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Dois livros de Alberto Sousa: Do
mocambo à favela e A invenção do barroco brasileiro –
infohabitar # 804
Infohabitar,
Ano XVIII, n.º 804
Edição:
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022
Caros leitores da Infohabitar,
Mais uma vez é com
muito gosto que a Infohabitar faz a divulgação de duas obras de Alberto Sousa,
neste caso dois livros que o autor está a disponibilizar em texto completo na
internet.
Lembra-se, novamente, que serão sempre muito
bem-vindas eventuais ideias comentadas sobre os artigos aqui editados e
propostas de novos artigos (a enviar para abc.infohabitar@gmail.com ,
ao meu cuidado).
Enviam-se saudações
calorosas a todos e muito especialmente aqueles, que serão muitos, ultimamente
afetados pela pandemia; desejam-se rápidas e completas melhoras.
Despeço-me, até à
próxima semana, enviando saudações calorosas e desejos de muita força e saúde para
todos os caros leitores e seus familiares,
Lisboa, em 9 de fevereiro
de 2022
António Baptista
Coelho
Editor da Infohabitar
Dois livros de Alberto Sousa: Do
mocambo à favela e A invenção do barroco brasileiro –
infohabitar # 804
Introdução por António Baptista Coelho; Alberto Sousa:
excertos de textos e imagens das capas de dois dos seus livros
|
Do mocambo à favela: Recife, 1920-1990
https://www.researchgate.net/publication/357869921
A invenção do barroco brasileiro: a igreja franciscana de Cairu
https://www.academia.edu/69675325/
Para apoiar no despertar do interesse pelos referidos download e
leituras destas obras editam-se, em seguida, um texto e a imagem de capa de
cada um dos livros.
Fig.
01 : capa do livro
A moradia da favela:
a insalubridade
lucrativa
A |
construção de uma habitação precária numa
favela de uma grande cidade brasileira tem-se revelado, em geral, uma operação
capaz de trazer ganhos econômicos apreciáveis para aqueles que a realizam. Tendo
percebido isto, nossa população pobre tem recorrido a ela não apenas para
conseguir um abrigo, mas também como um meio de melhorar suas condições de vida
– e este papel econômico do ato em questão tem contribuído significativamente
para alimentar o crescimento e a proliferação das favelas.
A lucratividade deste ato assenta-se
essencialmente em dois fatos econômicos que têm sido observados em nossas
favelas. Um é que as habitações destes aglomerados tendem a adquirir, com o
decorrer do tempo, um valor muito superior ao total dos recursos investidos na
sua edificação, aí incluído o valor correspondente ao trabalho não remunerado
dos autoconstrutores que nela tomaram parte. O outro é que os aluguéis que
podem ser obtidos com a locação de uma dessas habitações são muito elevados em
comparação com o seu custo de construção.
Aprofundemos a discussão dessas duas
constatações debruçando-nos inicialmente sobre a primeira delas.
A diferença entre o valor de uma casa de
favela e o investimento feito na sua construção e melhoria pode variar bastante
em função de suas características, de sua localização, de sua idade e de outros
fatores, mas comumente costuma ser expressiva, podendo chegar a ser bem grande em
numerosos casos. Esta mais-valia deriva tanto de circunstâncias específicas
(que apontaremos adiante) que são próprias das favelas como do fenômeno geral
da valorização imobiliária que ocorre nas grandes cidades, em razão de fatores
como a expansão e a densificação do tecido urbano,
e a difusão dos serviços e equipamentos urbanos, entre outros. Mas mesmo este fenômeno assume uma feição diferenciada nas favelas, pois nestas, boa parte da valorização imobiliária é gerada pelos próprios moradores locais, principalmente através: da concentração de habitantes, moradias e recursos num espaço físico determinado; das melhorias que eles introduzem em suas casas e conseguem atrair para a área pelo fato de estarem nela concentrados; e a formação e o desenvolvimento, em tal espaço, de redes de relações sociais que têm uma grande importância para as populações de baixa renda.
Vejamos as variadas formas sob as quais
tal mais-valia pode se apresentar analisando diferentes situações de autoconstrução
residencial observadas nos aglomerados espontâneos insalubres de nossas
cidades.
Talvez a situação menos vantajosa, no que
diz respeito à mais-valia em discussão, é aquela do pobre que constrói, com
materiais industrializados, uma moradia num terreno por ele comprado
(geralmente a prazo) e situado numa zona periférica e quase desprovida de
serviços e equipamentos.
Neste caso, a produção da habitação é relativamente dispendiosa, em virtude dos gastos com a aquisição do terreno e dos materiais de construção (e por vezes, também, com o pagamento de alguma mão-de-obra complementar), e numa primeira fase não é fácil recuperar, com a venda do imóvel, o investimento feito – fato este que foi constatado não ape-nas por nós, no Recife, mas igualmente por Maria de Lima, no Rio de Janeiro, num aglomerado periférico insalubre, em processo de formação, que ela estudou em 1977-78.
Entretanto, com o passar do tempo, a
favela embrionária onde o pobre se instalou vai sendo melhorada e equipada e
vai desenvolvendo redes de relações sociais, até transformar-se num meio
suficientemente atraente para as populações carentes. Então a habitação que ele
edificou torna-se valorizada e a sua valorização tende a aumentar à medida que
o bairro for se consolidando.
Assim, mesmo tendo que esperar alguns anos, após ter feito um investimento inicial que para ele foi significativo, nosso autoconstrutor pobre termina por tornar-se um beneficiário da valorização imobiliária – e para convertê-la em dinheiro basta que ele venda seu imóvel, o que comumente ele faz quando o lucro a obter lhe parece compensador ou oportuno. Ressalte-se que muitas vezes esse processo é repetido por famílias que viveram esse gênero de situação – as quais, depois de venderem lucrativamente suas casas insalubres valorizadas, constroem novas moradias precárias em outras favelas periféricas que estão se formando.
Bem mais vantajosa, economicamente
falando, é a situação do autoconstrutor pobre que edifica sua habitação num
terreno invadido e consegue se manter nele graças à tolerância do poder público
ou a uma negligência da parte de proprietários privados. Note-se que esta
situação desdobra-se em alguns casos distintos que cumpre individualizar.
Um deles é personificado pela família que
ocupa um terreno inserido numa quadra existente ou localizado numa porção de
terra apta a ser futuramente convertida numa quadra. Neste caso, a tendência
normal é que a moradia construída vá sendo consolidada e melhorada com o correr
do tempo e que o poder público termine por legalizar a situação dela, nas
esferas fundiária, urbanística e arquitetónica. Tal família desfruta de três
vantagens importantes em relação ao primeiro autoconstrutor considerado: ela
obteve seu terreno gratuitamente; geralmente este vale bem mais que o terreno
periférico daquele, devido às suas melhores condições em termos de localização
e equipamentos e serviços urbanos; e sua habitação tende a experimentar uma
valorização mais forte e mais rápida.
Se a família preferir embolsar num curto
prazo o lucro que sua moradia pode lhe proporcionar, ela a vende pouco tempo
depois de construí-la. Agindo assim, ela irá perder a valorização mais
substancial que se produzirá nos anos seguintes (o beneficiário da qual será o
comprador da mora- dia), mas em compensação poderá se apoderar mais rapidamente
de uma significativa mais-valia conseguida com um investimento de pequena
monta. Note-se que muitas vezes invasores de terras urbanas vendem os terrenos
dos quais se apropriaram antes mesmo de neles erguerem uma habitação de fato –
ou seja, quando eles contêm tão somente uma simples cobertura improvisada, por
eles levantada para garantir a posse do chão. Neste caso, eles conseguem tirar um
ganho da mera ação de se apossar ilegalmente de um terreno alheio e ceder a
posse precária deste a outrem.
Mas a família em questão pode não estar
apressada para embolsar o lucro que a construção da sua casa insalubre pode
gerar. Neste caso, são duas as situações principais em que ela pode se
enquadrar.
Ela pode ter construído sua casa num
terreno invadido, visando sobretudo a eliminar despesas com aluguel. Este
propósito é uma indicação de que ela só pode ou só deseja alocar um percentual
ínfimo do seu orçamento aos gastos relativos à habitação, o que explica a
necessidade de obter gratuitamente um terreno e também o frequente emprego de
materiais baratos ou obtidos gratuitamente (como o barro e elementos
reaproveitados). É quase certo que ela saiba que a sua nova condição de
proprietária lhe permitirá apropriar-se em pouco tempo de uma mais-valia
significativa se vender sua casa (sobretudo porque esta foi produzida com custos
mínimos), mas ela permanece nesta por já estar tendo ganhos com o fato de não
pagar aluguel e por estar ciente de que pode embolsar uma mais-valia aumentada
no futuro.
Fig. 02
: capa do livro
•• Introdução ••
Um primeiro
aspecto que distinguia essa frontaria era o fato de que ela era completamente
diferente de todas as outras fachadas de igreja existentes no Brasil e de todas
as que estavam sendo aqui construídas. A isto, outros aspectos, ainda mais
relevantes, se somam para evidenciar a importância dela.
O seu desenho,
de grande originalidade, era uma invenção brasileira, sem similares em Portugal
e nos países europeus de arquitetura renomada, o que faz dela a primeira
frontaria de concepção culta erigida no Brasil que não derivou de um modelo
português – e também nossa primeira criação arquitetônica erudita que merece
ser qualificada de brasileira.
Barroca,
por seu caráter cenográfico, pela agitação dos seus contornos, por sua
dramaticidade e pelo papel nela desempenhado pela decoração, ela marcou o
surgi-mento da arquitetura barroca no Brasil – isso bem antes que o
florescimento desta ocorresse no século seguinte.
E como se tal pioneirismo não bastasse, ela permitiu – contrariando a tendência natural da cronologia dos eventos arquitetônicos – que a colônia brasileira tivesse, antes da metrópole portuguesa, uma destacada frontaria barroca de igreja.
Dão ainda mais
relevância a ela, as suas repercussões sobre a arquitetura religiosa subsequente.
O seu partido, além de ter sido repetido na igreja do convento franciscano do
Paraguaçu, foi adotado em quatro outras igrejas franciscanas e em duas outras
áreas do nordeste brasileiro: Pernambuco e Paraíba (nenhuma outra frontaria de
igreja do Brasil colonial famosa por sua originalidade, como a da igreja de São
Francisco de Assis, em Ouro Preto, foi tão imitada). Além disso, elementos nela
presentes influenciaram parcialmente o traçado dos frontispícios de várias
igrejas setecentistas brasileiras.
Apesar de todos esses invejáveis méritos,
de uma maneira geral essa notável igreja não tem sido devida-mente valorizada
por nossa historiografia arquitetônica. É
comum que os livros não apresentem a imagem dela – o que a torna pouco
conhecida do público não especiali-zado –, e muitos deles referem-se a ela (ao
examinar o barroco setecentista e não o século XVII, ao qual ela pertence)
simplesmente para dizer que ela foi um dos protótipos da arquitetura
franciscana nordestina e o mo-delo a partir do qual foi projetada a magnífica
fachada da igreja franciscana de João Pessoa – obra esta que tem tido presença
obrigatória em tais livros, mas que deve grande parte da excelência do seu
desenho ao seu par-tido compositivo, que foi tomado emprestado da sua
an-cestral de Cairu.
Notas editoriais gerais:
(i)
Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a
caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de
edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões
expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições
individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo
portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii)
No mesmo sentido, de natural responsabilização dos autores dos artigos, a
utilização de quaisquer elementos de ilustração dos mesmos artigos, como , por
exemplo, fotografias, desenhos, gráficos, etc., é, igualmente, da exclusiva
responsabilidade dos respetivos autores – que deverão referir as respetivas fontes
e obter as necessárias autorizações.
(iii)
Para se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da
Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa
de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a
tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Dois livros de Alberto Sousa: Do mocambo à favela e A invenção do barroco brasileiro – infohabitar # 804
Edição: quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022
Infohabitar, Ano XVIII, n.º 804
Editor: António Baptista
Coelho
Arquitecto/ESBAL – Escola
Superior de Belas Artes de Lisboa –, doutor em Arquitectura/FAUP – Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto –, Investigador Principal com Habilitação
em Arquitectura e Urbanismo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC),
em Lisboa.
Revista do GHabitar (GH)
Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional Infohabitar –
Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação
Económica (FENACHE).
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