específica consiste na desejável integração de um equipamento de restauração autonomizado do funcionamento do conjunto residencial do Programa, pois será, provavelmente, mais sustentável, para além de ser fator de integração local e comunitária – isto se o local for razoavelmente “central”, como deve ser.

Postos e gabinetes de apoio à saúde e de diversos serviços de apoio

As nursing homes were patterned after hospitals, nurses’ stations in nursing facilities are similar to nurses’ stations in hospitals.They are often located at the entry to the nursing facility and are the first thing that one sees as one walks through the door. [desta forma] The nurses’ station simply reinforces the concept that this is an institution, not a home... (pg. 14)

Sobre os postos de apoio à saúde e outros espaços específicos para serviços de apoio, considera-se que no PHAI3C eles deverão estar totalmente camuflados e mesmo, sempre que possível, fisicamente destacados e autonomizados em termos de acessos exteriores, proporcionando-se, assim, a sua utilização pela comunidade de vizinhança e não apenas pelos habitantes do PHAI3C, com vantagens seja para a respetiva caraterização residencial evidenciada, seja para a sua viabilidade financeira, seja para a sua integração urbana e boa aceitação local.

Acesso aos quartos privados dos residentes

Sobre as condições de acesso às unidades residenciais do PHAI3C considera-se uma matéria que terá de ser extremamente bem concebida numa aliança entre condições reais e mesmo reforçadas de segurança contra incêndios, porque os acidentes domésticos são mais frequentes em idosos e fragilizados, com expressivas condições de agradável acessibilidade (que motive a saída da habitação), de convivialidade totalmente opcional e, naturalmente, de digna residencialidade, marcando os espaços comuns.

Quanto ao possível desenvolvimento de soluções intensamente comunitárias em que as unidades residenciais se limitem a grandes quartos privados, julga-se que esta não será uma modalidade a favorecer, desde já, no PHAI3C, mas que neste Programa deverá ser equacionada a existência de uma razoável divesidade tipológica habitacional, cujo limiar mais económico seja um « T0 » com zona de cama bem definida, casa de banho privativa e bancada mínima de apoio a preparação de refeições.

Espaço comum de estar à lareira e principal espaço de estar e convívio

Although the hearth, which includes a fireplace, is the heart of the Green House®, there are a number of states where the Fire Marshall and the regulatory authorities will not allow that hearth to produce heat... (pg. 15)

Aproveitando estas referências específicas a um « espaço comum de estar à lareira », aponta-se que elas parecem estar muito ligadas à natureza da tipologia residencial assistida abordada no último documento referido, e que se entende possa vir a ser usada com êxito no sentido da criação de um pólo « centralizador » e « agregador » dos co-habitantes de uma dada « casa/agregado familiar», proporcionando-se um verdadeiro elemento que lhe pode suscitar proximidade e coesão vivenciale, consequentemente, maior sentido de grupo, de escala humana, de identidade e de apropriação local pormenorizada.

No que se refere, globalmente, ao PHAI3C retira-se desta perspetiva o interesse que terá a configuração geral e pormenorizada do principal espaço de estar, que não pode ser um simples espaço « teoricamente » de convívio, « ali arrumado » como se fosse uma montra que vais sendo vista por quem passa, pois sendo-o mais vale concentrar as valências de estar numa zona específica, concentrada e bem equipada.

Mas se quisermos ultrapassar esta valência que pouco mais é do que uma « sala de condomínio » ampliada e melhorada, e passar para um nível superior de espaço comum verdadeiramente caraterizador de cada solução de PHAI3C ,desenvolvido numa zona, provavelmente térrea, que suscite uma vivência intensa e prolongada, espaços para estadas quase « privadas » agradáveis e estratégicas pequenas zonas das suas margens e condições de convivência múltiplas e alargadas que devem ser sempre totalmente opcionais ; então, se quisermos atingir este nível de qualidade e vivência comum há que investir num projeto de arquitetura global e pormenorizado extremamente bem qualificado e participado, e que, naturalmente, irá refletir o caráter de cada intgervenção do PHAI3C – ex, desde casos de grande sentido comunitário onde se passa diretamente para uma grande sala de estar e convívio onde se disponibilizam jornais e agrupamentos de sofás fortemente socializadores, até outros casos onde a circulação é tangente às zonas de estar, reforçando-se a opção natural entre « ir e ficar a conversar ». 

Mas esta é matéria que merece posterior desenvolvimento por ser tão essencial para o êxito do PHAI3C como é o desenvolvimento dos seus espaços habitacionais privados.

Breves notas de remate

Estas matérias da qualidade de vida e qualidade arquitetónica residencial na habitação intergeracional adaptável foram consideradas neste artigo, numa perspetiva de:

.   qualidade de vida e qualidade pormenorizada na habitação intergeracional e para idosos

tendo sido já abordadas, em artigos anteriores, nas duas seguintes facetas:

  relação entre a qualidade de vida e a qualidade arquitetónica e urbana na habitação intergeracional adaptável,

 e enquadramento da qualidade de vida e residencial especialmente dirigida para idosos e pessoas fragilizadas.

Notas e bibliografia

(8) Karnopp, Zuleica Maria Patrício; e tal – A pesquisa qualitativa e o ente da arquitetura e urbanismo. Revista Vitruvius - https://www.vitruvius.com.br, arquitextos (ISSN 1809-6298), maio 2016. Outros autores: Maristela Moraes de Almeida, Elizabeth Campanella de Siervi e Natalia Nakadomari Bula.

(9) Design Council – Design Review Principles and Practice. Londres: Design Council, 2013.

(10) Stevenson, Fionn – A post occupancy evaluation of the Dundee Maggie Centre. Final Report. Dundee:  University of Dundee, School of Architecture, Ecological Design Group; University of St. Andrews; Maggie’s Centres; Bute Medical School, 2007.

(11) Fischl, G.; Gärling, A. (2004) - Patients’ and architects’ perspective of psychosocial supportiveness in a health care facility. In Fischl, Géza (ed.) - A Psychosocial Approach to Architectural Design: A Methodological Study. Luleå:  Luleå University of Technology, Department of Human Work Sciences, Division of Engineering Psychology , 2004

(12) Luz, Ana – Places In-Between: The Transit(ional) Locations of Nomadic Narratives. In Näripea, Eva; Sarapik, Virve; Tomberg, Jaak (eds.) - Place and Location. Studies in Environmental Aesthetics and Semiotics V. Tallinn: The Research Group of Cultural and Literary Theory, Estonian Literary Museum, Institute of Art History, Estonian Academy of Arts, Estonian Semiotics Association, 2006, pp. 143-165. O artigo integra-se no capítulo do livro intitulado “Perceiving Cityscapes”.

(13) Reynolds, Gretchen - Why lifting weights can be so potent for aging well. (Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports). Jornal New York Times (20 março 2019).

(14) Prentice, Anne;  Housing LIN – Developing a Design Guide for Accommodation with Support / Care at Sunderland City Council. Sunderland Housing Learning and Improvement Network  (Housing LIN ), Case Study n.º 49, 2009.

(15) Nolan, David; Chi Partners – Changing the Physical Environment of Nursing Homes. Oakland: The California HealthCare Foundation, 2012. Chi Partners: www.chipartners.net e The California HealthCare Foundation: www.chcf.org

Notas editoriais gerais:

(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.

(ii) No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes e obter as necessárias autorizações.

(iii) Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

 

Qualidade de vida e qualidade pormenorizada na habitação para idosos e intergeracional “II” - versão de trabalho e base bibliográfica – Infohabitar # 808

 

Edição: quarta-feira, 16 de março de 2022

Infohabitar, Ano XVIII, n.º 808

 

Editor: António Baptista Coelho

Arquitecto/ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa.

 

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Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE).

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